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Obra Completa - Universidade de Coimbra

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CRECHES<br />

Transcrevemos do Relatorio da<br />

Associação das Creches <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> no<br />

anno <strong>de</strong> 1901 1902 as palavras que<br />

prece<strong>de</strong>m a apresentação <strong>de</strong> contas e<br />

que mostram os esforços envidados<br />

pelos generosos directores <strong>de</strong>sta instituição,<br />

tam digna <strong>de</strong> ser amparada por<br />

aquelles, a quem é doce minorar a <strong>de</strong>sgraça<br />

alheia.<br />

Senhores:<br />

As contas que hoje vimos submetter<br />

ao exame e apreciação da Associação<br />

das Creches <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> dizem respei<br />

to á gerencia dos mezes <strong>de</strong>corridos<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> janeiro do corrente anno até ao<br />

fim <strong>de</strong> junho p.p. As contas dos mezes<br />

<strong>de</strong>corridos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fundação da Creche<br />

da Cida<strong>de</strong> Alta até <strong>de</strong>zembro ultimo<br />

foram já lidas e approvadas na<br />

Assembleia Geral em que foi eleita a<br />

Direcção actual. Vamos ler vos um pequeno'<br />

relatorio com a indicação dos<br />

factos mais importantes da nossa admi<br />

nistração abrangendo o período <strong>de</strong>corrido<br />

<strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1901, dia em que<br />

foi realmente aberta a Creche da Cida<strong>de</strong><br />

Alta, até ao fim <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1902.<br />

E' o curso completo <strong>de</strong> um anno durante<br />

o qual se <strong>de</strong>ram factos dignos <strong>de</strong><br />

menção, não só para a historia das<br />

Creches em <strong>Coimbra</strong>, mas ainda para<br />

ensinamento <strong>de</strong> todos os que tiverem<br />

<strong>de</strong> intervir na conservação e <strong>de</strong>senvolvimento<br />

<strong>de</strong>ste instituto <strong>de</strong> beneficencia,<br />

tám util e tám necessário para esta<br />

cida<strong>de</strong>. Está na memoria <strong>de</strong> todo^ que<br />

a fundação da Creche actual é <strong>de</strong>vida<br />

á iniciativa da Associação Liberal que,<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um somno prolongado <strong>de</strong><br />

alguns <strong>de</strong>cennios, accordou em circumstancias<br />

anormaes <strong>de</strong> país, com um<br />

programma admiravel <strong>de</strong> bellos e ge<br />

nerosos emprehendimentos para me<br />

lhorar as condições materiaes da existência<br />

das classes pobres <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

e para impulsionar a educação moral<br />

e scientifica <strong>de</strong> todas as classes. Foram<br />

eleitas no seio <strong>de</strong>sse grémio commissóes<br />

para estudarem e realizarem os meios<br />

<strong>de</strong> fazer cursos livres e gratuitos, <strong>de</strong><br />

fundar um collegio mo<strong>de</strong>lo para educação<br />

<strong>de</strong> meninas e finalmente para<br />

crear e administrar cosinhas económicas<br />

e tres creches, uma na cida<strong>de</strong> alta,<br />

a segunda na baixa e a terceira em<br />

Santa Clara. De todo este programma<br />

apenas se pou<strong>de</strong> realizar muito incompletamente<br />

esta ultima parte, pois que<br />

<strong>de</strong> tVes creches q'ue se 5 <strong>de</strong>veriam abrir<br />

apenas foi aberta a que actualmente<br />

existe. Para isso mesmo toi necessário<br />

a audacia do sr. conselheiro dr. Bernardino<br />

Machado, digno presi<strong>de</strong>nte da<br />

Associação Liberal, que, na assembléa<br />

geral reunida nos princípios <strong>de</strong> maio<br />

para assentar no modo <strong>de</strong> solemnizar<br />

o dia 8 <strong>de</strong> maio, dia da entrada dos<br />

constitucionaes em <strong>Coimbra</strong>, annunciou,<br />

entre diversas propostas, que<br />

também seria inaugurada a t. a creche<br />

<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>. O annuncio era um nojo,<br />

porque não havia nada preparado para<br />

empresa tám difficil. A inauguração da<br />

creche exigia tres coisas indispensáveis:<br />

uma casa <strong>de</strong>vidamente mobilada e com<br />

os necessários utensílios; pessoal para<br />

o serviço, e a população dos recolhi<br />

dos. Nada disso existia, nem casa, nem<br />

pessoal nem creanças; mas a palavra<br />

do presi<strong>de</strong>nte estava comproinettida e,<br />

por isso, a commissão, compostas <strong>de</strong><br />

tres membros, Manoel José Telles,<br />

José Falcão Ribeiro e Philomeno da<br />

Camara envidou todos os esforços para<br />

que esta inauguração não fosse apenas<br />

uma promessa vã. Os visitantes da<br />

gran<strong>de</strong> casa dos Grillos, aon<strong>de</strong> o sr<br />

conselheiro dr. Bernardino Machado<br />

installára a expensas suas e com os<br />

seus proprios livros uma bibiiotheca<br />

para uso das classes operarias, po<strong>de</strong><br />

ram vêr ao lado do gran<strong>de</strong> salão <strong>de</strong> lei<br />

tura, uma sala elegantemente adorna<br />

da, graças aos cuidados do sr. Telles<br />

e esposa, com berços, vasos <strong>de</strong> flores<br />

e duas mesas em que assentavam os<br />

apparelhos esterilizadores do leite. Estava<br />

alli um verda<strong>de</strong>iro germen <strong>de</strong><br />

creche, em que só faltava a população<br />

das creanças recolhidas, pois que lá se<br />

encontrava ]á a futura regente, como<br />

que a superinten<strong>de</strong>r na faina do novo<br />

instituto.<br />

Para que aquelle germen se <strong>de</strong>senvolvesse,<br />

e se transformasse em arvore<br />

frondosa, a cuja sombra pu<strong>de</strong>ssem<br />

acolher-se os filhos das classes <strong>de</strong>svalidas,<br />

bastava que algumas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

pessoas caritativas e philantropicas o<br />

regassem e alimentassem com o obulo<br />

da sua carida<strong>de</strong> e philantropia. Nós<br />

assim o esperámos. Sem irrogar censura<br />

a ninguém, sem formular sequer<br />

queixa <strong>de</strong> caracter generico, a Direcção<br />

vai, pela narrativa feita a largos traços<br />

da vida ^canhada do neve» instituto,<br />

mostrar que nem sempre as coisas<br />

succe<strong>de</strong>m como é fácil e natural prever.<br />

Dois mezes <strong>de</strong>pois da inauguração da<br />

Creche da Cida<strong>de</strong> Alta era esta instalada<br />

numa pequena casa da Rua da<br />

Ilha, confortavelmente preparada para<br />

receber <strong>de</strong>z creanças. Constituiu se também<br />

a Associação das Creches <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong>, como socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> beneficencia<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, com vida própria e<br />

autonoma, cujos estatutos foram im<br />

pressos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> approvados pela<br />

portaria <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1901, firmada<br />

pelo illustre Governador Civil<br />

<strong>de</strong>ste districto dr. Luiz Pereira da<br />

Costa. A Associação das Creches <strong>de</strong><br />

<strong>Coimbra</strong> prestou a sua homenagem <strong>de</strong><br />

reconhecimento á Associação Liberal<br />

<strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarando no x.° art.°<br />

dos seus estatutos que fôra fundada<br />

RESISTENCIA — Quinta-feira, 19 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1903<br />

por iniciativa <strong>de</strong>sta socieda<strong>de</strong>. Ficou<br />

todavia, como socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> beneficencia,<br />

absolutamente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong>stinada<br />

unicamente a exercer a carida<strong>de</strong>,<br />

precisando para viver do auxilio e<br />

protecção <strong>de</strong> todas as pessoas bondosas,<br />

sem distincção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias sociaes<br />

ou politicas e <strong>de</strong> crenças religiosas.<br />

Na mundo civilizado, todas as pessoas<br />

<strong>de</strong> intelligencia esclarecida têm protegido<br />

esta admiravel instituição, que<br />

vem preencher a lacuna que existia<br />

entre as Maternida<strong>de</strong>s, don<strong>de</strong> sahem<br />

os recemnascidos <strong>de</strong> um mez, e os<br />

asylos para on<strong>de</strong> entram as creanças<br />

<strong>de</strong>pois dos tres annos, Firmino Marbeau,<br />

o fundador das primeiras creches<br />

em Paris, em 1844, foi efficazmente<br />

auxiliado pela imprensa, pela auctorida<strong>de</strong><br />

administrativa, pela auctorida<strong>de</strong><br />

religiosa e pela aca<strong>de</strong>mia francesa, que<br />

<strong>de</strong>u o premio Monthyon ao livro <strong>de</strong><br />

Marbeau intitulado «Das Creches». Em<br />

1845 foram abertas cinco creches em<br />

Paris, e oito em 1846. D'ahi esten<strong>de</strong>mse<br />

ellas a muitos países da Europa e<br />

"a todas as províncias <strong>de</strong> França, aon<strong>de</strong><br />

os parochos chegam a ce<strong>de</strong>r os seus<br />

passaes e resi<strong>de</strong>ncias para a installação<br />

das creches. Gregorio XVI conce<strong>de</strong><br />

indulgências aos fundadores das pn<br />

meiras creches, e Pio IX promette<br />

pessoalmente ao dr. João Vicente Martins,<br />

fundador da i. a creche no Porto<br />

em outubro <strong>de</strong> 1862, tornai as extensivas<br />

a todos os instituidores <strong>de</strong> novas<br />

creches. Estes intitutos <strong>de</strong> beneficencia<br />

merecem realmente <strong>de</strong>svelada pro<br />

tecção <strong>de</strong> todas as classes sociaes que,<br />

pela sua illustração e intelligencia, se<br />

interessam por tudo que po<strong>de</strong> concorrer<br />

para extirpar esse terrível cancro<br />

da humanida<strong>de</strong> — a miséria. As cre<br />

chés, amparando as creanças na eda<strong>de</strong><br />

em que ellas mais carecem <strong>de</strong> pro<br />

tecção, em que a miséria e as doenças,<br />

nos tres primeiros annos da sua existência,<br />

mais po<strong>de</strong>m comprometter a<br />

robustês do futuro operário, prepara<br />

homens validos, fonte <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong><br />

riquêsa, que seriam sem esse amparo<br />

inválidos a sobrecarregar a socieda<strong>de</strong><br />

com <strong>de</strong>spôsas e cuidados. Pelo mesmo<br />

motivo as creches evitam muitas doen<br />

ças, particularmente a tuberculose, e<br />

favorecem a instrucção permittindo a<br />

frequencia das escolas aos irmãos mais<br />

velhos das creanças recolhidas, as quaes<br />

teriam necessariamente <strong>de</strong> se inutilizar<br />

no domicilio paterno ficando ao lado<br />

<strong>de</strong>stes como guardas e vigias.<br />

Esperamos, pois, que em <strong>Coimbra</strong>,<br />

terra <strong>de</strong> illustração excepcional, pios<br />

que é a se<strong>de</strong> da única <strong>Universida<strong>de</strong></strong> do<br />

país, terra conhecida pela bonda<strong>de</strong> e<br />

philantropia dos seus habitantes, a instituição<br />

das creches não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong><br />

bracejar as suas sombras protectoras a<br />

muitas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> creanças <strong>de</strong>svalidas,<br />

como arvore frondosa carinhosamente<br />

alimentada e regada pelo obulo <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>.<br />

No <strong>de</strong>curso do anno findo algum<br />

movimento <strong>de</strong> simpathia da classe<br />

académica por esta instituição, e sa<br />

esmolas dalgumas pessoas illustradas<br />

e bondosas, como se po<strong>de</strong>i á ver pela<br />

lista dos donativos, sám factos que nos<br />

fazem esperar que isto assim succeda<br />

Oxalá que nos náo enganemos, e que<br />

os documentos e contas que seguem,<br />

chegando ao conhecimento <strong>de</strong> muitas<br />

pessoas, chamem a attenção <strong>de</strong> todos<br />

para esta nova instituição <strong>de</strong> beneficencia<br />

em <strong>Coimbra</strong>, e <strong>de</strong>spertem por<br />

ella a simpathia e carinho que lhe sám<br />

indispensáveis para a sua existencia e<br />

prosperida<strong>de</strong>.<br />

Não <strong>de</strong>sejamos terminar este pequeno<br />

relatorio só com a referencia a boas<br />

vonta<strong>de</strong>s manifestadas por donativos.<br />

Ha também serviços prestados á creche,<br />

não sendo permittido <strong>de</strong>ixar no<br />

olvido os nomes <strong>de</strong>stes benemeritos.<br />

Sám elles o sr. Augusto Eduardo Bar<br />

bosa que durante muitas semanas to<br />

dos os dias se apresentou no actual<br />

edifício da creche para dirigir e vigiar<br />

às obras que ahi se fizeram para a nova<br />

installação; o sr. dr. José Antonio <strong>de</strong><br />

Sousa Nazareth que, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

' director do Hosjpicio facilitou tudo jpara<br />

a concessão da casa e para as obras<br />

que alli se fizeram, e finalmente o sr.<br />

Governador Civil e dignos membros<br />

da Commissão Districtal, <strong>de</strong> quem directamente<br />

<strong>de</strong>pendia a concessão da casa<br />

em que actualmente está installada a<br />

creche.<br />

Sám também <strong>de</strong>vidos os nossos mais<br />

cor<strong>de</strong>aes agra<strong>de</strong>cimentos á Imprensa<br />

que, em <strong>Coimbra</strong> ou fóra <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,<br />

tem chamado para o novo instituto a<br />

attenção do publico, já pela noticia <strong>de</strong><br />

qualquer facto que lhe seja referente,<br />

á por elogios á indole da instituição e<br />

zêlo dos corpos gerentes.<br />

Pelo relatorio, que temos á vista,<br />

se mostra que esta simpathica Associação<br />

conseguiu atrahir a attenção publica<br />

que começa a olhal-a com o interesse<br />

e protecção que merece.<br />

O numero dos socios tem augmentado<br />

gradualmente, e os donativos, em<br />

dinheiro e objectos <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>, começam<br />

a affluir, sendo <strong>de</strong> esperar que<br />

entre numa phase <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong>,<br />

compensando assim os trabalhos e o<br />

cuidado com que é administrada.<br />

D. ANGELINA VIDAL<br />

7 \<br />

ÍCARO<br />

(Poemeto)<br />

gheatro

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