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VERDADE TROPICAL

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samba das ruas, afastá-lo de suas características de música de dança e<br />

transformá-lo num gênero pop para consumo de jovens urbanos de<br />

classe média. Mas a verdade é que, com o aparecimento de João<br />

Gilberto, pode-se dizer que até o oposto aconteceu. O samba já<br />

conhecia uma longa história de estilizações sofisticadas que, desde o<br />

inicio do século, o afastaram do batuque dos terreiros da Bahia (onde<br />

ele nasceu com esse nome de samba e onde ainda é cantado, tocado<br />

e dançado em sua forma primitiva como parte da cultura viva não<br />

apenas da população analfabeta dos bairros pobres ou das áreas rurais<br />

atrasadas, mas também da classe média das cidades do recôncavo<br />

baiano) e do partido alto das favelas cariocas (cujos blocos<br />

carnavalescos foram pouco a pouco se transformando no Folies-<br />

Bergère de rua que são as atuais "escolas de samba", as quais, não<br />

obstante, apresentam nos seus conjuntos de percussão - as chamadas<br />

"bateria" - a mais impressionante manifestação de originalidade e<br />

competência de toda a arte popular brasileira).<br />

Não foram sequer aqueles modernizadores americanizados dos fins<br />

dos anos 40 e início dos 50 - os já citados pré-bossanovistas Farney, Alves<br />

e Alf – que iniciaram a transformação do samba em gênero pop<br />

elaborado. Primeiro o teatro e depois o rádio e o disco fizeram nascer<br />

sucessivas gerações de arranjadores, cantores, compositores e<br />

instrumentistas que criaram um samba domado e refinado, sobretudo a<br />

partir dos anos 30. Quando João Gilberto inventou a batida que foi o<br />

núcleo do que veio a se chamar de bossa nova, a forma sambacanção<br />

dominava. O que se chama samba-canção - e que já foi<br />

apelidado meio pejorativamente de "sambolero" - é uma espécie de<br />

balada lenta em que o ritmo do samba só é perceptível para um<br />

ouvido brasileiro treinado para reconhecê-lo em todas as suas variações<br />

de andamento e acentuação. Essa modalidade de samba vinha se<br />

desenvolvendo desde Noel Rosa - inclusive com interpretações<br />

ostensivamente cool de Mário Reis, um cantor de voz pequena e estilo<br />

desdramatizado - e chegou a se constituir em parte predominante de<br />

uma fase da produção de Ary Barroso e Herivelto Martins, além do<br />

Caymmi dos anos 40. Basta ouvir as gravações de Sílvio Caldas de<br />

"Maria" ou "Tu", de Ary Barroso, ou "Carinhoso" de Pixinguinha por<br />

Orlando Silva - todas dos anos 30 - para saber que o samba domado e<br />

refinado dos estúdios e das partituras havia muito se tornara o gênero<br />

dominante, sendo os registros de tratamento mais percussivo de samba<br />

"de rua" ou de terreiro antes a exceção do que a regra.<br />

Nos anos 50, cantores como Ângela Maria, Carmen Costa, Nora<br />

Ney, Nelson Gonçalves, Cauby Peixoto e Dóris Monteiro (para citar<br />

alguns poucos) tinham no samba-canção "de meio de ano" - em<br />

oposição aos sambas de dança compostos especialmente para o<br />

Carnaval - o essencial de suas carreiras. Nora Ney, em particular, com<br />

sua voz grave e sua dicção límpida, fundou um estilo urbano e noturno,<br />

marcado até mesmo por uma densidade, digamos, literária, sobre o

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