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juiz responsável pelo caso precisou então convocar psiquiatras que <strong>de</strong>veriam proce<strong>de</strong>r<br />

a uma análise da condição psíquica do réu 131 .<br />

Quando levantada a suspeita <strong>de</strong> loucura o juiz precisava exigir relatórios<br />

médicos sobre a condição do acusado, po<strong>de</strong>ndo, no entanto, negá-los parcial ou<br />

totalmente na pronunciação do veredicto final. Assim, um indivíduo cercado<br />

inicialmente pelo saber jurídico passa a ser sujeito do saber médico. Desta maneira<br />

po<strong>de</strong>mos perceber como alguns indivíduos se situaram na fronteira entre crime e<br />

loucura, sendo sujeitos <strong>de</strong> dois mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> intervenção social; o mo<strong>de</strong>lo jurídico-<br />

punitivo e o mo<strong>de</strong>lo psiquiátrico-terapêutico 132 .<br />

Foi Heitor Carrilho 133 o médico nomeado oficialmente no caso Febrônio. A<br />

análise do relatório <strong>de</strong> Carrilho <strong>de</strong>senvolvida por Peter Fry 134 nos permite perceber<br />

algumas características da intervenção médico-legal do período, lançando luz sobre a<br />

interação <strong>de</strong> teorias e práticas médicas ativas então.<br />

O relatório em questão é dividido em quatro partes que contemplavam<br />

respectivamente os antece<strong>de</strong>ntes familiares e a história <strong>de</strong> vida do “acusado-paciente”,<br />

seu exame somático, seu exame mental e, finalmente, as consi<strong>de</strong>rações clínicas gerais<br />

ao longo das quais é “comprovada” a loucura <strong>de</strong> Febrônio.<br />

Ao se ocupar dos “antece<strong>de</strong>ntes mórbidos pessoais”, a primeira parte do<br />

relatório vasculha o passado do acusado em busca <strong>de</strong> eventos na sua história que<br />

explicariam <strong>de</strong> certa forma seu crime. Reconstruindo a história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> Febrônio em<br />

uma narrativa linear e lógica o médico buscava explicar o crime pela natureza <strong>de</strong> seu<br />

autor. Esta operação reflete uma mudança importante nas práticas jurídico-punitivas<br />

do Brasil da primeira meta<strong>de</strong> do século XX. O crime não era julgado, mas a natureza<br />

<strong>de</strong> seu autor 135 .<br />

131<br />

FRY, Peter. Febrônio Índio do Brasil: on<strong>de</strong> cruzam a psiquiatria, a profecia, a homossexualida<strong>de</strong> e a lei. In:<br />

Caminhos cruzados: linguagem, antropologia e ciências naturais. Brasiliense, 1982.<br />

132<br />

CARRARA, Sérgio. Crime e loucura: o aparecimento do Manicômio Judiciário na passagem do século. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Ed. UERJ, 1998.<br />

133<br />

Heitor Carrilho (1890-1954) foi um psiquiatra <strong>de</strong> renome e primeiro diretor do Manicômio Judiciário do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro.<br />

134<br />

FRY, Peter. Febrônio Índio do Brasil: on<strong>de</strong> cruzam a psiquiatria, a profecia, a homossexualida<strong>de</strong> e a lei. In:<br />

Caminhos cruzados: linguagem, antropologia e ciências naturais. Brasiliense, 1982.<br />

135<br />

CARRARA, Sérgio. Crime e loucura: o aparecimento do Manicômio Judiciário na passagem do século. Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro: Ed. UERJ, 1998.<br />

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