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fazer download - Núcleo estudos de gênero - Universidade Federal ...

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instrumento <strong>de</strong>stes saberes médico-científicos. Isto é, a sexualida<strong>de</strong> emerge no interior<br />

<strong>de</strong>stes discursos e é o elemento através do qual estes discursos esten<strong>de</strong>m seu campo <strong>de</strong><br />

ação.<br />

Este dispositivo <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong> produz igualmente subjetivida<strong>de</strong>s. Indivíduos<br />

são ao mesmo tempo criados por certos discursos e assujeitados por eles através das<br />

práticas do exame e da institucionalização. A histerização do corpo da mulher, a<br />

pedagogização do sexo das crianças, a socialização das condutas <strong>de</strong> procriação e<br />

enfim, a psiquiatrização do prazer perverso 41 são algumas estratégias que atravessaram<br />

e utilizaram o sexo das crianças, das mulheres e dos homens, não só <strong>de</strong>limitando o<br />

sexo como objeto privilegiado, mas produzindo também os indivíduos sobre os quais<br />

estas estratégias pesaram em busca <strong>de</strong> normalização. A mulher histérica e a mulher sã,<br />

a criança onanista e aquela que não se masturba, o casal malthusiano, o adulto<br />

perverso e o normal, são ao mesmo tempo os alvos, a criação e o ponto que permite a<br />

ativação <strong>de</strong> saberes específicos. Ao serem examinados, interrogados, separados e<br />

catalogados, aqueles individuos foram sendo <strong>de</strong>senhados, criados e materializados.<br />

É no fim do século XVIII que emerge uma nova tecnologia do sexo. Mesmo se<br />

ela não é completamente livre da temática do pecado, esta nova tecnologia não será<br />

mais or<strong>de</strong>nada pela instituição eclesiástica. A partir <strong>de</strong> então ela começa a se or<strong>de</strong>nar<br />

em torno da pedagogia, da medicina e da economia, fazendo do sexo uma questão<br />

laica e uma questão <strong>de</strong> Estado 42 . Ora, mesmo se esta nova tecnologia se apropria <strong>de</strong><br />

temáticas próprias ao cristianismo – como por exemplo a questão da sexualida<strong>de</strong> das<br />

crianças que já havia sido problematizada na pedagogia espiritual do cristianismo – ela<br />

o faz transformando estas temáticas e o faz a partir e do interior <strong>de</strong> disciplinas<br />

específicas que possuem um discurso e um vocabulario diferente.<br />

Eis a mudança capital situada na virada do século XVIII para o século XIX; o<br />

sexo passa a pertencer ao domínio da medicina. A partir da exigência <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> e<br />

se organizando ao redor da temática da vida e da doença – temáticas próprias ao<br />

41 “Hystérisation du corps <strong>de</strong> la femme”, “pédagogisation du sexe <strong>de</strong> l’enfant”, “socialisation <strong>de</strong>s conduites<br />

procréatrices” e “ psychiatrisation du plaisir pervers ” (tradução livre) FOUCAULT, Michel. Histoire <strong>de</strong> la<br />

sexualité I. La volonté <strong>de</strong> savoir. Paris. Gallimard, 1976. pp. 137-138.<br />

42 Op. Cit., p.154.<br />

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