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É a partir do século XIX que, não sem resistência, o dispositivo <strong>de</strong> sexualida<strong>de</strong><br />

será disseminado pelo tecido social. Para que o sexo, a sexualida<strong>de</strong> e a saú<strong>de</strong> do<br />

proletariado fossem colocados em questão, foi necessária a eclosão <strong>de</strong> conflitos no<br />

espaço urbano. A contaminação e transmissão <strong>de</strong> doenças ligadas a promiscuida<strong>de</strong> e<br />

proximida<strong>de</strong> das habitações, a prostituição e a rápida disseminação <strong>de</strong> doenças<br />

venerias, a necessida<strong>de</strong> do controle <strong>de</strong>mográfico, são alguns dos elementos que<br />

permitiram ou exigiram que o proletariado fosse interrogado, analisado e controlado;<br />

que ele fosse também subjetivado através do dispositivo da sexualida<strong>de</strong>. Desta forma,<br />

é possível compreen<strong>de</strong>r a idéia <strong>de</strong>fendida pelo autor francês <strong>de</strong> que o sexo se or<strong>de</strong>nou<br />

ao redor da temática da vida e da doença. Temática esta que funciona no interior ou<br />

que faz funcionar o sistema do bio-po<strong>de</strong>r.<br />

Na primeira meta<strong>de</strong> do século XIX a importante discussão em torno da<br />

hereditarieda<strong>de</strong> fez do sexo uma questão central, um elemento que <strong>de</strong>ve ser levado em<br />

consi<strong>de</strong>ração quando se trata da saú<strong>de</strong> do corpo social como um todo. Se o sexo não<br />

fosse vigiado, controlado, tratado, as gerações futuras seriam colocadas em perigo 58 .<br />

Os médicos enquanto autorida<strong>de</strong>s capacitadas a discursar sobre a saú<strong>de</strong> e o sexo<br />

da socieda<strong>de</strong>, começaram a propor explicações que se pretendiam racionais sobre as<br />

conseqüências <strong>de</strong> certas relações sexuais no <strong>de</strong>vir da civilização. Assim, não é uma<br />

coincidência o fato <strong>de</strong> a teoria da <strong>de</strong>generescência, amplamente difundida e aceita<br />

pelos espíritos do século XIX, ter sido <strong>de</strong>fendida em primeiro por um psiquiatra.<br />

Foi Benedict-Auguste Morel 59 um dos primeiros a conceitualizá-la e<br />

<strong>de</strong>senvolvê-la. Afirmando que as anormalida<strong>de</strong>s físicas, intelectuais e morais da<br />

espécie humana eram <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> um processo único <strong>de</strong> <strong>de</strong>generescência, Morel<br />

explicava como uma família sã po<strong>de</strong> caminhar <strong>de</strong> geração em geração em direção à<br />

<strong>de</strong>cadência 60 .<br />

Assim, um conjunto in<strong>de</strong>finido <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong>s seria transmitido <strong>de</strong> forma<br />

hereditária, po<strong>de</strong>ndo tocar diversos ou todos os membros <strong>de</strong> uma família 61 . Um<br />

58 Op. Cit., p.156<br />

59 Benedict Augustin Morel (1809-1873) foi um psiquiatra franco-austríaco. Membro da Société <strong>de</strong> Mé<strong>de</strong>cine <strong>de</strong><br />

Rouen, da Académie <strong>de</strong>s sciences, belles-lettres et arts <strong>de</strong> Rouen e da Société médico-psychologique <strong>de</strong> Paris,<br />

Morel foi um dos primeiros a teorizar sobre a <strong>de</strong>generescência e a <strong>de</strong>mência precoce.<br />

60 CHAPERON, Sylvie. Les origines <strong>de</strong> la sexologie. 1850-1900. Louis Audibert, 2007.<br />

61 BUSSCHER, P. O. De, Dégénérescence In: ERIBON, Didier (dir). Dictionnaire <strong>de</strong>s cultures gay et<br />

lesbiennes. Larousse, 2003.<br />

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