VJ FEV 091.p65 - Visão Judaica
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s eleições gerais realizadas<br />
dia 10/2 não decidiram<br />
quem vai governar Israel.<br />
Foram 34 partidos que disputaram<br />
as 120 cadeiras do<br />
Parlamento. Nenhum dos chamados<br />
grandes partidos conseguiu obter maioria<br />
absoluta, essencial para o direito de<br />
formar o governo. Normalmente é quase<br />
impossível que isso aconteça. Por<br />
isso, os governos são formados pela coalização<br />
dos partidos.<br />
Muito embora o Kadima, da atual ministra<br />
das Relações Exteriores, Tzipi Livni<br />
tenha vencido com 28 cadeiras, uma a<br />
mais que o partido Likud, de Binyamin<br />
Netaniahu, que obteve 27 cadeiras, tudo<br />
leva a crer que este será o futuro primeiro-ministro<br />
a formar o governo. Tudo por<br />
causa de uma grande surpresa que as<br />
eleições reservaram: todos os partidos de<br />
esquerda de Israel, os considerados pacifistas,<br />
não conseguiram, juntos, nem<br />
30% das cadeiras no Knesset (Parlamento).<br />
O partido mais afetado foi o histórico<br />
Avodá (trabalhista), que ajudou a fundar<br />
Israel, e que ficou em quarto lugar.<br />
A segunda surpresa foi Tzipi Livni, 50<br />
anos. As pesquisas davam conta de que<br />
ela perderia para Netaniahu no número<br />
de cadeiras, pois liderava com folga todas<br />
as sondagens. Mas a terceira surpresa<br />
foi Avigdor Liberman, um emigrado da<br />
Moldávia, cuja política, em alguns seto-<br />
Julian Schvindlerman *<br />
Se algo aprendemos da Shoá é que o<br />
genocídio começa com a destruição intelectual<br />
de um povo, abrindo o caminho para<br />
sua destruição física eventual. Antes de alcançar<br />
o aniquilamento parcial do povo judeu,<br />
os nazistas precisaram primeiro obliterá-lo<br />
no imaginário coletivo. Antes de levar<br />
os judeus às câmaras de gás, precisaram<br />
persuadir a opinião pública de que os<br />
judeus eram subumanos merecedores do<br />
extermínio contra eles planejado. Primeiro<br />
estes foram destruídos nos discursos pronunciados<br />
dos palcos, nos panfletos divulgados<br />
nas universidades, nos cartazes erguidos<br />
nas manifestações de rua, nas leis<br />
raciais; de modo que os judeus foram completamente<br />
aniquilados idealmente como<br />
prelúdio à sua obliteração material.<br />
Ao marcar um novo aniversário do Dia<br />
Internacional do Holocausto, comprovamos<br />
com horror que esta lição elementar não tem<br />
sido ainda aprendida. Durante as últimas<br />
As eleições em Israel<br />
Binyamin Netaniahu<br />
Tzipi Livni<br />
res da sociedade israelense e do exterior,<br />
está sendo chamado de extremista.<br />
Ele pode ser o fiel da balança para o novo<br />
governo e a hipótese viável é que se alie<br />
a Bibi Netaniahu. Mas nada ainda é certo.<br />
Nos últimos dias comenta-se a pos-<br />
0sibilidade de um acordo entre Livni e Netaniahu,<br />
o que parecia impossível logo<br />
após as eleições.<br />
Mas basta que Livni ou Bibi conquistem<br />
o apoio do direitista Liberman, a nova<br />
estrela política que despontou com 15<br />
cadeiras, com seu partido Israel Beitenu<br />
("Israel, Nossa Casa"), para o novo governo<br />
ser formado. O Partido Trabalhista<br />
(centro-esquerda) ficou com 13 cadeiras.<br />
Em quinto lugar vem o Shas (ultraortodoxo),<br />
com 11 parlamentares eleitos. A distribuição<br />
das cadeiras dos pequenos partidos<br />
ficou assim: Judaísmo Unido da Torá<br />
(cinco), Raam (quatro), União Nacional<br />
(quatro), Hadash (quatro), Meretz (três),<br />
Lar Judeu (três) e Balad (três). O Raam e<br />
As lições do Holocausto - Hoje<br />
semanas, no contexto do conflito em Gaza,<br />
temos assistido à demonização coletiva de<br />
toda uma nação. O espetáculo foi surrealista.<br />
Enquanto que no Brasil o Partido dos Trabalhadores<br />
qualificou a represália israelense<br />
contra o Hamas de "prática nazista", na<br />
Itália o sindicato Flaica-Uniti-Club pretendeu<br />
ressuscitar as leis raciais fascistas ao<br />
instar o boicote às lojas comerciais pertencentes<br />
aos judeus de Roma. Enquanto que<br />
em Mar del Plata o titular do Centro Islâmico<br />
assegurou que "prontamente Israel,<br />
como o Estado nazista, desaparecerá e será<br />
somente uma má recordação do povo árabe",<br />
na Holanda manifestantes gritaram "gaseifiquem<br />
os judeus". Enquanto que um alto<br />
funcionário do Vaticano equiparou Gaza com<br />
"um grande campo de concentração", manifestantes<br />
cantaram em coro na Flórida<br />
contra os judeus: "voltem para os fornos".<br />
Ou seja, cada grupo pedia cruamente por<br />
um novo Holocausto contra os judeus, e acusava-os<br />
de serem nazistas. Desde o final da<br />
Segunda Guerra Mundial não temos presen-<br />
VISÃO JUDAICA fevereiro de 2009 Shevat / Adar 5769<br />
o Balad, são partidos árabes.<br />
Mas o Hadash, que é<br />
comunista, também tem representantes<br />
árabes. Os outros<br />
dos 34 partidos que<br />
apresentaram listas de candidatos<br />
ao pleito ficaram de<br />
fora da representação parlamentar<br />
ao não superarem<br />
a barreira exigida dos 2%.<br />
Eleição em Israel não é<br />
simplesmente eleição em país pequeno.<br />
É uma disputa em torno de um país cuja<br />
situação é estratégica para a tranqüilidade<br />
do Oriente Médio, onde é o único<br />
não-muçulmano e democrático.<br />
Os números oficiais devem sair no dia<br />
18. A partir daí o presidente Shimon Peres<br />
terá uma semana para decidir qual<br />
dos dois candidatos convidará para formar<br />
um novo governo. Tradicionalmente,<br />
quem lidera a maior bancada tem a preferência.<br />
Mas, a menos que Livni consiga<br />
a proeza de convencer Netanyahu a<br />
apoiá-la ou, o que parece mais difícil, de<br />
atrair a extrema-direita israelense, Peres<br />
será forçado a chamar Netanyahu. Se<br />
isso acontecer será a primeira vez nos<br />
60 anos da história de Israel que um vencedor<br />
de uma eleição será preterido.<br />
O índice de comparecimento às urnas<br />
chegou a 65%, superando todas as<br />
expectativas embora o voto não seja obrigatório<br />
em Israel.<br />
ciado um chamado tão explícito para liquidar<br />
os judeus nas capitais do mundo livre.<br />
Que se invoque a retórica nazista contra os<br />
judeus ao protestar contra a política militar<br />
de Israel, país que por sua vez é acusado de<br />
ser nazista ao lidar com os palestinos, é um<br />
cenário tão novel como inquietante.<br />
O antissemitismo, camuflado de antiisraelismo,<br />
reina soberano. Não é que toda<br />
crítica ao Estado judeu seja necessariamente<br />
judeófoba. Obviamente, Israel é um Estado<br />
com defeitos e como tal passível de<br />
sanção. A crítica política a Israel é válida.<br />
Mas é igualmente inegável que, muitas vezes,<br />
a condenação ao Estado de Israel efetivamente<br />
carrega uma dose de preconceito<br />
antissemita. Quando anos atrás o compositor<br />
Mikis Theodorakis, criador da música<br />
do filme 'Zorba o Grego' e do Hino Nacional<br />
Palestino, disse que os judeus "são a<br />
raiz de todo o mal" em sua suposta condenação<br />
das políticas de Israel, advertimos<br />
que uma linha foi cruzada. O cartaz erguido<br />
numa recente aglomeração na Austrália que<br />
Mulher árabe vota na eleições de Israel<br />
Judeu ortodoxo se prepara para votar<br />
* Julian Schvindlerman é licenciado em Administração pela Universidade de Buenos Aires e tem mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Hebraica de Jerusalém. É autor do livro<br />
"Tierras por Paz, Tierras por Guerra" e o ensaio "El Otro Eje del Mal: antinorteamericanismo, antiisraelismo y antisemitismo". Colunista do periódico Comunidades, da revista Keter e da<br />
Rádio Jai. Tem artigos publicados no Haartez, Jerusalem Report (Israel), Washington Times, Middle East Quarterly, Midstream, El Nuevo Herald (Estados Unidos), Clarín, La Nación, El<br />
Cronista, La Voz del Interior, Agenda Internacional (Argentina), El Heraldo (Colômbia), Libertad Digital (Espanha), e jornais das comunidades judaicas da Grã-Bretanha, Espanha e América<br />
Latina. Proferiu conferências na Argentina, Aruba, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, México, Panamá, Uruguai e Venezuela. Publicado originalmente por<br />
Guysen International News e distribuído por www.porisrael.org<br />
19<br />
exigia que se "limpe a terra de sionistas<br />
sujos", exatamente que política israelense<br />
estava objetando? Qual ação israelense especificamente<br />
estavam condenando os que<br />
em Toulouse lançaram um automóvel em<br />
chamas contra a sinagoga local? Parece<br />
curioso notar que o grupo islâmico Hamas -<br />
que abertamente cometeu crimes de guerra<br />
ao atacar civis israelenses protegendose<br />
com civis palestinos, e cuja Carta constitutiva<br />
pede abertamente a destruição de um<br />
estado-membro da ONU - em nenhum momento<br />
foi comparado com os nazistas ou<br />
acusado de querer cometer um genocídio.<br />
A indignação mundial e a condenação desproporcional<br />
foram reservadas a Israel.<br />
Esperemos que esta nova recordação dos<br />
trágicos fatos da Shoá possa nos dotar da<br />
perspectiva e da sabedoria necessárias que<br />
nos permitam compreender, no sentido mais<br />
profundo possível, que o que começa com<br />
retórica extrema termina em ações atrozes.