Obra Completa - Universidade de Coimbra
Obra Completa - Universidade de Coimbra
Obra Completa - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Editor<br />
MANUEL D'OLIVEIRA AMARAL<br />
PUBLICA-SE AOS DOMINGOS E QUINTAS FEIRAS<br />
Redacção e administração, ARCO D'ALMEDINA, 6, 2.° andar<br />
Offlcina typográphica<br />
12— RUA DA MOÈDA-14<br />
N.° 775 8.° ANNO<br />
PR'A PÁNTÂNA!<br />
Partido republicano<br />
Olhem 0 Brasil! Qlhem o fra^J<br />
Pelas lettras<br />
um injusto gravame — com que o<br />
Os que <strong>de</strong>viam dar o exemplo <strong>de</strong><br />
discurso da corôa seguiu o annún-<br />
abnegação, <strong>de</strong> sacrifício, <strong>de</strong> crença semcio<br />
da necessida<strong>de</strong> indispensável<br />
pre nova, <strong>de</strong> enthusi; Seno vigoroso,<br />
<strong>de</strong> accrescentar as receitas.<br />
sumiam-se sem motivo nem explica-<br />
A nota da divida fluctuante,<br />
ção, isolavam-se, rareavam em todas<br />
Mas por outro lado é vêr o Todos os dias augmenta o esmore- as affi-mações partidarias.<br />
tornada pública ha poucos dias,<br />
austéro, espartano,viver dos govercimento do espirito publico. A gran<strong>de</strong><br />
Efféctivamente o que tem sido nos<br />
veio elucidar por fórma tristemente<br />
nos do regimen, com suas clientél-<br />
maioria ajusta-se já, resignadamente, á<br />
últimos tempos as manifestações do<br />
.cathegórica as previsões <strong>de</strong> ruína<br />
fatalida<strong>de</strong>- dum <strong>de</strong>stino T&pposto irre<br />
las e attachés graduados.<br />
partido republicano ? O que tem pro-<br />
que vinham sendo feitas por todos<br />
vogavel, e ninguém se move para uma<br />
duzido as suas raríssimas campanhas ?<br />
Elle é a moralida<strong>de</strong> mais rigo- tentativa <strong>de</strong> vida, e ninguém se arma<br />
que encaram imparcial e honrada-<br />
Nada, absolutamente nada. Um pequerosa,<br />
o escrupulo mais imperti- para um exforço <strong>de</strong> lu^ta.<br />
mente a situação.<br />
no batalhão <strong>de</strong> obscuros soldados lucta<br />
nente, a economia mais stricta a A situação não po<strong>de</strong> ser mais ver ainda, procura erguer a opinião, rea-<br />
O <strong>de</strong>siquilibrio orçamental ac<br />
informar todos os ramos da admi-<br />
gonhosa e miserável, o futuro não po<strong>de</strong> vivar todas as generosas aspirações e<br />
centua-se, aggrava-se formidavel-<br />
entremostrar-se mais difficil e sombrio,<br />
nistração pública.<br />
todos os vibrantes enthusiasmos <strong>de</strong> idas<br />
mente, e <strong>de</strong>põe alto sobre a sinceri<br />
os homens não po<strong>de</strong>m ser mais egoís- epochas <strong>de</strong> rebeldia patriótica.<br />
E que intelligéncia! E que tino! tas e fracos.<br />
da<strong>de</strong> com que apregoam vida nova<br />
Mas a phalange brilhante dos com-<br />
E que previdência rara!<br />
Olha se para esse mar <strong>de</strong> lama em<br />
os que a <strong>de</strong>ntro do regimen procubatentes<br />
graduados essa <strong>de</strong>bandou.<br />
As finanças estám ruins? O que tudo se afunda, comtempla-se o Ninguém vê que elles fallem ou escreram<br />
cobrir com a máscara brilhante<br />
<strong>de</strong>siquilibrio orçamental <strong>de</strong>nuncia<br />
medonho <strong>de</strong>scalabro <strong>de</strong>ste povo, e do vam. De vez em quando sollicitados<br />
duma falsa prosperida<strong>de</strong> a <strong>de</strong>ca-<br />
espectáculo contristador e nauseante<br />
ruína próxima?<br />
para tomar parte em certas festas ou<br />
dência assustadora em que o país<br />
só se recoihe uma impressão <strong>de</strong> <strong>de</strong>sa protestos <strong>de</strong>mocráticos, limitam-se a<br />
Mandam-se viajar as institui- lento e <strong>de</strong> fadiga.<br />
vae <strong>de</strong>rivando.<br />
mandar dizer que adherem — quando<br />
ções: expe<strong>de</strong>m-se embaixadas para A patria arruinada e <strong>de</strong>shonrada tem esta cortezia... —ou fazem-se re-<br />
Fez-se o convénio, essa repel-<br />
a China: alarga-se o quadro dos <strong>de</strong>ixa nos mudos e quietos, indifferen presentar pomposamente, como grandslente<br />
infamia que o governo ousou<br />
commissários régios: restaura se<br />
tes ou atemorisados.<br />
seigneurs complacentes.<br />
apresentar como uma maravilha,<br />
O facto da sua enorme <strong>de</strong>sventura,<br />
custosamente os paços reaes: en<br />
São republicanos: cremol-o. São<br />
e os mais <strong>de</strong>nodados dos seus<br />
em vez <strong>de</strong> nos approximar mais ddla,<br />
grossa-se o batalhão dos burocra<br />
honestos e intransigentes em sua vida<br />
com todo o nosso amor <strong>de</strong>sperto, af<br />
<strong>de</strong>fensores e apologistas não se<br />
e crenças: não contestamos. Mas con-<br />
tasfaineants, pela creação <strong>de</strong> novos fasta-nos como se fôra um apavorante<br />
escusaram a confessar que seria<br />
cor<strong>de</strong>mos em que sám inúteis na sua<br />
logares, o <strong>de</strong>sdobramento <strong>de</strong> ou espectro.<br />
condicção <strong>de</strong> austeros comtemplativos:<br />
seu indispensável complemento um<br />
tros, a reforma dé funccionários Havia uma esperança: o partido re assentemos em que não po<strong>de</strong>m exigir<br />
regimen <strong>de</strong> alta moralida<strong>de</strong> e aper-<br />
publicano.<br />
válidos: cobre-se ó pais com a<br />
do pais sacrifícios <strong>de</strong> que não querem<br />
tada economia.<br />
Mas essa esperança vae <strong>de</strong>sappare- dar o exemplo, energias <strong>de</strong> que se não<br />
solda<strong>de</strong>sca brutal do sêllo e a galu cendo, e em raras almas ella floresce<br />
Sem isso, affirmava-se, impos-<br />
dispõem a dar a prova animadora.<br />
chada bisonha, inútil, da Ínstrucção ainda, aviventada pelo calor almo duma<br />
sível seria supportar os novos en-<br />
E é isto que nos entristece. Conhe-<br />
primária: convidam-se os monár- ingénua crença.<br />
cemos os homens, seja embora breve o<br />
cargos promanantes <strong>de</strong>ssa concorchas extrangeiros a darem-se ren- Porque nas situações mais criticas, seu convívio com elles, e temos visto<br />
data a vexante e ruinosa.<br />
<strong>de</strong>{-vous faustosos nesta bella terra nos lances mais opportunámente ajus como tudo se tem corrompido, como a<br />
Pois o que se observa, breves<br />
tados a um re<strong>de</strong>mptor exforço, o par<br />
do céo azul e do sol creador<br />
inércia a que o partido republicano se<br />
tido republicano não appare.ee a dar<br />
tempos <strong>de</strong>corridos sobre a consu- entregam-se as colónias á explora-<br />
absnionou contribuiu para a terrivel e<br />
ao país a medida do seu amor por mu<br />
mação dêsse audacioso attentado, ção do extrangeiro com a confissão elle, a esclarecei o, a dirigil o, a iricital-o<br />
é que as <strong>de</strong>spesas crescem em vês <strong>de</strong> que sornoj' incapazes <strong>de</strong> as a fazer emfim que elle adopte a sua<br />
<strong>de</strong> diminuírem: os esbanjamentos aproveitar:'iança-se emfim mão <strong>de</strong> causa e a proclame triumphante num<br />
continuam, a immoralida<strong>de</strong>, o ne-<br />
<strong>de</strong>terminado momento.<br />
outros mil expedientes engenhosos,<br />
potismo, o escândalo triumpham:<br />
Increpa-se o povo, o pobre povo<br />
attinentes a concertar o escanga-<br />
ignorante, preso a mil sujeições, victi-<br />
a obra da consolidação dos partidos lhado machinismo financeiro. ma <strong>de</strong> mil affrontas, joguete miserando<br />
do regimen, a paga <strong>de</strong> transigên-<br />
Positivamente ningutm pô<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> toda a biltraria do regimen, pela sua<br />
cias amistosas, affirmadas numa<br />
indifferença enorme, pelo seu animo<br />
exigir mais, e melhor, e em tám<br />
cooperação impu<strong>de</strong>nte, a susten-<br />
excepcionalmente soffr jdor ou cobar<strong>de</strong>.<br />
pouco tempo.<br />
tação das clientellas esfaimadas,<br />
Vamos na frente dos que lhe jogam<br />
A era nova vem <strong>de</strong>spontando doestos.<br />
ameaçando <strong>de</strong>smembrar-se ao mais<br />
auspiciosamente, e a nota da divida E no entanto nós, os republicanos,<br />
simples annuncio <strong>de</strong> escassez <strong>de</strong><br />
fluctuante que os jornaes exhibem somos os que menos auctorida<strong>de</strong>s temos<br />
forragens, todas as mil exigências<br />
para o alvejarmos com os nossos <strong>de</strong>s-<br />
com commentários graves é o seu<br />
que implicam a vida das instituiprezos<br />
e as nossas imprecações.<br />
primeiro, risonho annúncio.<br />
ções com os seus grupos fieis, com-<br />
Elle é ignorante, o pobre povo, e<br />
promette mais e mais o futuro,<br />
Julgamos ser opportuno o mo- nós nada temos feitos pela suá íns-<br />
toma o dia <strong>de</strong> ámanhã bem mais<br />
mento <strong>de</strong> renovar aos ouvidos da trucção, nem nos tem preoccupado o<br />
perigoso, difficil, excruciante do<br />
gente surda <strong>de</strong>sta nossa terra, igno-<br />
levar ao seu ru<strong>de</strong> espirito o conhecimento<br />
dos factos cujas consequências<br />
que o fôra o já grave e triste dia<br />
rante das suas próprias felicida<strong>de</strong>s, elle soffre e dos homens cujo predo-<br />
<strong>de</strong> ontem.<br />
o grito enthusiástico do sursum mínio elle supporta. Elle é ainda hoje<br />
corda realentador e <strong>de</strong> engalanar e um instrumento da reacção religiosa, a<br />
Os que mais optimistas se affir- florir os templos para um acto sole- victima <strong>de</strong> mil especulações superstimam<br />
sempre, Navarro á frente, mne <strong>de</strong> acção <strong>de</strong> graças a gran<strong>de</strong><br />
ciosas que o <strong>de</strong>formam, e nós em pouco<br />
confessam que a situação, tal qual<br />
temos pezado a necessida<strong>de</strong> duma per-<br />
instrumental. ..<br />
tinaz e intelligente campanha liberta-<br />
<strong>de</strong>riva da nota alarmante da divida,<br />
O futuro é nosso. Já agora dora.<br />
tem incontestavelmente graves in-<br />
ninguém conseguirá <strong>de</strong>ter a mar- Elle é pusilânime, abjecto na sua<br />
convenientes; e só ousam contrabacha<br />
triumphal, victoriosa, vibrante estóica resignação, mas o exemplo da<br />
lançar os effeitos prováveis, certos,<br />
<strong>de</strong> esperanças, fecunda <strong>de</strong> ventu-<br />
pusilanimida<strong>de</strong>, do egoismo, do <strong>de</strong>sa-<br />
dum tal estado <strong>de</strong> coisas, com a<br />
lento <strong>de</strong> nós tem partido, flagrante, toras,<br />
com que breve alcançaremos<br />
estafada cantata da vida nova, com<br />
dos os dias, em todos- os momentos.<br />
a cida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>... Pantana.<br />
muito juizo e muitos escrupulos,<br />
Que incitamentos tem recebido <strong>de</strong><br />
nós? Como ha <strong>de</strong> elle revoltar-se, se<br />
muita <strong>de</strong>dicação e muito patrio-<br />
vê que aquelles que o podiam enca^<br />
tismo, tudo isso a cargo dos respei-<br />
Impostos<br />
minhar se recolhem, medrosos, prutáveis<br />
e illustres cavalheiros cujo.<br />
<strong>de</strong>ntes, a um silencio e a uma inércia<br />
tino governativo e tradiccional pro- Parece confirmar-se o boato <strong>de</strong> que symptomaticas ?<br />
bida<strong>de</strong> escreveram a história bri-<br />
o pernicurto estadista da Fazenda se Como ha-<strong>de</strong> elle sacrifícar-se, se<br />
propõe aggravar com novas exigências nós não abrimos a serie das <strong>de</strong>vota<br />
lhante dos últimos tempos! o actual regimen tributário.<br />
ções heróicas ?<br />
A era nova annuncia-se, pois, E' o processo velho <strong>de</strong> que a sagaci- Increpamol-o, a esse pobre povo,<br />
sob os risonhos auspícios que estada<strong>de</strong> financeira do regimen lança mão por ter <strong>de</strong>ixado que lhe <strong>de</strong>fraudassem<br />
mos vendo.<br />
nas suas frequentes horas <strong>de</strong> crise. a fazenda e lhe levassem, em sortidas<br />
E' sempre o povo quem paga as frequentes, a liberda<strong>de</strong>.<br />
Crise mais grave do que as já <strong>de</strong>spôsas...<br />
E que fazemos nós, para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />
soffridas, a bancarrota imminente Está ahi a corroboral-o, toda uma uma e outra cousa ? Nós, que também<br />
— e eis ahi a obra da austérida<strong>de</strong> miserável história <strong>de</strong> annos e annos <strong>de</strong> somos povo, <strong>de</strong>ixamo nos escravisar e<br />
e da intelligéncia administrativa espoliação audaciosa e infame. roubar. Não tivemos um clamor colé-<br />
para que o governo e os seus apa- Mas pô<strong>de</strong> o povo pagar mais? O rico, não procuramos atear uma revol-<br />
seu animo excessivamente sofredor, ta vingadora.<br />
niguados reclamam a coroa <strong>de</strong> oiro<br />
stoico, resistirá a mais êsse annunciádo Timidamente balbuciamos que era<br />
da gratidão nacional.<br />
assalto?<br />
uma infamia; e, <strong>de</strong>sfeita a impressão<br />
O contribuinte está ameaçado E' o que veremos. Prenúncios dum cruel do attentado, reatamos o viver<br />
<strong>de</strong> novas extorsões, <strong>de</strong> certo justi- protesto inevitável, e sobre inevitável pacato e cruzamos os braços para os<br />
ficadas com motivos pon<strong>de</strong>rosos<br />
necessário, já os tivemos, em Sabrosa erguer num breve gesto <strong>de</strong> indignação<br />
e outras localida<strong>de</strong>s.<br />
quando novas infamias nos batiam á<br />
<strong>de</strong> salvação, e nem outra coisa<br />
A tempesta<strong>de</strong> fórma-se. Jprovo- porta.<br />
íijjnifica aquella jphrase terrivel 1