Obra Completa - Universidade de Coimbra
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Editor<br />
MANDEL D'OLIVEIRA AMARAL<br />
ULTIMATUM<br />
Foi ha annos já, e nós, que eslecemos<br />
tam <strong>de</strong>pressa em Portuil,<br />
sentimos ainda hoje o insulto,<br />
iltante como o das vergonhas que<br />
:am por vingar.<br />
Quando se soube a triste nova,<br />
iu o pôvo para a rua, e havia nas<br />
ais pequenas terras <strong>de</strong> Portugal<br />
n movimento <strong>de</strong>susado <strong>de</strong> gente<br />
iste, calada, como se andasse á<br />
pera dum enterro.<br />
De repente tudo se animou e a<br />
ultidão, que enchia as praças e as<br />
ias, começou a gritar <strong>de</strong> dôr e a<br />
amar imprecações, em que refera,<br />
numa on<strong>de</strong> forte, o ódio coni<br />
uma nação que nos espoliava<br />
is<strong>de</strong> que por uma alliança <strong>de</strong> reis<br />
inseguira relações <strong>de</strong> amisa<strong>de</strong><br />
>m Portugal.<br />
Tudo pos havia roubado aquelnação<br />
que se dizia nossa amiga,<br />
que ao publicar o documento que<br />
>s cobria <strong>de</strong> ignominia, tinha ainphrases<br />
da mais refalsada hipoisia<br />
e do mais baixo e torpe cismo<br />
para lastimar ver~se forçada<br />
medida tam violenta com o mais<br />
:lho dos seus alliados.<br />
Lembrou-nos então todo o nospassado<br />
<strong>de</strong> alliança franca eleal,<br />
íe aquelle pôvo <strong>de</strong> aventureiros e<br />
ratas explorára para se fazer forte<br />
temido, para adquirir um novo<br />
iperio, que nos roubou e on<strong>de</strong><br />
ibstituiu a cavalheiresca heroicii<strong>de</strong><br />
portúguêsa pela guerra da<br />
iséria, pelo dominio da fome.<br />
Como irmãos d'armas, elles que<br />
rio contam na história uma bataa<br />
gloriosa, nem uma <strong>de</strong>rrota helica,<br />
cobriram-se sempre com a<br />
jragem portuguesa, que exploram<br />
a séculos em proveito próprio, e,<br />
jando os inimigos téem para os<br />
lidados portuguêses só palavras<br />
s respeito, louvando a sua coraem<br />
e a sua lealda<strong>de</strong> com os vendos,<br />
elles, os nossos alliados avoimam<br />
a grandêsa das suas forças<br />
em relações históricas riem ironiimente<br />
da nossa coragem.<br />
E roubam-nos a glória, como<br />
DS haviam roubado já o mais rico<br />
DS nossos impérios.<br />
O seu maior título <strong>de</strong> orgulho,<br />
<strong>de</strong> imperador das índias, é a affiração<br />
da sua <strong>de</strong>slealda<strong>de</strong> para com<br />
mais velho e mais <strong>de</strong>dicado dos<br />
lus alliados.<br />
Eram estas as vozes que se ou-<br />
iam.<br />
Nem uma só se levantou a jusficar<br />
a villêsa <strong>de</strong> tal acção, nem<br />
lesmo a <strong>de</strong> aquelles que fazem da<br />
lentira a sua força.<br />
Todos queriam luctar contra o<br />
limigo forte que os tinha <strong>de</strong>baixo<br />
o joelho sob a ameaça <strong>de</strong> novas<br />
xpoliações e <strong>de</strong> novos insultos.<br />
E não houve em todo o mundo<br />
tna só palavra <strong>de</strong> ironia contra<br />
s vozes quê gritavamos chamando<br />
lucta e ao combate sem tréguas<br />
sem fim, aquelle povo forte.<br />
O ridículo dos nossos esforços<br />
tara nos libertarmos da garra que<br />
IOS tinha bem seguros, não encon-<br />
-PM et» todo 0 í»Ui*k> sefllo pala-<br />
PUBLICA-SE AOS DOMINGOS E QUINTAS FEIRAS<br />
vras <strong>de</strong> sympathia, vozes carinhosas<br />
<strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong>.<br />
Era <strong>de</strong> esperar que Portugal,<br />
que <strong>de</strong>ra sempre tam nobres exemplos<br />
<strong>de</strong> heroicida<strong>de</strong>, não esqueceàse<br />
nunca o odio que <strong>de</strong>via ao<br />
povo que lhe atirára aquelle insulto<br />
infame.<br />
Pouco a pouco foi-se diluindo<br />
o odio e começou a apparecer em<br />
jornaes portuguêses a i<strong>de</strong>ia da fatalida<strong>de</strong><br />
que prendia indissoluvelmente<br />
o nosso <strong>de</strong>stino ao daquelle<br />
povo que se fizera nosso alliado, e<br />
se enriquecera pelas complacências<br />
monarchicas.<br />
E a própria Inglaterra veiu<br />
annunciar á Europa que em Portugal<br />
haveria seguro um throno,<br />
emquanto se mantivesse a alliança<br />
antiga.<br />
E hoje o nome português acorrentado<br />
ao da Inglaterra é escarnecido<br />
e villipendiado no mundo,<br />
ouve-se no meio <strong>de</strong> vaias <strong>de</strong> odio.<br />
Como os fracos, que tem ido<br />
envillecendo pela vida continuada<br />
<strong>de</strong> miséria e <strong>de</strong> ignominia, Portugal<br />
finge tirar da sua alliança com<br />
a Inglaterra o seu melhor titulo <strong>de</strong><br />
gloria, a affirmação da sua força.<br />
Portugal ergue a voz para clamar<br />
a sua amiza<strong>de</strong> á Inglaterra,<br />
como o ocioso arruinado se vê forçado<br />
a sentar á sua méza como<br />
amigo a creatura vil que o tem<br />
sob a ameaça da agiotagem e da<br />
ruina.<br />
Tudo fingimos esquecer, com<br />
a esperança <strong>de</strong> enganar os outros,<br />
imaginando que elles não verão a<br />
nossa ignominia.<br />
Mais uma vez apparece a vergonha<br />
como titulo <strong>de</strong> gloria no<br />
brazão <strong>de</strong> Portugal.<br />
Houve em Portugal um rei que<br />
ficou na historia como o symbolo<br />
da inépcia e da baixeza.<br />
A sua vida publica é a affirmação<br />
da cobardia e da falta <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>.<br />
A sua vida particular, que corre<br />
apenas na tradição oral, é tudo<br />
o que ha <strong>de</strong> mais grosseiramente<br />
baixo.<br />
Chamava-se o monarcha D.<br />
João VI.<br />
E' conhecido o typo dêste rei<br />
sem dignida<strong>de</strong> na sua vida particular,<br />
sem brio na vida pública,<br />
que a fatalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reinar lhe tornou<br />
difficil e aventurosa.<br />
A mulher é citada por todos<br />
como um typo baixo <strong>de</strong> prostituta<br />
coroada, viciosa e cinica, sem<br />
grandêsa, nem paixão.<br />
Não ha homem ignorante que<br />
não saiba histórias da prostituição<br />
villã <strong>de</strong> D. Carlota Joaquina.<br />
Nos campos, contam-se casos<br />
<strong>de</strong> amor com os jornaleiros das<br />
quintas reaes; nas casernas ouvem-se<br />
a rir as aventuras, que se<br />
lhe attribuem, com os soldados <strong>de</strong><br />
guarda <strong>de</strong> honra ao paço.<br />
E é tám gran<strong>de</strong> o crédito popular<br />
na ignomínia daquella mu><br />
lher vergonhosa, que ha gente ingénua,<br />
que attribua ao acaso <strong>de</strong><br />
aventuras damor com cornetas e<br />
Redacção e administração, ARCO D'ALMEDINA, 6, 2.® andar<br />
Offlcina typográphica<br />
12 —RUA DA MOEDA —14<br />
COIMBRA—Domingo, 11 <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> 1903 8.° ANNO<br />
hortelões o ter tido filhos, em que<br />
o povo reconheceu energia que<br />
nunca vira ao rei.<br />
Nunca os ru<strong>de</strong>s homens do<br />
campo, que não conhecem os pormenores<br />
<strong>de</strong> alcova das côrtes, podéram<br />
admittir que D. João VI<br />
tivésse um filho robusto e forte.<br />
Sabendo da infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> da esposa,<br />
portou-se aquelle rei como<br />
o mais ridículo marido <strong>de</strong> comédia<br />
burlesca: queixou-se á familia <strong>de</strong>lia,<br />
e abandonou o leito para que<br />
ninguém pu<strong>de</strong>sse ignorar em Portugal,<br />
a infâmia da mulher, que<br />
sentava ao lado no throno.<br />
A vergonha daquelle reinado<br />
affirma-se em cada facto.<br />
Anda nas moedas correntes.<br />
Foi êste monarcha covar<strong>de</strong>,<br />
êsse homem que fugiu vergonhosamente<br />
ao inimigo, que mandou<br />
collocar nas moedas do seu reinado,<br />
a esphera armillar, que outro<br />
rei mais venturoso tomára por empresa<br />
para affirmar publicamente<br />
as heróicas façanhas, as nobres<br />
<strong>de</strong>scobertas dos marinheiros portuguêses.<br />
E a esphera armillar^ que attestava<br />
o passado glorioso do povo<br />
português, foi orgulhosamente arvorada<br />
por um rei imbecil, que se<br />
cobrira <strong>de</strong> vergonha numa fuga<br />
vergonhosa pór aquelle mâr, que<br />
tanto tempo cantára a nossa glória.<br />
No pataco a moeda symbólica<br />
daquelle reinado, e que ficou, na<br />
linguagem corrente, como o preço<br />
<strong>de</strong> tudo o que é baixo e vil, appareceu<br />
esver<strong>de</strong>ada do toque immundo<br />
do vicio a esphera armillar o<br />
titulo glorioso da conquista marítima,<br />
a assignalar o reinado <strong>de</strong> um<br />
rei que nos cobrira <strong>de</strong> vergonha<br />
sobre o mar.<br />
Era a esphera armillar cantando<br />
a nossa glória antiga <strong>de</strong> marinheiros<br />
que se fazia vêr a todos<br />
para fazer esquecer o <strong>de</strong>sattre recente,<br />
e a fuga vergonhosa pelo<br />
mar fóra.<br />
Hoje, como entám, lembrámos<br />
o passado, e fingimos esquecer o<br />
insulto do presente.<br />
A alliança inglêsa vale bem,<br />
como vergonha a esphera armillar<br />
do pataco <strong>de</strong> D. João VI.<br />
T. C.<br />
O próximo numero da<br />
BESISTENCIA será<br />
unicamente <strong>de</strong>dicado á<br />
memória <strong>de</strong> José Falcão.<br />
O numero do último do<br />
corrente mès será <strong>de</strong> homenagem<br />
aos vencidos<br />
<strong>de</strong> trinta e um <strong>de</strong> janeiro.<br />
A ssim commemorará,<br />
a BESISTENCIA os<br />
dois mais tristes anniversários<br />
da história da republica<br />
em Portugal.<br />
Ao nosso presado collega Justiça,<br />
agra<strong>de</strong>cemos as palavras <strong>de</strong> alto e<br />
immerecido louvor com que nos distingue,<br />
a propósito dos boatos espalhados<br />
sobre o <strong>de</strong>sapparecimento do<br />
nosso jornal.<br />
Os mesmos agra<strong>de</strong>cimentos á Folha<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,< que tem sido comnosco<br />
sempre <strong>de</strong> uma amabilida<strong>de</strong> nada João<br />
Franco, um inimigo terrível <strong>de</strong> quem<br />
temos tanto medo coroo da sarna.».<br />
Contra a imprensa<br />
Depois dum breve armistício, o sr.<br />
Hintze Ribeiro recomeçou as suas perseguições<br />
á imprensa.<br />
O Liberal e o Mundo, jornaes da<br />
sua mui especial predilecção, foram já<br />
apprehendidos, pelo crime infando <strong>de</strong><br />
darem o compte-rendu da reunião dos<br />
progressistas em que José Luciano parece<br />
ter dito profundas verda<strong>de</strong>s sobre<br />
a influência do po<strong>de</strong>r pessoal na vida<br />
dos partidos.<br />
Faltam-nos já forças para esse protesto<br />
<strong>de</strong> dia a dia, banal, improfícuo,<br />
irritante nas suas bellas phrases <strong>de</strong> estylo,<br />
com que vêem commentar-se, patetamente,<br />
as mais sórdidas violências<br />
e os mais perigosos attentados.<br />
O regimen odiosíssimo a que a imprensa<br />
está <strong>de</strong> ha muito sujeita, seria<br />
<strong>de</strong> mol<strong>de</strong> a suscitar um protesto em<br />
forma, amplo e vigoroso, que fosse um<br />
correctivo severo e uma útil prevenção<br />
a futuras investidas, se neste país ha<br />
muito se não tivessem apagado os últimos<br />
lampejos <strong>de</strong> brio, <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência,<br />
e <strong>de</strong> pratriotismo.<br />
Do <strong>de</strong>coro, da solidarieda<strong>de</strong>, da<br />
nobresa da classe jornalística, é bom<br />
que nos dispensemos <strong>de</strong> fallar, para<br />
não abrir a repressão <strong>de</strong> amargas e duras<br />
reflexões.<br />
A sua attitu<strong>de</strong>, nesta questão primacial,<br />
é tristemente <strong>de</strong>plorável, <strong>de</strong>gradante.<br />
Que contra os attentados do governo<br />
protestámos como a mais sincera e<br />
vehemente indignação, não já por rnéra<br />
cortezia, mas pelo culto que temos por<br />
todos os princípios <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e <strong>de</strong><br />
justiça, escusámos <strong>de</strong> estar todos os<br />
dias a repetil-o, inutilmente, em phra<br />
ses consagradas, pois que a linha <strong>de</strong><br />
conducta por nós sempre mantida não<br />
auctoriza outro juizo.<br />
Somente nos dispensamos <strong>de</strong> matracar<br />
o velho estribilho inútil, afirmando<br />
<strong>de</strong> resto a nossa completa dis<br />
posição para uma campanha a sério, a<br />
valer, pelos direitos que nos assistem.<br />
E por aqui nos ficámos.<br />
Correm por <strong>Coimbra</strong> boatos surdos<br />
<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> novida<strong>de</strong> no nosso pequeno<br />
meio politico provincial.<br />
Como do costume, tudo se resume<br />
em nomeações <strong>de</strong> empregados públicos.<br />
Tornp a fallar se com issístencia em que,<br />
pela reforma do sr. Espregueira, será<br />
nomeado director da penitenciaria <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong> o sr. D. José Miranda.<br />
Para o lugar <strong>de</strong> administrador do<br />
concelho, que fica vago pela sua nomeação<br />
e acesso, será nomeado uma<br />
personagem que se tem assignalado<br />
pelo seu zelo em trabalho eleitoraes.<br />
Não ha hoje melhor recommendação.,<br />
E uma surpresa que tem sido muito<br />
annunciada; mas que parece ter havido<br />
até hoje dificulda<strong>de</strong> em realizar.<br />
O partido progressista <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />
que tem ajudado a vida difficil da mesquinha<br />
hoste hintzacea, que para ahi<br />
anda cheia da importancia que arranja<br />
ao espelho em attitu<strong>de</strong>s rígidas, <strong>de</strong><br />
muita compustura e autorida<strong>de</strong>, parece<br />
pouco resolvido a <strong>de</strong>ixar preterir, sem<br />
um protesto, correligionários a que <strong>de</strong>ve<br />
numa vida ícnga <strong>de</strong> abnegação e serviços<br />
políticos nunca recompensados.<br />
Os srs. João <strong>de</strong> Barros e Alvaro<br />
<strong>de</strong> Castro acabaram a traducção <strong>de</strong><br />
uma bella comédia da litteratura espanhola<br />
contemporânea, que <strong>de</strong>stinam ao<br />
theátro <strong>de</strong> D. Maria.<br />
Mayer Garção apresentou já uma<br />
traducção em verso dum original francês,<br />
que os artistas consi<strong>de</strong>ram pela<br />
belleza dos versos superior á tám<br />
applaudida traducção <strong>de</strong> Os Romanescos.<br />
E' uma peça <strong>de</strong> dois personagens<br />
apenas, que será representada por Ferreira<br />
da Silva e pela Virgínia na festa<br />
<strong>de</strong>sta gloriosa actrj*.<br />
Partido republicano<br />
Não ha, sobre o assumpto, opiniões<br />
divergentes. Não podia havel-as. Seria<br />
estultícia 01^, traição negar a urgência<br />
dum forte refundimento partidário que<br />
traga ao meio do geral <strong>de</strong>salento nacional<br />
uma era nova <strong>de</strong> esperanças<br />
fortificantes.<br />
Na campanha que ha muito vem<br />
sustentando, a Resistencia julga ter<br />
sobejamente fundamentado as suas asserções,<br />
sobre os erros e as responsabilida<strong>de</strong>s<br />
do passado como sobre as<br />
indispensáveis tentativas do futuro.<br />
Com leal franqueza disse aos homens<br />
do partido republicano o que<br />
era <strong>de</strong> irreductivel necessida<strong>de</strong> dizerlhes;<br />
e, cheia <strong>de</strong> confiança, aguarda<br />
que êsses homens, na comprehensão<br />
intelligente e austéra dum alto <strong>de</strong>ver,<br />
tomem a direcção dêste movimento <strong>de</strong><br />
esperançosa reconstituição partidária.<br />
E' preciso não parar. Insistir, insistir<br />
sempre, pertinazmente, audaciosamente<br />
— eis o caminho.<br />
Com sincero jubilo temos aqui re<br />
gistado as adhesões valiosas <strong>de</strong> vários<br />
collegas e correligionários prestantissimos,<br />
que mais vem animar nos no<br />
proseguimento dos nossos <strong>de</strong>sinteressados<br />
intentos.<br />
Pelo partido republicano, que não<br />
por nós, esperamos que todos continuem<br />
a prestar-nos a sua adhesão,<br />
dando por sua auctorida<strong>de</strong> um relevo<br />
brilhante a esta justíssima campanha.<br />
Succe<strong>de</strong>m-se os attentados. Cada<br />
vês se compromette mais o futuro<br />
<strong>de</strong>sta <strong>de</strong>sgraçada terra.<br />
Os governos fazem o silêncio, reprimindo,<br />
assaltando, calando brutalmente,<br />
sem pretexto nem explicações,<br />
todas as vozes da opinião.<br />
Mais: os governos fazem a treva,<br />
fechando associações que beneméritamente<br />
mantinham escolas para o povo.<br />
A situação é insustentável. Asphixia,<br />
humilha, vexa, este silêncio, esta<br />
resignação ignominiosa com que recebemos<br />
todos os attentados, todas as<br />
expoliações, todos os crimes, sem um<br />
grito <strong>de</strong> cólera, sem um gesto <strong>de</strong><br />
revolta fremente, <strong>de</strong> cabeça baixa, <strong>de</strong><br />
braços pendidos, numa attitu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
escravos abjectos.<br />
Que melhor ensejo para nos levantarmos,<br />
e unir-nos, e seguir para a<br />
frente, compenetrados dos nossos <strong>de</strong>veres<br />
e das nossas responsabilida<strong>de</strong>s ?<br />
Fallemos uns aos outros a inteira<br />
verda<strong>de</strong>. E' preferível que cada um<br />
annuncie a tempo a sua ruína do que<br />
<strong>de</strong>ixe, por incorrectos brios, aggraval-a<br />
inevitavelmente.<br />
Pó<strong>de</strong>m dizer nos que êste silêncio<br />
nos arraiaes <strong>de</strong>mocráticos, esta dispersão,<br />
êste caminhar <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nado,<br />
esta frouxa vida, provem immediatamente<br />
do regimen <strong>de</strong> repressão odiosa<br />
com que os governos contém todas as<br />
manifestações <strong>de</strong>sapprovadoras da camada<br />
livre do país.<br />
Mas quem creou um tal regimen ?<br />
Nós, os republicanos, <strong>de</strong>ixando que<br />
todos os governos da monarchia apertassem,<br />
sem resistencia alguma, mais<br />
e mais, o laço, á volta das nossas<br />
ultimas regalias.<br />
Nós, que ás primeiras investidas<br />
dos tyrannetes do Terreiro do Paço,<br />
dispersámos <strong>de</strong>salentados, como se cá<br />
não houvéra força para fazer voar os<br />
<strong>de</strong>ntes aos rábidos molossos que a monarchia<br />
nos açulava.<br />
Ah! sim, um tal regimen é uma<br />
creação nossa. A sua força é um producto<br />
lógico da nossa fraqueza.<br />
Valentes, talvez, os quadrilheiros<br />
do regimen, porque nós os temos auxiliado<br />
com o <strong>de</strong>safogo que lhes dá a<br />
nossa covardia.<br />
Como pô<strong>de</strong> fazer respeitar os direitos<br />
e as liberda<strong>de</strong>s dum povo, constuir-se<br />
sentinella <strong>de</strong>sses bens, quem<br />
não tem sabido <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se a si próprio<br />
dos repetidos attentados do po<strong>de</strong>r,<br />
e <strong>de</strong>ixa pacientemente que o dispam<br />
das ultimas regalias ?<br />
NS© pô<strong>de</strong> sçf, uíq pô<strong>de</strong> «r,