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VERDADE TROPICAL

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conhecido como cantor e compositor depois da onda do neo-rock'n'roll<br />

inglês e, sobretudo, depois do tropicalismo. O que propiciou uma<br />

aproximação entre nós que parecia impossível no nosso tempo de<br />

Salvador. Suponho que Gilberto Gil chegou a conhecê-lo pessoalmente<br />

naquela época. Eu não desconhecia então, a existência de sua banda<br />

- Raulzito e Os Panteras -, de que tanto se falava. Simplesmente nunca<br />

me senti estimulado a ir ver uma de suas apresentações. E creio que ele<br />

tampouco tivesse visto nossos shows do Vila Velha, pois, nas nossas<br />

consideravelmente freqüentes (e interessantíssimas) conversas dos anos<br />

70, ele sempre insistia no tema do pobre roqueiro sendo esnobado pelos<br />

bossanovistas (o que nunca chegou a parecer expressar um verdadeiro<br />

ressentimento, uma vez que, nessas conversas, predominava o tom de<br />

cumplicidade de baianos no Rio, e todos sabíamos que ele tinha sido<br />

um menino muito mais rico - ou muito menos pobre - do que nós), mas,<br />

embora ele se queixasse de nós não termos ido vê-lo cantar, nunca<br />

mencionou que ele tivesse ido nos assistir.<br />

Nesses encontros dos anos 70, sentíamos o sabor de conviver com<br />

um companheiro de geração e colega de profissão que tinha crescido<br />

e começado a trabalhar na mesma cidade que nós sem que nenhum<br />

tipo de atração nos tivesse reunido no primeiro momento. Os nossos<br />

shows do Vila Velha - que são o marco desse primeiro momento -<br />

conheceram um grande sucesso junto a um público<br />

predominantemente universitário e gozaram de prestígio na imprensa<br />

local. Os shows de Raul contavam com uma platéia grande,<br />

adolescente e suburbana e eram noticiados pela imprensa sem<br />

antipatia, mas não poderiam suscitar o respeito que nosso grupo de<br />

compositores, músicos e cantores de música popular brasileira moderna<br />

encontrava entre os chamados formadores de opinião.<br />

Raul sabia de nós tanto quanto nos dele. Possivelmente mais. E, se<br />

suas queixas quanto à nossa atitude esnobe eram fundadas e<br />

justificadas. ele próprio deixava ressurgir nessas reminiscências o tom<br />

agressivamente irreverente com que ele e sua turma se referiam à<br />

"turma da bossa nova". Isso tinha o poder de nos aproximar ainda mais.<br />

Nós éramos os inventores do tropicalismo, e o tropicalismo tinha trazido<br />

o rock'n'roll para o convívio das coisas respeitáveis, o que fora decisivo<br />

para que Raul pusesse em prática suas idéias e pusesse suas idéias no<br />

mercado. Ele nos era grato por isso, e quando externava sua violência<br />

em relação à poesia rala e à música docemente presunçosa cultivada<br />

pelos que então eram citados sob a sigla MPB, ele contava com nossa<br />

adesão entusiasmada: nós já tínhamos - e ele sabia – voltado nossas<br />

baterias contra o que havia de tudo isso em nós mesmos.<br />

Um dado curioso, que ficou em mim como uma profunda marca<br />

desses encontro, me parece cada vez mais revelador. Por essa época,<br />

Raul, que esteve alguns anos casado com uma moça americana,<br />

quase conversava mais em inglês do que em português, mesmo<br />

quando todos os presentes eram brasileiros. Seu inglês era fluente e

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