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VERDADE TROPICAL

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desembocar no tropicalismo começaram a surgir em torno de nós. Ela<br />

havia sido chamada para substituir a cantora Nara Leão no espetáculo<br />

Opinião, um grande sucesso no Rio em 64. Eu estava passando as férias<br />

de verão daquele ano na fazenda da família de meu amigo Pedro<br />

Novis, no vale do Iguape, entre Santo Amaro e Cachoeira. Eu adorava<br />

Pedrinho e estava maravilhado com a fazenda. Mas com poucos dias<br />

de estadia vi-me de súbito obcecado pelo pensamento de Maria<br />

Bethânia. Eu simplesmente imaginava que ela precisava de mim com<br />

urgência e que isso tinha nexo com os shows do Vila Velha. Pedrinho<br />

mostrou-se duplamente incrédulo ao ouvir tal historia: não existem<br />

premonições e eu só poderia estar envergonhado de dizer que não<br />

queria mais ficar na fazenda. Eu, ao contrário, me sentia talvez na<br />

obrigação de deixá-la contra a minha vontade. De todo modo não<br />

havia meios de ir para Salvador: ele jamais diria a seu pai que uma<br />

viagem inesperada teria que ser feita por um motivo tão absurdo. Dormi<br />

inquieto. Na manhã seguinte chegaram de surpresa uns parentes de<br />

Pedrinho. Eles almoçariam e seguiriam viagem: estavam ali de<br />

passagem para Salvador. Decidi ir com eles, mas Pedrinho não aceitou.<br />

Sua indignação e a inconsistência do meu motivo me paralisaram.<br />

Vendo a caminhonete partindo tive certeza de que Bethânia tinha que<br />

me ter ao seu lado. Mas Pedrinho, ainda zangado, frisou o fato de que<br />

eu havia perdido a única oportunidade de pôr em prática a idéia sem<br />

sentido. De noite, à mesa do jantar, dr. Renato, o pai de Pedrinho,<br />

comunicou meio solenemente que teria de ir a Salvador e que partiria<br />

na manhã seguinte bem cedo. Era uma decisão nada usual: ao chegar<br />

no Iguape, ninguém da família queria sequer pensar em Salvador antes<br />

da data da volta aos estudos ou ao trabalho. Mas dr. Renato ficara<br />

febril de repente e estava preocupado.<br />

Ouvindo isso, falei nervosamente, quase sem pensar - e sem olhar<br />

absolutamente para Pedrinho: "Eu vou com o senhor". De manhãzinha<br />

eu partia do Iguape, onde deixava meu amigo entre irado e perplexo.<br />

Já na estrada, percebi o tamanho do ridículo da situação e<br />

intimamente quis voltar - o que eu nem imaginava comunicar a dr.<br />

Renato. Como a estrada passava por dentro de Santo Amaro, decidi<br />

saltar ali e ir visitar minha irmã Mabel, já que, agora totalmente cético,<br />

não queria chegar a Salvador. Surpreso dr. Renato fez a parada e se<br />

despediu de mim sorrindo intrigado.<br />

Quando me vi andando em direção à casa de Mabel, imaginei<br />

que na verdade Bethânia estaria ali e era por isso que eu não tinha<br />

seguido para Salvador. Mabel me recebeu surpresíssima de me ver à<br />

sua porta de manhã tão cedo. Perguntei-lhe logo se Bethânia estava<br />

com ela. Com o olhar espantado ela me informou que claro que não,<br />

que Bethânia nem sequer tinha planos de vir para Santo Amaro. Relaxei<br />

- meio aliviado, meio decepcionado – e resolvi de uma vez por todas<br />

não pensar mais no assunto. Mas pouco antes do almoço - para<br />

renovada surpresa de Mabel - Bethânia chegou. Logo perguntei o que

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