14.04.2013 Views

VERDADE TROPICAL

VERDADE TROPICAL

VERDADE TROPICAL

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

sentido de "hímen" foi evitado optando-se por "tostões" como<br />

recentemente, numa nova montagem baiana optou-se por "minréis"), e,<br />

depois, Calígula, de Camus. Houve colaboração também com o critico<br />

de cinema Walter da Silveira na transformação da rampa que liga o<br />

foyer à sala de espetáculos num belo cineminha exclusivo do clube de<br />

cinema que ele fundara. As sessões ali consistiam sobretudo em grandes<br />

filmes mudos (Greed, La petite marchande d'allumettes, Metropolis, A<br />

nous la liberte, Outubro, etc.), ou velhos filmes falados que já não se<br />

veriam nos cinemas normais (Cidadão Kane, M, Monsieur Verdoux etc,),<br />

ou ainda filmes que tinham sido vistos não fazia muito tempo (Nazarin<br />

ou On the waterfont) mas que reapareciam ali comentados pelo<br />

próprio Walrer da Silveira ou por um seu convidado. Lembro de uma<br />

noite em que o ainda muito jovem mas já com fama de gênio Glauber<br />

Rocha comentou (desfavoravelmente) Umberto D., de De Sica: sua fala<br />

que precedia a projeção, como era hábito no clube, foi brilhantemente<br />

irreverente e opôs a secura de Rossellini, seu favorito entre os diretores<br />

neo-realistas, ao sentimentalismo piegas de De Sica, mas Umberto D. me<br />

pareceu deslumbrante assim mesmo. Instrumentistas e maestros da<br />

escola de música (a cujos concertos sinfônicos ou camerísticos<br />

assistíamos no salão nobre da reitoria semanalmente) também<br />

colaboraram na montagem da Ópera de Brecht e em alguns outros<br />

espetáculos teatrais - e um ator da Escola de Teatro foi o narrador na<br />

apresentação de Pedro e o lobo. O diretor da Escola de Música, o<br />

maestro Koellreutter (que tinha ensinado a Tom Jobim), um homem<br />

brilhante e identificado com as vanguardas, imprimiu um caráter muito<br />

vivo à programação de concertos: tínhamos Beethoven, Mozart,<br />

Gershwin, Brahms – e tivemos David Tudor executando peças de John<br />

Cage para piano preparado e aparelhos de rádio (lembro da<br />

gargalhada que tomou conta da sala e do próprio diretor da escola<br />

quando se ouviu. logo que Tudor ligou o rádio, a voz familiar do locutor:<br />

"Rádio Bahia, Cidade do Salvador").<br />

Foi para esse mundo extremamente excitante para mim que a<br />

inteligência e a sensibilidade de Maria Bethânia se abriram naquela<br />

noite de A história de Tobias e de Sara, no pequeno mas<br />

excelentemente equipado Teatro Santo Antônio, o palco oficial da<br />

escola. Depois de ver Helena Ignez e Érico de Freitas sob uma luz que os<br />

transformava em visões celestiais, dizerem o texto que nos soava cheio<br />

de misteriosa poesia (até hoje Bethânia e eu imitamos com perfeição a<br />

voz de Helena dizendo: Eu sou a romã!), Bethânia nunca mais deixou de<br />

sair comigo para concertos, peças, filmes e exposições e para todas as<br />

grandes festas populares que tomam anualmente as ruas de Salvador<br />

nos dias dos santos ou dos orixás de grande devoção. Ela se enamorou<br />

sobretudo do teatro, e em breve ambos cultuávamos os atores Helena<br />

Ignez, Geraldo del Rey e Antônio Pitanga como se fossem grandes<br />

estrelas e, de fato, quem os vir nos filmes do Cinema Novo que eles<br />

vieram a protagonizar mais tarde, poderá confirmar que todos eles<br />

tinham beleza, carisma e talento suficientes para qualquer tipo de

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!