Euclides da Cunha, intérprete do Brasil: O diário de um povo ... - pucrs
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PAREDES, M. M. – O repertório teórico <strong>de</strong> Os Sertões: ensaio sobre o drible euclidiano<br />
<strong>Eucli<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> <strong>Cunha</strong> viveu intensamente esse<br />
contexto. Foi <strong>um</strong> jovem republicano rebel<strong>de</strong>. Formou-se<br />
na Escola Militar 6 sob as lições <strong>de</strong> Benjamim Constant e<br />
participou ativamente <strong>da</strong>s campanhas que formavam a<br />
opinião pública <strong>da</strong> época. O texto <strong>de</strong> Sílvio Romero também<br />
acrescenta mais informações a respeito <strong>da</strong> superação <strong>da</strong><br />
filosofia espiritualista pela on<strong>da</strong> cientificista que varreu<br />
to<strong>do</strong>s os campos <strong>do</strong> conhecimento.<br />
Um ban<strong>do</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias novas esvoaçou<br />
sobre nós <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os pontos <strong>do</strong><br />
horizonte. Hoje, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> trinta<br />
anos, hoje, que são elas correntes e<br />
an<strong>da</strong>m por to<strong>da</strong>s as cabeças, não têm<br />
mais o sabor <strong>da</strong> novi<strong>da</strong><strong>de</strong>, nem lembram<br />
mais as feri<strong>da</strong>s que, para as espalhar,<br />
sofremos os combatentes <strong>do</strong> gran<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>cénio. Positivismo, evolucionismo,<br />
<strong>da</strong>rwinismo, crítica religiosa, naturalismo,<br />
cientificismo na poesia e no romance,<br />
folk-lore, novos processos <strong>de</strong> crítica e<br />
<strong>de</strong> história literária, transformação <strong>da</strong><br />
intuição <strong>do</strong> direito e <strong>da</strong> política, tu<strong>do</strong><br />
então se agitou (...). 7<br />
sil Social). Porto: Livraria Chardron, 1910, p.359.<br />
6 Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1810, por D. Rodrigo <strong>de</strong> Sousa e Coutinho, a Real Aca<strong>de</strong>mia Militar<br />
<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> insere-se no conjunto <strong>de</strong> transformações ocorri<strong>da</strong>s na colônia com a transferência<br />
<strong>da</strong> Família Real em 1808. Mesmo com alg<strong>um</strong>as resistências à sua organização<br />
na época, a escola ganhou corpo com <strong>um</strong>a visível influência il<strong>um</strong>inista com a inclusão<br />
<strong>da</strong>s ciências exatas e naturais nos currículos. A escola estruturava-se em quatro armas:<br />
engenharia militar, artilharia, cavalaria e infantaria, apresentan<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua<br />
fun<strong>da</strong>ção, <strong>um</strong>a forte influência <strong>do</strong> pensamento francês. Para maiores informações a<br />
respeito <strong>da</strong> influência <strong>da</strong> Escola militar na formação <strong>de</strong> <strong>Eucli<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> <strong>Cunha</strong> consultar<br />
CUNHA, <strong>Eucli<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong>. <strong>Eucli<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> <strong>Cunha</strong>. Organização <strong>de</strong> Walnice Nogueira Galvão.<br />
São Paulo: Ática. Col. Gran<strong>de</strong>s cientistas sociais n.° 45, 1984, p.7-37.<br />
7 ROMERO, Op. Cit., pp.359-360.<br />
É esta agitação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias e instabili<strong>da</strong><strong>de</strong> intelectual<br />
que vale à pena ser segui<strong>da</strong>. Merece <strong>de</strong>staque o repertório<br />
teórico disponível naquele contexto <strong>de</strong> escrita: positivismo,<br />
evolucionismo <strong>da</strong>rwinismo, crítica religiosa, naturalismo,<br />
cientificismo etc. Uma on<strong>da</strong> <strong>de</strong> novas compreensões<br />
acerca <strong>da</strong> natureza, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>da</strong> história. Transgri<strong>de</strong><br />
o objetivo <strong>de</strong>ste artigo a explicação <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> <strong>um</strong><br />
<strong>de</strong>stes postula<strong>do</strong>s e sobre o porquê eles distinguem-se uns<br />
<strong>do</strong>s outros. 8 Contu<strong>do</strong>, parece relevante <strong>de</strong>dicar atenção à<br />
inflexão ocorri<strong>da</strong> na opinião <strong>de</strong> <strong>Eucli<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong> <strong>Cunha</strong> sobre<br />
os sertanejos. É crível que no momento <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong><br />
opinião <strong>do</strong> autor se <strong>de</strong>sven<strong>de</strong> importantes elementos <strong>de</strong> seu<br />
pensamento. Para ter-se <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ia disto, basta cotejar as<br />
matérias produzi<strong>da</strong>s antes <strong>de</strong> sua viagem a Canu<strong>do</strong>s com<br />
alg<strong>um</strong>as linhas <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> experiência sertaneja.<br />
Antes <strong>do</strong> sertão, as certezas<br />
Os artigos escritos no periódico por <strong>Eucli<strong>de</strong>s</strong> <strong>da</strong><br />
<strong>Cunha</strong> marcam o primeiro momento <strong>de</strong> seu contato com<br />
o sertão. Como comentarista político <strong>do</strong> jornal A Província<br />
<strong>de</strong> São Paulo interpretava os acontecimentos <strong>do</strong> interior<br />
<strong>de</strong> Pernambuco como <strong>um</strong>a revolta <strong>de</strong> “monarquistas<br />
renitentes”. Trata-se <strong>de</strong> <strong>do</strong>is artigos, ambos com o título <strong>de</strong><br />
A Nossa Vendéia. O primeiro, publica<strong>do</strong> em 14 <strong>de</strong> março <strong>de</strong><br />
1897 e o segun<strong>do</strong> publica<strong>do</strong> em 17 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1897.<br />
A Revolta <strong>da</strong> Vendéia foi <strong>um</strong> movimento monarquista<br />
e católico ocorri<strong>do</strong> em 1793 na França em oposição à<br />
8 Exploro alg<strong>um</strong>as diferenças existentes entre estes postula<strong>do</strong>s teóricos em PA-<br />
REDES, Marçal <strong>de</strong> M. “De convergências e dissidências: notas sobre o repertório<br />
teórico <strong>do</strong> final <strong>do</strong> século XIX”. In: SILVA, Mozart Linhares <strong>da</strong>. Ciência, raça e<br />
racismo na mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Santa Cruz <strong>do</strong> Sul: EDUNISC, 2009, pp.152-176.<br />
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