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A Doutrina Reformada Da Predestinação i - igreja reformada ...

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A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> <strong>Da</strong> <strong>Predestinação</strong><br />

i - Introdução ♫<br />

ii - Testemunho da <strong>Doutrina</strong> ♫<br />

iii - Deus Tem Um Plano ♫<br />

iv - A Soberania de Deus ♫<br />

v - A Providência de Deus ♫<br />

vi - A Pré Ciência de Deus ♫<br />

vii - Apresentação de Sistemas ♫<br />

viii - As Escrituras são A Autoridade Final Pela Qual Os Sistemas Serão Julgados<br />

ix - Um Alerta Contra A Especulação Indevida<br />

x - Os Cinco Pontos do Calvinismo<br />

xi - Encarte: “Calvinismo versus Arminianismo”<br />

xii - Total Incapacidade<br />

xiii - Eleição Incondicional<br />

xiv - Reconciliação Limitada<br />

xv - Graça Eficaz<br />

xvi - A Perseverança Dos Santos<br />

xvii - Que É Fatalismo<br />

xviii - Que É Inconsistente Com O Livre Arbítrio E Com A Responsabilidade Moral do Homem<br />

xix - Que Faz Deus O Autor do Pecado<br />

xx - Que Desencoraja Todos Motivos Para Sacrifício<br />

xxi - Que Representa Deus Como Respeitador de Indivíduos, Ou Como Injustamente Parcial<br />

xxii - Que É Desfavorável À Boa Moralidade<br />

xxiii - Que Impossibilita Uma Sincera Oferta Do Evangelho Os Não Eleitos<br />

xxiv - Que Contradiz As Passagens Universais <strong>Da</strong>s Escrituras<br />

xxv - Salvação Pela Graça<br />

xxvi - Garantia Pessoal De Que Alguém Está Entre Os Eleitos<br />

xxvii - <strong>Predestinação</strong> No Mundo Físico<br />

xxviii - Uma Comparação Com a <strong>Doutrina</strong> Maometana da <strong>Predestinação</strong><br />

xxix - A Importância Prática <strong>Da</strong> <strong>Doutrina</strong><br />

xxx - Calvinismo Na História


A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> <strong>Da</strong> <strong>Predestinação</strong><br />

Por Loraine Boettner, D.D.a<br />

© 1932, por Loraine Boettner<br />

Qualquer pessoa tem a liberdade para usar material deste livro com ou sem crédito. Na preparação deste<br />

livro o autor recebeu ajuda de muitas fontes, algumas reconhecidas e muitas não. Ele acredita ser este<br />

material um testemunho verdadeiro dos ensinos das Escrituras, e o seu desejo é multiplicar o seu uso, e<br />

não restringi-lo.<br />

Capítulo I<br />

Introdução<br />

O propósito deste livro não é estabelecer um novo sistema de pensamento teológico, mas dar um novo<br />

testemunho ao grande sistema conhecido como a Fé <strong>Reformada</strong> ou Calvinismo, e mostrar que sem<br />

nenhuma dúvida é o ensino da razão e da Bíblia.<br />

A doutrina da <strong>Predestinação</strong> recebe comparativamente pouca atenção em nossos dias e é muito –<br />

imperfeitamente – compreendida mesmo por aqueles que supostamente deveriam sustentá-la mais<br />

lealmente. É uma doutrina, contudo, que faz parte do credo da maioria das <strong>igreja</strong>s evangélicas e que tem<br />

tido uma influência notável em ambos, Igreja e Estado. Os regimentos de várias ramificações das Igrejas<br />

Presbiteriana e <strong>Reformada</strong> na Europa e nos EUA são plenamente Calvinistas. As Igrejas Batista e<br />

Congregacional, embora não tenham credos formulados, foram no princípio Calvinistas, se pudermos<br />

julgar pelos escritos e ensinos dos teólogos que as representam. A grande <strong>igreja</strong> livre da Holanda e quase<br />

todas as <strong>igreja</strong>s da Escócia são Calvinistas. A Igreja Estabelecida da Inglaterra e sua filha, a Igreja<br />

Episcopal da América, têm um credo Calvinista nos “Trinta e nove Artigos”. Os Metodistas de<br />

Whitefield em Gales até hoje mantêm o nome de “Metodistas Calvinistas”.<br />

Entre os que advogaram esta doutrina no passado e os que ainda o fazem no presente, podemos encontrar<br />

alguns dos maiores e mais sábios homens do mundo. Foi ensinado não somente por Calvino, mas por<br />

Lutero, Zuínglio, Melancton (embora ele mais tarde se retratasse numa posição mais Semi-Pelagiana),<br />

por Bullinger, Bucer e todos os grandes líderes da Reforma. Enquanto diferissem em alguns pontos, eles<br />

concordavam com esta doutrina da <strong>Predestinação</strong> e ensinaram-na enfaticamente. O trabalho principal de<br />

Lutero, “The bondage of de Will”, mostra que ele mergulhou na doutrina tão ardorosamente quanto<br />

Calvino o fizera. Ele inclusive discorreu sobre ela mais apaixonadamente e percorreu-a mais profunda e<br />

detalhadamente do que Calvino o fizera. E a Igreja Luterana hoje, a julgar pela “Fórmula de Concórdia”<br />

sustenta a doutrina da <strong>Predestinação</strong> numa forma modificada. Os Puritanos na Inglaterra e aqueles que<br />

no passado estabeleceram-se na América, tanto quanto os “Covenanters” na Escócia e os Huguenotes na<br />

França, foram Calvinistas; e aqui pouco crédito para os historiadores em geral, por tão grande silêncio<br />

haver sido mantido sobre tal fato. Esta fé também foi por algum tempo sustentada pela Igreja Católica<br />

Romana, e em nenhuma ocasião foi repudiada abertamente por ela. A doutrina da <strong>Predestinação</strong>, de<br />

Agostinho, colocou contra ele próprio todos aqueles elementos na Igreja que jogou-o contra cada homem<br />

que subestimava a soberania de Deus. Ele os sobrepassou, e a doutrina da <strong>Predestinação</strong> adentrou à<br />

crença da <strong>igreja</strong> Universal. A grande maioria dos credos históricos da Cristandade têm estabelecido as<br />

doutrinas da Eleição, da <strong>Predestinação</strong> e da Perseverança final, como prontamente será visto por


qualquer um que proceda a um estudo profundo e minucioso estudo do assunto. Por outro lado, o<br />

Arminianismo existiu por séculos somente como uma heresia nos arrebaldes da verdadeira religião, e de<br />

fato não foi eleito como campeão pela <strong>igreja</strong> Cristã organizada até o ano de 1784, a qual época foi<br />

incorporado ao sistema da doutrina da Igreja Metodista na Inglaterra. Os grandes teólogos da história,<br />

Agostinho, Wycliffe, Lutero, Calvino, Zuínglio, Zanchius, Owen, Whitefield, Toplady, e em tempos<br />

mais receintes Hodge, <strong>Da</strong>bney, Cunningham, Smith, Shedd, Warfield e Kuyper, abraçaram esta doutrina<br />

e a ensinaram com entusiasmo. Que eles tenham sido luzes e ornamentos do mais alto tipo de<br />

Cristianismo, será admitido por praticamente todos os Protestantes. Mais ainda, suas obras neste tão<br />

importante tema nunca tiveram réplica. Então, também, quanto paramos para considerar que entre as<br />

religiões não cristãs o Islamismo tem tantos milhões que crêem em alguma forma de <strong>Predestinação</strong>, que<br />

a doutrina do Fatalismo tem sido de uma forma ou de outra sustentada em várias nações não convertidas<br />

e que as filosofias mecanísticas e determinísticas têm exercido influência tão grande na Inglaterra,<br />

Alemanha e América, vemos que pelo menos vale a pena estudar tal tipo de doutrina.<br />

Desde a época da Reforma até mais ou menos duzentos anos atrás, estas doutrinas eram bravamente<br />

trazidas à baila pela grande maioria dos ministros e mestres nas <strong>igreja</strong>s Protestantes, mas hoje em dia<br />

encontramos a grande maioria sustentando e ensinando outros sistemas. É muito raro nos depararmos<br />

com aqueles chamados “Calvinistas sem reserva”. Podemos muito apropriadamente aplicar às nossas<br />

próprias <strong>igreja</strong>s as palavras de Toplady com relação à Igreja da Inglaterra: “Idos são os tempos em que as<br />

doutrinas Calvinistas eram consideradas e defendidas como o Palladium de nossa Igreja Estabelecida;<br />

pelos seus bispos e clero, pelas universidades e por todo o povo leigo. Foi, durante os reinados de<br />

Eduardo VI, Rainha Elizabeth, Tiago I e a grande parte de Carlos I, tão difícil encontrar um clérigo que<br />

não pregasse as doutrinas da Igreja da Inglaterra, como é agora difícil encontrar alguém que o faça.<br />

Temos genericamente abandonado os princípios da Reforma, e “Ichabod” , ou ‘a glória se foi’, tem sito<br />

escrito na maioria de nossos púlpitos e das portas de nossas <strong>igreja</strong>s, desde então.” 1<br />

A tendência neste nossa era mais iluminada, é olharmos para o Calvinismo como um credo surrado e<br />

obsoleto. No começo do seu esplêndido artigo “A Fé <strong>Reformada</strong> no Mundo Moderno”, o Professor F. E.<br />

Hamilton diz, “Parece ser tacitamente assumido por um grande número de pessoas na Igreja<br />

Presbiteriana atual que o Calvinismo cresceu demasiado nos círculos religiosos. Na verdade, um membro<br />

comum de uma <strong>igreja</strong>, ou mesmo ministro do Evangelho, tendem a olhar para uma pessoa que declara<br />

acreditar na <strong>Predestinação</strong>, com um misto de divertida tolerância. Parece-lhes incrível que ainda exista<br />

tal curiosidade intelectual como um Calvinista real numa época de iluminismo como a presente. Quanto<br />

a examinar seriamente os argumentos do Calvinismo, tal idéia nunca entra em suas cabeças. Considerase<br />

tão fora de questão como a Inquisição, ou como um mundo criado (“a partir da e pela vontade de uma<br />

força maior”), e olha-se para isso como se fosse uma daquelas fantásticas linhas de raciocínio que os<br />

homens tinham antes da idade da ciência moderna.” Por causa desta atitude atualmente tomada com<br />

relação ao Calvinismo, e por causa da falta geral de informação com relação a estas doutrinas, reputamos<br />

o tema deste livro como de suma importância.<br />

Foi Calvino quem fermentou e trabalhou este sistema de pensamento teológico com tal ênfase e clareza<br />

lógica que desde então tem sido referido pelo seu próprio nome. É claro que ele não originou o sistema,<br />

mas simplesmente trabalhou com o que lhe pareceu ressaltar com brilho especial nas páginas das<br />

Sagradas Escrituras. Agostinho havia ensinado o básico, o essencial do sistema mil anos antes do<br />

nascimento de Calvino, e todo o corpo de líderes do movimento da Reforma ensinou o mesmo. Mas foi<br />

Calvino, com seu profundo conhecimento das Esctirutas, seu destacado intelecto e gênio sistemático,<br />

quem alinhou e defendeu estas verdades mais clara e habilmente do que alguém jamais houvera feito.


Nós nos referimos a este sistema de doutrina como “Calvinismo”, e aceitamos o termo “Calvinista”<br />

como nosso emblema de honra; ainda que nomes sejam meras conveniências. “Nós podemos,”, diz<br />

Warburton, “bem apropriadamente, e igualmente com toda razão, referirmo-nos à gravidade como<br />

‘Newtonismo’, porque os princípios da gravidade foram primeiramente trabalhados e demonstrados pelo<br />

grande filósofo Newton. Muito antes que Newton nascesse, a humanidade já convivia com os fatos da<br />

gravidade. Tais fatos eram visíveis a qualquer um desde o primeiro dia da criação do mundo, tanto<br />

quanto gravidade foi uma das leis que Deus ordenou e decretou para a organização e o equilíbrio do<br />

universo. Mas os princípios da gravidade não eram totalmente conhecidos, e os efeitos do poder e da<br />

influência da gravidade não eram totalmente conhecidos até que fossem ‘descobertos’ por Sir Isaac<br />

Newton. Assim, também aconteceu com o que os homens denominam Calvinismo. Os princípios<br />

inerentes ao Calvinismo têm existido por eras e eras antes que Calvino nascesse. Tais princípios de fato<br />

têm estado visíveis como fatores patentes na história do mundo desde o tempo da criação do homem.<br />

Mas tanto quanto foi Calvino quem primeiro formulou estes princípios em um sistema mais ou menos<br />

completo, tal sistema, ou credo, como queira referir-se a tal, e consoantemente aqueles princípios que<br />

são arrolados nele, vieram a ter o seu nome.” 2 Nos podemos ainda adicionar que os nomes<br />

“Calvinista”, “Luterano”, “Puritano”, “Peregrino”, “Metodista”, “Batista” e ainda o nome “Cristão”,<br />

foram originalmente apelidos. Mas a sua utilização veio a estabelecer a validade e o bom entendimento<br />

dos seus significados.<br />

O atributo que proporcionou tal força ao ensino de Calvino foi seu apego à Bíblia e à sua inspiração e<br />

autoridade. Calvino foi mencionado como o mais proeminente teólogo bíblico de sua época. Até onde a<br />

Bíblia o guiou ele foi; parando peremptoriamente onde quer que as respostas ou indicações na Bíblia<br />

cessassem. Esta sua recusa em seguir mais adiante do que estivesse escrito, juntamente com sua pronta<br />

aceitação do que a Bíblia ensinava, deu às suas declarações um ar de finalidade e positividade que<br />

tornaram-no ofensivo aos seus críticos. Devido ao seu discernimento afiado e ao seu poder de raciocínio<br />

lógico ele quase sempre era rotulado como um mero teólogo especulativo. Que ele tinha um gênio<br />

especulativo de primeira grandeza, é claro, não pode ser negado; e na relevância pertinência de sua<br />

análise lógica ele teve uma arma que o fez terrível para seus inimigos. Mas não era desses dons que ele<br />

dependia primariamente enquanto formulando e desenvolvendo o seu sistema teológico.<br />

O intelecto poderoso e ativo de Calvino levava-o a explorar o íntimo de cada objeto que tocasse. Foi<br />

longe em suas investigações sobre Deus e o plano da redenção, penetrando em mistérios com os quais a<br />

maioria dos homens raramente sonha, quando muito. Ele trouxe à luz um lado das Escrituras que até<br />

então havia sempre estado em sombras e enfatizou aquelas verdades profundas que comparativamente<br />

haviam escapado à atenção da <strong>igreja</strong> nos tempos que precederam a Reforma. Ele trouxe à luz doutrinas<br />

do apóstolo Paulo que estavam no esquecimento, as colocou inteira e completamente no entendimento de<br />

uma grande parte da Igreja Cristã.<br />

Talvez esta doutrina da <strong>Predestinação</strong> tenha provocado uma grande tempestade de oposição, e sem<br />

dúvida tem sido mais erroneamente interpretada e caricaturada, que qualquer outra doutrina das<br />

Escrituras Sagradas. “Para dizer antes de outra coisa,” diz Warburton, “é como balançar a proverbial<br />

bandeira vermelha na frente de um touro irado. Tal ato desperta as paixões mais ferozes de sua natureza,<br />

e traz à tona uma torrente de abuso e calúnia. Mas, porque os homens têm lutado contra tal, ou porque<br />

eles odeiem, ou talvez não compreendam, não há uma causa lógica ou razoável por que deveríamos<br />

abandonar a doutrina ao léu, ou livrarmo-nos dela. A questão real, o ponto crucial não é ‘Como os<br />

homens a recebem?’ mas, ‘Será que é verdadeira?’ ” 3<br />

Um motivo pelo qual muita gente, até pessoas supostamente educadas, são tão rápidos em rejeitar a<br />

doutrina da <strong>Predestinação</strong> é a pura ignorância do que realmente a doutrina é e o que a Bíblia ensina com


elação a ela. Esta ignorância não é de fato surpreendente quando considerando a quase mais completa<br />

falta de treinamento Bíblico nos nossos dias. Um estudo meticuloso da Bíblia convenceria muitas<br />

pessoas de que ela é um livro muito diferente do que assumem que seja. A tremenda influência que esta<br />

doutrina tem exercido na história da Europa e da América deveria pelo menos qualificá-la a uma atenção<br />

mais respeitosa. Além do mais, consideramos que de acordo com todas as leis da lógica e da razão,<br />

nenhum indivíduo tem o direito de negar a verdade de uma doutrina sem primeiro haver estudado de<br />

forma imparcial a evidência de ambos lados. Esta é uma doutrina que lida com algumas das mais<br />

profundas verdades reveladas nas Escrituras e é certo que abundantemente beneficiará os Cristão que<br />

minuciosamente a estudarem. Se alguém estiver disposto a rejeitá-la sem antes estudá-la cuidadosamente<br />

seus preceitos, então não devemos nos esquecer que ela foi o cerne da firme convicção de multidões dos<br />

mais sábios e melhores homens que já viveram, e que deve haver, portanto, fortes motivos favoráveis à<br />

sua verdade.<br />

Talvez algumas palavras de cuidado devessem ser dadas aqui, no sentido de que enquanto a doutrina da<br />

<strong>Predestinação</strong> é uma verdade grande e abençoada das Escrituras e uma doutrina fundamental de várias<br />

<strong>igreja</strong>s, ela não deve ser encarada como sendo o cerne e a substância da Fé <strong>Reformada</strong>. Como o Dr<br />

Kuyper disse, “É um erro descobrir o caráter específico do Calvinismo na doutrina da <strong>Predestinação</strong>, ou<br />

na autoridade da Bíblia. Para o Calvinismo tudo isso é conseqüência lógica, não o ponto de partida —as<br />

folhagens testemunham a beleza e a riqueza do seu crescimento, mas não a raiz de onde brotou.” Se a<br />

doutrina for separada da sua associação natural com outras verdades e exibida sozinha, o efeito é<br />

exagerado. O sistema então estará distorcido e mal interpretado. Um testemunho de qualquer princípio,<br />

para ser verdadeiro, deve apresentar (aquele princípio) em harmonia com todos os demais elementos dos<br />

sistema do qual ele faz parte. A Confissão de Fé de Westminster é um testemunho equilibrado deste<br />

sistema como um todo, e dá a devida proeminência àquelas doutrinas, tais como a da Trindade, a da<br />

Divindade de Cristo, a da personalidade do Espírito Santo, a da Inspiração das Escrituras, a dos<br />

Milagres, a da Reconciliação, a da Ressurreição, a da volta de Cristo, e assim por diante. Ademais, nós<br />

não negamos que os Arminianos sustentam muitas verdades importantes. Mas nós sustentamos que uma<br />

exposição completa e detalhada do sistema Cristão pode ser dada somente com base na verdade<br />

apresentada pelo sistema Calvinista.<br />

Na mente da maioria das pessoas a teoria da <strong>Predestinação</strong> e o Calvinismo são praticamente sinônimos.<br />

Contudo, não deveria ser este o caso, e a identificação muito próxima dos dois sem dúvida contribuiu<br />

grandemente para o preconceito de muitas pessoas contra o indubitavelmente tem contribuído muito para<br />

o preconceito de muitas pessoas contra o sistema Calvinista. O mesmo é verdadeiro também com relação<br />

a uma mui próxima identificação do Calvinismo e “Os Cinco Pontos”, como será mostrado adiante.<br />

Enquanto a <strong>Predestinação</strong> e Os Cinco Pontos são elementos essenciais do Calvinismo, eles de forma<br />

alguma constituem a sua íntegra.<br />

A doutrina da <strong>Predestinação</strong> tem sido o tema de discussões infindáveis, muitas das quais, é preciso<br />

admitir, ocorreram com o intuito de suavizar suas formas ou mesmo de explicá-la. “A consideração desta<br />

grande doutrina,” diz Cunningham, “atinge os mais profundos e inacessíveis assuntos que podem ocupar<br />

as mentes dos homens, — a natureza e os atributos, os propósitos e os atos do infinito e incompreensível<br />

Jeová, — vista especialmente nos seus comportamentos quanto aos destinos eternos das Suas criaturas<br />

inteligentes. A natureza peculiar do assunto certamente requer, com justa razão, que deva ser sempre<br />

abordada com a mais profunda humildade, cautela e reverência, já que ela nos põe em contato, por um<br />

lado, com um assunto tão terrível e avassalador quanto a eterna miséria de uma multidão inumerável de<br />

nossos semelhantes. Muitos homens têm discutido o assunto nesse espírito, mas muitos também têm se<br />

satisfeito com especulação muito presunçosa e irreverente sobre o tema. Não há provavelmente nenhum<br />

outro assunto que tenha ocupado mais a atenção de homens inteligentes em qualquer época que a


doutrina da <strong>Predestinação</strong>. Ela tem sido exaustivamente discutida em todos os seus aspectos, filosófico,<br />

teológico e prático; e se houver algum motivo de especulação com relação ao qual nós somos<br />

assegurados em dizer que ela tem sido esmiuçada, é este.<br />

“Pelo menos alguns dos tópicos arrolados sob o título geral foram discutidos por quase todos filósofos de<br />

eminência tanto na antigüidade como nos tempos modernos. * * * Todos os argumentos que a maior<br />

capacidade, genialidade e acuracidade podem elencar foram trazidos à baila na discussão deste tema, e as<br />

dificuldades relacionadas ao mesmo nunca foram completamente eliminadas, e nós estamos bem seguros<br />

em afirmar que elas nunca o serão, a menos que Deus nos revele mais amplamente ou nos dê<br />

capacidades maiores, — embora, talvez, fosse mais correto dizer que, desde a própria natureza do caso,<br />

um ser finito nunca possa compreende-la totalmente, desde que tal implicaria que aquele próprio ser<br />

finito seria capaz de compreender totalmente a mente infinita.” 4<br />

No desenvolvimento deste livro utilizou-se muito de outras obras, de forma que pudesse conter a nata e a<br />

mais pura essência dos melhores escritores do tema. Consequentemente muitos dos argumentos aqui<br />

encontrados são de homens muito superiores a este escritor. De fato, quando observando o conjunto, sou<br />

inclinado a dizer com um celebrado escritor Francês, “Colhi um buquê de variadas flores dos jardins dos<br />

homens, e nada é realmente meu, senão o fitilho que as mantém unidas.” Ainda assim muito é seu<br />

próprio, especialmente no que refere-se à organização e arranjo dos materiais.<br />

No decorrer deste livro, os termos “predestinação” e “préordenação” são usados como sinônimos exatos,<br />

a escolha tendo sido determinada somente pelo gosto. Se desejar-se distinção, o termo “préordenação”<br />

pode talvez ser melhor utilizado quando o sujeito em referência for um evento na história ou na natureza,<br />

enquanto que o termo “predestinação” pode referir-se principalmente ao destino final das pessoas. As<br />

cotações das Escrituras foram extraídas da “Versão Americana” da Bíblia, ao invés da “Versão King<br />

James”, já que a primeira é mais acurada.<br />

O autor deseja agradecer particularmente ao Dr. Samuel G. Craig, Editor da CHRISTIANITY TODAY,<br />

ao Dr. Frank H. Stevenson, Presidente do Conselho Curador do Seminário Teológico Westminster, ao Dr<br />

Cornelius Van Til, Professor de Apologética no Seminário Teológico Westminster, ao Dr. C. W. Hodge,<br />

Professor de Teologia Sistemática no Seminário Teológico de Princeton, sob a supervisão de quem este<br />

trabalho num formato muito mais curto foi originalmente preparado, e ao Rev. Henry Atherton,<br />

Secretário Geral da União Soberana Graça, em Londres, Inglaterra, pela valiosa assistência.<br />

Este livro, repetimos, é designado a apresentar e a defender a Fé <strong>Reformada</strong>, comumente conhecida<br />

como Calvinismo. Ele não é direcionado contra nenhuma denominação em particular, mas contra o<br />

Arminianismo em geral. O autor é Presbiteriano, mas ele está bem ciente do afastamento radical que<br />

tropas de Presbiterianos têm feito do seu próprio credo. O livro é posto adiante com a esperança de que<br />

aqueles que professam sustentar a Fé <strong>Reformada</strong> possam ter um melhor entendimento das grandes<br />

verdades que são aqui tratadas e possam mais altamente valorizar sua herança; e que aqueles que não<br />

têm conhecimento deste sistema, ou que se opõem ao mesmo, possam ser convencidos da sua verdade e<br />

venham a amá-lo.<br />

A questão que então se nos apresenta é esta: — Deus, desde toda a eternidade, pré-ordenou todas as<br />

coisas que vieram e que virão a acontecer? Se sim, que evidência disto nós temos, e como pode o fato ser<br />

consistente com o livre arbítrio das criaturas racionais e com a Suas próprias perfeições?<br />

Tradução livre: Eli <strong>Da</strong>niel da Silva elidaniel@zipmail.com.br<br />

Belo Horizonte, 03 Outubro 2002


Tradução Livre:<br />

A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> <strong>Da</strong> <strong>Predestinação</strong><br />

Capítulo ii – Apresentação da <strong>Doutrina</strong><br />

Na Confissão de Fé de Westminster, que estabelece as crenças das Igrejas Presbiteriana e <strong>Reformada</strong> e a<br />

qual é a mais perfeita expressão da Fé <strong>Reformada</strong>, lemos: “Desde toda a eternidade, Deus, pelo muito<br />

sábio e santo conselho da Sua própria vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece,<br />

porém de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem violentada é a vontade da criatura, nem é tirada<br />

a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas.” E mais adiante, “Ainda que<br />

Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as circunstâncias imagináveis, Ele não decreta<br />

coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como coisa que havia de acontecer em tais e tais<br />

condições.”<br />

A doutrina da <strong>Predestinação</strong> representa os propósitos de Deus como absolutos e incondicionais,<br />

independentes de toda a criação finita, e como originados somente no conselho eterno da Sua vontade.<br />

Deus é visto como o grande e poderoso Rei que apontou o curso da natureza e quem direciona o curso da<br />

história até os seus menores detalhes. Seu decreto é eterno, imutável, santo, sábio e soberano. Estende-se<br />

não meramente ao curso do mundo físico mas a cada acontecimento na história humana desde a criação<br />

até o juízo final, e inclui todas as atividades dos santos e anjos no céu e dos condenados e dos demônios<br />

no inferno. Abrange todo escopo da existência das criaturas, através do tempo e da eternidade,<br />

compreendendo imediatamente todas as coisas que já foram ou que virão a ser em suas causas,<br />

condições, sucessões, e relações. Tudo fora do próprio Deus está incluso neste decreto todo abrangente, e<br />

muito naturalmente, já que todas as demais coisas viventes devem a sua existência e a sua continuidade<br />

em existência ao Seu poder criativo e sustentador. Possibilita controle providencial sob o qual todas as<br />

coisas concorrem para o fim que Deus há determinado; e o objetivo é: “Um distante acontecimento<br />

divino; Em direção do qual toda a criação se move.”<br />

Desde que a criação finita em toda a sua extensão existe como um meio através do qual Deus manifesta a<br />

Sua glória, e desde que ela é absolutamente dependente dEle, de si própria não poderia criar condição<br />

alguma que limitasse ou abatesse a manifestação daquela glória. Desde toda a eternidade Deus<br />

estabeleceu fazer justamente o que Ele está fazendo. Ele é o Regente soberano do universo, e “...e<br />

segundo a sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra; não há quem lhe possa<br />

deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?”[<strong>Da</strong>niel 4:35]. Desde que o universo tem a sua origem em Deus e<br />

depende dEle para a continuação da sua existência, deve, em toda parte e em todo momento, sujeitar-se<br />

ao Seu controle para que nada aconteça contrário ao que Ele expressamente decreta ou permite. Assim o<br />

propósito eterno é representado como um ato soberano de predestinação ou preordenação, e<br />

incondicionado por qualquer fato subsequente ou mudança no tempo. Destarte é representada como<br />

sendo a base da pré ciência divina de todos acontecimentos futuros, e não condicionada por aquela pré<br />

ciência ou por qualquer coisa originada pelos mesmos acontecimentos.<br />

Os teólogos reformados lógica e consistentemente aplicaram às esferas da criação e da providência<br />

aqueles grandes princípios que foram mais tarde arrolados no Westminster Standards. Eles viram a mão<br />

de Deus em cada acontecimento em toda a história da humanidade e em todos os prodígios da natureza<br />

física, de modo que o mundo fosse a completa realização do ideal eterno no tempo. O mundo como um<br />

todo e em todas as suas partes e movimentos e mudanças foi unificado em uma unidade pela atividade<br />

governante, permeadora e harmonizadora vontade divina, e o seu propósito era manifestar a glória


divina. Enquanto a concepão deles era de uma divnia ordenação de todo o curso da história em todos os<br />

detalhes, eles estavam especialmente preocupados com a relação entre aquela ordenação e a salvação do<br />

homem. Calvino, teólogo sistemático e brilhante da Reforma, colocou o assunto assim: “Chamamos<br />

<strong>Predestinação</strong> o decreto eterno de Deus, pelo qual Ele em Si mesmo determinou, o que Ele faria de cada<br />

indivíduo da raça humana. Pois eles não são criados com um destino em comum, mas a vida eterna é pré<br />

ordenada para alguns enquanto que a morte eterna pré ordenada para outros. Cada homem, portanto,<br />

tendo sido criado para um ou outro daqueles destinos, dizemos que é predestinado seja para a vida ou<br />

para a morte.” 1<br />

Lutero era tão zeloso pela predestinação absoluta quanto Calvino, como vemos em seu comentário sobre<br />

Romanos, onde ele escreveu: “Todas as coisas, o que quer que seja, provém de, e dependem do<br />

apontamento divino; através do qual foi pré ordenado quem deveria receber a palavra da vida, e quem<br />

deveria descrer dela,; quem deveria ser livrado dos seus pecados, e quem deveria permanecer neles; e<br />

quem deveria ser justificado e quem deveria ser condenado.” E Melancton, seu amigo pessoal e<br />

companheiro de trabalho, diz: “Todas as coisas acontecem de acordo com a divina predestinação; não<br />

somente as obras que fazemos externamente; mas mesmo os nossos pensamentos interiores”; e<br />

novamente, “Não há tal coisa como acaso, ou sorte; nem há nenhum caminho imediato para ganhar o<br />

temor de Deus, e para colocar toda a nossa confiança nEle, que não seja cabalmente versado na doutrina<br />

da <strong>Predestinação</strong>.”<br />

“A ordem é a primeira lei do céu.” Do ponto de vista divino há uma linha intacta, contínua de ordem e de<br />

progresso desde o princípio da criação até o final do mundo e a instalação do reino dos céus em toda a<br />

sua glória. O propósito e plano divinos em nenhum momento é interrompido ou derrotado; aquilo que<br />

muitas vezes nos parece ser derrota não o é realmente, mas somente aparenta sê-lo, porque a nossa<br />

natureza finita e imperfeita não nos permite ver todas as partes no inteiro nem o inteiro em todas as suas<br />

partes. Se num relance nós pudéssemos vislumbrar “o grandioso espetáculo do mundo natural e o drama<br />

complexo da história humana,” veríamos então o mundo como uma unidade em harmonia manifestando<br />

a perfeição gloriosa de Deus.<br />

“Embora o mundo pareça estar girando a esmo,” diz Bishop, “e acontecimentos serem amontoados num<br />

caos cego e rude desordem, ainda assim, Deus vê e conhece a concatenação de todas as causas e efeitos,<br />

e tanto os governa que Ele faz perfeita harmonia daquilo tudo que parece confusões e desordens. É muito<br />

necessário que devamos ter nossos corações bem estabelecidos na sólida e firme crença desta verdade,<br />

que o que quer que venha a acontecer, seja bom ou mal, nós possamos olhar para a autoridade, para<br />

Deus. Com respeito a Deus, não há nada casual nem contingência no mundo. Se um mestre deva enviar<br />

um servo a um certo lugar e ordenar-lhe que permaneça lá até tal momento, e depois mandar um outro<br />

servo ao mesmo lugar, o encontro desses dois é totalmente casual com relação a eles próprios, mas<br />

ordenado e previsto pelo mestre que os enviou. As coisas acontecem inesperadamente para nós, mas não<br />

para Deus. Ele prevê e Ele aponta todas as vicissitudes das coisas.” 2<br />

O salmista exclamou, “Ó Senhor, Senhor nosso, quão admirável é o teu nome em toda a terra!”[Salmo<br />

8:9] e o escritor de Eclesiastes diz, “Tudo fez formoso em seu tempo...”[Eclesiastes 3:11]. Na visão que<br />

o profeta Isaías teve, o serafim cantava, “...Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está<br />

cheia da sua glória.”[Isaías 6:3]. Quando vemos a partir deste ponto de vista divino, cada<br />

acontecimento no curso da vida humana em todas as eras e em todas as nações tem, não importa quão<br />

insignificante possa parecer-nos, seu lugar exato no desenvolvimento do plano eterno. Tem relações com<br />

as causas precedentes e exerce influência sempre crescente através dos seus efeitos, de maneira a estar<br />

relacionada com todo o sistema de coisas e desempenha sua parte individual na manutenção do perfeito<br />

equilíbrio desta ordem mundial. Muios exemplos podem ser dados para mostrar que acontecimentos da


maior importância têm muitas vezes dependido do que à época pareceu ser acontecimentos dos mais<br />

fortuitos e triviais. A inter relação e conexão de acontecimentos é tal que se um destes fosse omitido ou<br />

modificado, toda a seqüência seria também modificada ou simplesmente não aconteceria. Assim, a<br />

certeza de que a administração divina apoia-se na pré ordenação de Deus estendida a todos<br />

acontecimentos, sejam pequenos ou grandes. E, especificamente, nenhum acontecimento é pequeno<br />

demais; cada um tem o seu lugar exato no plano divino, e alguns somente alguns são relativamente<br />

maiores que outros. O curso da história, portanto, é infinitamente complexo, ainda assim uma unidade à<br />

vista de Deus. Esta verdade, junto com a razão para tanto, é lindamente sumarizada no Catecismo<br />

Menor, que diz que, “Os Decretos de Deus são o seu eterno propósito, segundo o conselho da sua<br />

vontade, pelo qual, para a sua própria glória, ele preordenou tudo o que acontece.”<br />

O Dr Abraham Kuyper, da Holanda, que é reconhecido como um dos mas destacados teólogos<br />

calvinistas nos anos recentes, dá-nos um pensamento valioso no seguinte parágrafo: “A determinação da<br />

existência de todas as coisas a serem criadas, se uma flor vai ser uma camélia ou um copo-de-leite, se um<br />

pássaro vai ser um rouxinol ou um corvo; se um animal vai ser um cervo ou um porco, e igualmente<br />

entre os homens, a determinação de nossas próprias pessoas, se alguém vai nascer como um menino ou<br />

menina, rico ou pobre, tolo ou inteligente, branco ou de cor, ou mesmo como Abel ou Caim, é a mais<br />

tremenda predestinação concebível no céu ou na terra; e ainda vemo-la acontecer ante nossos próprios<br />

olhos todos os dias, e nós mesmos somos sujeitos a ela em nossa inteira personalidade; durante toda a<br />

nossa existência, nossa própria natureza, nossa posição na vida sendo inteiramente dependente dela. Esta<br />

predestinação, que abrange a tudo e a todos, os Calvinistas a colocam não nas mãos do homem, e ainda<br />

menos nas mãos de cegas forças da natureza, mas nas mãos de Deus Todo-Poderoso, soberano Criador e<br />

Dono do céu e da terra; e é na ilustração do oleiro e do barro que a Bíblia tem exposto a nós esta eleição<br />

que a tudo e todos domina, desde os tempos dos profetas. Eleição na criação, eleição na providência, e<br />

também eleição para a vida eterna; eleição no reino da graça, tanto quanto no reino da natureza.” 3<br />

Nós não podemos apreciar adequadamente esta ordem mundial até que a vejamos como um sistema<br />

poderoso através do qual Deus está concretizando os Seus planos. O teísmo claro e consistente de<br />

Calvino proporcionou-lhe um senso intenso da infinita majestade do Deus Todo-Poderoso, em cujas<br />

mãos repousam todas as coisas, e fez dele um ‘predestinacionista’ de vulto. Em sua doutrina do<br />

propósito eterno e incondicional do Deus onisciente e onipotente, ele encontrou o programa da história<br />

da queda e da redenção da raça humana. Ele aventurou-se destemida mas reverentemente sobre a borda<br />

daquele abismo de especulação onde todo o conhecimento humano perde-se em mistério e adoração.<br />

A Fé <strong>Reformada</strong>, então, oferece-nos um grande Deus que é realmente o soberano Regente do Universo.<br />

“Tal grande princípio,” diz Bayne, “é a contemplação do universo de Deus revelado em Cristo. Em todos<br />

lugares, em todos tempos, de eternidade a eternidade, o Calvinismo vê a Deus.” Nossa era, que enfatiza a<br />

democracia, não gosta de tal visão, e talvez nenhuma outra era tenha gostado menos. A tendência hoje é<br />

exaltar o homem e dar a Deus somente uma parte muito limitada nos acontecimentos do mundo. Como o<br />

Dr. A. A. Hodge disse, “A nova teologia, postulando a limitação da antiga, está descartando a pré<br />

ordenação de Jeová como um artifício surrado das escolas, desacreditado pela cultura avançada do<br />

presente. Esta não é a primeira vez que as corujas, confundindo as sombras de um eclipse passageiro<br />

com a noite, prematuramente guincharam para as águias, convencidas de que o que lhes era invisível não<br />

poderia possivelmente existir.” 4<br />

Esta é, em geral, a concepção ampla da predestinação, como foi sustentada pelos grandes teólogos das<br />

Igrejas Presbiteriana e <strong>Reformada</strong>.<br />

A Pré Ordenação é mostrada de maneira explícita nas Escrituras.


Atos 4:27, 28 : “[27] Porque verdadeiramente se ajuntaram, nesta cidade, contra o teu santo Servo Jesus,<br />

ao qual ungiste, não só Herodes, mas também Pôncio Pilatos com os gentios e os povos de Israel; [28]<br />

para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho predeterminaram que se fizesse.”<br />

Efésios 1:5 : “e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o<br />

beneplácito de sua vontade,”<br />

Efésios 1:11 : “nele, digo, no qual também fomos feitos herança, havendo sido predestinados conforme o<br />

propósito daquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade,”<br />

Romanos 8:29, 30 : “Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à<br />

imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; e aos que predestinou, a<br />

estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também<br />

glorificou.”<br />

I Coríntios 2:7 : “mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, que esteve oculta, a qual Deus<br />

preordenou antes dos séculos para nossa glória;”<br />

Atos 2:23 : “a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós matastes,<br />

crucificando-o pelas mãos de iníquos;”<br />

Atos 13:48 : “Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram todos<br />

quantos haviam sido destinados para a vida eterna.”<br />

Efésios 2:10 : “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus antes<br />

preparou para que andássemos nelas.”<br />

Romanos 9:23 : “para que também desse a conhecer as riquezas da sua glória nos vasos de misericórdia,<br />

que de antemão preparou para a glória,”<br />

Salmo 139:16 : “Os teus olhos viram a minha substância ainda informe, e no teu livro foram escritos os<br />

dias, sim, todos os dias que foram ordenados para mim, quando ainda não havia nem um deles.”<br />

Tradução livre: Eli <strong>Da</strong>niel da Silva elidaniel@zipmail.com.br<br />

Belo Horizonte, 04 Outubro 2002


Tradução Livre:<br />

“A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> <strong>Da</strong> <strong>Predestinação</strong>” – Capítulo viii<br />

As Escrituras são a Autoridade Final Pela Qual os Sistemas Serão Julgados<br />

Em todos assuntos polêmicos entre Cristãos as Escrituras são aceitas como o mais privilegiado foro para<br />

dirimir quaisquer controvérsias. Historicamente elas têm sido a autoridade comum da Cristandade.<br />

Cremos que elas contêm um sistema completo e harmonioso de doutrina; que todas as suas partes são<br />

consistentes entre si, e que é nosso dever procurar tal consistência através de uma investigação cuidadosa<br />

do significado de passagens em particular. 1<br />

“A Palavra de Deus,” diz Warburtons, com relação a estas doutrinas, “é o tribunal maior e final ante o<br />

qual elas devem ser trazidas, e pelo qual elas devem ser julgadas. E a verdade ou a falsidade de nossa<br />

crença é medida pela correspondente concordância com, ou pela correspondente diversidade, da forma<br />

de doutrina que é mostrada pela inerrante revelação que Deus nos tem dado através de sua Palavra<br />

inspirada. É por este critério que o Calvinismo deve ser julgado. É por este critério que o Arminianismo<br />

ou o Pelagianismo deve ser julgado. É por este critério, e somente por este critério, que qualquer forma<br />

de crença, seja ela religiosa ou científica, deve ser julgada; e se não falarem de acordo com esta Palavra,<br />

é porque não há luz nelas . . . Nos cremos na inspiração total, verbal da Palavra de Deus. Nós<br />

sustentamo-la como sendo a única autoridade em todos os assuntos e concordamos que nenhuma<br />

doutrina pode ser verdadeira, ou essencial, se não encontrar lugar nesta Palavra.” 2<br />

É óbvio que a verdade ou a falsidade desta profunda doutrina da <strong>Predestinação</strong> pode ser decidida<br />

somente por revelação divina. Nenhuma pessoa, agindo meramente por suas observações e julgamentos,<br />

pode saber quais são os princípios básicos do plano que Deus está seguindo. Especulação filosófica e<br />

todo o arrazoado abstrato devem ser mantidos suspensos até que tenhamos primeiro conhecido o<br />

testemunho da Bíblia, — e quando o conhecermos, devemos humildemente submetermo-nos. Tomara<br />

tivéssemos mais pessoas com aquele mesmo nobre caráter dos Bereanos, que procuravam nas Escrituras<br />

diariamente, buscando conhecimento sobre todas as coisas.<br />

Com relação a cada uma das doutrinas discutidas neste livre, apresentamos uma grande massa de<br />

evidência Bíblica — evidência em ambos aspectos, direto e inferente — evidência que não pode ser<br />

respondida ou explicada — evidência em muito superior em peso, extensão e explicitude, a qualquer que<br />

possa ser arrolada em contrapartida. A Bíblia desdobra um esquema de redenção que é Calvinista do<br />

princípio ao fim, e todas as doutrinas são ensinadas com clareza tão inescapável que a questão é aceita<br />

por todos aqueles que aceitam a Bíblia como a Palavra de Deus. Estas doutrinas são estabelecidas da<br />

maneira mais impressionante, e o modo não erudito, a naturalidade e simplicidade com que são<br />

transmitidas fazem-nas ainda mais impressionantes. Se alguém nos perguntasse, “Existe alguma estrela<br />

nos céus?”, nossa resposta seria, “Os céus estão cheios de estrelas”[Salmo 8:3, 4]. Ou novamente, “Há<br />

peixes no mar?”, nossa resposta seria “O mar está cheio de peixes”[Salmo 104:25, 27]. Ou de novo, “Há<br />

alguma árvore na floresta?”, nós ainda uma vez mais replicaríamos, “A floresta está cheia de árvores”. E<br />

de maneira similar, se fôssemos inquiridos com a pergunta, “A doutrina da <strong>Predestinação</strong> está na<br />

Bíblia?”, nossa resposta deveria ser, “A Bíblia está cheia dela, desde o Gênesis até o Apocalipse.”<br />

Que doutrinas tais como a da Trindade, a da Divindade de Cristo, a da personalidade do Espírito Santo, a<br />

da pecaminosidade do homem, e a da realidade de castigos futuros, são Bíblicas, não é negado nem por<br />

aqueles que recusam-se a admiti-las como doutrinas verdadeiras. É comum para os racionalistas e os<br />

assim chamados altos críticos admitir que os apóstolos creram e ensinaram as doutrinas evangélicas e


Calvinistas, e que com a aplicação direta das regras de exegese os seus testemunhos não admitem<br />

qualquer outra interpretação; mas é claro, aquelas pessoas não se consideram passíveis de submissão à<br />

autoridade de qualquer apóstolo. Por exemplo, eles referem-se à crença dos apóstolos nestas doutrinas,<br />

como sendo “as noções erradas de uma era bruta e incivilizada.” Contudo, isto não diminui e valor dos<br />

seus testemunhos, de que tais passagens Bíblicas, se criticamente interpretadas, não podem ter nenhum<br />

outro significado. Mais ainda, preferiríamos dizer com os racionalistas que as Escrituras ensinam estas<br />

doutrinas mas que as Escrituras não são autoridade para nós, do que professar a aceitação dos<br />

ensinamentos deles enquanto inteligentemente evadindo a força do seu argumento.<br />

Mostraremos agora que não há grande dificuldade — nem a necessidade de pressão ou de violência<br />

indevida — para consistentemente interpretar com a nossa doutrina as passagens que são apresentadas<br />

pelos Arminianos, enquanto que é impossível, sem a mais injustificável e não natural força e pressão,<br />

reconciliar a doutrinas deles com as nossas passagens. Mais ainda, nossa doutrina não poderia ser<br />

derrotada meramente por trazer-se à baila outras passagens que contradiriam aquelas passagens, pois<br />

tanto, no máximo nos daria uma Bíblia contraditória consigo mesma.<br />

À luz da exegese moderna, fica bem evidente que as objeções que são levantadas contra a Teologia<br />

<strong>Reformada</strong> são mais emocionais ou filosóficas, do que exegéticas. E tivessem os homens se contentado<br />

em interpretar a linguagem das Escrituras de acordo com os princípios reconhecidos de interpretação, a<br />

fé dos Cristãos poderia ser muito mais harmoniosa. Nossos oponentes, diz Cunningham, são capazes de<br />

“discutir com alguma plausibilidade somente quando estão lidando com passagens isoladas, ou classes<br />

particulares de passagens, mas mantendo fora do escopo, ou relegando a posição de fundo, a massa geral<br />

de evidências Bíblicas que versam sobre o tema como um todo. Quando temos uma visão conjunta de<br />

todo o corpo dos ensinamentos Bíblicos, manifestamente entendidos a mostrar-nos a natureza, as causas<br />

e conseqüências da morte de Cristo, tanto literal como figuradamente – vemo-los combinados entre si – e<br />

razoavelmente compreendemos o que eles estão propostos a ensinar-nos, não há terreno propício para<br />

dúvida quanto às conclusões gerais que deveríamos sentirmo-nos compelidos a adotar.” 3<br />

Tanto quanto nos atermos ao princípio Reformado de que as Escrituras Sagradas têm de ser aceitas como<br />

a única autoridade em matéria de doutrina Calvinista, o sistema se manterá como o único que<br />

adequadamente versa sobre Deus, homem e redenção.<br />

Tradução livre: Eli <strong>Da</strong>niel da Silva elidaniel@zipmail.com.br<br />

Belo Horizonte, 05 Outubro 2002<br />

Tradução Livre:<br />

“A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> <strong>Da</strong> <strong>Predestinação</strong>” – Capítulo ix<br />

Um Aviso Contra Especulação Indevida<br />

Neste ponto, daremos algumas palavras de aviso contra a especulação indevida e a curiosidade em lidar<br />

com esta nobre doutrina da <strong>Predestinação</strong>. Talvez não possamos fazer melhor que parafrasear as palavras<br />

do próprio Calvino, que são encontradas na primeira seção deste tratado sobre este tema: “A discussão<br />

da <strong>Predestinação</strong> – um tema em si mesmo intrincado – é feita muito complicada, e portanto perigosa,<br />

pela curiosidade humana, a qual nenhuma barreira pode impedir de embrenhar-se em labirintos<br />

proibidos, e de elevar-se para além de sua esfera, como se determinada a não deixar nenhum dos<br />

segredos Divinos inexplorados ou intocados . . .Primeiro, então, deixemo-los recordar que quando


inquirem sobre a <strong>Predestinação</strong>, eles penetram nos mais recônditos recessos da sabedoria divina, onde o<br />

intruso confiante e descuidado não obterá satisfação para a sua curiosidade . . . Pois nós sabemos que<br />

quando tivermos excedido os limites da palavra, entraremos num curso errante e tedioso, no qual erros,<br />

escorregões e quedas serão inevitáveis. Em primeiro lugar, então, tenhamos em mente que desejar<br />

qualquer maior conhecimento da <strong>Predestinação</strong> do que nos foi revelado pela Palavra de Deus, indica tão<br />

grande tolice quanto querer caminhar através de caminhos impossíveis, ou enxergar na escuridão. Nem<br />

tenhamos vergonha de sermos ignorantes de algumas coisas relativas a um assunto no qual há uma<br />

espécie de ignorância aprendida.” 1<br />

Não estamos sob a obrigação de “explicar” estas verdades; estamos somente sob a obrigação de dizer o<br />

que Deus tem revelado na Sua palavra, e vindicar estas verdades o mais longe possível de concepção<br />

errada e de objeções. Na natureza do caso, tudo o que podemos conhecer acerca de tais profundas<br />

verdades é o que ao Espírito aprouve revelar com relação a elas, estando confiantes de que o que quer<br />

que Deus tenha revelado é indubitavelmente verdadeiro e deve ser crido embora talvez possamos não ser<br />

capazes de sondar suas profundidades com a linha da nossa razão. Em nossa ignorância dos Seus<br />

propósitos inter-relacionados, não estamos aptos a ser Seus conselheiros. “...quão profundos são os teus<br />

pensamentos!”, disse o salmista [Salmo 92:5]. Tanto quanto possa o homem tentar atravessar o oceano a<br />

nado, também compreender os juízos de Deus. O homem conhece muitíssimo pouco que o justifique-o<br />

tentar explicar os mistérios da lei de Deus.<br />

A importância do tema discutido deveria guiar-nos a proceder somente com a mais profunda reverência e<br />

cautela. Enquanto é verdadeiro que mistérios devem ser lidados com cuidado, e enquanto especulações<br />

inseguras e presunçosas com relação às coisas divinas devem ser evitadas, ainda se pregássemos o<br />

Evangelho em toda a sua pureza e plenitude, devemos ser cuidadosos para não privar dos crentes o que<br />

está declarado nas Escrituras acerca da <strong>Predestinação</strong>. Que algumas dessas verdades serão pervertidas e<br />

abusadas pelos não devotos deve ser esperado. Não importa o quão corretamente seja ensinado na Bíblia,<br />

as mentes não iluminadas consideram absurdo, por exemplo, que um Deus exista em três pessoas, ou que<br />

Deus devesse saber de antemão o curso inteiro dos eventos e acontecimentos do mundo, uma vez que<br />

Seu plano devesse incluir o destino de cada pessoa. E enquanto nós possamos conhecer sobre<br />

<strong>Predestinação</strong> somente o tanto que a Deus pareça cabível revelar, é importante que o saibamos; caso<br />

contrário tanto não teria sido a nós revelado. Para onde as Escrituras nos guiarem, podemos seguir em<br />

segurança.<br />

Tradução livre: Eli <strong>Da</strong>niel da Silva elidaniel@zipmail.com.br<br />

Belo Horizonte, 05 Outubro 2002


Tradução Livre:<br />

“A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> <strong>Da</strong> <strong>Predestinação</strong>” – Capítulo x<br />

Os Cinco Pontos do Calvinismo<br />

O sistema Calvinista enfatiza principalmente cinco doutrinas distintas. Estas são conhecidas<br />

tecnicamente como “Os Cinco Pontos do Calvinismo”, e são os pilares principais sobre os quais está<br />

baseada a super estrutura. Neste capítulo nós examinaremos cada um destes pilares, oferecendo base<br />

Bíblica e os argumentos racionais que as sustém. Consideraremos então as objeções que são comumente<br />

apresentadas contra eles.<br />

Como será mostrado, a Bíblia contém abundante material para o desenvolvimento de cada uma daquelas<br />

doutrinas. Adicionalmente, não trata-se de doutrinas isoladas e independentes, mas são tão interrelacionadas<br />

que formam um sistema simples, harmonioso e consistente; e a forma como se completam<br />

como componentes de um todo bem ordenado tem conquistado a admiração de pensadores de todos os<br />

credos. Em se provando que somente uma delas é verdadeira todas as consequentemente também o<br />

serão, como partes lógicas e necessárias de um sistema. Se provar-se que uma delas é falsa, todo o<br />

sistema terá de ser abandonado. Encaixam-se perfeitamente uma na outra. São elos na grande cadeia de<br />

causas; de onde nem mesmo uma delas poderia ser tirada sem comprometer e subverter todo o plano<br />

Evangélico de salvação por intermédio de Cristo. Não se pode conceber que um arranjo desta magnitude<br />

aconteça meramente por acaso, nem mesmo que seja possível; a menos que estas doutrinas sejam<br />

verdadeiras.<br />

Tenhamos em mente que neste livro não nos propomos a discutir em detalhes as outras doutrinas das<br />

Escrituras que são aceitas pela Cristandade evangélica, mas sim apresentar e defender aquelas que são<br />

peculiares ao sistema Calvinista. A menos que isto esteja claro, muito da força e beleza reais do<br />

Calvinismo genérico estará perdido, e o então chamado “Cinco Pontos do Calvinismo”, --que<br />

historicamente e na realidade são o oposto ao assim chamado “Cinco Pontos do Arminianismo”, -assumirá<br />

uma proeminência indevida no sistema. Deixemos então que o leitor guarde-se de assumir uma<br />

identificação muito próxima dos Cinco Pontos com o sistema Calvinista, porquanto os Cinco Pontos<br />

sejam elementos essenciais, o sistema na realidade inclui muito mais. Como escrito na Introdução, a<br />

Confissão de Westminster é um testemunho equilibrado da Fé <strong>Reformada</strong> ou Calvinismo, e dá a devida<br />

projeção às outras doutrinas Cristãs.<br />

Os Cinco Pontos podem ser mais facilmente lembrados se forem associados com a palavra “T-U-L-I-P”,<br />

representando cada uma das letras um dos Cinco Pontos {“T” = Total Inability (Depravação Total ou<br />

Incapacidade Total); “U” = Unconditional Election (Eleição Incondicional); “L” = Limited Atonement<br />

(Expiação Limitada); “I” = Irresistible [Efficacious] Grace (Graça Irresistível [ou Eficaz]), e “P” =<br />

Perseverance of the Saints (Perseverança dos Santos).<br />

Tradução livre: Eli <strong>Da</strong>niel da Silva elidaniel@zipmail.com.br<br />

Belo Horizonte, 09 Outubro 2002<br />

Tradução Livre:


“A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> <strong>Da</strong> <strong>Predestinação</strong>” – Capítulo xi<br />

Apêndice : “Calvinismo versus Arminianismo”<br />

O material a seguir extraído de “Romanos: Uma Apresentação Interpretativa” [páginas 144 – 147]<br />

escrito por <strong>Da</strong>vid N. Steel e Curtis C. Thomas, contrasta os Cinco Pontos do Arminianismo com os<br />

Cinco Pontos do Calvinismo, da maneira mais clara e concisa que já vimos em qualquer lugar. Também<br />

pode ser encontrado no livreto, “Os Cinco Pontos do Calvinismo” [páginas 16 – 19]. Ambos livros<br />

foram publicados pela “The Presbyterian and Reformed Publishing Co., Philadelphia (1963. Os senhores<br />

Steele e Thomas foram pastores por vários anos de uma Igreja Batista do sul, em Little Rock, Arkansas.<br />

OS "CINCO PONTOS" DO ARMINIANISMO OS "CINCO PONTOS" DO CALVINISMO<br />

1. Livre Arbítrio ou Capacidade Humana<br />

Embora a natureza humana tenha sido seriamente<br />

afetada pela queda, o homem não foi deixado numa<br />

condição de abandono espiritual. Deus capacita<br />

graciosamente cada pecador a arrepender-se e crer,<br />

mas Ele não interfere na liberdade humana. Cada<br />

pecador possui livre arbítrio, e seu destino eterno<br />

depende de como ele o utiliza. A liberdade do<br />

homem consiste em sua capacidade de escolher o<br />

bem ao invés do mal no que se refere a assuntos<br />

espirituais; sua vontade não é escrava de sua<br />

natureza pecadora. O pecador tem o poder de ou<br />

cooperar com o Espírito de Deus e ser regenerado<br />

ou resistir à graça de Deus e perecer. O pecador<br />

perdido necessita da assistência do Espírito, mas<br />

ele não tem de ser regenerado pelo Espírito antes<br />

que possa crer, pois a fé é um ato do homem e<br />

precede no novo nascimento. A Fé é presente que o<br />

pecador dá para Deus; é a contribuição do homem<br />

para a salvação.<br />

2. Eleição Condicional<br />

A escolha de Deus de certos indivíduos para a<br />

salvação antes da fundação do mundo foi baseada<br />

na sua visão antecipada de que eles poderiam<br />

responder à sua chamada. Ele selecionou somente<br />

aqueles que Ele sabia que creriam livremente no<br />

Evangelho. Eleição portanto foi determinada por ou<br />

condicionada ao que o homem faria. A fé que Deus<br />

anteviu e na qual Ele baseou a Sua escolha não foi<br />

dada ao pecador por Deus (ela não foi criada pelo<br />

poder regenerador do Espírito Santo) mas resultou<br />

somente da vontade do homem. Ela foi deixada<br />

totalmente à escolha do homem, quanto a em quem<br />

crer; e portanto quanto a quem deveria ser eleito<br />

1. Incapacidade Total ou Total Depravação<br />

Por causa da queda, o homem é incapaz por si<br />

mesmo de crer no evangelho para a sua salvação. O<br />

pecador está morto, surdo e cego para as coisas de<br />

Deus; seu coração é injusto e desesperadamente<br />

corrupto. Sua vontade não é livre, está unida à sua<br />

natureza má, portanto ele não será – na realidade<br />

ele não pode – escolher o bem ao invés do mal, no<br />

aspecto espiritual. Consequentemente, é necessário<br />

mais que a assistência do Espírito Santo para trazer<br />

um pecador até Cristo – é necessário regeneração,<br />

pela qual o Espírito Santo faz com que o pecador<br />

viva e dá-lhe uma nova natureza. Fé não é algo com<br />

que o homem contribui para a salvação, mas em si<br />

mesma é parte do dom de Deus para a salvação – é<br />

dádiva de Deus para o pecador, não um presente do<br />

pecador para Deus.<br />

2. Eleição Incondicional<br />

O fato de Deus escolher – antes da fundação do<br />

mundo – certos indivíduos para a salvação, repousa<br />

somente sobre a Sua soberana vontade. Sua<br />

escolha, de certos pecadores em particular, não foi<br />

baseada em nenhuma resposta ou obediência da<br />

parte deles, tal como fé, arrependimento e etc. Ao<br />

contrário, Deus concede a fé e o arrependimento a<br />

cada indivíduo a quem Ele escolhe. Tais atos são o<br />

resultado, não a causa da escolha de Deus. A<br />

eleição portanto não foi determinada ou<br />

condicionada por nenhuma qualidade virtuosa ou<br />

ato antevisto do homem. Àqueles a quem Deus<br />

soberanamente elegeu Ele traz através do poder do


para a salvação. Deus escolheu aqueles que Ele<br />

sabia, através da sua própria vontade, que<br />

escolheriam a Cristo. Assim, o pecador escolhendo<br />

a Cristo; e não Cristo escolhendo o pecador, é em<br />

última instância causa da salvação.<br />

3. Redenção Universal ou Expiação Geral<br />

A obra redentora de Cristo possibilitou a cada um<br />

ser salvo, mas na realidade não assegurou a<br />

salvação de ninguém. Embora Cristo morreu por<br />

todos, somente aqueles que crêem nEle estão<br />

salvos. A Sua morte possibilitou a Deus perdoar os<br />

pecadores na condição de que eles cressem, mas na<br />

realidade não colocou à parte o pecado de ninguém.<br />

A Redenção de Cristo se torna efetiva somente se o<br />

homem escolher aceitá-la.<br />

4. A Resistência ao Espírito Santo é Possível<br />

O Espírito Santo chama “internamente” a todos<br />

aquels que são chamados “externamente” pelo<br />

convite do Evangelho; Ele faz tudo o quanto Ele<br />

pode para trazer cada pecador à salvação. Mas tanto<br />

quanto o homem é livre, ele pode resistir com<br />

sucesso à chamada do Espírito Santo. O Espírito<br />

Santo não pode regererar o pecador até que este<br />

creia; a fé (que é a contribuição do homem) precede<br />

e faz possível o novo nascimento. Assim, o livre<br />

arbítrio do homem limita o Espírito Santo na<br />

aplicação, na efetivação da obra salvadora de<br />

Cristo. O Espírito Santo somente pode trazer até<br />

Cristo aqueles que permitam que Ele possa vir até<br />

eles. Até que o pecador responda, o Espírito não<br />

pode dar a vida. A graça de Deus, portanto, não é<br />

invencível. Ela pode, e muitas encontra, resistência<br />

por parte do homem; e é relegada por ele.<br />

5. Caindo da Graça<br />

Aqueles que crêem e estão verdadeiramente salvos<br />

não podem perder a sua salvação por haverem<br />

falhado em manter a sua fé, etc. Todos Arminianos<br />

não têm concordado neste ponto, alguns têm<br />

sustentado que os crentes estão eternamente<br />

seguros em Cristo – que uma vez que um pecador é<br />

regenerado, ele não pode nunca perder-se.<br />

De Acordo com o Arminianismo:<br />

Espírito Santo à uma pronta aceitação de Cristo.<br />

Assim a escolha de Deus quanto ao pecador, é em<br />

última instância a causa da salvação.<br />

3. Redenção Pessoal ou Expiação Limitada<br />

A obra redentora de Cristo foi intencionada para<br />

salvar os eleitos somente; e realmente assegurou a<br />

sua salvação. Sua morte foi um pagamento<br />

substitutivo das faltas do pecado no lugar de certos<br />

pecadores em particular. Adicionalmente a colocar<br />

de lado os pecados do Seu povo, a redenção de<br />

Cristo assegurou tudo o que fosse necessário par a<br />

sua salvação, incluindo a fé, que os une a Ele. O<br />

dom da fé é infalívelmente dispensado pelo Espírito<br />

Santo a todos por quem Cristo morreu, portando<br />

assegurando a sua salvação.<br />

4. A Graça Eficaz; ou a Graça Irresistível<br />

Adicionalmente à expansiva e geral chamada à<br />

salvação, que é feita a todos que ouvem a palavra<br />

do Evangelho, o Espírito Santo estende aos eleitos<br />

um convite especial que inevitavelmente os traz à<br />

salvação. O convite eterno (que é feito a todos sem<br />

distinção) pode ser, e invariavelmente o é,<br />

rejeitado; enquanto sempre resulte em conversão.<br />

Por intermédio deste convite especial, o Espírito<br />

Santo irrestivelmente traz os pecadores até Cristo.<br />

Ele não é limitado na Sua obra de aplicar a<br />

salvação à vontade do homem, nem é ele<br />

dependente da cooperação do homem para o Seu<br />

sucesso. O Espírito graciosamente faz com que o<br />

pecador eleito coopere, arrependa-se e venha pronta<br />

e livremente a Cristo. Graça de Deus. Portanto, é<br />

invencível, nunca falha na salvação daqueles que<br />

foram eleitos.<br />

5. Perseverança dos Santos<br />

Todos aqueles que são escolhidos por Deus,<br />

redimidos por Cristo, e a quem a fé foi dada pelo<br />

Espírito Santo estão salvos eternamente. Eles são<br />

mantidos na fé pelo poder de Deus Onipotente e<br />

assim perseverarão até o fim.<br />

De Acordo com o Calvinismo:


A Salvação é conseguida através dos esforços<br />

conjuntos de Deus (que toma a iniciativa) e do<br />

homem (que deve corresponder) – a resposta do<br />

homem sendo o fator determinante. Deus<br />

providenciou a salvação para todos, mas as suas<br />

provisões vêm a ser efetivas somente para aqueles<br />

que, através de seu livre arbítrio, “escolher” e<br />

“decidir” a cooperar com Ele e aceitar a Sua Graça.<br />

Neste ponto crucial, a vontade do homem tem uma<br />

parte decisiva; assim o homem, não Deus,<br />

determina quem será o recipiente do dom da<br />

salvação.<br />

REJEITADA<br />

pelo Sínodo de Dort<br />

Este foi o sistema constante da “Remonstância”<br />

(embora os “cinco pontos” não estivessem<br />

originalmente assim ordenados). Foi submetido<br />

pelos Arminianos à Igreja da Holanda para adoção<br />

em 1610, mas foi rejeitado pelo Sínodo de Dort em<br />

1619, nas bases de que não era Bíblico.<br />

Tradução livre = Eli <strong>Da</strong>niel Silva – elidaniel@zipmail.com.br<br />

Belo Horizonte, 09 Outubro 2002<br />

A Salvação acontece através do poder supremo do<br />

Deus Triúno. O Pai escolhe um povo, o Filho<br />

morreu por eles, o Espírito Santo faz com que a<br />

morte de Cristo seja efetiva em trazer os eleitos à fé<br />

e ao arrependimento, destarte fazendo com que eles<br />

prontamente obedeçam ao Evangelho. Todo o<br />

processo (eleição, redenção e regeneração) é a obra<br />

de Deus e ocorre somente através da sua graça.<br />

Assim Deus, não o homem, determina quem será o<br />

recipiente do dom da salvação.<br />

REAFIRMADO<br />

pelo Sínodo d eDort<br />

Este sistema teológico foi reafirmado pelo Sínodo<br />

de Dort em 1619 como a doutrina da salvação<br />

contida nas Sagradas Escrituras. O sistema foi à<br />

época formulado em “cinco pontos” (em resposta<br />

aos “cinco pontos” submetidos pelos Arminianos) e<br />

desde então tem sido conhecido como “os cinco<br />

pontos do Calvinismo”.


Tradução Livre:<br />

“A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> <strong>Da</strong> <strong>Predestinação</strong>” – Capítulo xii<br />

Depravação Total {Incapacidade Total}<br />

1. Apresentação da <strong>Doutrina</strong>. 2. A Extensão e os Efeitos do Pecado Original. 3. Os Defeitos das<br />

Virtudes Comuns do Homem. 4. A Queda do Homem. 5. O Princípio Representativo. 6.<br />

A Bondade e a Severidade de Deus. 7. Provas nas Escrituras.<br />

1. Apresentação da <strong>Doutrina</strong><br />

Na Confissão de Fé de Westminster, a doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) é apresentada<br />

como se segue: “O homem, caindo em um estado de pecado, perdeu totalmente todo o poder de vontade<br />

quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação, de sorte que um homem natural,<br />

inteiramente adverso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu pr6prio poder, converter-se<br />

ou mesmo preparar-se para isso.” {Referências: Rm. 5:6 e 8:7-8; Jo 15:5; Rm. 3:9-10, 12, 23; Ef.2:1, 5;<br />

Col. 2:13; Jo 6:44, 65; I Co. 2:14; Tt 3:3-5.} 1<br />

Paulo, Agostinho, e Calvino têm seus pontos de partida no fato de que toda a humanidade pecou em<br />

Adão, e que todos os homens estão “sem desculpas”, conforme Romanos 2:1 [Portanto, és inescusável, ó<br />

homem, qualquer que sejas, quando julgas, porque te condenas a ti mesmo naquilo em que julgas a<br />

outro; pois tu que julgas, praticas o mesmo.] Vez após outra Paulo nos diz que estamos mortos em<br />

pecados e transgressões, alienados de Deus, e sem defesa. Ao escrever aos Cristãos de Éfeso, ele<br />

lembrou-os que antes que haverem recebido o Evangelho, eles estavam “...naquele tempo sem Cristo,<br />

separados da comunidade de Israel, e estranhos aos pactos da promessa, não tendo esperança, e sem<br />

Deus no mundo.”[Efésios 2:12]. Ali notamos a “ênfase de cinco partes”, à medida em que ele acumula<br />

frase sobre frase, para reforçar esta verdade.<br />

2. A Extensão e Os Efeitos do Pecado Original<br />

A doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total), que declara que os homens estão mortos no<br />

pecado, não quer dizer que todos os homens são igualmente maus, nem que algum homem seja tão mau<br />

quanto ele pudesse sê-lo, ou ainda que algum homem seja totalmente destituído de virtude, nem que a<br />

natureza humana seja má em si mesma, ou que o espírito do homem seja inativo, e muito menos ainda<br />

significa que o corpo esteja morto. O que significa na verdade é que desde a queda o homem permanece<br />

sob a maldição do pecado, que ele agiu conforme princípios errados, e que ele é completamente incapaz<br />

de amar a Deus ou de fazer o que seja para merecer salvação. Sua corrupção é extensa, mas não<br />

necessariamente intensa.<br />

É neste sentido que os homens, desde a queda, são “...totalmente indispostos, adversos a todo o bem e<br />

inteiramente inclinados a todo o mal,...”[CFW, cap. VI, par. iv]. O homem possui uma tendência fixa do<br />

mal contra Deus, e instintivamente e voluntariamente volta-se para o mal. Ele é um estrangeiro por<br />

nascimento, e um pecador por escolha. A incapacidade (depravação) sob a qual ele se move não é<br />

incapacidade de exercer poder de escolha, mas uma incapacidade de estar pronto a fazer escolhas santas.<br />

E é esta fase que levou Lutero a declarar que “Livre arbítrio é um termo vazio, cuja realidade está


perdida. E uma liberdade perdida, de acordo com a minha gramática, não é liberdade.” 2 Em matérias<br />

pertinentes à sua salvação, o homem ainda não regenerado, obstinado, não tem então liberdade para<br />

escolher entre o bem e o mal, mas somente escolher entre mal maior ou menor, o que não é propriamente<br />

livre arbítrio. O fato de o homem caído ainda ser capaz de certos atos moralmente bons em si próprios<br />

não prova que ele possa agir para o mérito da salvação, pois seus motivos podem estar completamente<br />

errados.<br />

O homem é um agente livre mas ele não pode começar (originar, criar) o amor de Deus em seu coração.<br />

Sua vontade é livre no sentido de que não seja controlada por nenhuma força fora de si próprio. Como o<br />

pássaro com uma asa quebrada é “livre” para voar mas não é capaz de faze-lo, assim o homem natural é<br />

livre para vir a amar a Deus, mas é incapaz. Como ele pode arrepender-se do seu pecado quando ele O<br />

ama? Como ele pode vir a Deus quando ele O odeia? Esta é a incapacidade da vontade sob a qual o<br />

homem vive. Jesus disse, “O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais a as<br />

trevas que a luz; porque as suas obras eram más.”[João 3:19]; e de novo, “Contudo, não quereis vir a<br />

mim para terdes vida.”[João 5:40]. A ruína do homem está na sua própria e perversa vontade. Ele não<br />

pode vir, porque ele não quer. Auxílio bastante é providenciado, se ele somente quisesse aceitá-lo. Paulo<br />

nos diz, “Por isso, o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem<br />

mesmo pode estar.”[Romanos 8:7].<br />

Assumir que porque o homem tem a capacidade para amar ele então tem também capacidade para amar a<br />

Deus, é tão sábio quanto assumir que a água, já que tem a capacidade de fluir, tem portanto a capacidade<br />

de fluir morro acima; ou raciocinar que porque o homem tem o poder de não atirar-se precipício abaixo,<br />

ele portanto tem igual poder para transportar-se desde o fundo do precipício até o topo.<br />

O homem caído não vê nada desejável no “Aquele que é igualmente amável, o mais junto em dez mil.”<br />

Ele pode admirar a Jesus como um homem, mas ele não quer ter nada a ver como Ele como Deus, e ele<br />

resiste contra a santa influência do Espírito Santo, com todas as suas forças. Pecado e não retidão, tem<br />

sido seu elemento natural, de maneira que ele não tem o desejo da salvação.<br />

A natureza caída do homem cria uma mais obtusa cegueira, estupidez, e oposição relativa às coisas de<br />

Deus. Sua vontade está sob o controle de uma compreensão obscura, a qual troca o doce pelo amargo, e<br />

o amargo pelo doce, o bem pelo mal e o mal pelo bem. Tanto quanto refere-se à suas relações com Deus,<br />

ele quer somente o que é mal, embora sua vontade seja livre. Espontaneidade e escravidão realmente<br />

coexistem.<br />

Em outras palavras, o homem caído é tão moralmente cego que uniformemente prefere e escolhe o mal<br />

ao invés do bem, como o fazem os anjos caídos e os demônios. Quando o Cristão é completamente<br />

santificado ele alcança um estado no qual ele uniformemente prefere e escolhe o bem, como fazem os<br />

santos anjos. Ambos estados são consistentes com liberdade e responsabilidade de agentes morais. Ainda<br />

quando o homem caído age assim uniformemente ele nunca é compelido a pecar, mas ele o faz<br />

livremente e regozija-se em faze-lo. Suas disposições e desejos são tão inclinadas, e ele age sabendo e<br />

desejando, desde a espontânea batida do seu coração. Esta tendência ou apetite natural pelo mal é<br />

característica da natureza caída e corrompida do homem, de modo que Jó diz, ele “...bebe a iniqüidade<br />

como água!”[15;16]<br />

Nós lemos que “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura;<br />

e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”[I Co 2:14]. Nós estamos perdidos<br />

quanto a entender como alguém pode entender, tem uma vista plena desta passagem da Bíblia e ainda<br />

assim enfrentar a doutrina da capacidade humana. O homem em seu estado natural não pode ao menos


ver o reino de Deus, muito menos adentrar nele. Uma pessoa inculta pode olhar para uma linda obra de<br />

arte como um mero objeto, sem contudo poder apreciar a sua excelência. Ele pode ver figuras numa<br />

equação matemática complexa, mas estas figuras terão nenhum significado para ele. Cavalos e bois<br />

podem são capazes de enxergar o mesmo maravilhoso por do sol, ou qualquer outro fenômeno da<br />

natureza que o homem vê, mas no entanto são cegos quanto à beleza artística dos mesmos. Assim é<br />

quando o Evangelho da cruz é apresentado para aquela pessoa ainda não resgatada. Ela pode ter um<br />

conhecimento intelectual dos fatos e das doutrinas da Bíblia, mas não terá todo o discernimento<br />

espiritual da excelência daqueles fatos e doutrinas, e não encontrará nenhum contentamento ou alegria<br />

neles. O mesmo Cristo é, para alguns, sem a forma ou a beleza e santidade para que O desejassem; para<br />

outros, Ele é o Príncipe da vida e o Salvador do mundo, Deus manifesto na carne, a quem é impossível<br />

não adorar, amar e obedecer.<br />

Esta depravação total (incapacidade total), contudo, advém não meramente de uma natureza moral<br />

pervertida, mas também da ignorância. Paulo escreveu que os gentios “...que não mais andeis como<br />

também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento,<br />

alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração,”[Efésios<br />

4:17,18]. E antes disso, havia escrito, “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem,<br />

mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.”[I Coríntios 1:18]. Quando ele escreveu das coisas que<br />

“...Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem<br />

preparado para aqueles que o amam.” ele fez referência, não às glórias do estado celestial como<br />

comumente suposto, mas às realidades espirituais nesta vida, as quais não podem ser vistas por uma<br />

mente ainda não resgatada, como é plenamente apresentado no verso seguinte: “Mas Deus no-lo revelou<br />

pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus.” [I<br />

Coríntios 2:9,10]. Numa ocasião Jesus disse, “...Ninguém conhece o filho, senão o Pai; e ninguém<br />

conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o filho o quiser revelar.”[Mateus 11:27]. Neste versículo<br />

nós somos plenamente advertidos que o homem em sua natureza não resgatada, não iluminada, não<br />

conhece a Deus em nenhum sentido que valha o nome, e que o Filho é soberano para escolher quem<br />

deverá adentrar a este salvador conhecimento de Deus.<br />

O homem caído tem falta do poder espiritual do discernimento. Sua razão ou compreensão é cega, e o<br />

gosto e sentidos são pervertidos. E desde que este estado de memória é inato, como uma condição da<br />

natureza do homem, está além do poder da vontade de muda-lo. Antes, controla ambos, as afeições e as<br />

vontades. O efeito da regeneração é claramente ensinado na divina comissão que Paulo recebeu quando<br />

de sua conversão, momento em que a ele foi dito que ele estaria sendo enviado aos gentios “para lhe<br />

abrires os olhos e os converteres das trevas para a luz e da potestade de Satanás para Deus,...”[Atos<br />

26:18]<br />

Jesus ensinou a mesma verdade sob um figuração diferente, quando ele disse aos Fariseus, “Qual a razão<br />

por que não compreendeis a minha linguagem? È porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós<br />

sois do Diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. ...”[João 8:43,44]. Eles não podiam<br />

compreender, nem mesmo ouvir as Suas palavras em qualquer maneira inteligente. Para eles, as Suas<br />

palavras eram somente tolices, loucuras; e eles O acusaram de estar possuído pelo demônio (vv 48, 52).<br />

Somente os Seus discípulos podiam saber a verdade (vv 31,32); os fariseus eram crianças do Diabo (vv<br />

42,44) e conservos do pecado (v 34), embora pensassem ser livres (v 33).<br />

Em outra ocasião, Jesus ensinou que uma árvore boa não poderia dar frutos ruins, nem tampouco uma<br />

árvore ruim poderia dar frutos bons. E que nesta similaridade árvores representam homens bons e maus,<br />

o que significa senão que uma classe de homens é governada por um conjunto de princípios básico,<br />

enquanto outra classe é governada por outro conjunto? Os frutos desses dois tipos de árvores são os atos,


palavras, pensamentos dos quais, se bons, procedem de uma boa natureza, enquanto que se ruins<br />

procedem de uma natureza má. É impossível, então, proceder da mesma raiz frutos de diferentes tipos. E<br />

é assim que negamos no homem a existência de um poder que possa agir de qualquer uma das formas,<br />

no terreno lógico que ambos, virtude e vício não podem proceder da mesma condição moral do agente. E<br />

afirmamos que as ações humanas que referem-se a Deus procedem tanto de uma condição moral que<br />

necessariamente produz boas ações como de uma condição moral a qual produz necessariamente ações<br />

más.<br />

Na Epístola de Paulo aos Efésios, ele assim declara. Antes da manifestação do Espírito de Deus, cada<br />

alma jaz morda em transgressões e pecados. Agora, será com certeza admitido que estar morto, e estar<br />

morto no pecado, é evidência clara e positiva de que não há nem atitude nem poder suficientes para a<br />

realização de nenhuma ação espiritual. Se um homem estivesse morto, no sentido físico e natural, estaria<br />

imediatamente claro que não haveria qualquer possibilidade de tal homem ser capaz de performar<br />

quaisquer ações físicas. Um cadáver não pode agir de qualquer forma que seja, e se alguém dissesse o<br />

contrário, seria tomado como estando fora de si. Se um homem está morto espiritualmente, portanto, é<br />

certo e igualmente evidente que ele não é capaz de performar quaisquer ações espirituais, e destarte a<br />

doutrina da incapacidade moral do homem baseia-se em forte evidência Bíblica.” 3<br />

“No princípio de que nenhuma coisa pura não pode proceder do que é impuro [Jó 14:4], todos que são<br />

nascidos de mulher são declarados serem ‘abomináveis e corruptos’, aos quais somente a natureza iníqua<br />

é atrativa [Jó 15:14-16]. De igual forma, para tornarem-se pecadores, os homens não esperam até a idade<br />

da razão. Antes, eles são apóstatas desde o útero, e logo que nascem desviam-se, proferindo mentiras<br />

[Salmo 58:3]; são até mesmo moldados em iniqüidade, e concebidos em pecado [Salmo 51:5]. A<br />

propensão de seus corações é para o mal desde a sua infância [Gênesis 8:21], e é do coração que todas as<br />

fontes da vida procedem [Provérbios 4:23, 20:11]. Atos de pecado são portanto a expressão do coração<br />

natural, o qual é enganoso mais que todas as coisas e excedentemente corrupto [Jeremias 17:9].” 4<br />

Ezequiel apresenta a mesma verdade em linguagem gráfica, e nos dá o quadro do bebê indefeso que<br />

estava ainda banhado em seu próprio sangue e deixado para morrer, mas que o Senhor graciosamente<br />

encontrou e cuidou dele [capítulo16].<br />

Esta doutrina do pecado original supõe que os homens caídos têm o mesmo tipo e o mesmo grau de<br />

liberdade para pecar sob a influência de uma natureza corrupta, como a têm o Diabo e os demônios; ou<br />

que os santos anjos têm para agir corretamente sob a influência de uma natureza santa. Quer dizer,<br />

homens e anjos agem conforme a suas naturezas. Como os santos e os anjos são confirmados em<br />

santidade, -- ou seja, possuídos por uma natureza que é completamente inclinada à retidão e aversa ao<br />

pecado, -- também a natureza do homem caído e de demônios é tal que eles não são capazes de um único<br />

ato com motivos justos para de Deus. <strong>Da</strong>í a necessidade de que Deus soberanamente mude o caráter da<br />

pessoa, em regeneração.<br />

A cerimônia de circuncisão do bebê recém nascido de acordo com o Velho Testamento, e a da<br />

purificação da mãe, foram concebidas para ensinar que o homem vem ao mundo em pecado desde que a<br />

natureza do homem é corrupta na própria origem. Paulo escreveu esta verdade em uma outra e, se<br />

possível, ainda mais forte em II Coríntios 4:3,4: “[3] Mas, se ainda o nosso evangelho está encoberto, é<br />

naqueles que se perdem que está encoberto, [4] nos quais o deus deste século {pelo qual ele refere-se ao<br />

Diabo} cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da<br />

glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.” Resumindo, então, os homens caídos, sem a intervenção<br />

do Espírito de Deus, estão sob o governo de satã. São por ele levados cativos, à sua vontade [II Timóteo<br />

2:26]. Então, enquanto este “valente, totalmente armado” não for molestado pelo que é “mais forte que


ele” ele mantém seu reino em paz e seus cativos prontamente o obedecem. Mas quando o “mais forte que<br />

ele” o derrotou, arrancou a sua armadura, e libertou uma parte dos seus cativos [Lucas 11:21, 22]. Agora<br />

Deus exerce o direito de libertar aqueles que Ele deseja; e todos Cristãos nascidos de novo são pecadores<br />

resgatados daquele reino.<br />

A Bíblia declara que o homem caído é cativo, um escravo do pecado, e completamente incapaz de livrarse<br />

da servidão e da corrupção. Ele é incapaz de entender, e muito menos de fazer, as coisas de Deus. Há<br />

o que pode ser chamado de “a liberdade da escravidão”, --um estado no qual o cativo é livre somente<br />

para fazer a vontade de seu mestre, neste caso o pecado. Foi a isso que Jesus se referiu quando disse,<br />

“...todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.”[João 8:34]<br />

E sendo tal a profundeza da corrupção do homem, é completamente além de suas próprias forças livrarse<br />

dela. Sua única esperança de uma mudança de vida está portanto em uma mudança de coração,<br />

mudança esta que lhe é oferecida pelo poder soberano e re-criador do Espírito Santo, que opera quando e<br />

onde e como Lhe apraz. <strong>Da</strong> mesma forma que alguém pode tentar bombear água para fora de um barco<br />

que afunda, sem contudo reparar o furo por onde entra a água, assim também regenerar um pecador sem<br />

a mudança interior. Ou então, a um Etíope seria possível mudar sua pele, ou o leopardo suas pintas, se a<br />

quem está acostumado a fazer o mal corrigir os seus próprios caminhos. Esta transferência da morte<br />

espiritual para a vida espiritual chamamos “regeneração”. A ela a Bíblia se refere com vários termos:<br />

“regeneração”, “vivificação”, “chamado das trevas para a luz”, “renovação”, “trocar um coração de<br />

pedra por um coração de carne”, etc., operações estas que são exclusivamente obras do Espírito Santo.<br />

Como resultado de tal mudança, o homem passa a enxergar a verdade e alegremente a aceita. Seus<br />

instintos e impulsos íntimos são transferidos para o lado da lei, obediência à qual passa a ser a expressão<br />

espontânea de sua natureza. É dito que a Regeneração é operada por aquele mesmo poder sobrenatural<br />

que Deus operou em Cristo quanto O ressuscitou de entre os mortos [Efésios 1:18-20]. O homem não<br />

possui o poder para sua própria regeneração, e até que ocorra aquela mudança interior, ele não pode ser<br />

convencido da verdade do Evangelho por qualquer tipo de testemunho, de exemplo externo. “Se não<br />

ouvirem a Moisés e os profetas, não serão persuadidos se alguém levantar de entre os mortos.”<br />

3. OS DEVEITOS NAS VIRTUDES COMUNS DO HOMEM<br />

O homem não regenerado pode, através de graça comum, amar a sua família, bem como ser um bom<br />

cidadão. Ele pode doar um milhão de dólares para a construção de um hospital, mas não é capaz de dar<br />

nem mesmo um copo d’água a um discípulo no nome de Jesus. Se alcoólatra, ele pode abster-se da<br />

bebida por propósitos altruístas, mas não pode faze-lo como resultado de amor a Deus. Todas as suas<br />

virtudes comuns ou boas obras têm um defeito fatal no qual seus motivos, que o motivam a faze-las, não<br />

são para glorificar a Deus, -- um defeito tão vital que atira às sombras qualquer elemento de bondade do<br />

homem. Não importa quão boas as obras possam ser em si mesmas, pois desde que o que as faz não<br />

esteja em harmonia com Deus, nenhuma delas são espiritualmente aceitáveis. Além do mais, as boas<br />

obras do não regenerado não tem fundações estáveis, pois sua natureza ainda não foi mudada: e tão<br />

natural e certo quanto a porca lavada volta a revolver-se na lama, ele cedo ou tarde retornará aos seus<br />

maus caminhos.<br />

Na esfera moral, é regra que a moralidade do homem deve preceder a moralidade da ação. Alguém pode<br />

falar em línguas de homens e de anjos; ainda assim se ele não tiver o princípio interior de amor para com<br />

Deus, ele será como um címbalo, ou como o tocar de um sino. Ele poderá doar todos os seus bens para<br />

os pobres, e poderá dar o seu próprio corpo para ser queimado; porém se a ele faltar aquele princípio<br />

interior, não se lhe resultará em nada. Como seres humanos nós sabemos que uma ação rendida a nós


(qualquer que sejam os motivos altruístas) por alguém que no coração seja nosso inimigo, não merece<br />

nosso amor aprovação. A explicação para o testemunho Bíblico de que “Sem fé é impossível agradar a<br />

Deus” é esta, que a fé é a fundação, o alicerce de todas as demais virtudes, e nada é aceitável para Deus<br />

se não fluir dos sentimentos certos.<br />

Um ato moral deve ser julgado pelo padrão de amor a Deus, amor que é, como se fosse, a alma de todas<br />

as demais virtudes, e o qual é derramado sobre nós somente por intermédio da graça. Agostinho não<br />

negou a existência de outras virtudes, tais como moderação, honestidade, generosidade, que constituem<br />

um certo mérito entre os homens; mas ele traçou uma linha de separação entre estas e as graças Cristãs<br />

específicas (fé, amor e gratidão a Deus, etc.), as quais somente são boas no sentido estrito da palavra, e<br />

as quais somente têm valor perante Deus. Esta distinção é plenamente ilustrada num exemplo dado por<br />

W. D. Smith. Diz ele: “Num bando de piratas podemos encontrar muitas coisas que em si mesmas são<br />

boas. Embora eles estejam em rebelião feroz contra as leis do governo, eles têm suas próprias leis e<br />

regras, às quais obedecem estritamente. Encontramos entre eles coragem e fidelidade, com muitas outras<br />

coisas que os recomendará como piratas. Eles também são capazes de fazer muitas coisas, que as leis do<br />

governo exigem, mas elas não são feitas porque o governo as exigiu, mas em obediência às suas próprias<br />

leis. Por exemplo, o governo requer honestidade e eles podem ser estritamente honestos, uns para com os<br />

outros, em suas transações e na divisão de qualquer espólio. Mesmo assim, com relação ao governo e ao<br />

princípio geral, sua vida toda é exemplo da mais feroz desonestidade. Agora, é certo, que enquanto eles<br />

continuam em sua rebelião, não podem fazer nada que os recomende ao governo como cidadãos. Seu<br />

primeiro passo deve ser desistir da rebelião, reconhecer sua obediência ao governo e procurar por<br />

misericórdia. Então todos os homens, no seu estado natural, são rebeldes contra Deus, e mesmo que eles<br />

possam fazer muitas coisas que a lei de Deus exige, e as quais os recomendará como homens, ainda nada<br />

é feito, com referência a Deus e à Sua lei. Ao contrário, as regras da sociedade, respeito pela opinião<br />

pública, interesse próprio, seu próprio caráter à vista do mundo, ou algum outro motivo sórdido ou<br />

mundano, reinam supremamente; e Deus, a quem eles devem seus corações e suas vidas, é esquecido;<br />

ou, se porventura pensam nEle, os Seus mandamentos são perfidamente rejeitados, Seus conselhos<br />

desprezados, e o coração, obstinadamente rebelde, rejeita obedece-LO. Mas é certo que enquanto o<br />

coração continua neste estado o homem é um rebelde contra Deus, e pode fazer nada que o recomende<br />

para o Seu favor. O primeiro passo é desistir da rebelião, arrepender-se dos seus pecados, voltar-se para<br />

Deus e suplicar por perdão e reconciliação através do Salvador. Por si mesmo o homem não está<br />

preparado para fazer tudo isto, até que ele seja mudado. Ele ama os seus pecados, e continuará a amá-los,<br />

até que o seu coração seja mudado.”<br />

As boas ações dos homens não regenerados, continua Smith, “não são por si mesmas positivamente<br />

pecaminosas, mas pecaminosas por defeito. Falta-lhes o princípio, que somente pode faze-las corretas à<br />

vista de Deus. No caso dos piratas é fácil ver que todas as suas ações são faltas contra o governo.<br />

Enquanto continuarem piratas, suas navegações, reparos e suprimentos do navio e mesmo seu comer e<br />

beber, são todos crimes aos olhos do governo, como são também meros expedientes que os capacita a<br />

seguir adiante em sua carreira de pirataria, e são partes de sua vida de rebelião. Assim também com<br />

pecadores. Enquanto seus corações estiverem errados, denigrem tudo à vista de Deus, mesmo suas mais<br />

ordinárias ocupações; pelo que é certo, a inequívoca linguagem de Deus diz, ‘... tal lâmpada dos ímpios é<br />

pecado.’[Provérbos 21:4]”. 5<br />

É esta a incapacidade que as Escrituras ensinam quando declaram que “e os que estão na carne não<br />

podem agradar a Deus”[Romanos 8:8]; “...e tudo o que não provém da fé é pecado.”[Romanos 14:23] e<br />

“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus...”[Hebreus 11:6]. Portanto mesmo as virtudes do homem não<br />

regenerado nada são senão como flores murchas. Foi por causa disso que Jesus disse aos Seus discípulos,<br />

“Pois eu vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis


no reino dos céus.”[Mateus 5:20]. E porque as virtudes do homem não regenerado são de sua própria<br />

natureza, elas são consequentemente temporárias. Aquele que as possui é como a semente que cai em<br />

solo pedregoso, que talvez germine prometendo boa safra, mas logo seca ao sol porque não tem raiz.<br />

Acrescente-se também o que foi dito que a salvação é SOMENTE E ABSOLUTAMENTE FRUTO DA<br />

GRAÇA, -- que Deus é livre, em consistência com as infinitas perfeições da Sua natureza, para salvar<br />

nenhum, uns poucos ou todos, conforme o soberano bel prazer da sua vontade. Também acrescente-se<br />

que a salvação não é baseada em nenhum mérito da criatura, e que depende de Deus, e não de homens,<br />

que terão e que não terão a vida eterna. Deus age como soberano quando salva alguns e quando deixa<br />

que outros recebam a justa recompensa pelos seus pecados. Pecadores são comparados a homens mortos,<br />

ou mesmo a ossos secos em sua total falta de defesa. Nesta maneira são todos iguais. A escolha de<br />

alguns para a vida eterna é algo tão soberano quanto foi o fato de Cristo haver passado por um cemitério<br />

e levantado alguns e deixando outros; a razão para restaurar um à vida enquanto outro é deixado na<br />

tumba pode ser encontrada somente em Sua santa vontade, e não nos mortos. Assim é que o<br />

mandamento de que somos pré ordenados de acordo com o bel prazer da Sua vontade, e não conforme as<br />

nossas próprias boas ações; e de forma que possamos ser santos, não porque somos santos [Efésios 1:41]<br />

“como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante<br />

dele em amor;”. “Desde que todos os homens igualmente mereceram somente a ira de Deus e renegaram<br />

a dádiva de o Seu único Filho ter morrido no lugar de malfeitores, como a única maneira possível de<br />

expiar as suas culpas, a mais estupenda exibição de favor imerecido e amor pessoal que o universo<br />

jamais testemunhou.” 6<br />

4. A QUEDA DO HOMEM<br />

A queda da raça humana num estado de pecado e miséria é a base e a fundação do sistema da redenção<br />

que é mostrado nas Escrituras, assim como também é a base do sistema que ensinamos. Somente os<br />

Calvinistas parecem levar realmente a sério a doutrina da queda. Ainda assim, a Bíblia desde o início até<br />

o fim declara que o homem está arruinado – totalmente arruinado – que ele está num estado de culpa e<br />

depravação do qual ele é totalmente incapaz de livrar-se, e que Deus pode em justiça ter deixado-o a<br />

perecer. No Velho Testamento a narrativa da queda é encontrada no terceiro capítulo de Gênesis;<br />

enquanto que no Novo Testamento referências diretas são feitas a ela em Romanos 5:12-21; I Coríntios<br />

15:22; II Coríntios 11:3; I Timóteo2:13,14 e etc. Embora o Novo Testamento enfatize literalmente não o<br />

fato histórico da queda do homem, mas o fato ético que o homem está caído. Os escritores do Novo<br />

Testamento interpretaram a queda literalmente e nela basearam a sua teologia. Para Paulo Adão foi tão<br />

real como Cristo, a queda tão real quanto a expiação. Pode ser dito que os apóstolos estavam errados,<br />

mas não pode negar-se que esta era a sua opinião.<br />

O Dr A.A. Hodge nos deu uma ótima apresentação da doutrina da queda, o qual teremos o privilégio de<br />

parafrasear: --“Do mesmo modo como uma provação justa não poderia, na natureza do caso, ser dada a<br />

cada novo membro em pessoa, quando vem ao mundo como um bebê ainda não desenvolvido, Deus,<br />

como guardião da raça (humana) e para o melhor do seu interesse, deu a todos os seus membros um<br />

julgamento na pessoa de Adão, sob as circunstâncias mais favoráveis – fazendo o para aquela mesma<br />

finalidade o representante e substituto pessoal de cada um dos seus descendentes naturais. Ele fez com<br />

ele um pacto de obras e de vida, ou seja, Ele deu a ele para si próprio, e no nome de todos os que ele<br />

representava, uma promessa de vida eterna, condicionada à perfeita obediência, quer dizer, a obras. A<br />

obediência demandada era um teste específico por um período temporário, período o qual deveria<br />

terminar, seja pela recompensa devida à obediência, ou a morte como conseqüência da desobediência. A<br />

‘recompensa’ prometida era a vida eterna, que era uma graça incluindo muito mais do que havia sido


originalmente pactuado com Adão em sua criação, uma dádiva que teria elevado a raça humana a uma<br />

condição de gozo e de santidade inquestionável para sempre. O ‘castigo’ ameaçado e executado era a<br />

morte; ‘...; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás.’[Gênesis 2:17]. A natureza da<br />

morte ameaçada neste versículo pode ser determinada somente a partir de uma consideração de tudo o<br />

que estava envolvido na maldição realmente imposta. Isto nós sabemos haver sido incluído no instante<br />

em que foram retirados o favor divino e a intercomunicação espiritual dos quais a vida do homem<br />

dependia. <strong>Da</strong>í a alienação e a maldição imposta por Deus; o senso de culpa e a corrupção da natureza,<br />

conseqüentes transgressões reais, as misérias da vida, a dissolução do corpo, as dores do inferno.” 7<br />

As conseqüências do pecado de Adão estão todas compreendidas sob o termo morte, no seu sentido mais<br />

amplo. Paulo nos dá o mandamento sumário de que “... o salário do pecado é a morte”[Romanos 6:23].<br />

O peso total da morte que foi imposta a Adão somente pode ser vislumbrado em se considerando todas<br />

as conseqüências terríveis que o homem tem desde a queda. Primeiramente foi a morte espiritual, ou a<br />

eterna separação de Deus, a qual foi imposta; e a morte física, ou a morte do corpo, que é um dos<br />

primeiros frutos e conseqüência relativamente sem importância daquele castigo maior. Adão não morreu<br />

fisicamente até 930 anos após a queda, mas ele morreu sim, espiritualmente, no mesmo instante em que<br />

ele caiu no pecado. Ele morreu simplesmente como um peixe morre quando tirado da água, ou como<br />

uma planta morre quando é arrancada do solo.<br />

“Em geral nós abraçamos uma idéia muito errada de como Adão caiu .... Adão não foi tentado por Satã<br />

de uma forma direta .... Eva foi tentada por Satã, que a enganou e a fez cair. Mas nós temos evidência<br />

inspirada provando que Adão não foi enganado [I Timóteo 2:14]“E Adão não foi enganado, mas a<br />

mulher, sendo enganada, caiu em transgressão;”. Ele foi pego não pelas vontades de Satã, mas o que ele<br />

fez, ele o fez de livre, espontânea e deliberada vontade. E a consciência do que ele estava fazendo, com<br />

uma perfeita compreensão das solenes conseqüências envolvidas, ele deliberadamente escolheu seguir a<br />

sua mulher no seu ato de desobediência pecaminosa. Foi a vontade deliberada do pecado do homem que<br />

constituiu o seu caráter hediondo. Tivesse ele sido atacado por Satã, e forçado a render-se como<br />

resultado de um poder avassalador ser imposto contra ele, nós poderíamos tentar encontrar alguma<br />

desculpa para a sua queda. Mas quando, com os olhos bem abertos, e com a mente perfeita e<br />

inteiramente ciente da terrível natureza do seu ato, ele usou o seu livre arbítrio para responder ao clamor<br />

da natureza em desafio ao Criador, nenhuma desculpa ele poderia dar para a sua queda. Seu ato, na<br />

realidade, foi deliberado, rebelião desafiadora, e com isto ele abertamente transferiu a sua lealdade de<br />

Deus para Satã.” 8<br />

E não houvesse havido uma queda – uma queda aterradora? Quanto mais nós estudamos a natureza<br />

humana como é manifesta no mundo ao nosso redor, mais fácil nos é crer nesta grande doutrina do<br />

pecado original. Considere o mundo como um todo, cheio como está de assassinatos, roubos, bebedeiras,<br />

guerras, lares destruídos, e crimes de toda a espécie. As milhares de formas geniais que o crime e o vício<br />

assumiram nas mãos de praticantes contumazes são todos peças que nos contam uma estória<br />

aterrorizante. Uma grande porção da raça humana hoje em dia, assim como nas eras passadas, é<br />

abandonada para viver e morrer na escuridão do paganismo, sem esperanças desviados de Deus. O<br />

modernismo e negação de todo tipo são incontroláveis atém mesmo na Igreja. Mesmo a assim chamada<br />

imprensa religiosa, está fortemente tingida com descrença. Observe a aversão generalizada à oração, ao<br />

estudo da Bíblia, ou a falar de assuntos espirituais. Não é o homem agora, como seu progenitor Adão,<br />

fugindo da presença de Deus, não querendo comunicar-se com Ele, e com inimizade em seu coração,<br />

para com o seu Criador? Certamente a natureza humana é radicalmente errada. Os jornais diários nos dão<br />

conta de eventos, mesmo numa terra abençoada como a América, mostrando que o homem é pecador,<br />

está perdido de Deus, e é norteado por princípios que não são santos. E a única e adequada explicação


para tudo isso é o castigo da morte, que foi alertado ao homem antes da queda; e agora encontra-se na<br />

raça humana.<br />

Nós vivemos num mundo perdido, um mundo que se deixado à sua própria vontade, degeneraria em sua<br />

própria corrupção de eternidade a eternidade, -- um mundo recendendo a iniqüidade e blasfêmia. Os<br />

efeitos da queda são tais que a vontade própria do homem tende somente afundar mais e mais no pecado<br />

e na lascívia. De fato, Deus não permite que a raça humana venha a tornar-se tão corrupta o quanto<br />

naturalmente seria se deixada à sua própria vontade. Ele põe em prática influências que restringem,<br />

incitando os homens a amarem-se uns aos outros, a serem honestos, filantrópicos; e a preocuparem-se<br />

com o bem estar de cada um. Se Deus assim não fizesse, se Ele não exercitasse essas influências, os<br />

homens perniciosos se tornariam piores e piores, sobrepassando convenções e barreiras sociais, até que o<br />

zênite da impunidade e da falta de lei e de ordem fosse alcançado, e a terra se tornasse então tão<br />

inteiramente corrupta que os eleitos não mais poderiam nela viver.<br />

5. O PRINCÍPIO DA REPRESENTATIVIDADE<br />

É fácil entender como uma pessoa pode agir através de um representante. O povo de um estado age<br />

através dos parlamentares que os representam na Legislatura. Se um país tem um bom presidente ou rei,<br />

todo o povo partilhará os bons resultados de sua administração; se por outro lado tiver um mau<br />

presidente ou rei, todos sofrerão as conseqüências. Num sentido muito real, pais atuam como<br />

representantes, e num sentido mais amplo, decidem os destinos dos seus filhos. Se os pais forem sábios,<br />

virtuosos, bons administradores do orçamento doméstico, as crianças colhem as bênçãos; mas se eles<br />

forem indolentes e imorais as crianças sofre. De mil maneiras diferentes o bem estar de indivíduos está<br />

condicionado aos atos e atitudes de outros, tão íntimo é o princípio da representatividade na nossa vida<br />

humana. Assim, uma vez que na doutrina da Bíblia Adão era o cabeça oficial e representante do seu<br />

povo, temos somente a aplicação de um princípio que vemos ativo em todos nós.<br />

O Dr. Charles Hodge tratou o assunto com grande habilidade, na seguinte seção: --<br />

“O princípio da representatividade permeia toda a Bíblia. A imputação do pecado de Adão à posteridade<br />

não é um fato isolado. É somente uma ilustração de um princípio geral que caracteriza as dispensações<br />

de Deus deste o princípio do mundo. Deus declarou-Se a Si mesmo a Moisés, como o que visita a<br />

iniqüidade dos pais nos filhos, e nos filhos dos filhos até a terceira e quarta gerações {veja em Êxodo<br />

34:6,7}....... A maldição proferida em Canaã caiu sobre a sua prosperidade. O fato de Esaú haver<br />

vendido sua primogenitura, tirou a sua descendência do pacto da promessa. Os filhos de Moabe e de<br />

Amon foram excluídos da congregação do Senhor para sempre, porque seus ancestrais se opuseram aos<br />

Israelitas quando eles saíram do Egito. No caso de <strong>Da</strong>tã e de Abirão, como no de Acã, ‘suas esposas, e<br />

seus filhos, e seus pequeninos pereceram pelos pecados dos seus pais.’ Deus disse a Eli, que a iniqüidade<br />

da sua casa não deveria ser purgada para sempre com sacrifícios e oferendas. Para <strong>Da</strong>vi foi dito, ‘Agora,<br />

pois, a espada jamais se apartará da tua casa, porquanto me desprezaste, e tomaste a mulher de Urias, o<br />

heteu, para ser tua mulher.’[II Samuel 12:10]. Para o desobediente Geazi foi dito: "Portanto a lepra de<br />

Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre."[II Reis 5:27]. A sina de Jeroboão e dos homens<br />

da sua geração determinaram o destino das dez tribos para sempre. A imprecação dos Judeus quando<br />

demandaram a crucificação de Cristo, ‘...O seu sangue caia sobre nós e sobre nossos filhos.’[Mateus,<br />

27:25], ainda pesa sobre o povo disperso de Israel ..... Este princípio corre através das Escrituras.<br />

Quando Deus pactuou com Abraão, não foi somente para ele mesmo, mas também para a sua<br />

posteridade. Ele tornaram-se ligados a todas as estipulações do pacto. Eles compartilharam das


promessas e dos alertas de castigo, e em centenas de casos o castigo da desobediência veio sobre aqueles<br />

que nem tinham parte pessoal nas transgressões. Crianças sofreram igualmente com adultos nos<br />

julgamentos. Fosse fome, peste, ou guerra, que viesse sobre o povo em conseqüência dos seus pecados<br />

..... E os Judeus até hoje estão sofrendo o castigo pelos pecados dos seus pais, pela rejeição dAquele<br />

sobre quem Moisés e os profetas falaram. O plano inteiro da rejeição baseia-se neste mesmo princípio.<br />

Cristo é o representante do Seu povo, e nestas bases os seus pecados são imputados nEle e a Sua retidão<br />

para eles ..... Nenhum homem que creia na Bíblia pode fechar seus olhos ao fato de que ela em todos<br />

os lugares reconhece o caráter representativo dos pais, e que as dispensações de Deus têm desde o<br />

começo sido encontradas no princípio de que as crianças sofrem pela iniqüidade dos seus pais. Esta é<br />

uma das razões que os infiéis assinalam ao rejeitar a origem divina das Escrituras. Mas a infidelidade<br />

não proporciona alívio. A história está tão cheia desta doutrina como está a Bíblia. O castigo do perverso<br />

também envolve sua família na desgraça e na miséria. O perdulário e o alcoólatra trazem a pobreza e a<br />

miséria sobre todos os que são conectados consigo. Não há nenhuma nação da terra hoje, cujas<br />

condições de prosperidade ou de miséria não sejam em muito determinadas pela conduta dos seus<br />

ancestrais .... A idéia da transferência de culpa ou de castigo vicário encontra-se verdadeiramente na<br />

base de todas as ofertas expiatórias do Velho Testamento, e da grande expiação sob a nova dispensação.<br />

Pecar, conforme a linguagem Bíblica, e carregar o castigo do pecado. A vítima (o animal sacrificado)<br />

carregava em si o pecado daquele que oferecia o sacrifício. Mãos eram impostas sobre a cabeça do<br />

animal antes do abate, para expressar a transferência de culpa. O animal devia ser livre de qualquer<br />

defeito, de modo a ser mais aparente que o seu sangue era vertido não por suas próprias deficiências, mas<br />

pelo pecado de outrem. Tudo isso era típico e simbólico .... E é isto que as Escrituras ensinam com<br />

relação à expiação de Cristo. Ele levou sobre si os nossos pecados; Ele foi feito maldição por nós; Ele<br />

sofreu o castigo da lei em nosso lugar. Tudo isto procede, faz sentido, tem valor no terreno em que os<br />

pecados de um homem podem ser justamente, em casos adequados, imputados a outro.” 9<br />

As Escrituras nos dizem que, “...pela desobediência de um só homem muitos foram constituídos<br />

pecadores,...”[Romanos 5:19], “...por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte,<br />

assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.”[Romanos 5:12], “...assim<br />

como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, ...”[Romanos 5:18]. É<br />

como se Deus tivesse dito: Se o pecado entrar, deixemos que entre somente por um homem, de modo<br />

que a retidão também possa entrar por um homem.<br />

Adão foi feito não somente o pai, mas também o representante de toda a raça humana. E se nós<br />

compreendermos corretamente a estreiteza da relação entre ele e eles nós entenderíamos finalmente a<br />

justiça da transmissão do seu pecado a eles. O pecado de Adão é imputado aos seus descendentes na<br />

mesma maneira que a retidão de Cristo é imputada àqueles que crêem nEle. Os descendentes de Adão<br />

são, é claro, não mais pessoalmente culpados pelo pecado dele do que os remidos por Cristo são<br />

pessoalmente merecedores da Sua retidão.<br />

Sofrimento e morte são declarados serem a conseqüência do pecado, e a razão porque todos estão mortos<br />

é que “todos pecaram”. Agora sabemos que muitos sofrem e morrem na infância, antes que tenham<br />

cometido qualquer pecado. A lógica diz então que ou Deus é injusto em castigar o inocente, ou que<br />

aquelas crianças são de alguma forma criaturas culpadas. E se culpadas, como teriam pecado? É<br />

impossível explicar tal fato por qualquer outra suposição que não seja a que elas (as crianças) pecaram<br />

em Adão (I Coríntios 15:22; Romanos 5:12, 18); e não poderiam haver pecado em Adão, a não ser pela<br />

representatividade.<br />

Mas enquanto nós não somos pessoalmente culpados do pecado de Adão, nós somos, não obstante,<br />

passíveis de castigo por ele. “A culpa pelo pecado público de Adão,” diz o Dr A.A. Hodge, “é por um


ato judicial de Deus imediatamente debitada na conta de cada um dos seus descendentes a partir do<br />

momento em que eles passam a existir, e antecedentemente a qualquer um dos seus próprios atos. Já que<br />

todos os homens vêm ao mundo privados de todas aquelas influências do Espírito Santo, das quais<br />

dependm a sua vida moral e espiritual dependem .... e com uma tendência anterior para o pecado<br />

prevalecendo na natureza deles; tendência a qual é ela mesma da natureza do pecado, e portanto passível<br />

de castigo. A natureza humana desde a queda mantém suas faculdades constitucionais de razão,<br />

consciência e livre arbítrio, e assim o homem continua a ser um agente moral responsável. Ainda assim<br />

ele está espiritualmente morto, e totalmente avesso e incapaz de livrar-se de qualquer desses pesos que<br />

impedem o seu relacionamento com Deus, e totalmente incapaz de mudar suas próprias e maléficas<br />

disposições ou tendências morais inatas, ou dispor-se a tal empreendimento, ou cooperar com o Espírito<br />

Santo na efetivação de tal mudança.” 10<br />

E para o mesmo efeito geral, o Dr. R. L. <strong>Da</strong>bney, o renomado teólogo da Igreja Presbiteriana do Sul, diz,<br />

“A explicação apresentada pela doutrina da imputação é demandada por todos exceto os Pelaginaos e<br />

Socinianos. O ser humano é uma raça espiritualmente morta e condenada. Veja Efésios 2:1-5 e<br />

seguintes. Ele obviamente está sob uma maldição de alguma espécie, desde o início de sua vida.<br />

Testemunha a depravação nativa das crianças, e sua herança de miséria e de morte. Agora, ou o homem<br />

foi julgado e caiu em Adão, ou ele foi condenado sem um julgamento. Ou ele está sob a maldição (como<br />

ela permanece nele desde o início da sua existência) pela culpa de Adão, ou por nenhuma culpa que seja.<br />

Juiz que é honorável a Deus, uma doutrina que, embora mistério profundo, representa-O como<br />

concedendo ao homem uma provação justa e mais favorável sobre sua cabeça; ou que faz com Deus<br />

condene o homem sem julgamento, e mesmo antes que ele venha a existir.” 11<br />

6. A BONDADE E A SEVERIDADE DE DEUS<br />

Uma pesquisa sobre a queda e os seus desdobramentos é um trabalho humiliante. Prova ao homem que<br />

todas as suas alegações de bondade são infundadas, e mostra-lhe que sua única esperança está na<br />

soberana graça de Deus Todo-Poderoso. A “graciosamente restaurada habilidade” de que os Arminianos<br />

falam não é consistente com os fatos. As Sagradas Escrituras, a história e a experiência Cristã se<br />

nenhuma forma avalizam tal como sendo uma visão favorável da condição moral do homem como o<br />

sistema Arminiano ensina. Ao contrário, cada um deles nos proporciona um quadro pessimista de uma<br />

corrupção horrível e de uma inclinação universal para o mal, a qual somente pode ser ultrapassada pela<br />

intervenção da divina graça. O sistema Calvinista ensina uma queda muito mais profunda no pecado e<br />

uma muito mais gloriosa manifestação da graça redentora. Dessas profundezas o Cristão é levado a<br />

desprezar-se a si mesmo, largando-se incondicionalmente nos braços de Deus, e permanecer na graça<br />

imerecida, somente a qual pode salva-lo.<br />

Nós deveríamos ver a piedade de Deus e também a Sua severidade nas esferas espiritual e física. Em<br />

toda a Bíblia, e especialmente nas palavras do próprio Cristo, os tormentos finais dos maus são descritas<br />

de tal maneiras a mostrar-nos que são indescritivelmente horríveis. No Evangelho de Mateus somente,<br />

vemos nas passagens 5:29,30; 7:19; 10:28; 11:21-24; 13:30,41,42,49,50; 18:8,9,34; 21:41; 24:51;<br />

25:12,30,41; e 26:24. Certamente uma doutrina que recebeu tal ênfase dos lábios de Cristo, Ele mesmo,<br />

não pode passar em silêncio, embora tão desagradável que possa ser. No próximo mundo os perversos,<br />

com todas as barreiras removidas, mergulharão de cabeça no pecado, na blasfêmia e nas ofensas a Deus,<br />

piorando e piorando enquanto afundam cada vez mais no buraco. Castigo sem fim é a recompensa de<br />

pecado sem fim. Mais ainda, a glória de Deus é tanta enquanto Ele castiga o perverso, como é quando<br />

Ele recompensa o justo. Muito da negligente indiferença para com o Cristianismo nos nossos dias é<br />

devida à falha dos ministros Cristãos em enfatizar estas doutrinas que Cristo ensinou tão repeditamente.


No âmbito físico nós vemos a severidade de Deus em guerras, fome, enchentes, desastres, doenças,<br />

sofrimentos, mortes, e crimes de toda espécie que avassalam tanto justos como injustos da mesma forma.<br />

Tudo isso existe num mundo que está sob o completo controle de Deus, que é infinito nas Suas<br />

perfeições.<br />

“Considera pois a bondade e a severidade de Deus...”[Romanos 11:22]. O Naturalismo não faz justiça a<br />

nenhum desses. O Arminianismo magnifica o primeiro mas nega o segundo. O Calvinismo é o único<br />

sistema que faz justiça a ambos. Somente este sistema adequadamente estabelece os fatos com relação ao<br />

eterno e infinito amor de Deus, que O levou a propiciar redenção para o Seu povo, mesmo com o grande<br />

custo de mandar o Seu Filho unigênito para morrer numa cruz; e também com relação ao terrível abismo<br />

que existe entre o homem pecador e o Deus santo. É verdade que “Deus é Amor”, mas juntamente com<br />

esta verdade também há que ser colocada outra, que “...o nosso Deus é um fogo consumidor”[Hebreus<br />

12:29]. Qualquer sistema teológico que omita ou que não enfatize alguma dessas verdades será um<br />

sistema mutilado, não importa o quão plausível ele possa soar aos homens.<br />

Esta doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) do homem é terrivelmente pesada, severa,<br />

proibitiva. Mas deve ser lembrado que nós não temos a liberdade para desenvolver um sistema teológico<br />

que satisfaça a nossa vontade. Devemos considerar os fatos como os encontramos. Tais exibições do<br />

verdadeiro estado da raça humana são, é claro, geralmente ofensivas ao homem não regenerado, e muitos<br />

têm tentado encontrar um sistema de doutrinas que seja mais agradável á mente popular. O estado do<br />

homem caído é tal que ele prontamente dá ouvidos a qualquer teoria que faça-o mesmo que parcialmente<br />

independente de Deus; ele deseja ser o mestre do seu destino e o capitão da sua alma. O estado de<br />

perdição e de ruína do pecador precisa ser constantemente mostrado a ele; pois até que a ele seja feito<br />

sentir tal estado, ele nunca buscará ajuda, onde somente tal ajuda pode ser encontrada. Pobre homem!<br />

Verdadeiramente carnal e com a alma sob o jugo do pecado, não somente sem nenhum poder mas<br />

também sem inclinação para mover-se na direção de Deus; e o que é ainda mais terrível, numa presunção<br />

real, blasfemosamente rival do Grande Jeová.<br />

Esta doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total), ou do Pecado Original, foi tratada com alguma<br />

extensão, de maneira a estabelecer a base fundamental sobre a qual encontra-se a doutrina da<br />

<strong>Predestinação</strong>. Este lado do quadro é negro, na realidade muito negro; mas o suplemento é a glória de<br />

Deus na redenção. Cada uma dessas verdades deve ser vista na sua verdadeira luz, antes que a outra<br />

possa ser verdadeira e adequadamente apreciada.<br />

7. PROVAS NAS ESCRITURAS<br />

I Coríntios 2:14 : “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque para ele são<br />

loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente.”<br />

Gênesis 2:17 : “mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dessa não comerás; porque no dia em<br />

que dela comeres, certamente morrerás.”<br />

Romanos 5:12 : “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a<br />

morte, assim também a morte passou a todos os homens, porquanto todos pecaram.”<br />

II Coríntios 1:9 : “portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos<br />

em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos;”


Efésios 2:1-3 : “[1] Ele vos vivificou, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, [2] nos quais<br />

outrora andastes, segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que<br />

agora opera nos filhos de desobediência, [3] entre os quais todos nós também antes andávamos nos<br />

desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da<br />

ira, como também os demais.”<br />

Efésios 2:12 : “estáveis naquele tempo sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos aos<br />

pactos da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo.”<br />

Jeremias 13:23 : “pode o etíope mudar a sua pele, ou o leopardo as suas malhas? então podereis também<br />

vós fazer o bem, habituados que estais a fazer o mal.”<br />

Salmo 51:5 : “Eis que eu nasci em iniqüidade, e em pecado me concedeu minha mãe.”<br />

João 3:3 : “Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo,<br />

não pode ver o reino de Deus.”<br />

Romanos 3:10-12 : “[10] como está escrito: Não há justo, nem sequer um. [11] Não há quem entenda;<br />

não há quem busque a Deus. [12] Todos se extraviaram; juntamente se fizeram inúteis. Não há quem<br />

faça o bem, não há nem um só.”<br />

Jó 14:4 : “Quem do imundo tirará o puro? Ninguém.”<br />

I Coríntios 1:18 : “Porque a palavra da cruz é deveras loucura para os que perecem; mas para nós, que<br />

somos salvos, é o poder de Deus.”<br />

Atos 13:41 : “Vede, ó desprezadores, admirai-vos e desaparecei; porque realizo uma obra em vossos<br />

dias, obra em que de modo algum crereis, se alguém vo-la contar.”<br />

Provérbios 30:12 : “Há gente que é pura aos seus olhos, e contudo nunca foi lavada da sua imundícia.”<br />

João 5:21 : “Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a<br />

quem ele quer.”<br />

João 6:53 : “Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do<br />

homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.”<br />

João 8:19 : “Perguntavam-lhe, pois: Onde está teu pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem<br />

a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai.”<br />

Mateus 11:25 : “Naquele tempo falou Jesus, dizendo: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra,<br />

porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.”<br />

II Coríntios 5:17 : “Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis<br />

que tudo se fez novo.”<br />

João 14:16 : “[16]E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique convosco para<br />

sempre.[17] a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o<br />

conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.”


João 3:19 : “E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz,<br />

porque as suas obras eram más.”<br />

Tradução livre: Eli <strong>Da</strong>niel da Silva elidaniel@zipmail.com.br<br />

Belo Horizonte, 11 Outubro 2002


A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> da <strong>Predestinação</strong><br />

ENUNCIADO DA DOUTRINA<br />

Loraine Boettner<br />

Capítulo XII<br />

Expiação Limitada<br />

A questão que nós discutiremos sobre o assunto da "Expiação Limitada" é: Cristo ofereceu a Si mesmo como sacrifício por<br />

toda raça humana, por cada indivíduo sem distinção ou exceção; ou Sua morte teve especial referência aos eleitos ? Em<br />

outras palavras, foi o sacrifício de Cristo meramente tencionado a fazer a salvação de todos homens possível, ou ela foi<br />

pretendida a fazer certa a salvação daqueles que foram dados a Ele pelo Pai ? Os Arminianos sustentam que Cristo morreu da<br />

mesma forma por todos homens, enquanto que os Calvinistas sustentam que na intenção e no secreto plano de Deus, Cristo<br />

morreu somente pelos eleitos, e que Sua morte tem somente uma referência incidental para os outros até que eles sejam<br />

participantes da graça comum. O sentido pode ser mais salientado claramente se nós usarmos a frase "Redenção Limitada" ao<br />

invés de "Expiação Limitada." A Expiação é, com certeza, estritamente uma transação infinita; a limitação vem,<br />

teologicamente, na aplicação dos benefícios da expiação, que é na redenção. Mas desde que a frase "Expiação Limitada" tem<br />

sido bem estabelecida no uso teológico e seu significado é bem conhecido, nós continuaremos usando-o.<br />

Concernente esta doutrina a Confissão de Westminster diz: ". . . Os que, portanto, são eleitos, achando-se caídos em Adão,<br />

são redimidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo Seu Espírito, que opera no tempo devido; são<br />

justificados, adotados, santificados, e guardados pelo Seu poder por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum<br />

outro que seja redimido por Cristo, eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado, e salvo." 1<br />

Poderá ser entendido de imediato que esta doutrina necessariamente segue a doutrina da eleição. Se desde a eternidade Deus<br />

tem planejado salvar uma porção da raça humana e não outra, parece ser uma contradição dizer que Sua obra [salvadora] tem<br />

igual referência a ambas porções, ou que Ele enviou Seu Filho para morrer por aqueles que Ele tem predestinado não salvar,<br />

como verdadeiramente e no mesmo sentido que Ele foi enviado para morrer por aqueles que Ele tem escolhido para salvação.<br />

Essas duas doutrinas [eleição e expiação limitadas] devem permanecer ou cair juntamente. Nós não podemos logicamente<br />

aceitar uma e rejeitar a outra. Se Deus tem eleito alguns e não outros para vida eterna, então claramente o propósito primário<br />

da obra de Cristo foi redimir os eleitos.<br />

O INFINITO VALO DA EXPIAÇÃO DE CRISTO<br />

Esta doutrina não significa que qualquer limite pode ser ficado para o valor ou poder da expiação que Cristo fez. O valor da<br />

expiação depende de, e é medida pela dignidade da pessoa que a fez; e desde que Cristo sofreu como uma pessoa humana e<br />

Divina, o valor de Seu sofrimento foi infinito. Os escritores da Escritura nos contam claramente que o "Senhor da glória" foi<br />

crucificado (1 Coríntios 2:8); que homens ímpios "mataram o Príncipe da vida" (Atos 3:15); e que Deus "comprou" a Igreja<br />

"com Seu próprio sangue" (Atos 20:28). A expiação, então, foi infinitamente meritória e poderia ter salvo cada membro da<br />

raça humana, tivesse este sido o plano de Deus. Ela foi limitada somente no sentido que ela foi intentada para, e é aplicada<br />

para pessoas particulares; em outras palavras, para aqueles que são realmente salvos.<br />

Alguns mal-entendidos ocasionalmente se levantam aqui, por causa da falsa suposição de que os Calvinistas ensinam que<br />

Cristo sofreu tanto por uma alma, e tanto por outra, e que Ele deveria ter sofrido mais se mais almas tivessem sido salvas.<br />

Nós cremos, no entanto, que mesmo se muito menos dos da raça humana tivessem sido perdoados e salvos, uma expiação de<br />

infinito valor deveria ter sido necessária para fazer segura para eles aquelas bênçãos; e mesmo que muito mais pessoas, ou<br />

mesmo que todos homens tivessem sido perdoados e salvos, o sacrifício de Cristo teria sido amplamente suficiente como o<br />

fundamento ou base da salvação deles.


<strong>Da</strong> mesma forma que é necessário que o sol emita tanto calor se somente uma planta deva crescer sobre a terra como se a terra<br />

devesse ser coberta com vegetação, assim era necessário Cristo sofrer tanto quanto se somente uma alma devesse ser salva<br />

como se um largo número ou mesmo toda humanidade devessem ser salvas. Visto que o pecador tem ofendido uma Pessoa de<br />

infinita dignidade, e havia sido sentenciado para sofrer eternamente, nada exceto um sacrifício de infinito valor poderá expiálo.<br />

Ninguém supõe que, visto que o pecado de Adão foi o fundamento da condenação da raça, ele pecou tanto por um homem<br />

e tanto por outro, e que poderia ter pecado mais se houvesse existido mais pecadores .Por que então eles devem fazer a<br />

suposição com respeito ao sofrimento de Cristo ?<br />

A EXPIAÇÃO É LIMITADA NO PROPÓSITO E APLICAÇÃO<br />

Apesar do valor da expiação ter sido suficiente para salvar toda humanidade, ela foi eficiente para salvar somente os eleitos.<br />

Ela está indiferentemente bem adaptada à salvação de um homem como de outro, assim fazendo a salvação de cada homem<br />

objetivamente possível; todavia, por causa de dificuldades subjetivas, aparecendo por causa da inabilidade dos pecadores<br />

para ver ou apreciar as coisas de Deus, somente aqueles [os eleitos] são salvos, os quais são regenerados e santificados pelo<br />

Espírito Santo. A razão porque Deus não aplica esta graça a todos homem não tem sido revelada completamente. Quando a<br />

expiação é feita universal, o seu valor inerente é destruído. Se ela é aplicada a todos os homens, e se alguns se perdem, a<br />

conclusão é que isto faz a salvação objetivamente possível para todos os homens, porém que não salva realmente a<br />

qualquer um.<br />

Segundo a teoria Arminiana, a expiação tem simplesmente tornado possível para todos os homens o cooperar com a divina<br />

graça e assim, salvar a si mesmos – se eles assim quiserem. Porém, conte-nos de um curado de enfermidade e todavia morto<br />

de câncer, e a história será igualmente luminosa com a de um expiado do pecado, porém que pereceu através da incredulidade.<br />

A natureza da expiação determina sua extensão. Se ela meramente fez a salvação possível, ela foi aplicada a todos os<br />

homens. Se ela efetivamente assegura a salvação, ela teve referência somente aos eleitos. Como o Dr. Warfield disse: "As<br />

coisas que tenho de escolher são entre uma expiação de alto valor, ou uma expiação de larga extensão. As duas coisas não<br />

podem andar juntas". A obra de Cristo pode ser universalmente somente pela evaporação de sua substância.<br />

Não deixemos haver mal-entendido neste ponto. O Arminiano limita a expiação tão certamente como o faz o Calvinista. O<br />

Calvinista limita a extensão dela, ao dizer que ela não se aplica a todas pessoas (ainda que, como se tem demonstrado já, ele<br />

creia que é eficaz para a salvação de uma larga proporção da raça humana); enquanto o Arminiano limita o poder dela,<br />

porque ele diz que ela em si mesma, não salva realmente ninguém. O Calvinista a limita quantitativamente, mas não<br />

qualitativamente; o Arminiano a limita qualitativamente, mas não quantitativamente. Para o Calvinista ela é como uma ponte<br />

estreita que vai até o fim do caminho acima da correnteza; para o Arminiano ela é como uma grande e larga ponte que vai<br />

somente até a metade do caminho. Na verdade, o Arminiano põe limitações mais severas na obra de Cristo do que o<br />

Calvinista.<br />

A OBRA DE CRISTO COMO UMA PERFEITA SATISFAÇÃO DA LEI<br />

Se os benefícios da expiação são universais e ilimitados, ela deve ter sido o que os Arminanos a representam ter sido –<br />

meramente um sacrifício para apagar a maldição que repousava sobre a raça humana através da queda de Adão, um mero<br />

substituto da execução da lei que Deus em Sua soberania achou certo aceitar em lugar do que o pecador era obrigado a render,<br />

e não uma perfeita satisfação que cumpriu as demandas da justiça. Significaria que Deus não mais demanda perfeita<br />

obediência como Ele fez com Adão, porém que Ele agora oferece salvação em termos inferiores. Deus, então, tirará<br />

obstáculos legais e aceitará tal fé e obediência evangélica que a pessoa com uma capacidade graciosamente restaurada pode<br />

render se assim escolher, o Espírito Santo certamente ajudando em uma maneira geral. Dessa forma, a graça seria estendida<br />

em que Deus oferece uma caminho fácil de salvação – Ele aceita cinqüenta cents de dólar, aparentemente, visto que o pecador<br />

inválido não pode pagar mais.<br />

Por outro lado, os Calvinistas sustentam que a lei de perfeita obediência que foi originalmente dada a Adão foi "permanente",<br />

que Deus nunca tem feito qualquer coisa que conduziria a impressão que a lei era rígida demais em seus requerimentos, ou


severa demais em suas penalidades, ou que tampouco ela estivesse em necessidade de abolição ou derrogação. A Divina<br />

justiça demanda que o pecador seja punido, em si mesmo ou em seu substituto. Nós sustentamos que Cristo atuou de uma<br />

maneira estritamente substitutiva pelo Seu povo, que Ele fez uma completa satisfação pelos pecados deles, dessa forma<br />

apagando a maldição de Adão e todos pecados temporais deles; e que pela Sua vida inocente, Ele perfeitamente guardou por<br />

eles a lei que Adão quebrou, deste modo adquirindo para o Seu povo a recompensa da vida eterna. Nós cremos que o<br />

requerimento para salvação agora como originalmente, é a perfeita obediência, que os méritos de Cristo são imputados a Seu<br />

povo como o única fundamento da salvação deles, e que eles entram no céu vestidos somente com o manto de Sua perfeita<br />

justiça e absolutamente destituídos de qualquer mérito propriamente deles. Assim graça, pura graça, é estendida não em se<br />

reduzir os requerimentos para salvação, mas na substituição de Cristo pelo Seu povo. Ele tomou o lugar deles diante da lei, e<br />

fez por eles o que eles não poderiam fazer por si mesmos. Este princípio Calvinista é adaptado em cada caminho para<br />

impressionar sob nós a absoluta perfeição e imutável obrigação da lei que foi originalmente dada a Adão. Ela não foi<br />

afrouxada ou desprezada, porém é apropriadamente honrada de forma que sua excelência é demonstrada. Em benefício<br />

daqueles que são salvos, por quem Cristo atuou, e em benefício daqueles que são submetidos ao castigo eterno, a lei em sua<br />

majestade se executa e se faz cumprir.<br />

Se a teoria Arminiana fosse verdadeira, ela compreenderia que milhões daqueles por quem Cristo morreu são no final<br />

perdidos, e que a salvação é dessa forma nunca aplicada a muitos daqueles por quem ela foi adquirida. Que benefícios, por<br />

exemplo, nós podemos apontar para as vidas dos pagãos e dizer que eles tem recebido da expiação ? Isto pode também<br />

significar que os planos de Deus muitas vezes tem sido frustados e desmoronados pelas Suas criaturas e que, enquanto Ele<br />

pode fazer de acordo com Sua vontade com os exército dos céus, Ele não faz assim entre os habitantes da terra.<br />

"O pecado de Adão", disse Charles Hodge, "não fez a condenação de todos os homens meramente possível; ele foi o<br />

fundamento da real condenação deles. Assim, a justiça de Cristo não fez a salvação dos homens meramente possível, ela<br />

assegurou a real salvação daqueles por quem Ele morreu." O grande pregador Batista Charles H. Spurgeon disse: "Se Cristo<br />

morreu por você, você nunca poderá perecer. Deus não irá punir duas vezes uma mesma coisa. Se Deus puniu a Cristo pelos<br />

seus pecados, Ele não pode te punir. O pagamento da justiça de Deus não pode ser demandado duas vezes; primeiro, da mão<br />

sangrenta do Salvador, e então da minha. Como pode Deus ser justo se Ele puniu Cristo, o substituto, e então o próprio<br />

homem mais tarde"?<br />

UM RESGATE<br />

Cristo é dito ter sido um resgate para Seu povo: "O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a<br />

sua vida em regaste de muitos", Mateus 20:28. Note, este verso não diz que Ele deu Sua vida em resgate de todos, mas por<br />

muitos. A natureza de um resgate é tal que quando paga e aceita, ela automaticamente liberta as pessoas por quem ela foi<br />

pretendida. De outra forma, ele não seria um verdadeiro resgate. A justiça demanda que aqueles por quem ela foi paga, sejam<br />

livres de qualquer obrigação adicional. Se o sofrimento e morte de Cristo foi um resgate para todos os homens antes que<br />

somente para os eleitos, então os méritos de Sua obra devem ser comunicados a todos igualmente e a penalidade do eterno<br />

castigo não pode ser justamente infligido em alguém. Deus seria injusto se Ele exigisse essa penalidade duas vezes,<br />

primeiramente do substituto e então das próprias pessoas. A conclusão é que a expiação de Cristo não estende a todos os<br />

homens, mas que ela é limitada àqueles por quem Ele pagou a fiança ; isto é, àqueles que compõem Sua verdadeira Igreja.<br />

O PROPÓSITO DIVINO NO SACRIFÍCIO DE CRISTO<br />

Se a morte de Cristo intencionou salvar a todos os homens, eles devem dizer que Deus ou foi incapaz ou indisposto em<br />

realizar os Seus planos. Mas, desde que a obra de Deus é sempre eficiente, aqueles por quem a expiação foi feita e aqueles<br />

que são realmente salvos devem ser as mesmas pessoas. Os Arminianos supõe que os propósitos de Deus são mutáveis, e que<br />

Seus propósitos podem falhar. Em afirmar que Ele enviou Seu Filho para redimir todos os homens, mas que depois vendo que<br />

tal plano poderia não ser executado, Ele "elegeu" aqueles que Ele previu que teriam fé e se arrependeriam, eles O<br />

representam como querendo o que nunca ocorre, - como suspendendo Seus propósitos e planos sob a volições e ações de


criaturas que são totalmente dependentes dEle. Nenhum ser racional que tenha a sabedoria e poder para realizar seus planos,<br />

pretende o que Ele nunca realiza ou adota planos para um fim que nunca será alcançado. Muito menos pode Deus, cujo poder<br />

e sabedoria são infinitos, trabalhar desta maneira. Nós podemos descansar assegurados que se alguns homens se perdem,<br />

Deus nunca tencionou sua salvação, e nunca desenvolve e colocou em operação meios determinados a efetuar este fim.<br />

O próprio Jesus limitou o propósito de Sua morte quando Ele disse: "Dou a minha vida pelas ovelhas." Se, então, Ele deu Sua<br />

vida pelas ovelhas, o caráter expiatório de Sua obra não foi universal. Em outra ocasião Ele disse aos Fariseus, "não sois das<br />

minhas ovelhas;" e outra vez, "vós tendes por pai ao diabo." Irá alguém manter que Ele deu Sua vida por estes, vendo que Ele<br />

tão explicitamente os excluiu ? O anjo que apareceu a José disse-lhe que o filho de Maria deveria ser chamado JESUS, porque<br />

Sua missão no mundo era salvar Seu povo de seus pecados. Ele então não veio meramente para fazer a salvação possível,<br />

mas para realmente salvar o Seu povo; e o que Ele veio fazer, podemos confiadamente esperar que Ele consumou.<br />

Visto que a obra de Deus nunca é em vão, aqueles que são escolhidos por Deus, aqueles que são redimidos pelo Filho, e<br />

aqueles que são santificados pelo Espírito Santo, - ou em outras palavras, eleição, redenção e santificação, - devem incluir as<br />

mesmas pessoas. A doutrina Arminiana de uma expiação universal faz estes desiguais e através disso destroi a perfeita<br />

harmonia dentro da Trindade. A redenção universal significa salvação universal.<br />

Cristo declarou que os eleitos e os redimidos são as mesmas pessoas quando na oração intercessória Ele disse: "Eram teus, e<br />

tu mos deste", e "Eu rogo por eles: não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. E todas as minhas<br />

coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado." (João 17:6,9,10). E outra vez, "Eu sou o bom Pastor, e<br />

conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e<br />

dou a minha vida pelas ovelhas." (João 10:14,15). O mesmo ensino é encontrado quando somos ordenados a "apascentar a<br />

<strong>igreja</strong> de Deus, que Ele resgatou com seu próprio sangue." (Atos 20:28) Somos informados que "Cristo amou a Igreja, e a si<br />

mesmo se entregou por ela" (Efésios 5:25); e que Ele deu Sua vida pelos Seus amigos. (João 15:13) Cristo morreu por Paulo<br />

assim como por João, e não morreu por Faraó assim como não morreu por Judas, que eram bodes e não ovelhas. Nós não<br />

podemos dizer que Sua morte foi intencionada a todos, a menos que digamos que Faraó, Judas, etc., eram das ovelhas,<br />

amigos, e Igrejas de Cristo.<br />

Além do mais, quando é dito que Cristo deu Sua vida por Sua Igreja, ou por Seu povo, nós encontramos impossível acreditar<br />

que Ele Se Deu tanto quanto para os reprovados como para aqueles que Ele intencionou salvar. A humanidade é dividida em<br />

duas classes e o que é distintamente afirmada de uma é implicitamente negada de outra. Em cada caso algo é dito daqueles<br />

que pertencem a um grupo que não é verdadeiro daqueles que pertencem ao outro. Quando se diz que um homem trabalha e<br />

sacrifica a saúde e força para suas crianças, através disso é negado que o motivo que o controla é meramente filantropia, ou<br />

que o desígnio que tem em vista é o bem da sociedade. E quando é dito que Cristo morreu pelo Seu povo, é negado que Ele<br />

morreu igualmente por todos os homens.<br />

A EXCLUSÃO DOS NÃO-ELEITOS<br />

Não era, então, um amor geral e indiscriminado do qual todos os homens eram igualmente os objetos, mas um peculiar,<br />

misterioso, e infinito amor por Seus eleitos, que fez Deus enviar Seu Filho ao mundo para sofrer e morrer. Toda teoria que<br />

negar esta grande e preciosa verdade, e que explicar este amor como benevolência meramente indiscriminada ou filantrópica,<br />

a qual teve todos os homens por seus objetos, muitos dos quais são permitidos perecer, deve ser anti-Escriturística. Cristo não<br />

morreu para uma multidão desordenada, mar por Seu povo, Sua noiva, Sua Igreja.<br />

Um fazendeiro estima seu campo. Mas ninguém supõe que ele se importa igualmente por cada planta que cresce ali, pelas<br />

"ervas daninhas" assim como pelo "trigo". O campo de Deus é o mundo, Mateus 13:38, e Ele o ama com um olho exclusivo<br />

para sua "boa semente", as crianças do reino, e não as crianças do maligno. Não é todo da humanidade que é igualmente<br />

amado de Deus e confusamente redimido por Cristo. Deus não é necessariamente comunicador de Sua bondade, como o sol<br />

de sua luz, ou a árvore de sua sombra refrescante, que não escolhe seus objetos, mas serve a todos indiferentemente sem<br />

variação ou distinção. Isto seria fazer Deus de não mais entendimento do que o sol, que brilha não onde lhe agrada, mas onde<br />

deve. Ele é uma pessoa compreensiva, e tem um direito soberano de escolher Seus próprios objetos.<br />

Em Gênesis lemos que Deus "colocou inimizade" entre a semente da mulher e a semente da serpente. Agora quem foram<br />

significados por semente da mulher e semente da serpente ? No primeiro pensamento, podemos supor que a semente da<br />

mulher significa a raça humana inteira descendente de Eva. Mas em Gálatas 3:16 Paulo usa este termo "semente", e o aplica a


Cristo como um indivíduo. "Não diz: E às sementes, como falando de muitas, mas como de uma só: E à tua semente, que é<br />

Cristo."<br />

Em uma investigação mais avançada, nós encontraremos também que a semente da serpente não significa descendentes<br />

literais do Diabo, mas aqueles membros não-eleitos da raça humana, que participam de sua natureza pecaminosa. Jesus disse<br />

de Seus inimigos: "Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai" (João 8:44). Paulo denunciou<br />

Elimas, o encantador, como um filho do Diabo e um inimigo de toda justiça. Judas é até chamado de um diabo (João 6:70).<br />

Então, a semente da mulher e a semente da serpente são cada uma parte da raça humana. Em outras partes das Escrituras,<br />

encontramos que Cristo e Seu povo são "um", que Ele habita neles e é unido com eles assim como a videira e os ramos são<br />

unidos. E desde que no extremo princípio Deus "colocou inimizade" entre estes dois grupos, é claro que Ele nunca amou<br />

todos igualmente, nem intentou redimir a todos igualmente. A redenção universal e a sentença de Deus na serpente não podem<br />

nunca andar juntas.<br />

Há também um paralelo para ser observado entre o sumo sacerdote do antigo Israel e Cristo que é o nosso sumo sacerdote;<br />

porque o primeiro, como sabemos, era um tipo do último. No grande dia da expiação, o sumo sacerdote oferecia sacrifícios<br />

pelos pecados das doze tribos de Israel. Ele intercedia por eles e por eles somente. Semelhantemente, Cristo não orou pelo<br />

mundo, mas pelo Seu povo. A intercessão do sumo sacerdote assegurava para os Israelitas bênçãos das quais todos outros<br />

povos estavam excluídos; e a intercessão de Cristo, que também é limitada porém de uma ordem muito maior, certamente<br />

será eficaz em elevado sentido, porque Ele, o Pai sempre ouve. Além do mais, não é necessário que a misericórdia de Deus se<br />

estenda a todos os homens sem exceção para que possa ser chamada verdadeiramente e propriamente infinita; porque todos<br />

homens tomados juntos não constituíram uma multidão estritamente e propriamente infinita. As Escrituras claramente nos<br />

ensina que o Diabo e os anjos caídos foram deixados fora de Seus benevolentes propósitos. Mas Sua misericórdia é infinita<br />

nisso: ela resgata a grande multidão de Seus eleitos do indiscritível e eterno pecado e miséria para a indiscritível e eterna<br />

bem-aventurança.<br />

Enquanto os Arminianos sustentam que Cristo morreu igualmente por todos os homens e que Ele obteve suficiente graça para<br />

capacitar todos os homens a arrepender-se, crer, e perseverar, se eles conseguem somente cooperar com ela, eles também<br />

sustentam que aqueles que recusam a cooperar, deverão prestar contas e através de toda eternidade serem castigados mais<br />

severamente do que se Cristo nunca tivesse morrido por eles de nenhuma maneira. Nós vemos que até aqui, na história da<br />

raça humana, a larga proporção da população adulta tem falhado em cooperar e tem dessa forma sido permitido trazer para si<br />

mesmos grande miséria do que se Cristo nunca tivesse vindo. Certamente, uma visão que permite a obra da redenção de Deus<br />

ser lançada em semelhante falência, e que projeta tão pequena glória na expiação de Cristo, não pode ser verdadeira.<br />

Vastamente, mais do amor e misericórdia de Deus pelo Seu povo é visto nas doutrinas Calvinistas da eleição incondicional e<br />

expiação limitada do que é vista na doutrina Arminiana da eleição condicional e expiação ilimitada.<br />

O ARGUMENTO DA PRESCIÊNCIA DE DEUS<br />

O argumento da presciência de Deus é em si mesmo, suficiente para provar esta doutrina. Não é a mente de Deus infinita ?<br />

Não são as suas percepções perfeitas ? Quem pode crer que Ele, como um débil mortal, poderia "disparar no comboio sem<br />

perceber os pássaros individuais ?" Visto que Ele conhece antes aqueles que seriam salvos - e que a maioria dos Arminianos<br />

evangélicos admitem que Deus tem uma presciência exata de todos eventos – Ele não teria enviado a Cristo intentando salvar<br />

aqueles que Ele positivamente previu que se perderiam. Porque, como Calvino adverte, "Onde estaria a consistência de Deus<br />

para Si mesmo, assim como Ele sabe que nunca sucederá?". Se um homem sabe que em uma sala há dez laranjas, sete das<br />

quais são boas e três das quais são podres, ele não ira para a sala esperando adquirir dez unidades boas. Ou se é conhecido de<br />

antemão que dentre um grupo de cinqüenta homens que foram convidados para um banquete, certo dez homens não virão, o<br />

anfitrião não enviará convites esperando que aqueles dez assim como os outros o aceitem. Eles apenas enganam a si mesmos,<br />

admitindo a presciência de Deus, dizendo que Cristo morreu por todos os homens; porque que isso senão atribuir estupidez a<br />

Ele, cujos caminhos são perfeitos ? Representar a Deus como aspirando ardentemente acontecer o que Ele sabe que não<br />

acontecerá, é representá-LO como agindo loucamente.<br />

CERTOS BENEFÍCIOS QUE SE EXTENDEM A TODA HUMANIDADE EM GERAL


Em conclusão, permita ser dito que os Calvinistas não negam que a humildade em geral recebem alguns importantes benefícios da<br />

expiação de Cristo. Os Calvinistas admitem que ela interrompe a punição que deveria Ter sido infligida sobre toda a raça humana<br />

por causa do pecado de Adão; que ela forma uma base para a pregação do Evangelho e assim introduz muitas influências morais<br />

no mundo e restringe muitas influências perversas. Paulo pode dizer ao povo pagão de Listra que Deus "não se deixou a si mesmo<br />

sem testemunho, beneficiando-vos lá do céu, dando-vos chuvas e tempos frutíferos, enchendo de mantimento e de alegria os<br />

vossos corações," Atos 14:17. Deus faz Seu sol brilhar sobre maus e bons, e envia chuva sobre justos e injustos. Muitas bênçãos<br />

temporais se asseguram assim para todos os homens, ainda que estas não cheguem a ser suficientes para garantir a salvação.<br />

Cunningham expressou a crença do Calvinista mui claramente no seguinte parágrafo: - "Não é negado pelos advogados da<br />

redenção particular, ou da expiação limitada, que a humanidade em geral, até mesmos aqueles que no final das contas perecem,<br />

desfrutam de algumas vantagens ou benefícios da morte de Cristo; e nenhuma posição que sustentam lhes requer negar isto. Eles<br />

crêem que importantes benefícios se tem acrescentado à toda raça humana pela morte de Cristo, e que nestes benefícios aqueles<br />

que são finalmente impenitentes e incrédulos participam. O que eles negam é isto: que Cristo intentou alcançar, ou procurou, para<br />

todos homens aquelas bênçãos que são frutos próprios e peculiares de Sua morte, em seu caráter específico como uma expiação, -<br />

que Ele procurou ou comprou redenção – perdão e reconciliação – para todos os homens. Muitas bênçãos fluem para a<br />

humanidade amplamente pela morte de Cristo, colateralmente e incidentemente, na conseqüência da relação na qual os homens,<br />

vistos coletivamente, permanecem unidos um ao outro. Todos estes benefícios foram certamente previstos por Deus, quando Ele<br />

resolveu enviar Seu Filho ao mundo; eles [os benefícios] foram contemplados ou designados por Ele, em relação a como os<br />

homens deveriam receber e gozá-los. Devem ser estimadas e recebidas como concedidas por Ele, e como deste modo desvelando<br />

Sua glória, indicando Seu caráter, e realmente cumprindo Seus propósitos; e devem ser vistos como vindo aos homens através do<br />

canal da mediação de Cristo, - de Seu sofrimento de morte." ." 2<br />

Há, portanto, um certo sentido no qual Cristo morreu por todos, e não contestamos ao dogma Arminiano com uma negativa<br />

desqualificada. Porém que mantemos que a morte de Cristo teve especial referência aos eleitos no que era eficaz para sua<br />

salvação, e que os efeitos que são produzidos nos outros são somente incidentais [secundários] a este único grande propósito.


A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> da <strong>Predestinação</strong><br />

Loraine Boettner<br />

Capítulo XV<br />

O que é Fatalismo<br />

Muitos mal-entendidos se apresentam através da confusão da <strong>Doutrina</strong> Cristã da <strong>Predestinação</strong> com a<br />

doutrina pagã do Fatalismo. Há, na realidade, somente um ponto de acordo entre as duas, o qual é, que<br />

ambos assumem a absoluta certeza de todos eventos futuros. A essencial diferença entre eles é que o<br />

Fatalismo não tem lugar para um Deus pessoal. A <strong>Predestinação</strong> sustenta que os eventos ocorrem porque um<br />

Deus infinitamente sábio, poderoso e santo tem assim lhes apontado. O Fatalismo sustenta que todos eventos<br />

ocorrem através de uma força cega, não-inteligente, não-moral que não pode ser distinguida por necessidade<br />

física, e que nos carrega desamparadamente dentro de seu alcance como um poderoso rio carrega um pedaço<br />

de madeira.<br />

<strong>Predestinação</strong> ensina que desde a eternidade Deus tem tido um plano especial ou propósito o qual Ele está<br />

trazendo a perfeição através desta ordem do mundo de eventos. Ela sustenta que todos Seus decretos são<br />

determinações racionais fundamentadas em suficiente razão, e que Ele tem fixado um único grande objetivo<br />

"para o qual toda a criação se move." <strong>Predestinação</strong> sustenta que os desígnios finais neste plano são<br />

primeiro, a glória de Deus; e segundo, o bem de Seu povo. Por outro lado, o Fatalismo exclui a idéia de<br />

causas finais. Ele arrebata as rédeas do império universal das mãos de infinita sabedoria e amor, e as dá às<br />

mãos de uma necessidade cega. Ele atribui o curso da natureza e as experiências do gênero humano a uma<br />

força desconhecida e irresistível, contra a qual é vão lutar e infantil amofinar-se.<br />

De acordo com a doutrina da <strong>Predestinação</strong>, a liberdade e responsabilidade do homem são completamente<br />

preservadas. No meio da certeza, Deus ordenou a liberdade humana. Porém, o Fatalismo não permite poder<br />

de escolha, nem auto-determinação. Ele faz os atos dos homens serem totalmente fora de seu controle assim<br />

como são as leis da natureza pessoal, energia abstrata; não tem nenhum lugar para as idéias morais, enquanto<br />

que a <strong>Predestinação</strong> faz destas a regra de ação para Deus e o homem. O Fatalismo não tem lugar para e não<br />

oferece nenhum incentivo para a religião, amor, misericórdia, santidade, justiça, ou sabedoria, enquanto que<br />

a <strong>Predestinação</strong> dá a estes a base concebível mais forte. E finalmente, o Fatalismo conduz cepticismo e<br />

desespero, enquanto que a <strong>Predestinação</strong> apresenta as glórias de Deus e de Seu reino em todo seu esplendor<br />

e dá uma segurança que nada pode abalar.<br />

A <strong>Predestinação</strong>, portanto, difere do Fatalismo tanto como os atos de um homem difere dos atos de uma<br />

máquina, ou tanto como o amor infalível do Pai celestial difere da força da gravitação.


"Ela nos revela", diz Smith, "a gloriosa verdade que nossas vidas e nossos corações sensíveis estão<br />

guardados, não nas rodas dentadas de ferro de um vasto e cruel Destino, nem no tear giratório de uma louca<br />

Chance, mas nas todo-poderosas mãos de um infinitamente bom e sábio Deus". 1<br />

Calvino enfaticamente repudiou a acusação que sua doutrina era Fatalista. "Fatal [destino]", disse ele, "é um<br />

termo dado pelo Estóicos a sua doutrina de necessidade, que eles tinham formado como resultado de um<br />

labirinto de raciocínios contraditórios; uma doutrina calculada para chamar o próprio Deus para ordenar, e<br />

para fixar Suas leis segundo as quais trabalha. <strong>Predestinação</strong> eu defino ser, de acordo com as Sagradas<br />

Escrituras, aquele livre e irrestrito conselho de Deus pelo qual Ele governa toda a humanidade, e todos os<br />

homens e coisas, e também todas as partes e partículas do mundo por Sua infinita sabedoria e<br />

incompreensível justiça". E outra vez,"...., tivesse você apenas estado disposto a olhar para meus livros,<br />

haveria se convencido imediatamente quão ofensivo para mim é o profano termo fatal [destino]: e além<br />

disso, você deve ter estudado que este mesmo termo abominável foi arremessado nos dentes de Agostinho<br />

pelos seus oponentes." 2<br />

Lutero disse que a doutrina do Fatalismo entre os pagãos é um prova de que "o conhecimento da<br />

<strong>Predestinação</strong> e da Presciência de Deus, não foi menos abandonada do que a noção da própria divindade" 3 .<br />

Na história da filosofia Materialista comprovou-se a si mesma essencialmente fatalística. O Panteísmo<br />

também tem sido fortemente modificado com isto.<br />

Nenhum homem pode ser um fatalista consistente. Porque para ser consistente, ele teria que considerar algo<br />

como isto: "Se eu morrer hoje, não me fará nenhum bem comer, porque morrer de qualquer jeito. Nem<br />

necessito comer se devo viver muitos anos todavia, porque viverei de qualquer jeito. Portanto, não mais<br />

comerei". É desnecessário dizer que, se Deus predestinou que um homem viverá, Ele também pre-ordenou<br />

que ele será guardado da loucura suicida de recusar comer.<br />

"Esta doutrina", diz Hamilton, "é somente superficialmente semelhante ao "fatal" pagão. O Cristão não está<br />

nas mãos de um determinismo frio e imutável, mas de um quente e amoroso Pai celestial, que nos amou e<br />

deu Seu Filho para morrer por nós no Calvário ! O Cristão sabe que "todas as coisas contribuem juntamente<br />

para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o Seu propósito". O Cristão<br />

pode confiar em Deus porque ele sabe que Ele é todo-sábio, amoroso, justo e santo. Ele vê o fim desde o<br />

princípio, de modo que não há razão para nos apavorarmos quando as coisas parecem ir contra nós."


Portanto, somente uma pessoa que não examinou a doutrina da <strong>Predestinação</strong>, ou alguém que é<br />

maliciosamente inclinado, irá imprudentemente declarar que ela é Fatalismo. Não há escusa para qualquer<br />

um, que sabe o que <strong>Predestinação</strong> é e o que Fatalismo é, cometer este engano.<br />

Visto que o universo é uma unidade sistematizada, devemos escolher entre o Fatalismo que elimina em<br />

última instância mente e propósito, e esta bíblica doutrina da <strong>Predestinação</strong>, que sustenta que Deus criou<br />

todas as coisas, que Sua providência estende a todas Suas obras, e que enquanto Ele mesmo é livre, também<br />

providenciou que nós fossemos livres dentro dos limites de nossas naturezas. No lugar de nossa doutrina da<br />

<strong>Predestinação</strong> ser idêntica com a doutrina pagã do Fatalismo, ela é seu absoluto oposto e somente<br />

alternativa.<br />

Tradução Livre:<br />

“A <strong>Doutrina</strong> <strong>Reformada</strong> <strong>Da</strong> <strong>Predestinação</strong>” – Capítulo XIII<br />

Eleição Incondicional<br />

1. Apresentação da <strong>Doutrina</strong> 2. Prova da Bíblia 3. Prova da Razão 4. Fé e Boas Obras são os<br />

Frutos e a Prova, não as Bases, da Eleição 5. Rejeição 6. Infralapsarianismo e Supralapsarianismo<br />

7. Muitos são Escolhidos 8. Uma Raça ou Mundo Redimido 9. Vastidão da Multidão de Redimidos<br />

10. O Mundo está Ficando Melhor 11. Salvação Infantil 12. Sumário<br />

1. APRESENTAÇÃO DA DOUTRINA<br />

A doutrina da Eleição deve ser encarada somente sob uma aplicação particular da doutrina geral da<br />

<strong>Predestinação</strong> ou Pré Ordenação conforme relaciona-se com a salvação de pecadores; e desde que as<br />

Escrituras estão preocupadas mais com a redenção de pecadores, esta parte da doutrina é naturalmente<br />

colocada em um lugar de proeminência especial. Ela compartilha todos os elementos da doutrina geral; e<br />

desde que é o ato de uma Pessoa moral infinita, é representada como sendo a determinação eterna,<br />

absoluta, imutável efetiva da Sua vontade, dos objetos de Suas operações salvíficas. E nenhum aspecto<br />

desta escolha eletiva é mais constantemente enfatizado do que o da sua absoluta soberania.<br />

A Fé <strong>Reformada</strong> tem se apegado à existência de um decreto eterno, divino, o qual, antecedentemente a<br />

qualquer diferença ou excelência nos próprios homens, separa a raça humana em duas porções e ordena<br />

uma para a vida eterna e a outra para a morte eterna. Tanto quanto tal decreto é relacionado aos homens<br />

e designa o conselho de Deus referente àqueles que tiveram uma chance supremamente favorável em<br />

Adão para ganhar a salvação, mas que perderam tal chance. Como resultado da queda eles são culpados<br />

e corruptos, seus motivos são errados e eles não podem operar a sua própria salvação. Eles perderam<br />

todas causas ente a misericórdia de Deus, e podem simplesmente terem sido deixados para sofrer o<br />

castigo da sua desobediência como todos os anjos caídos também o foram. Mas ao contrário, os<br />

membros eleitos desta raça são resgatados deste estado de culpa e pecado e são trazidos a um estado de<br />

santidade e bênçãos. Os não eleitos são simplesmente deixados em seu estado prévio de ruína, e estão<br />

condenados pelos seus pecados. Eles não sofrem nenhum tipo de castigo não merecido, pois Deus está<br />

tratando-os não meramente como homens, mas como pecadores.<br />

A Confissão de Fé de Westminster apresenta a doutrina desta forma [Capítulo III – Dos Eternos<br />

Decretos de Deus]: “Pelo decreto de Deus e para manifestação da sua glória, alguns homens e alguns


anjos são predestinados para a vida eterna e outros preordenados para a morte eterna.”[ Ref. I Tim.5:21;<br />

Mar. 5:38; Jud. 6; Mat. 25:31, 41; Prov. 16:4; Rom. 9:22-23; Ef. 1:5-6.]<br />

“Esses homens e esses anjos, assim predestinados e preordenados, são particular e imutavelmente<br />

designados; o seu número é tão certo e definido, que não pode ser nem aumentado nem diminuído.”<br />

[Ref. João 10: 14-16, 27-28; 13:18; II Tim. 2:19]<br />

“Segundo o seu eterno e imutável propósito e segundo o santo conselho e beneplácito da sua vontade,<br />

Deus antes que fosse o mundo criado, escolheu em Cristo para a glória eterna os homens que são<br />

predestinados para a vida; para o louvor da sua gloriosa graça, ele os escolheu de sua mera e livre graça e<br />

amor, e não por previsão de fé, ou de boas obras e perseverança nelas, ou de qualquer outra coisa na<br />

criatura que a isso o movesse, como condição ou causa.”[Ref. Ef. 1:4, 9, 11; Rom. 8:30; II Tim. 1:9; I<br />

Tess, 5:9; Rom. 9:11-16; Ef. 1: 19: e 2:8-9.]<br />

“Assim como Deus destinou os eleitos para a glória, assim também, pelo eterno e mui livre propósito da<br />

sua vontade, preordenou todos os meios conducentes a esse fim; os que, portanto, são eleitos, achando-se<br />

caídos em Adão, são remidos por Cristo, são eficazmente chamados para a fé em Cristo pelo seu<br />

Espírito, que opera no tempo devido, são justificados, adotados, santificados e guardados pelo seu poder<br />

por meio da fé salvadora. Além dos eleitos não há nenhum outro que seja remido por Cristo,<br />

eficazmente chamado, justificado, adotado, santificado e salvo.”[Ref. I Pedro 1:2; Ef. 1:4 e 2: 10; II<br />

Tess. 2:13; I Tess. 5:9-10; Tito 2:14; Rom. 8:30; Ef.1:5; I Pedro 1:5; João 6:64-65 e 17:9; Rom. 8:28; I<br />

João 2:19.]<br />

“Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele concede ou recusa misericórdia,<br />

como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas criaturas, o resto dos homens, para<br />

louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e ordená-los para a desonra e ira por<br />

causa dos seus pecados.”[Ref. Mat. 11:25-26; Rom. 9:17-22; II Tim. 2:20; Jud. 4; I Pedro 2:8.]”<br />

É importante que tenhamos uma clara compreensão desta doutrina da Eleição divina, pois a nossa visão<br />

relacionada a ela é o que determina a nossa visão de Deus, o homem, o mundo, e a redenção. Como<br />

Calvino corretamente disse, “Nós nunca estaremos tão claramente convencidos como deveríamos, de que<br />

a nossa salvação provém da fonte da gratuita misericórdia de Deus, até que estejamos familiarizados com<br />

esta eleição eterna, que ilustra a graça de Deus por esta comparação, que Ele não adota todos<br />

indiscriminadamente para a esperança de salvação, mas a alguns dá o que recusa a outros. Ignorância<br />

deste princípio evidentemente desvia da glória divina, e diminui a real humildade.” 2 Calvino admite<br />

que esta doutrina levantou questões muito perplexas nas mentes de alguns, pois, diz ele, “eles não<br />

consideram nada mais irracional do que, da massa comum da raça humana, alguns deverial estar<br />

predestinados à salvação; e outros à destruição.”<br />

Os teólogos Reformados consistentemente aplicaram este princípio à experiência real do fenômeno<br />

espiritual, o qual eles mesmos sentiram e viram nos outros ao seu redor. O propósito divino, ou<br />

<strong>Predestinação</strong>, sozinho poderia explicar a distinção entre bem e mal, entre o santo e o pecador.<br />

2. PROVA DA BÍBLIA<br />

A primeira questão que devemos perguntarmo-nos então, é, “Encontramos esta doutrina ensinada nas<br />

Sagradas Escrituras?” Voltemo-nos então para a Epístola de Paulo aos Efésios. Lá podemos ler: “[4]<br />

como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis diante


dele em amor; [5] e nos predestinou para sermos filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo,<br />

segundo o beneplácito de sua vontade,”[Efésios 1:4,5]. Na carta aos Romanos lemos que a corrente<br />

dourada da redenção estende-se desde a eternidade já passada até a eternidade ainda porvir –– “Porque<br />

os que dantes conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de<br />

que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; [30] e aos que predestinou, a estes também chamou; e<br />

aos que chamou, a estes também justificou; e aos que justificou, a estes também glorificou.”[Romanos<br />

8:29,30]. Pré-sabido, preordenados, chamados, justificados, glorificados, sempre com as mesmas pessoas<br />

incluídas em cada grupo, e onde um desses fatores estiver presente, todos os demais estarão em<br />

princípio, também presentes.<br />

Paulo redigiu o versículo conjugando os verbos no tempo passado porque com Deus o propósito é em<br />

princípio executado quando formado, tão certamente é o seu cumprimento. “Estes cinco elos dourados”,<br />

diz o Dr. Warfield, “são todos unidos em uma corrente inquebrável, de modo que todos os que estão sob<br />

a graciosa vista diferenciadora de Deus são carregados por Sua graça somente, passo a passo, até a<br />

grande consumação da glorificação que completa a prometida conformidade à imagem do próprio Filho<br />

de Deus. Veja, é a ‘eleição’ que faz tudo isso; a ‘quem Ele justificou, . . . . . eles também glorificou’.”<br />

3<br />

As Escrituras Sagradas representam a eleição como um acontecimento no passado, sem relacionamento<br />

com o mérito pessoal, e totalmente soberana, –– “[11] (pois não tendo os gêmeos ainda nascido, nem<br />

tendo praticado bem ou mal, para que o propósito de Deus segundo a eleição permanecesse firme, não<br />

por causa das obras, mas por aquele que chama), [12] foi-lhe dito: O maior servirá o menor. [13] Como<br />

está escrito: Amei a Jacó, e aborreci a Esaú.”[Romanos 9:11-13]. Agora, se a doutrina da eleição não for<br />

verdadeira, podemos seguramente desafiar qualquer homem a dizer-nos o que o apóstolo Paulo quis<br />

dizer com tal tipo de linguagem. “Nos é ilustrada a soberana aceitação de Isaque e a rejeição de Ismael, e<br />

a escolha de Jacó e não a de Esaú antes mesmo dos seus nascimentos e portanto antes que tivessem<br />

praticado qualquer bem ou mal; nos é explicitamente dito que no que tange à salvação não de um que<br />

quer ou de outro que corre, mas de Deus que mostra misericórdia, e que Ele tem misericórdia para com<br />

quem Ele quer e a quem Ele confirma; somos pertinentemente direcionados a observar em Cristo, o<br />

oleiro que faz os vasos que procedem de Sua mão, um para cada finalidade que Ele aponta, para que Ele<br />

possa operar a Sua vontade através deles. É seguro dizer que não se pode escolher linguagem melhor<br />

adaptada para ensinar <strong>Predestinação</strong> no seu ápice.” 4<br />

Mesmo se não tivéssemos quaisquer outros testemunhos inspirado que aqueles escritos por Paulo, tão<br />

claros e precisos são aqueles mesmos que seríamos constrangidos a admitir que a doutrina da Eleição<br />

encontra lugar na Bíblia. Em se olhando às referências Bíblicas na Confissão de Fé, vemos que a mesma<br />

é abundantemente sustentada pela Bíblia. Se admitimos a inspiração da Bíblia; se admitimos que os<br />

escritos dos profetas e apóstolos foram soprados pelo Espírito de Deus, e são assim infalíveis, então o<br />

que lá encontrarmos será suficiente; e assim no testemunho irrefutável das Escrituras devemos<br />

reconhecer que a Eleição, ou a <strong>Predestinação</strong> são uma verdade estabelecida, e que devemos receber se<br />

tomamos posse do conselho de Deus. Cada Cristão deve crer em alguma forma de eleição; pois enquanto<br />

as Escrituras deixam muitas coisas inexplicadas a respeito da doutrina da Eleição, elas deixam muito<br />

claro o FATO de que houve uma eleição.<br />

Cristo declarou abertamente aos Seus discípulos, “Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a<br />

vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, ...”[João 15:16], pelo que Ele fez primária a escolha de<br />

Deus e a do homem somente secundária, como resultado dO que escolheu primeiro. Os Arminianos,<br />

contudo, em fazendo com que a salvação dependa da escolha do homem em usar ou abusar da graça<br />

proferida inverte esta ordem, fazendo com que a escolha do homem seja a primária e a decisiva. Não há


lugar nas Escrituras para uma eleição que esteja cuidadosamente ajustada às pré-vistas atitudes da<br />

criatura. A vontade divina nunca é feita dependente da vontade da criatura para as suas determinações.<br />

Novamente a soberania desta escolha é claramente ensinada quando Paulo declara que Deus provou o<br />

Seu amor para conosco pelo fato de haver Cristo morrido por nós enquanto éramos ainda pecadores<br />

(Romanos 5:8), e que Cristo morreu pelos ímpios (Romanos 5:6). Aqui vemos que o Seu amor não foi<br />

estendido até nós porque éramos bons, mas apesar do fato de que nós éramos maus. É Deus quem<br />

escolhe a pessoa e faz com que ele se aproxime dEle (Salmo 65:4). O Arminianismo tira tal escolha das<br />

mãos de Deus e a coloca nas mãos do homem. Qualquer sistema teológico que substitua a eleição feita<br />

pelo homem cai sob o ensino Bíblico deste assunto.<br />

Nos dias mais negros da apostasia de Israel, como em qualquer outra época, foi este princípio de eleição<br />

que fez diferença ente a raça humana e manteve seguro um remanescente. “Todavia deixarei em Israel<br />

sete mil: todos os joelhos que não se dobraram a Baal, e toda boca que não o beijou.” [I Reis 19:18].<br />

Aqueles sete mil não permaneceram por sua própria força e poder; está expressamente dito que Deus<br />

reservou-os para Si mesmo, que eles pudessem ser um remanescente.<br />

É para o bem dos eleitos que Deus governa o curso de toda a história (Marcos 13:20 = “Se o Senhor não<br />

abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou<br />

aqueles dias.”). Ele são o “sal da terra”, e a “luz do mundo”; e até agora pelo menos na história do<br />

mundo eles são os poucos através de quem os muitos são abençoados, –– Deus abençoa a casa de<br />

Potifar para o bem de José; e dez justos teriam salvo a cidade de Sodoma. Sua eleição, é claro, inclui a<br />

oportunidade de ouvir o Evangelho e receber os dons da graça, pois sem estes grandes meios o fim<br />

grandioso que é a eleição não seria alcançado. Eles são, de fato, eleitos para tudo o que está incluído na<br />

idéia de vida eterna.<br />

À parte da eleição de indivíduos para a vida, tem havido o que poderíamos chamar de uma eleição<br />

natural, ou a divina predestinação de nações e de comunidades a um conhecimento da verdadeira religião<br />

e aos privilégios externos do Evangelho. Deus indubitavelmente escolhe algumas nações para receber<br />

bênçãos temporais e espirituais maiores que outras. Esta forma de eleição sem sido bem ilustrada na<br />

nação Judia, em certas nações e comunidades Européias, e na América. O contraste é violento, quando<br />

comparamos estas com outras nações tais como China, Japão, Índia, etc.<br />

Em todo o Velho Testamento, é repetidamente mostrado que os Judeus eram um povo escolhido. “De<br />

todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido; ...”[Amós 3:2]. “Não fez assim a nenhuma das<br />

outras nações; ...”[Salmo 147:20]. “Porque tu és povo santo ao Senhor teu Deus; o Senhor teu Deus te<br />

escolheu, a fim de lhe seres o seu próprio povo, acima de todos os povos que há sobre a<br />

terra.”[Deuteronômio 7:6]. Porém, é igualmente feito certo que Deus não encontrou nenhum mérito ou<br />

dignidade nos próprios Judeus, que O fizessem escolhe-los em detrimento de outros povos. “[7] - O<br />

Senhor não tomou prazer em vós nem vos escolheu porque fôsseis mais numerosos do que todos os<br />

outros povos, pois éreis menos em número do que qualquer povo; [8] - mas, porque o Senhor vos amou,<br />

e porque quis guardar o juramento que fizera a vossos pais, foi que vos tirou com mão forte e vos<br />

resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito.”[Deuteronômio 7:7,8]. E de novo,<br />

“Entretanto o Senhor se afeiçoou a teus pais para os amar; e escolheu a sua descendência depois deles,<br />

isto é, a vós, dentre todos os povos, como hoje se vê.”[Deuteronômio 10:15]. Nesta passagem é<br />

cuidadosamente explicado, que Israel foi honrado com a escolha divina, em contraste com o tratamento<br />

dispensado a todos os demais povos da terra, que a escolha proveio só e unicamente do amor imerecido<br />

de Deus; e que não havia base nenhuma em Israel para tanto.


Quando Paulo foi proibido pelo Espírito Santo de pregar o Evangelho na província da Ásia, e lhe foi<br />

dada a visão de um homem na Europa clamando através das águas, “Venha até a Macedônia e ajudenos”,<br />

uma seção do mundo foi soberanamente excluída dos privilégios do Evangelho, enquanto que a<br />

outra seção os mesmos privilégios foram soberanamente dados. Tivesse a chamada divinamente<br />

direcionada sido feita mais para a Índia, a Europa e a América poderiam ser hoje menos civilizadas que<br />

os nativos do Tibete. Foi a escolha soberana de Deus que trouxe o Evangelho aos povos da Europa e<br />

mais tarde da América, enquanto que os povos do leste, e norte, e sul foram deixados em trevas. Nós não<br />

podemos assinalar razão alguma, por exemplo, por que deveriam ter sido escolhidos os povos da<br />

semente de Abraão, e não a semente dos Egípcios ou dos Assírios; ou por que a Grã Bretanha e a<br />

América, que à época do aparecimento de Cristo na Terra encontravam-se num estado de tão completa<br />

ignorância, deveriam atualmente possuir tão abundantemente para si mesmas, e disseminarem tão<br />

grandemente para outros, tão importantes privilégios espirituais. As diversificações relacionadas aos<br />

privilégios religiosos em diferentes nações não podem ser atribuídas a nada mais que o prazer de Deus.<br />

Uma terceira forma de eleição ensinada na Bíblia é a de indivíduos no sentido externo da graça, tais<br />

como a audição e a leitura do Evangelho, associação com o povo de Deus, e compartilhar os benefícios<br />

da civilização que floresceu onde esteve o Evangelho. Ninguém jamais teve a chance de dizer em que<br />

época em particular na história do mundo, ou em que país, alguém teria nascido, se seria ou não um<br />

membro da raça branca, ou alguma outra. Uma criança nasce com saúde, abundância, e honra num lugar<br />

favorecido, num lar Cristão, e cresce com todas as bênçãos que acompanham a plenitude do Evangelho.<br />

Uma outra criança nasce na pobreza e na desonra de pais separados e cheios de pecado, e destituída das<br />

influências Cristãs. Todas estas coisas são soberanamente decididas por elas (as crianças). Certamente<br />

nenhum insistiria que a criança favorecida tenha qualquer mérito que pudesse ser motivo para tal<br />

diferença. Além do mais, não foi de Deus próprio a escolha da criação de seres humanos, à Sua própria<br />

imagem, quando Ele poderia haver criado-nos gado, ou cavalos, ou cachorros? Ou quem permitiria aos<br />

idiotas blasfemar contra Deus por sua condição de vida, como se a distinção fosse injusta? Todas estas<br />

coisas são devidas à providência de Deus, que prevalece. “Os Arminianos têm batalhado para reconciliar<br />

tudo isto, na verdade, com seus pontos de vista errôneos e defeituosos quanto a soberania Divina, e com<br />

suas doutrinas não Bíblicas da graça universal e da redenção universal; mas eles usualmente não se<br />

satisfazem com suas próprias tentativas de explicar, e têm comumente no mínimo admitido, que houve<br />

mistérios neste assunto, os quais não poderiam ser explicados, e os quais devem ser resolvidos na<br />

soberania de Deus e na inescrutabilidade dos Seus conselhos.” 5<br />

Talvez nós possamos mencionar um quarto tipo de eleição, a de indivíduos com certas vocações, –– os<br />

dons de talentos especiais que fazem com que uma pessoa venha a tornar-se um estadista, que outra<br />

venha a ser um doutor, ou advogado, ou fazendeiro, ou músico, ou artesão; dons de beleza pessoal,<br />

inteligência, disposição, etc. Estes quatro tipos de eleição são, em princípio, o mesmo. Os Arminianos<br />

não têm dificuldade em admitir o segundo, o terceiro e o quarto tipo de eleição, enquanto que negam o<br />

primeiro. Em cada instância Deus dá a alguns o que ele retém de outros. Tanto nossa experiência na vida<br />

diária como condições amiúde no mundo nos mostram que as bênçãos dispensadas são soberanas e<br />

incondicionais, sem qualquer relação com o mérito ou a ação por parte daqueles que são escolhidos. Se<br />

somos altamente favorecidos, podemos somente ser gratos por Suas bênçãos; se não altamente<br />

favorecidos, não temos razão nenhuma para reclamar. Por que precisamente este ou aquele é colocado<br />

em circunstâncias que levam à fé salvadora, enquanto que outros não são também colocados, é de fato<br />

um mistério. Não podemos explicar as obras da Providência; mas sabemos que o Juiz de toda a terra fará<br />

o certo, e que quando nos ativermos ao perfeito conhecimento, veremos que ele tem razões suficientes<br />

para todos os Seus atos.


Ademais, pode ser dito que em geral as condições exteriores que cercam o indivíduo determinam o seu<br />

destino, –– pelo menos neste ponto, que aqueles de quem o Evangelho é suprimido não têm chance<br />

alguma de salvação. Cunningham escreveu isto muito bem no seguinte parágrafo: –– “Há uma conexão<br />

invariável estabelecida no governo de Deus sobre o mundo, entre o prazer de privilégios exteriores, ou<br />

os meios da graça, por um lado; e fé e salvação por outro, nesse sentido e neste ponto, que a negação do<br />

primeiro implica na negação do segundo. O significado de toda a Bíblia nos assegura que onde Deus, em<br />

Sua soberania, deixa de proporcionar aos homens o prazer dos meios da graça, –– uma oportunidade de<br />

familiarizarem-se com o único meio de salvação, –– Ele ao mesmo tempo, e através dos mesmos<br />

métodos, em ordenação, retém deles a oportunidade e o poder de crerem e de serem salvos.” 6<br />

Os Calvinistas mantêm que Deus lida não somente com a massa da raça humana, mas também com os<br />

indivíduos que são realmente salvos, que Ele elegeu pessoas em particular para a vida eterna e para todos<br />

os meios necessários para que aquela vida eterna seja alcançada. Eles admitem que algumas das<br />

passagens nas quais a eleição é mencionada ensinam somente uma eleição de nações, ou uma eleição<br />

para os privilégios externos, mas mantêm que muitas outras passagens ensinam exclusiva e somente uma<br />

eleição de indivíduos para a vida eterna.<br />

Há alguns, é claro, que negam ter havido algo como eleição. Segundo eles, a começar pelo próprio<br />

vocábulo, como se fosse um espectro que de repente aparecesse das trevas, sem nunca antes ter sido<br />

visto. Todavia, somente no Novo Testamento, as palavras ‘eklektos’, ‘ekloga’, e ‘eklego’; eleito, eleição,<br />

escolhido, são encontrados quarenta e sete ou quarenta e oito vezes (referência para a lista completa é a<br />

“Young’s Analytical Concordance). Outros aceitam o vocábulo mas tentam minimizar a importância do<br />

assunto com explicações vagas. Eles professam crer em uma “eleição condicional”, baseada, como<br />

supõem, numa fé prevista e na obediência evangélica dos seus objetos. Isto, é claro, destrói a eleição em<br />

qualquer senso inteligível do termo, e a reduz a um mero reconhecimento ou profecia que em algum<br />

tempo futuro algumas pessoas serão possuídas por aquelas qualidades. Se baseado na fé e obediência<br />

evangélica, então, como tem sido cinicamente fraseado, Deus é cuidadoso ao escolher somente aqueles a<br />

quem Ele prevê que se elegerão a si próprios. No sistema teológico Arminiano, a eleição é reduzida a um<br />

mero vocábulo ou nome, do qual o uso somente tende a envolver o sujeito numa maior obscuridade e<br />

confusão. Um mero reconhecimento que aquelas qualidades estarão presentes em algum tempo futuro é,<br />

claro, algo falsamente chamado de “eleição”, ou simplesmente nenhuma eleição qualquer que seja. E<br />

alguns Arminianos, consistentemente levando a cabo as suas próprias doutrinas que o ser humano pode<br />

ou não aceitar, e se ele efetivamente aceitar ele pode cair novamente, identificam o tempo deste decreto<br />

da eleição com a morte do crente, como se somente então a sua salvação viesse a ser certa.<br />

A Eleição aplica-se não somente aos homens mas também e igualmente aos anjos, desde que eles<br />

também fazem parte da criação de Deus e estão sob o Seu governo. Alguns destes são santos e felizes,<br />

outros são cheios de pecado e miseráveis. As mesmas razões que levam-nos a crer numa predestinação<br />

de homens também nos fazem crer numa predestinação de anjos. As Escrituras confirmam este ponto de<br />

vista através de referências a “anjos eleitos”[I Timóteo 5:21], e “anjos santos” [Marcos 8:38], os quais<br />

contrastam com “anjos maus” ou “demônios”. Lemos que Deus “... não poupou a anjos quando pecaram,<br />

mas lançou-os no inferno, e os entregou aos abismos da escuridão, reservando-os para o juízo;”[II Pedro<br />

2:4]; lemos também acerca do “... fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;”[Mateus 25:41]; e<br />

de “... anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, ele os tem<br />

reservado em prisões eternas na escuridão para o juízo do grande dia”[Judas 6]; e da “... guerra no céu:<br />

Miguel e os seus anjos batalhavam contra o dragão. E o dragão e os seus anjos batalhavam,”[Apocalipse<br />

12:7]. Um estudo dessas passagens nos mostra que, conforme <strong>Da</strong>bney diz, “há dois tipos de espíritos,<br />

nesta ordem; santos e pecadores – os anjos, servos de Cristo e os servos de Satã; que foram criados num<br />

estado de santidade e de felicidade, e habitavam na região chamada Céu (a bondade e a santidade de


Deus são prova suficiente de que Ele não os criaria de outra forma); que os anjos maus volutariamente<br />

perderam seu estado [de santidade e felicidade] ao pecarem, e foram excluídos para sempre do Céu e da<br />

santidade; que aqueles que mantiveram seu estado [de santidade e felicidade] foram doravante eleitos por<br />

Deus, e que o seu estado de santidade e beatitude é agora assegurado para sempre.” 7<br />

Paulo não faz nenhuma tentativa de explicar como Deus pode ser justo ao mostrar misericórdia e passala<br />

a quem Ele quiser. Em resposta à pergunta do opositor, “Por que se queixa ele ainda?” (com aqueles a<br />

quem Ele não estendeu a misericórdia salvadora), ele (Paulo) resolve a questão toda simplesmente<br />

evocando a soberania de Deus, ao replicar, “Mas, ó homem, quem és tu, que a Deus replicas? Porventura<br />

a coisa formada dirá ao que a formou: Por que me fizeste assim? 21 - Ou não tem o oleiro poder sobre o<br />

barro, para da mesma massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?”[vide<br />

Romanos 9:19-21] (e note-se que Paulo aqui diz os vasos não são feitos de diferentes espécies ou tipos<br />

de barro, mas que é “da mesma massa”, que Deus, o oleiro, faz um vaso para honra e outro para a<br />

desonra.) Paulo não tira Deus do Seu trono e O coloca perante a nossa razão humana para ser<br />

questionado e examinado. Estes Seus conselhos secretos, os quais mesmo aos anjos, que adoram com<br />

tremor e desejo de conhecer, não são explicados; exceto que são ordenados a ser conforme o Seu próprio<br />

prazer. E depois que Paulo assim afirma, ele como se colocando sua mão à frente, nos proíbe de ir<br />

adiante. Fosse verdadeira a hipótese assumida pelos Arminianos, nominalmente, que a todos os homens<br />

é dada suficiente graça e que cada um é recompensado ou punido, castigado conforme o seu próprio uso<br />

ou abuso de tal graça, não teria havido nenhuma dificuldade a que fazer conta.<br />

MAIS PROVAS NAS ESCRITURAS<br />

-- II Tessalonicenses 2:13 : “... porque Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do<br />

espírito e a fé na verdade,”<br />

-- Mateus 24:24 : “porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e<br />

prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.”<br />

-- Mateus 24:31 : “E ele enviará os seus anjos com grande clangor de trombeta, os quais lhe ajuntarão<br />

os escolhidos desde os quatro ventos, de uma à outra extremidade dos céus.”<br />

-- Marcos 13:20 : “Se o Senhor não abreviasse aqueles dias, ninguém se salvaria mas ele, por causa<br />

dos eleitos que escolheu, abreviou aqueles dias.” (quando da destruição de Jerusalém).<br />

-- I Tessalonicenses 1:4 : “conhecendo, irmãos, amados de Deus, a vossa eleição;”<br />

-- Romanos 11:7 : “... mas os eleitos alcançaram; e os outros foram endurecidos,”<br />

-- I Timóteo 5:21 : “Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo Jesus, e dos anjos eleitos ...”<br />

-- Romanos 8:33 : “Quem intentará acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica;”<br />

-- Romanos 11:5 : “Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição<br />

da graça.”<br />

-- II Timóteo 2:10 : “... tudo suporto por amor dos eleitos.”<br />

-- Tito 1:1 : “Paulo, servo de Deus, e apóstolo de Jesus Cristo, segundo a fé dos eleitos de Deus...”<br />

-- I Pedro 1:1 : “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos peregrinos ...” (algumas traduções como “eleitos”<br />

-- I Pedro 5:13 : “A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, como também meu filho Marcos.”<br />

-- I Pedro 2:9 : “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para<br />

que anuncieis as grandezas daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz;”<br />

-- I Tessalonicenses 5:9 : “porque Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançarmos a salvação<br />

por nosso Senhor Jesus Cristo,<br />

-- Atos 13:48 : “Os gentios, ouvindo isto, alegravam-se e glorificavam a palavra do Senhor; e creram<br />

todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.”<br />

-- João 17:9 : “Eu {Jesus Cristo} rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens<br />

dado, porque são teus;”


-- João 6:37 : “Todo o que o Pai me dá virá a mim ...”<br />

-- João 6:65 : “... ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido.”<br />

-- João 13:18 : “Não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi ...”<br />

-- João 15:16 : “Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós ...”<br />

-- Salmo 105:6 : “vós, descendência de Abraão, seu servo, vós, filhos de Jacó, seus escolhidos.”<br />

-- Romanos 9:23 : “... vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória,”<br />

(Veja também referências mencionadas no capítulo: Efésios 1:4, 5, 11; Romanos 9:11-13, 8:29, 30 e<br />

etc).<br />

3. PROVAS DA RAZÃO<br />

Se a doutrina da Depravação Total (Incapacidade Total) ou Pecado Original for admitida, a doutrina da<br />

Eleição Incondicional segue a mais inescapável lógica. Se, como as Escrituras e a experiência nos dizem,<br />

todos os homens estão por natureza num estado de culpa e depravação do qual eles são totalmente<br />

incapazes de livrarem-se a si mesmos e não têm nenhum direito, qualquer que seja, para que Deus os<br />

resgate, segue-se então que se qualquer um for salvo Deus deve então escolher aqueles que deverão ser<br />

objeto da Sua graça. O Seu amor para com os homens caídos expressa-se na escolha de uma multidão<br />

inumerável deles para a salvação, e na provisão de um redentor, quem, agindo como seu cabeça e<br />

representante, assumiu a sua culpa, sofreu o seu castigo, e ganhou para eles a salvação. É sempre ao<br />

amor de Deus que a Bíblia atribui o decreto eletivo, e ela nunca se cansa de elevar nossos olhos do<br />

decreto em si, para o motivo e razão que encontra-se por trás dele. A doutrina de que os homens são<br />

salvos somente através do imerecido amor e da imerecida graça de Deus encontra sua honesta e completa<br />

expressão somente nas doutrinas do Calvinismo.<br />

Através da eleição de indivíduos o caráter verdadeiramente gracioso da salvação é mostrado de forma<br />

mais clara. Aqueles que declaram que a salvação é inteiramente obra da graça de Deus, e todavia negam<br />

a doutrina da eleição, adotam uma posição inconsistente. Os escritores inspirados utilizam-se de todos<br />

meios para guiar-nos ao fato de que a eleição dos homens por Deus é uma eleição absolutamente<br />

soberana, alicerçada unicamente no Seu amor que é imerecido pelo homem, e destinada a mostrar aos<br />

homens e aos anjos a Sua graça e misericórdia salvadoras.<br />

Como Juiz e Soberano, Deus tem a liberdade de lidar com um mundo de pecadores conforme o Seu<br />

beneplácito. Ele tem todo o direito perdoar alguns e condenar outros; tem todo o direito de dar a Sua<br />

graça salvadora a um e não dá-la a outro. Desde que todos pecaram estão destituídos da Sua glória, Ele é<br />

livre para ter misericórdia de quem Ele quiser ter misericórdia. Não é pela vontade do homem, nem<br />

pelas obras do homem, mas por Deus, que mostrou misericórdia, e o motivo pelo qual um é salvo, e a<br />

razão pela qual um é salvo enquanto que outro não é, podem ser encontrados somente no beneplácito<br />

dEle, que ordenou todas as coisas após o conselho da Sua própria vontade. É por esta razão que antes<br />

que Deus criasse o mundo Ele escolheu todos aqueles a quem Ele daria gratuitamente a herança das<br />

bênçãos eternas, e os escritores Bíblicos tomam cuidados especiais para dar a cada crente na enorme<br />

multidão dos salvos a segurança de que desde toda a eternidade ele mesmo tem sido objeto peculiar da<br />

escolha divina, e que ele somente agora está atingindo o alto destino preparado para ele desde a fundação<br />

do mundo.<br />

Esta doutrina da eleição eterna e incondicional tem algumas sido chamada algumas vezes de “o coração”<br />

da Fé <strong>Reformada</strong>. Ela enfatiza a soberania e a graça de Deus na salvação, enquanto que o ponto de vista<br />

Arminiano enfatiza a obra da fé e da obediência do homem, que decide aceitar a graça oferecida. No<br />

sistema teológico Calvinista, é somente Deus quem escolhe aqueles que serão os herdeiros do céu,


aquels com quem Ele compartilhará as Suas riquezas na glória; enquanto que no sistema Arminiano é,<br />

em última análise, o homem quem determina tanto, –– um princípio no qual, de alguma forma falta<br />

humildade, para dizer o mínimo.<br />

Pode ser questionado, “Por que Deus salva a alguns e a outros não?” Mas a resposta pertence aos Seus<br />

conselhos secretos, somente. Precisamente por que este homem recebe a salvação, e aquele homem não a<br />

recebe, quando nenhum dos dois merecia recebê-la, nós não sabemos. Que Deus ficou satisfeito em<br />

estabelecer sobre nós a Sua graça eletiva, deve ser-nos para sempre um tema de adorável maravilha.<br />

Certamente nada havia em nós, seja qualidade ou feito (obra), que pudesse atrair Sua atenção<br />

favoravelmente ou faze-LO parcial a nós; pois estávamos mortos nos nossos delitos e pecados e filhos da<br />

ira, como também os demais (vide Efésios 2:1-3). Podemos somente admirar, e maravilharmo-nos, e<br />

exclamar em coro com Paulo, “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de<br />

Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!”[Romanos 11:33]. A<br />

maravilha das maravilhas não é que Deus, nos Seus infinitos amor e justiça, não tenha elegido para a<br />

salvação a todos desta raça culpada, mas que Ele tenha elegido a alguns. Quando consideramos, por um<br />

lado, quão abominável é o pecado, junto com o merecimento de punição; e por outro lado, o que a<br />

santidade é, junto com a perfeita aversão de Deus pelo pecado; a maravilha é como Deus poderia ter o<br />

consentimento da Sua natureza santa para salvar um único pecador. Mais ainda, o motivo pelo qual Deus<br />

não escolheu a todos para a vida eterna não foi porque Ele não desejasse salvar a todos, mas que por<br />

razões as quais nós não conseguimos explicar totalmente, uma escolha universal teria sido inconsistente<br />

com a Sua perfeita retidão.<br />

Nem ninguém pode fazer objeção que este ponto de vista represente Deus agindo arbitrariamente e sem<br />

razão. Postular tal seria afirmar mais do que qualquer homem sabe. As Suas razões, os Seus motivos<br />

para salvar uns em particular enquanto deixando outros de lado não nos são revelados. “... e segundo a<br />

sua vontade ele opera no exército do céu e entre os moradores da terra;”[<strong>Da</strong>niel 4:35]. Alguns são<br />

preordenados como filhos, “... segundo o beneplácito de sua vontade”[Efésios 1:5]. Quando um<br />

regimento é dizimado por insubordinação, o fato de cada décimo homem ser escolhido para a morte tem<br />

suas razões, mas as razões não estão nos homens.<br />

Indubitavelmente Deus tem os melhores motivos para escolher um e rejeitar outro, embora Ele não nos<br />

tenha dito quais são.<br />

"May not the Sov'reign Lord on high “Não pode o Soberano Senhor nas alturas<br />

Dispense His favors as He will; Dispensar Seus favores como quiser;<br />

Choose some to life, while others die, Escolher alguns para a vida, enquanto outros morrem,<br />

And yet be just and gracious still? E todavia ainda ser justo e gracioso?<br />

Shall man reply against the Lord, Pode o homem replicar contra Deus,<br />

And call his Maker's ways unjust? E chamar os Seus caminhos de injustos?<br />

The thunder whose dread word O trovão cujo bramido<br />

Can crush a thousand worlds to dust. Pode transformar mil mundos em pó.<br />

But, O my soul, if truths so bright Mas minha alma, se a verdade tão brilhante<br />

Should dazzle and confound thy sight, Ofusca e confunde tua visão,<br />

'Yet still His written will obey, Ainda assim, a Sua palavra obedecerás,<br />

And wait the great decisive day!"8 e o grande e decisivo dia aguardarás!” 8


4. FÉ E BOAS OBRAS SÃO OS FRUTOS E AS PROVAS, NÃO A BASE, DA ELEIÇÃO<br />

Nem a predestinação em geral, ou a eleição daqueles que serão salvos, está baseada na previsão de Deus<br />

de qualquer ação da criatura. Este princípio da Fé <strong>Reformada</strong> foi bem apresentado na Confissão de<br />

Westminster, onde lemos: “Ainda que Deus sabe tudo quanto pode ou há de acontecer em todas as<br />

circunstâncias imagináveis, ele não decreta coisa alguma por havê-la previsto como futura, ou como<br />

coisa que havia de acontecer em tais e tais condições.”[Capítulo III – ‘Dos Eternos Decretos de Deus’ –<br />

parágrafo II (Referências At. 15:18; Prov.16:33; I Sam. 23:11-12; Mat. 11:21-23; Rom. 9:11-18.)] e<br />

ainda, “Estas boas obras, feitas em obediência aos mandamentos de Deus, são o fruto e as evidências de<br />

uma fé viva e verdadeira; por elas os crentes manifestam a sua gratidão, robustecem a sua confiança,<br />

edificam os seus irmãos, adornam a profissão do Evangelho, tapam a boca aos adversários e glorificam a<br />

Deus, cuja feitura são, criados em Jesus Cristo para isso mesmo, a fim de que, tendo o seu fruto em<br />

santificação, tenham no fim a vida eterna.”[Capítulo XVI – ‘<strong>Da</strong>s Boas Obras’ – parágrafo II (Referências<br />

Tiago 2:18, 22; Sal. 116-12-13; I Ped. 2:9; I João 2:3,5; II Ped. 1:5-10; II Cor. 9:2; Mat. 5:16; I Tim.<br />

4:12; Tito 2:5, 912; I Tim. 6:1; I Pedr. 2:12, 15; Fil. 1,11; João 15:8; Ef. 2:10; Rom. 6:22.)]; “O poder de<br />

fazer boas obras não é de modo algum dos próprios fiéis, mas provém inteiramente do Espírito de Cristo.<br />

A fim de que sejam para isso habilitados, é necessário, além da graça que já receberam, uma influência<br />

positiva do mesmo Espírito Santo para obrar neles o querer e o perfazer segundo o seu beneplácito;<br />

contudo, não devem por isso tornar-se negligentes, como se não fossem obrigados a cumprir qualquer<br />

dever senão quando movidos especialmente pelo Espírito, mas devem esforçar-se por estimular a graça<br />

de Deus que há neles.”[Capítulo XVI – ‘<strong>Da</strong>s Boas Obras’ – parágrafo III (Referências João I5:4-6; Luc.<br />

11:13; Fil. 2:13, e 4:13; II Cor. 3:5; Ef. 3:16; Fil. 2:12; Heb. 6:11-12; Isa. 64:7.)]<br />

Fé prevista e boas obras não podem, então, nunca serem vistas como sendo a cauda da eleição Divina.<br />

Elas são mais os frutos e a prova da mesma. Elas mostram que a pessoa foi escolhida e regenerada. Fazer<br />

delas a base da eleição nos envolve novamente num pacto de obras, e coloca os propósitos de Deus no<br />

sentido temporal, ao invés de eterno. Não seria pré-destinação, mas sim pós-destinação, uma inversão do<br />

que a Bíblia apresenta, a qual faz a fé e a santidade serem o resultado, e não a causa da eleição<br />

(conforme Efésios 1:4; João 15:16; Tito 3:5). A declaração de que nós fomos escolhidos em Cristo<br />

“antes da fundação do mundo” exclui qualquer consideração de mérito nosso; pois no idioma Hebraico,<br />

algo feito “antes da fundação do mundo” quer dizer “algo feito na eternidade”. E quando à declaração de<br />

Paulo que “... não por causa das obras, mas por aquele que chama”, o Arminiano responde que trata-se<br />

de obras futuras, ele simplesmente contradiz-se com as palavras do próprio apóstolo.<br />

Que o decreto da eleição fosse de qualquer forma baseado na pré ciência é refutado por Paulo quando ele<br />

diz que o propósito era “...para sermos santos...”[Efésios 1:4]. Ele insiste que a salvação é “não vem das<br />

obras, para que ninguém se glorie.” Em II Timóteo 1:9 lemos que é Deus “que nos salvou, e chamou<br />

com uma santa vocação, não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e a graça<br />

que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos eternos,”. Os Calvinistas portanto sustentam que a<br />

eleição precede, e não é baseada em nenhuma boa obra que a pessoa faça. A própria essência da doutrina<br />

é que na obra da redenção Deus não é movido por nenhuma consideração de mérito ou de bondade da<br />

parte dos objetos de sua misericórdia salvadora. “Que não é porque o homem corra, ou porque ele<br />

intente, mas é de Deus, que demonstra misericórdia, que o pecador obtém a salvação, é a testemunha<br />

confiável de toda a Bíblia, demandado tão reiteradamente e em conexões tão variadas que excluem a<br />

possibilidade de que possa esconder-se por trás do ato da eleição qualquer consideração de caracteres,<br />

atos ou circunstâncias previstos –– todos os quais aparecem como resultado da eleição.” 10<br />

Preordenação em geral não pode apoiar-se na pré ciência; pois somente aquilo que é certo pode ser pré<br />

sabido, e só o que é predeterminado pode ser certo. O Todo-Poderoso e Onipotente Rei do universo não


governa a Si próprio embasado numa pré ciência das coisas que podem graciosamente virem a acontecer.<br />

Nas Escrituras Sagradas, a pré ciência divina é sempre considerada como dependente do propósito<br />

divino, e Deus sabe somente porque Ele predeterminou. Seu conhecimento é somente a transcrição da<br />

Sua vontade quanto ao que existirá no futuro; e o rumo que o mundo toma sob o Seu providencial<br />

controle é somente a execução do Seu plano todo abrangente. Sua pré ciência do que ainda será, seja<br />

relacionado ao mundo como um todo ou relacionado aos detalhes da vida de cada indivíduo, baseia-se no<br />

Seu plano pré organizado (vide Jeremias ‘:5; Salmo 139:14-16; Jó 23:13, 14: 28:26, 27; Amós 3:7).<br />

Voltemos agora a nossa atenção para uma passagem na Bíblia que é comumente mostrada como<br />

ensinamento de que geralmente a eleição ou mesmo a pre-ordenação são baseadas na pré ciência. Em<br />

Romanos 8:29, 30, lemos: “[29] Porque os que dantes conheceu, também os predestinou para serem<br />

conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos; [30] e aos<br />

que predestinou, a estes também chamou; e aos que chamou, a estes também justificou; e aos que<br />

justificou, a estes também glorificou.” A palavra “conhecer” é usada algumas vezes num sentido<br />

diferente do que simplesmente ter uma percepção intelectual de algo mencionado. Ocasionalmente pode<br />

significar que as pessoas “conhecidas” são os objetos especiais e peculiares do favor de Deus, como foi<br />

escrito a respeito dos Judeus: “De todas as famílias da terra só a vós vos tenho conhecido ...”[Amós 3:2].<br />

Paulo escreveu, “Mas, se alguém ama a Deus, esse é conhecido dele.”[I Coríntios 8:3]. Jesus, está<br />

escrito, “conhece” o Seu rebanho [João 10:14, 27]; e aos perversos Ele dirá, “... Nunca vos<br />

conheci...”[Mateus 7:23]. No primeiro capítulo do livro dos Salmos, lemos: “...o Senhor conhece o<br />

caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios conduz à ruína.”[Salmo 1:6]<br />

Mais que uma percepção ou um reconhecimento mental estão envolvidos nestas passagens, pois Deus os<br />

tem tanto do perverso como do justo. É um tipo de conhecimento, de ciência, que tem como objeto e está<br />

conectado só com os eleitos, ou em outras palavras é o mesmo que amor, favor e aprovação. Aqueles em<br />

Romanos 8:29 são pré conhecidos no sentido de que eles foram pré designados a serem os objetos<br />

especiais do Seu favor. Tal é mostrado mais claramente em Romanos 11:2.5, onde lemos: “Deus não<br />

rejeitou ao seu povo que antes conheceu.” (uma comparação é feita com a época de Elias, quando Deus<br />

“separou para Si” os sete mil que não dobraram seus joelhos a Baal) e no verso [5] ele complementa:<br />

“Assim, pois, também no tempo presente ficou um remanescente segundo a eleição da graça.” Aqueles<br />

que ‘antes foram conhecidos’ como no versículo [2] e aqueles que são segundo a eleição da graça são o<br />

mesmo povo; assim é que eles foram pré conhecidos no sentido de haverem sido pré apontados, pré<br />

designados para serem objetos dos Seus graciosos propósitos. Note especialmente que em Romanos 8:29<br />

não diz que eles foram pré conhecidos como perpetradores de boas obras, mas que eles foram pré<br />

conhecidos como indivíduos a quem Deus estenderia a graça da eleição. E seja notado também que se<br />

Paulo tivesse aqui usado o termo “pré conhecer” no sentido de que a eleição estava baseada meramente<br />

na pré ciência, sua afirmação seria contraditória com todas as demais passagens, que afirmam que a<br />

eleição é segundo o beneplácito de Deus.<br />

O ponto de vista Arminiano tira a eleição das mãos de Deus e a coloca nas mãos do homem. Isto faz com<br />

que os propósitos do Deus Onipotente sejam condicionados às precárias vontades de homens apóstatas e<br />

transforma eventos temporais em motivos para os Seus atos eternos. Significa ainda mais que Ele criou<br />

um conjunto de seres soberanos de quem até certo ponto dependem a Sua vontade e os Seus atos. Deus é<br />

assim apresentado como um velho Pai, que procura fazer com que seus filhos façam o que é certo, mas<br />

que é usualmente derrotado pela vontade perversa deles; ou pior, Deus é apresentado como tendo<br />

evoluído um plano que, através dos tempos, tem sido tão geralmente derrotado que já mandou<br />

inumeravelmente mais pessoas para o inferno que para o céu. Uma doutrina que leve à tais absurdos<br />

como conclusão não somente é não Bíblica como também irracional e desonrosa para com Deus.<br />

Contrastando com tudo isto, o Calvinismo oferece um grande Deus que é infinito em Suas perfeições,


que dispensa misericórdia e justiça como melhor Lhe convém, e quem realmente detém o governo sobre<br />

todos os assuntos na vida dos homens.<br />

A Bíblia e a experiência Cristã nos ensinam que a própria fé e o arrependimento através dos quais nós<br />

somos salvos, são eles próprios dádivas de Deus. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto<br />

não vem de vós, é dom de Deus;”[Efésios 2:8]. Os Cristãos em Acaia “... pela graça haviam crido.”[Atos<br />

18:27]. Um homem não está salvo por crer em Cristo, ele crê em Cristo porque está salvo. Mesmo o<br />

princípio da fé, a disposição para procurar salvação, é obra da graça dádiva de Deus. Paulo<br />

costumeiramente diz que somos salvos “através”, “por meio” da fé (ou seja, como a causa instrumental),<br />

mas nenhuma vez ele diz que somos salvos “por conta” da fé (como sendo a causa meritória). E no<br />

mesmo sentido nós podemos dizer que os redimidos serão recompensados em proporção às suas boas<br />

obras, mas não em razão delas. E de acordo com isto, Agostinho diz que “Os eleitos de Deus são<br />

escolhidos por Ele para serem Seus filhos, de maneira que possam vir a crer, não porque Ele pré viu que<br />

eles creriam.”<br />

Quanto ao arrependimento, é igualmente declarado ser uma dádiva. “Ouvindo eles estas coisas,<br />

apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Assim, pois, Deus concedeu também aos gentios o<br />

arrependimento para a vida.”[Atos 11:18]; “sim, Deus, com a sua destra, o elevou a Príncipe e Salvador,<br />

para dar a Israel o arreendimento e remissão de pecados;”[Atos 5:31]. Paulo criticou aqueles que não se<br />

deram conta de que era a benignidade de Deus que os levou ao arrependimento [veja Romanos 2:4].<br />

Jeremias clamou “... restaura-me, para que eu seja restaurado, pois tu és o Senhor meu Deus ......<br />

arrependi-me; e depois que fui instruído,”[Jeremias 31:18, 19]. O que, por exemplo, tinha João Batista a<br />

ver com o fato de estar “cheio do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe”[Lucas 1:15] ? Jesus disse<br />

aos Seus discípulos que para eles havia sido dado conhecer os mistérios do reino do céu, mas que a<br />

outros o mesmo não havia sido dado (veja Mateus 13:11). Basear a eleição em fé prevista é o mesmo que<br />

dizer que nós somos ordenados para a vida eterna porque nós cremos, enquanto que as Escrituras<br />

declaram o contrário: “...e creram todos quantos haviam sido destinados para a vida eterna.”[Atos 13:48]<br />

Nossa salvação é “não em virtude de obras de justiça que nós houvéssemos feito, mas segundo a Sua<br />

misericórdia, nos salvou mediante o lavar da regeneração e renovação pelo Espírito Santo,”[Tito 3:5].<br />

Nós somos encorajados a efetuar a nossa própria salvação com temor e tremor, pois é Deus quem operou<br />

em nós tanto o querer como o efetuar da Sua boa vontade. E simplesmente porque Deus opera em nós, é<br />

que buscamos desenvolver e efetuar a nossa própria salvação (vide Filipenses 2:12,13). O Salmista nos<br />

diz que o povo do Senhor oferece-se voluntariamente no dia do Seu poder (vide Salmo 110:3). Assim é<br />

que a conversão é uma dádiva peculiar e soberana de Deus. O pecador não tem poder para voltar-se a<br />

Deus, mas é voltado ou renovado pela graça divina antes que ele possa fazer qualquer coisa<br />

espiritualmente boa. De acordo com esta premissa Paulo nos ensina que o amor, o gozo, a paz, a<br />

longanimidade, domínio próprio, etc., não são as bases meritórias da salvação, mas antes “os frutos do<br />

Espírito,” (veja Gálatas 5:22, 23). O próprio Paulo foi escolhido de forma que viesse a conhecer e fazer a<br />

vontade de Deus, não porque houvesse sido previsto que ele o faria (veja Atos 22:14, 15). Agostinho nos<br />

diz que, “A graça de Deus não encontra homens para serem eleitos, mas faz com que sejam”; e<br />

novamente, “A natureza da bondade Divina não é somente para abrir àqueles que batem, mas também<br />

para faze-los bater e pedir.” Lutero expressou a mesma verdade quando disse, “Somente Deus pelo seu<br />

Espírito opera em nós o mérito e a recompensa.” João nos diz que, “Nós amamos, porque ele nos amou<br />

primeiro.”[I João 4:19]. Estas passagens ensinam-nos sem margem para erros que a fé e as boas obras<br />

são os frutos da obra de Deus em nós. Não somos escolhidos porque somos bons, mas para que<br />

possamos vir a tornarmo-nos bons.


Mas enquanto boas obras não são o terreno da salvação, elas são absolutamente essenciais para tanto,<br />

como sendo os seus frutos e as suas evidências. Elas são produzidas pela fé tão naturalmente como as<br />

uvas são produzidas pela parreira. E todavia não nos façam justos perante Deus, elas são tão ligadas à fé<br />

que a verdadeira fé não pode ser encontrada sem elas. Nem podem as boas obras, no sentido estrito,<br />

serem encontradas em lugar algum sem a fé. Nossa salvação não provém “de obras”, mas “para boas<br />

obras” (veja Efésios 2:9, 10); e o Cristão genuinamente salvo ver-se-á em seu elemento natural somente<br />

quando produzindo boas obras. Este é o mesmo princípio que Jesus estabeleceu quando Ele declarou que<br />

o caráter de uma árvore é mostrado por seus frutos, e que uma boa árvore não pode dar frutos maus. As<br />

boas obras são tão naturais para o Cristão quanto o é respirar; ele não respira para ter vida; ele respira<br />

porque ele tem vida, e por esta mesma razão ele não pode evitar respirar. Boas obras são a sua glória, por<br />

isso é que Jesus diz, “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas<br />

obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus.”[Mateus 5:16], a quem verdadeiramente todo o<br />

crédito é devido.<br />

A visão Calvinista é a única lógica, se aceitarmos a declaração Bíblica de que a salvação é pela graça.<br />

Qualquer outra nos envolve num caos de pontos de vista sem saída, que são contraditórios às Escrituras.<br />

Há, é claro, mistérios conectados com esta visão Calvinista, e certamente não é a visão que o homem<br />

natural teria, tivesse ele sido chamado para sugerir um plano. Mas jogar fora a doutrina Bíblica da<br />

<strong>Predestinação</strong>, simplesmente porque ela não se adequa aos nossos preconceitos e noções pré concebidas,<br />

é agir tolamente. Faze-lo é colocar o Criador no banco dos réus no tribunal da razão humana, é negar a<br />

sabedoria e a retidão dos Seus atos só porque não podemos sondá-Los, e então declarar que a Sua<br />

revelação é falsa e enganosa.<br />

“É uma atitude perigosa para os homens tomarem sobre si mesmos, ignorantemente, desvendar os<br />

profundos mistérios de Deus com sua razão carnal, onde o grande apóstolo posta-se clamando em<br />

assombro, ‘Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis<br />

são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!’[Romanos 11:33]. Tivesse Paulo sido da<br />

persuasão Arminiana, ele teria continuado, ‘Aqueles que estão eleitos são os que foram pré vistos<br />

acreditar e perseverar’ ”11. E não haveria mistério algum, se a salvação fosse baseada naquelas palavras.<br />

Então, temos um sistema teológico do qual todo discurso vanglorioso é excluído, e no qual salvação em<br />

todos as suas partes é vista como o produto de pura graça, que resulta em boas obras, sem contudo estar<br />

centrado nelas.<br />

5. REJEIÇÃO<br />

Proposição –– Comentários de Calvino, Lutero e Warfield –– Prova da Bíblia –– Baseada na <strong>Doutrina</strong><br />

do Pecado Original –– Nenhuma Injustiça é Imputada aos Não-Eleitos –– Estado de Ateísmo ––<br />

Propósitos do Decreto da Rejeição –– Arminianos de Centro Atacam esta <strong>Doutrina</strong> –– Sem Nenhuma<br />

Obrigação de Explicar todas Estas Coisas.<br />

Logicamente, é claro que a doutrina da <strong>Predestinação</strong> absoluta sustenta que alguns são preordenados à<br />

morte tão certamente quanto outros são preordenados à vida. Os termos “eleitos” e “eleição”<br />

correspondem aos termos “não eleitos” e “rejeição”. Quando alguns são escolhidos outros não o são. Os<br />

altos privilégios e o destino glorioso daqueles escolhidos não são compartilhados com os outros que não<br />

o foram. Cremos que desde toda a eternidade Deus decidiu que parte da posteridade de Adão<br />

permaneceria no seu pecado, e que o fator decisivo na vida de cada um é deve ser encontrado somente na<br />

vontade de Deus. Como Mozley disse, a raça humana inteira, depois da queda, era uma “massa de


perdição”, e “pareceu bem a Deus em Sua soberana misericórdia resgatar alguns e deixar outros onde<br />

encontravam-se; elevar alguns para a glória, dando-lhes tal graça quanto os qualificou para recebe-la,<br />

abandonando o resto, de quem ele reteve aquela mesma graça, para o castigo eterno.” 12<br />

A maior dificuldade com a doutrina da Eleição, claro, emerge com relação aos não salvos; e as Escrituras<br />

não nos dão explicação detalhada para a condição e o estado deles. Uma vez que a missão de Jesus no<br />

mundo foi salvar o mundo ao invés de julgá-lo, este aspecto do assunto é chamado menos à atenção.<br />

Em todos os credos Reformados que chegam a lidar com a doutrina da Rejeição, o tema é tratado como<br />

uma parte essencial da doutrina da <strong>Predestinação</strong>. A Confissão de Westminster, depois de apresentar a<br />

doutrina da eleição, acrescenta: “Segundo o inescrutável conselho da sua própria vontade, pela qual ele<br />

concede ou recusa misericórdia, como lhe apraz, para a glória do seu soberano poder sobre as suas<br />

criaturas, o resto dos homens, para louvor da sua gloriosa justiça, foi Deus servido não contemplar e<br />

ordená-los para a desonra e ira por causa dos seus pecados.”[Capítulo III – Dos Eternos Decretos de<br />

Deus – parágrafo VII (referências Mat. 11:25-26; Rom. 9:17-22; II Tim. 2:20; Jud. 4; I Pedro 2:8)].” 13<br />

Aqueles que adotam e sustentam a doutrina da Eleição mas negam a doutrina da Rejeição não podem<br />

alegar consistência. Afirmar a primeira e ao mesmo tempo negar a segunda faz do decreto da<br />

predestinação um decreto ilógico e sem qualquer simetria. O credo que apresenta a Eleição e no entanto<br />

nega a Rejeição se parecerá como uma ave ferida tentando levantar vôo com somente uma asa. No<br />

interesse de um “Calvinismo moderado” alguns tem-se inclinado a abandonar a doutrina da Rejeição, e<br />

este termo (em si mesmo um termo muito inocente) tem sido usado como cunha para ataques injuriosos<br />

contra o Calvinismo puro e simples. “Calvinismo Moderado” é sinônimo Calvinismo doente, e doença,<br />

se não curada, é o princípio do fim.<br />

Comentários de Calvino, Lutero, e Warfield<br />

Calvino não hesitou em basear a rejeição dos perdidos, assim como a eleição dos salvos, no propósito<br />

eterno de Deus. Temos já mencionado-o no sentido de que “nem todos homens são criados com um<br />

destino similar mas a vida eterna é preordenada para alguns, e a danação eterna para outros. Cada<br />

homem, portando, criado para um ou outro destes fins, dizemos, é predestinado seja para a vida ou para a<br />

morte.” 14. Que a segunda alternativa levante problemas que não são fáceis de serem resolvidos, ele<br />

prontamente admite, mas advoga tal como a única explicação inteligente e Bíblica dos fatos.<br />

Lutero também, tão certamente quanto Calvino, atribui a perdição eterna dos perversos, assim como a<br />

salvação eterna dos justos, ao plano de Deus. “Pode muito bem ofender a nossa natureza racional, que<br />

Deus, de Sua própria e imparcial vontade, deixasse alguns homens entregues a si próprios, endurecesseos<br />

e os condenasse; mas Ele demonstra abundante e continuamente, que este é realmente o caso; quer<br />

dizer, que a única razão pela qual alguns são salvos e outros perecem, procede da Sua vontade a salvação<br />

de alguns e a perdição de outros, conforme o que escreveu Paulo, Ele ‘Portanto, tem misericórdia de<br />

quem quer, e a quem quer endurece.’[Romanos 9:18] ” E de novo, “Pode parecer absurdo à sabedoria<br />

humana que Deus devesse endurecer, cegar e entregar alguns homens a um senso corrupto; que Ele<br />

primeiramente os deixasse à mercê do mal, e depois os condenasse por aquele mesmo mal; mas o crente,<br />

o homem espiritual não vê absurdo em tudo isso; sabendo que Deus não seria um mínimo menos bom,<br />

mesmo que Ele destruísse todos os homens.” Lutero segue, então, dizendo que isto não deve ser<br />

compreendido como se Deus encontra homens bons, sábios, obedientes e os transforma em homens<br />

maus, tolos e obtusos, mas que tais homens já são depravados e caídos e que aqueles homens que não<br />

são regenerados, ao invés de tornarem-se melhores sob os comandos e as influências divinos, sua reação<br />

é somente a de piorarem. Referindo-se aos capítulos IX, X e IX da Epístola de Paulo aos Romanos,


Lutero diz que “Absolutamente todas as coisas acontecem a partir da e dependem do comando Divino;<br />

por onde foi préordenado quem deveria receber a palavra da vida e quem deveria não aceitá-la; quem<br />

deveria ser livrado dos seus pecados e quem deveria ser endurecido neles, quem seria justificado e quem<br />

seria condenado.” 15<br />

“Os escritores Bíblicos,” diz o Dr. Warfield, “estão tão longe quanto possível de obscurecer a doutrina<br />

da eleição por causa de quaisquer idéias ou proposições aparentemente desagradáveis que advém dela.<br />

Ao contrário, eles expressamente separam tais idéias ou proposições as quais freqüentemente são assim<br />

designadas, e as fazem uma porção do seus estudos explícitos. Sua doutrina da eleição, eles nos dizem<br />

livremente, por exemplo, certamente envolve uma correspondente doutrina da preterição. O próprio<br />

termo adotado no Novo Testamento assim o expressa –– eklegomai, que como Meyer diz com justiça<br />

(Efésios 1:4), ‘sempre tem, e deve ter por uma necessidade lógica, uma referência a outros a quem os<br />

eleitos, sem a ‘ekloga’, ainda pertenceriam’ –– encorpando uma declaração do fato que na sua eleição<br />

outros são passados e deixados sem a dádiva da salvação; a apresentação inteira da doutrina é tal que ou<br />

ela implica ou ela abertamente declara, na sua própria emergência, a remoção dos eleitos pela pura graça<br />

de Deus, não só e meramente de um estado de condenação, mas também da companhia dos condenados<br />

–– uma companhia em quem a graça de Deus não tem nenhum efeito salvador, e que são portanto<br />

deixados sem esperança em seus pecados; e a positiva e justa condenação dos impenitentes por seus<br />

pecados é explícita e repetidamente ensinada em acentuado contraste com a salvação gratuita dos eleitos<br />

apesar dos seus pecados.” 16<br />

E novamente ele diz: “A dificuldade que é sentida por alguns quanto a seguir o argumento do apóstolo<br />

(vide Romanos 11 f), podemos suspeitar, tem raízes em parte num resumo do que lhes parece um<br />

desígnio arbitrário de homens para destinos diversos sem qualquer consideração do seu merecimento.<br />

Certamente Paulo afirma explicitamente tanto a soberania da rejeição quanto da eleição, –– se estas<br />

idéias gêmeas forem, de fato, separáveis mesmo que seja em pensamento; se ele representar a Deus<br />

como soberanamente amando a Jacó, ele igualmente O representará como soberanamente odiando a<br />

Esaú; se declarar que Ele tem misericórdia de quem Ele quer, ele também declarará, igualmente, que Ele<br />

endurece a quem Ele quer. Sem dúvida a dificuldade normalmente sentida é, em parte, conseqüência de<br />

uma realização insuficiente da concepção fundamental de Paulo quanto ao estado do homem, em muito<br />

como pecadores condenados perante um Deus irado. Ele apresenta Deus lidando com um mundo cheio<br />

de pecadores, e a partir daquele mesmo mundo, a construção de um Reino de Graça. Não fossem todos<br />

os homens pecadores, talvez ainda existisse uma eleição, tão soberana como agora, e em havendo uma<br />

eleição, ainda haveria uma rejeição também soberana; mas a rejeição não seria uma rejeição para castigo,<br />

para destruição, para morte eterna, mas para algum outro destino consoante com o estado daqueles não<br />

eleitos, onde eles devessem ser deixados. Não é, de fato, porque os homens são pecadores que eles são<br />

deixados ‘não eleitos’; a eleição é livre, e em assim sendo a rejeição também deve ser igualmente livre;<br />

mas é somente porque os homens são pecadores que o que é deixado aos não eleitos é a destruição. E é<br />

nesse universalismo de ruína, ao invés de em um universalismo de salvação, que Paulo realmente tem as<br />

raízes da sua defesa da bondade e onipotência de Deus. Quando todos merecem a morte, é uma<br />

maravilha de pura graça que alguém receba a vida; e quem poderia negar o direito dAquele que mostra<br />

misericórdia tão miraculosa, de ter misericórdia de quem Ele quer, e endurecer a quem Ele quer?” 17<br />

Prova das Escrituras<br />

Esta é, admitidamente, uma doutrina desagradável. Ela não é ensinada com o propósito de ganhar o favor<br />

dos homens, mas o é somente o pleno ensino das Escrituras e a contrapartida lógica da doutrina da<br />

Eleição. Nós veremos que algumas passagem ensinam esta doutrina com uma clareza incontestável. Tais<br />

passagens deveriam ser suficientes para qualquer um que aceite a Bíblia como a palavra de Deus. “O


Senhor fez tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal”[Provérbios 16:4]. A respeito de Cristo,<br />

é dito quanto ao ímpio: “...Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na<br />

palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados”[I Pedro 2:8]. “Porque se<br />

introduziram furtivamente certos homens, que já desde há muito estavam destinados para este juízo,<br />

homens ímpios, que convertem em dissolução a graça de nosso Deus, e negam o nosso único Soberano e<br />

Senhor, Jesus Cristo.”[Judas 4]. “Mas estes, como criaturas irracionais, por natureza feitas para serem<br />

presas e mortas, blasfemando do que não entendem, perecerão na sua corrupção”[II Pedro 2:12]. “Porque<br />

Deus lhes pôs nos corações o executarem o intento dele, chegarem a um acordo, e entregarem à besta o<br />

seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus.”[Apocalipse 17:17]. Com relação à besta da visão<br />

de João, é dito, “E adora-la-ão todos os que habitam sobre a terra, esses cujos nomes não estão escritos<br />

no livro do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo.”[Apocalipse 13:8]. E podemos ainda<br />

contrastar estas passagens com os discípulos a quem Jesus disse: “Contudo, não vos alegreis porque se<br />

vos submetem os espíritos; alegrai-vos antes por estarem os vossos nomes escritos nos céus.”[Lucas<br />

10:20], e com o que Paulo disse aos seus colaboradores: “E peço também a ti, meu verdadeiro<br />

companheiro, que as ajudes, porque trabalharam comigo no evangelho, e com Clemente, e com os outros<br />

meus cooperadores, cujos nomes estão no livro da vida”[Filipenses 4:3]<br />

Paulo declara que os “vasos da ira” que pelo Senhor foram “preparados para a destruição,” foram<br />

“suportou com muita paciência” de modo que Ele pudesse “mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu<br />

poder”; e estes vasos da ira contrastados com os “vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a<br />

glória” de modo “que [Ele] também desse a conhecer as riquezas da sua glória”, naqueles mesmos vasos<br />

{na Epístola aos Romanos, 9:22, 23}. Com relação aos ímpios, é dito que “Deus, por sua vez, os<br />

entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm;”[Romanos 1:28]; e do<br />

perverso, “a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação do<br />

justo juízo de Deus”[Romanos 2:5].<br />

Com relação àqueles que perecem, Paulo diz que “...por isso Deus lhes envia a operação do erro, para<br />

que creiam na mentira;”[II Tessalonicenses 2:11]. Eles são chamados a sustentarem tais coisas (erro,<br />

mentira – n.t.) de um modo aparente, admirá-las e depois perecer nos seus pecados. Ouçam as palavras<br />

de Paulo na sinagoga em Antioquia em Psídia: “...porque realizo uma obra em vossos dias, obra em que<br />

de modo algum crereis, se alguém vo-la contar.”[Atos 13:41]<br />

O apóstolo João, depois de narrar que o povo ainda não cria, embora Jesus houvesse feito tantos sinais<br />

na sua frente, acrescenta, “[39] Por isso não podiam crer, porque, como disse ainda Isaías: [40] Cegoulhes<br />

os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e<br />

se convertam, e Eu os cure.”[João 12:39, 40].<br />

O mandamento de Cristo aos perversos no julgamento final, “...Apartai- vos de mim, malditos, para o<br />

fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos;”[Mateus 25:41] é o decreto de rejeição mais forte<br />

possível; e é o mesmo em princípio, seja comandado no tempo ou na eternidade. O que é certo para Deus<br />

fazer no tempo, não é errado para que Ele inclua no Seu plano eternal.<br />

Em uma ocasião, o próprio Jesus declarou: “...Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não<br />

vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.”[João 9:39]. E em outra oportunidade, Ele disse, “...Graças<br />

te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as<br />

revelaste aos pequeninos.”[Mateus 11:25]. É difícil para nós aceitar que o Redentor adorável e o único<br />

Salvador dos homens seja, para alguns, pedra de tropeço e rocha de ofensa; todavia é exatamente isto<br />

que a Bíblia O declara ser. Mesmo antes do Seu nascimento, foi dito que Ele estava designado (ou seja,<br />

apontado) para a queda, tanto quanto para o levantamento, de muitos em Israel {“E Simeão os abençoou,


e disse a Maria, mãe do menino: Eis que este é posto para queda e para levantamento de muitos em<br />

Israel, e para ser alvo de contradição.”[Lucas 2:34]}. E quando, em sua oração de intercessão no jardim<br />

do Getsêmane, Ele disse, “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens<br />

dado...”[João 17:9] , os não eleitos foram repudiados com todas as palavras.<br />

Jesus Ele mesmo declarou que uma das razões porque ele falava em parábolas era porque a verdade<br />

poderia estar oculta daqueles para quem ela não era intencionada. Deixemos a história sagrada falar por<br />

si própria: “[10] E chegando-se a ele os discípulos, perguntaram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?<br />

[11] Respondeu-lhes Jesus: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas a eles não<br />

lhes é dado; [12] pois ao que tem, dar-se-lhe-á, e terá em abundância; mas ao que não tem, até aquilo<br />

que tem lhe será tirado. [13] Por isso lhes falo por parábolas; porque eles, vendo, não vêem; e ouvindo,<br />

não ouvem nem entendem. [14] E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz...”[Mateus 13:10-14]:<br />

“[9] ...Vai, e dize a este povo: Ouvis, de fato, e não entendeis, e vedes, em verdade, mas não percebeis.<br />

[10] Engorda o coração deste povo, e endurece-lhe os ouvidos, e fecha-lhe os olhos; para que ele não<br />

veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e entenda com o coração, e se converta, e seja sarado.”[Isaías<br />

6:9, 10]<br />

Nessas palavras podemos ver uma aplicação das próprias palavras de Jesus, “Não deis aos cães o que é<br />

santo, nem lanceis aos porcos as vossas pérolas...”[Mateus 7:6]. Ele que afirma que Cristo designado<br />

para dar a Sua verdade salvadora para cada um contradiz em cheio ao próprio Cristo. Aos não eleitos, a<br />

Bíblia é um livro selado; e somente aos verdadeiros Cristãos é “dado” ver e entender todas essas coisas.<br />

Tão importante é esta verdade que o Espírito Santo se compraz em repetir por seis vezes no Novo<br />

Testamento o escrito pelo profeta Isaías (compare em Mateus 13:14, 15 ; Marcos 4:12 ; Lucas 8:10 ;<br />

João 12:40 ; Atos 28:27 , Romanos 11:9, 10). Paulo nos diz que pela graça a “eleição” recebeu salvação,<br />

e que o resto foi endurecido; então acrescenta, “...Deus lhes deu um espírito entorpecido, olhos para não<br />

verem, e ouvidos para não ouvirem...”[Romanos 11:8]. E mais adiante, lembra as palavras de <strong>Da</strong>vi, para<br />

o mesmo propósito: “[9] E <strong>Da</strong>vi diz: Torne-se-lhes a sua mesa em laço, e em armadilha, e em tropeço, e<br />

em retribuição; [10] escureçam-se-lhes os olhos para não verem, e tu encurva-lhes sempre as<br />

costas.”[Romanos 11:9, 10].<br />

Assim, com relação a alguns, as proclamações evangélicas foram designadas para ferir, e não para curar.<br />

Esta mesma doutrina encontra expressão em muitas outras partes da Bíblia. Moisés disse às crianças de<br />

Israel, “Mas Siom, rei de Hesbom, não nos quis deixar passar por sua terra, porquanto o Senhor teu Deus<br />

lhe endurecera o espírito, e lhe fizera obstinado o coração, para to entregar nas mãos, como hoje se<br />

vê.”[Deuteronômio 2:30]. Referindo-se às tribos Canaatitas que marcharam contra Josué, está escrito,<br />

“Porquanto do Senhor veio o endurecimento dos seus corações para saírem à guerra contra Israel, a fim<br />

de que fossem destruídos totalmente, e não achassem piedade alguma, mas fossem exterminados, como o<br />

Senhor tinha ordenado a Moisés.”[Josué 11:20]. Hofni e Finéias, os filhos de eli, quando reprovados por<br />

sua perversidade, “...eles não ouviram a voz de seu pai, porque o Senhor os queria destruir.”[I Samuel<br />

2:25]. Embora o Faraó houvesse agido muito arrogante e perversamente para com os Israelitas, Paulo<br />

não assinala nenhuma outra razão senão a que ele era um dos rejeitados cujas más ações seriam<br />

sobrepassadas pelo bem: “Pois diz a Escritura a Faraó: Para isto mesmo te levantei: para em ti mostrar o<br />

meu poder, e para que seja anunciado o meu nome em toda a terra.”{[Romanos 9:17] – veja também em<br />

[Êxodo 9:16 : “mas, na verdade, para isso te hei mantido com vida, para te mostrar o meu poder, e para<br />

que o meu nome seja anunciado em toda a terra.”]}. Em todos os rejeitados há uma cegueira e um<br />

obstinado endurecimento de coração; e quando de algum, como o Faraó por exemplo, é dito ter sido<br />

endurecido por Deus, nós podemos estar certos de que eles já eram valorizados com tendo sido entregues<br />

a Satã. Os corações dos perversos são, é claro, nunca endurecidos através de uma influência direta de


Deus –– Ele simplesmente permite que alguns homens sigam os impulsos de maldade que já estão nos<br />

seus corações, de modo que, como resultado das suas próprias escolhas, eles se tornem mais e mais<br />

“calejados” e obstinados. E enquanto é dito, por exemplo, que Deus endureceu o coração do Faraó,<br />

também é dito que o Faraó endureceu o seu próprio coração (compare em Êxodo 8:15; 8:32, 9:34). Uma<br />

descrição é dada a partir do ponto de vista divino, a outra é fornecida a partir do ponto de vista humano.<br />

Em última instância Deus é responsável pelo endurecimento do coração, tanto quanto Ele é quem<br />

permite que isto ocorra, e o escritor inspirado, em linguagem gráfica simplesmente diz que Deus o faz;<br />

mas nunca devemos nós entender que Deus seja a causa imediata e eficiente.<br />

Embora esta doutrina seja difícil, ela é, não obstante, Bíblica. E desde que ela é tão plenamente ensinada<br />

nas Escrituras, nós não podemos assinalar nenhuma outra razão para a oposição que ela tem enfrentado,<br />

a não ser a pura ignorância e o preconceito irracional com que as mentes dos homens têm sido cheias<br />

quando eles se propõem a estudá-la. Quão aplicáveis aqui são as palavras de Rice: –– “Que felicidade<br />

seria para a Igreja de Cristo e para o mundo, se os ministros Cristãos e o povo Cristão se contentassem<br />

em serem discípulos, –– APRENDIZES; se, conscientes das suas faculdades limitadas, da sua<br />

ignorância quanto às coisas divinas, e da sua inclinação para o erro através da sua depravação e do seu<br />

preconceito, eles poderiam ser induzidos a sentarem-se aos pés de Jesus e aprender dEle. A Igreja tem<br />

sido corrompida e amaldiçoada em quase todas as eras pela indevida confiança dos homens no seu<br />

próprio poder de raciocínio. Eles têm se proposto a pronunciarem-se sobre a racionabilidade ou a<br />

irracionabilidade de doutrinas infinitamente acima da sua razão, as quais são necessariamente matéria de<br />

pura revelação. Na sua presunção eles têm tentado compreender ‘as profundezas de Deus’ e têm<br />

interpretado as Escrituras, não conforme o seu sentido óbvio, mas conforme as decisões da razão finita.”<br />

E ele diz novamente, “Ninguém nunca estudou as obras da Natureza ou o Livro do Apocalipse sem<br />

encontrar-se rodeado por todos os lados por dificuldades, por enigmas que ele não poderia solucionar. O<br />

filósofo é obrigado a satisfazer-se com fatos; e o teólogo deve contentar-se com as declarações de<br />

Deus.”18<br />

É estranho afirmar que, muitos daqueles que insistem que quando o povo passa a estudar a doutrina da<br />

Trindade eles devem colocar de lado quaisquer noções pré concebidas e apoiar-se somente na razão<br />

humana, sem ajuda, para decidir o que pode e o que não pode ser verdade acerca de Deus, e quem insiste<br />

que as Escrituras devem ser aceitas aqui como guia autoritativo e inquestionável, não estão na realidade<br />

dispostos a seguir aqueles regras no estudo da doutrina da predestinação.<br />

A doutrina da rejeição é Baseada na <strong>Doutrina</strong> do Pecado Original; Nenhuma Injustiça é Feita aos Não<br />

Eleitos.<br />

É óbvio que esta parte da doutrina da <strong>Predestinação</strong>, que afirma que Deus tem, por um decreto eterno e<br />

soberano, escolhido uma porção da espécie humana para a salvação, enquanto deixando a outra porção<br />

destinada a destruição, nos atinge como sendo oposta às nossas idéias comuns de justiça, e assim precisa<br />

de defesa. A defesa da doutrina da Rejeição encontra-se na predecessora doutrina do Pecado Original ou<br />

da Depravação Total (Incapacidade Total). Este decreto encontra toda a raça humana caída. Ninguém<br />

tem qualquer direito à graça de Deus. Mas ao invés de deixar todos à sua justa punição, Deus<br />

gratuitamente confere felicidade imerecida para aquela porção da espécie humana, –– um ato de pura<br />

misericórdia e graça ao qual ninguém pode opor-se, –– enquanto a outra porção é simplesmente deixada<br />

de lado. Nenhuma miséria imerecida é direcionada sobre aquele grupo. Assim, ninguém tem qualquer<br />

direito de opor-se a esta parte do decreto. Se o decreto lida simplesmente com homens inocentes, seria<br />

injusto assinalar uma porção para a condenação; mas desde que ele lida com homens num estado<br />

particular, estado o qual é de culpa e de pecado, ele portanto não é injusto. “A concepção do mundo


como um mundo que encontra-se no mal e portanto já julgado (veja João 3:18), de forma que sobre<br />

aqueles que não são removidos do mal do mundo a ira de Deus não é derramada, mas simplesmente<br />

sobre eles ela permanece (veja João 3:36; confirme com I João 3;14); é fundamental para esta<br />

apresentação. É por outro lado, portanto, que Jesus a Si próprio Se representa como tendo vindo não ára<br />

condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele (veja em João 3:17 ; 8:12 ; 9:5 ; 12:47 ,<br />

confirme com João 4:42); e tudo o quanto Ele faz, tendo por motivo a introdução da vida no mundo (veja<br />

João 6:33, 51); o mesmo mundo já condenado não precisa de mais condenação, precisa de salvação.” 19<br />

O homem culpado perdeu os seus direitos e cai sob a vontade de Deus. A soberania absoluta de Deus<br />

agora entra em cena e quando Ele em alguns casos demonstra misericórdia, não podemos opor-nos à sua<br />

justiça em outros, a não ser que estejamos questionando o Seu governo do universo. Visto sob este<br />

prisma, o decreto da <strong>Predestinação</strong> encontra na raça humana uma massa de perdição e permite que<br />

somente uma parte dela permaneça em tal estado. Quando todos, antecedentemente mereceram castigo,<br />

não era injusto para alguns serem antecedentemente consignados a tanto; caso contrário a execução de<br />

uma justa sentença seria injusta.<br />

Quando o Arminiano diz que fé e obras constituem as bases da eleição nós discordamos,” diz Clark.<br />

“mas se ele disser que crença prevista e desobediência constituem a base da rejeição nós assentimos<br />

bastante prontamente. Um homem não é salvo com base nas suas virtudes mas ele é condenado com base<br />

no seu pecado. Como Calvinistas convictos nós insistimos que enquanto alguns homens são salvos de<br />

sua descrença e desobediência, nas quais todos encontram-se envolvidos, e outros não o são, é ainda a<br />

pecaminosidade do pecador que constitui a base da sua rejeição. A eleição e a rejeição procedem de<br />

diferentes bases; uma é a graça de Deus, a outra é o pecado do homem. É uma caricatura do Calvinismo<br />

dizer que porque Deus elege um homem para a salvação independentemente de seu caráter ou<br />

merecimentos, que portanto Ele eleja outro homem para a danação independentemente de seu caráter ou<br />

merecimentos.” 20<br />

Esta rejeição ou “deixar de lado os não eleitos” não é fundamentada meramente numa previsão da sua<br />

continuidade no pecado; pois se a fé tivesse sido uma causa própria, rejeição teria sido a sina de todos os<br />

homens, pois todos foram pré vistos como pecadores. Nem poderia ser dito que aqueles que foram<br />

“deixados de lado” fossem em todo caso piores pecadores que aqueles trazidos à vida eterna. As<br />

Escrituras sempre atribuem a fé e o arrependimento ao beneplácito de Deus e a operação especialmente<br />

graciosa do Seu Espírito. Aqueles que concebem a raça humana como inocente e merecedora da salvação<br />

ficam escandalizados, naturalmente, quando a qualquer parte da raça seja antecedentemente consignado<br />

o castigo. Mas quando a doutrina do Pecado Original, que é ensinada tão clara e repetidamente na Bíblia,<br />

é vista e analisada em seu escopo adequado, as objeções à predestinação desaparecem e a condenação<br />

dos perversos parece nada mais que natural. Assim, a salvação procede somente do Senhor, e a danação<br />

procede inteiramente de nós. Os homens perecem por não virem a Cristo; todavia se eles tiverem a<br />

vontade de vir, é o Bem que opera tal vontade neles. A Graça, a graça que elege, promove ambas coisas,<br />

desperta a vontade e a mantém firme; e à graça seja todo o louvor.<br />

Ademais, num mundo cheio de pecado e rebeldia, ninguém vale a pena ser salvo, por si mesmo. Deus<br />

graciosamente escolheu alguns quando ele poderia ter passado ao largo por todos, como ele fez com os<br />

anjos caídos (veja em II Pedro 2:4 ; Judas 6). Ele levou tudo sobre si para prover a redenção através da<br />

qual o Seu povo é salvo. A expiação, portanto, é Sua propriedade; e Ele certamente pode, como Ele<br />

muito certamente o fará, qualquer coisa que seja da Sua vontade, através da Sua própria Graça, dada para<br />

um e negada a outro, conforme melhor Lhe convenha. Deve ser notado que o fato de a não dispensação<br />

da Sua graça ao não eleito não se constitui a causa do perecer, tanto como a ausência do médico ao lado<br />

do enfermo é a ocasião, não a causa eficiente, da sua morte. “À vista de um Deus infinitamente bom e


misericordioso,” diz o Dr. Charles Hodge, “era necessário que alguns integrantes da rebelde raça humana<br />

devessem sofrer o castigo pela lei que todos em conjunto haviam quebrado. É uma prerrogativa de Deus<br />

determinar quais serão vasos de misericórdia e quais serão deixados à justa recompensa do seus<br />

pecados.” 21<br />

Desde que o homem levou-se a si mesmo até este estado de pecado, a sua condenação é justa, e cada<br />

demanda por justiça resultaria no seu castigo. A consciência nos diz que o homem perece justamente,<br />

desde que ele decida seguir a Satã ao invés de seguir a Deus. “mas não quereis vir a mim para terdes<br />

vida!”[João 5:40]. E neste sentido a palavras do Prof. F. E. Hamilton é muito apropriada: “Tudo o que<br />

Deus faz é deixá-lo só (o não regenerado) e permitir que ele trilhe o seu próprio caminho sem<br />

interferência. É da sua natureza ser mau, e Deus simplesmente pré ordenou deixar que aquela natureza<br />

permanecesse sem modificação. O quadro muitas vezes pintado por oponentes do Calvinismo, de um<br />

Deus cruel que recusa-Se a salvar aqueles que de há muito deveriam ser salvos, é uma caricatura<br />

grotesca. Deus salva todos quantos queiram ser salvos, mas ninguém cuja natureza não seja modificada<br />

quer ser salvo.” Aqueles que estão perdidos, perdidos estão porque eles deliberadamente escolheram<br />

caminhar na senda do pecado; e isto será mesmo o inferno dos infernos, que os homens tenham destruído<br />

a si próprios.<br />

Muita gente discute se a salvação é um direito inato do homem. E esquecidos do fato de que o homem<br />

perdeu a sua supremamente favorável chance em Adão, eles nos dizem que Deus seria injusto se ele não<br />

desse a todos os seres culpados uma oportunidade para serem salvos. Com relação à idéia de que a<br />

salvação é dada em retribuição a algo feito pela pessoa, Lutero diz, “Mas suponhamos, eu lhes rogo, que<br />

Deus devesse ser tal, que tivesse respeito para com o mérito naqueles que estão danados. Não<br />

deveríamos nós, semelhantemente, também requerer e acreditar que Ele também devesse ter respeito<br />

para com aqueles que serão salvos? Pois se vamos seguir a razão, é igualmente injusto, que os que não<br />

merecem devessem ser coroados, tanto quanto que os que merecem devessem ser condenados.” 22<br />

Ninguém com idéias próprias acerca de Deus supõe que Ele de repente faça algo sobre o que Ele não<br />

tenha pensado antes. Uma vez que os Seus propósitos são eternos, o que Ele faz no tempo é o que Ele<br />

propôs-Se a fazer desde a eternidade. Aqueles a quem Ele salva são aqueles a quem Ele propôs-Se a<br />

salvar desde a eternidade, e aqueles a quem Ele deixa a perecer são aqueles a quem Ele propôs-Se deixar<br />

desde a eternidade. Se é justo para Deus fazer uma determinada coisa no tempo, também é, pela paridade<br />

do argumento, justo para Ele resolver sobre determinado assunto e decretar como tal desde a eternidade,<br />

pois o princípio da ação é o mesmo em ambos casos. E se nós somos justificados em dizer que desde<br />

toda a eternidade Deus intencionou demonstrar a Sua misericórdia ao perdoar a vasta multidão de<br />

pecadores, por que algumas pessoas objetam tão estressadamente quando dizemos que desde toda a<br />

eternidade Deus intencionou demonstrar a Sua justiça ao castigar outros pecadores?<br />

Assim é que, se é justo para Deus reter-Se de salvar algumas pessoas depois que elas nascem, foi<br />

também justo para Ele formar aquele propósito antes que elas nascessem, ou na eternidade. E desde que<br />

a vontade determinante de Deus é onipotente, ela não pode ser obstruída ou anulada. Em sendo verdade,<br />

segue-se que Ele nunca antes, nem mesmo agora, quis ou quer que cada indivíduo da raça humana seja<br />

salvo. Se Ele assim quisesse, nenhuma só alma, nunca, poderia ou teria se perdido, “...Pois, quem resiste<br />

à sua vontade?”[Romanos 9:19]. Se Ele quisesse que ninguém se perdesse, Ele teria certamente dado<br />

para todos os homens aqueles meios efetivos de salvação, sem os quais não podem tê-la. Agora, Deus<br />

poderia dar aqueles meios tão facilmente para toda a humanidade, como para somente alguns, mas a<br />

experiência prova que Ele não o faz. Assim é que, logicamente, não é nenhum propósito secreto de Deus<br />

ou um decreto da Sua vontade que todos devam ser salvos. De fato, as duas verdades, que o que Deus faz


Ele o faz desde a eternidade, e que somente uma parte da raça humana é salva, são suficientes para<br />

completar as doutrinas da Eleição e da Rejeição.<br />

O Estado dos Ateus<br />

O fato de que, na obra providencial de Deus, alguns homens são deixados sem o Evangelho e os outros<br />

meios da graça, virtualmente envolve o princípio estabelecido na doutrina Calvinista da <strong>Predestinação</strong>.<br />

Nós vemos que em todas as épocas a grande parte da humanidade tem sido deixada destituída dos meios<br />

externos da graça. Por séculos os Judeus, cujo número era pequeno, foram o único povo a quem aprouve<br />

a Deus revelar-Se de maneira especial. Jesus restingiu o Seu ministério público quase que<br />

exclusivamente a eles e proibiu os Seus discípulos de andarem no meio de outros até passado o dia de<br />

Pentecostes (veja Mateus 10:5, 6; 28:19; Marcos 16:15; Atos 1:4). Multidões foram deixadas sem a<br />

oportunidade de ouvir o Evangelho, e consequentemente morreram em seus pecados. Se Deus tivesse a<br />

intenção de salvá-los, indubitavelmente Ele teria enviado a eles os meios de salvação. Se Ele tivesse<br />

escolhido cristianizar a Índia e a China há mil anos atrás, Ele mais que certamente poderia ter atingido o<br />

Seu propósito. Ao contrário, eles permaneceram em densas trevas e descrença. Para o estado passado e<br />

presente do mundo, com todo o seu pecado, miséria e morte, não pode haver outra explicação senão<br />

aquela que é dada na Bíblia, –– nominalmente, que a raça caiu em Adão e que em misericórdia Deus<br />

soberanamente escolheu trazer uma multidão inumerável à salvação através de uma redenção que Ele<br />

pessoalmente providenciou. É uma visão pervertida e desonrosa de Deus, imaginá-lo lutando e<br />

batalhando com homens desobedientes, fazendo o Seu melhor para converte-los, mas incapaz de atingir<br />

o Seu propósito.<br />

Se a teoria Arminiana fosse verdadeira, nominalmente, que Cristo morreu por todos os homens e que os<br />

benefícios da Sua morte são realmente aplicados a todos homens, seria de se esperar que Deus tivesse<br />

provisionado para que o Evangelho fosse comunicado a todos os homens. O problema com os ateus, com<br />

aqueles povos que vivem e morrem sem o Evangelho, tem sido sempre um problema muito difícil para<br />

os Arminianos, que insistem que todos os homens têm graça suficiente se eles simplesmente quiserem<br />

fazer uso dela. Poucos negarão que a salvação está condicionada à pessoa que ouve e que aceita o<br />

Evangelho. A Igreja Cristã tem praticamente sido unânime ao declarar que os ateus como uma classe<br />

estão perdidos. Que isto seja um ensinamento claro na Bíblia, nós podemos facilmente mostrar: –––<br />

“E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens,<br />

em que devamos ser salvos.”[Atos 4:12]. “Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também<br />

perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.”[Romanos 2:12]. “Porque ninguém<br />

pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo.”[I Coríntios 3:11]. “Eu<br />

sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem<br />

mim nada podeis fazer.”[João 15:5]. “...Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai,<br />

senão por mim.”[João 14:6]. “Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho<br />

não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.”[João 3:36]. “Quem tem o Filho tem a vida;<br />

quem não tem o Filho de Deus não tem a vida.”[I João 5:12]. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a<br />

ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.”[João 17:3]. “Ora, sem fé é<br />

impossível agradar a Deus ...”[Hebreus 11:6]. “[13] Porque: Todo aquele que invocar o nome do<br />

Senhor será salvo. [14] Como pois invocarão aquele em quem não creram? e como crerão naquele de<br />

quem não ouviram falar? e como ouvirão, se não há quem pregue?”[Romanos 10:13, 14] (ou, em outras<br />

palavras, como podem os ateus possivelmente serem salvos quando eles nunca sequer ouviram falar de<br />

Cristo, que é o único caminho para a salvação?). “Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo:<br />

Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós


mesmos.”[João 6:53]. Quando aquele que vigia vê o perigo se aproximando mas não avisa, não alerta o<br />

povo e eles morrem na sua iniqüidade, {“Se eu disser ao ímpio: O ímpio, certamente morrerás; e tu não<br />

falares para dissuadir o ímpio do seu caminho, morrerá esse ímpio na sua iniqüidade, mas o seu sangue<br />

eu o requererei da tua mão.”[Ezequiel 33:8]} –– verdade, seremos responsabilizados se não falarmos, se<br />

não avisarmos, todavia isto não muda a sorte do povo. Jesus declarou que mesmo os Samaritanos que<br />

tinham privilégios muito mais altos que as nações fora da Palestina, adoravam o que não conheciam, e<br />

que a salvação vinha dos Judeus. Veja também o primeiro e o segundo capítulos da Epístola de Paulo aos<br />

Romanos. As Escrituras, então, são plenas em declarar que sob condições ordinárias, normais, aqueles<br />

que não têm a Cristo e o Evangelho estão perdidos.<br />

E de acordo com isto, a Confissão de Fé de Westminster, depois de declarar que aqueles que rejeitam a<br />

Cristo não podem ser salvos, acrescenta: “...muito menos poderão ser salvos por qualquer outro meio os<br />

que não professam a religião cristã, por mais diligentes que sejam em conformar as suas vidas com a luz<br />

da natureza e com a lei da religião que professam ...” [parte da seção IV, Capítulo X, = referências<br />

Bíblicas: Mat. l3:14-15; At. 28:24; Mat. 22:14; Mat. 13:20-21, e 7:22; Heb. 6:4-5; João 6:64-66, e 8:24;<br />

At. 4:12; João 14:6 e 17:3; Ef. 2:12-13; II João 10: l 1; Gal. 1:8; I Cor. 16:22].<br />

Na verdade, a crença de que os ateus, aqueles que vivem sem o Evangelho estão perdidos tem sido um<br />

dos mais fortes argumentos a favor da missões estrangeiras. Se crermos que as suas próprias religiões<br />

têm luz e verdade suficientes para salvá-los, a importância de pregar o Evangelho a eles é então<br />

diminuída consideravelmente. Nossa atitude quanto às missões estrangeiras é muito grandemente<br />

determinada pela resposta que damos àquela questão.<br />

Não negamos que Deus pode salvar até mesmo alguns dos ateus adultos se Ele escolher fazê-lo, pois o<br />

Seu Espírito opera quando e onde e como Lhe apraz, com ou sem meios. Se qualquer um dos tais é<br />

salvo, contudo, é por um milagre de pura graça. Certamente o método normal de Deus é reunir, separar<br />

os Seus eleitos da parte evangelizada da humanidade, embora devemos admitir a possibilidade de,<br />

através de um método extraordinário, alguns dos Seus eleitos possam ser reunidos, separados da parte<br />

não evangelizada. (A sina, o destino daqueles que morrem na infância em terras pagãs é tema a ser<br />

discutido sob o tópico “Salvação Infantil”, mais adiante).<br />

É irracional supor que povos podem apropriar-se de alguma coisa da qual não sabem nada. Isto pode ser<br />

facilmente visto tanto quanto os ateus (os povos ainda não alcançados) são deixados de lado no que se<br />

refere a muitos prazeres, a alegrias e oportunidades relacionados com este mundo; e segundo o mesmo<br />

princípio, seria de se esperar que fossem também deixados de lado também no próximo. Aqueles que são<br />

providencialmente colocados nas trevas pagãs da China setentrional não podem aceitar a Cristo como<br />

Salvador mais do que podem aceitar o rádio, o avião ou o sistema Copérnico de astronomia, coisas a<br />

respeito das quais são totalmente ignorantes. Quando Deus coloca pessoas em tais condições, podemos<br />

estar certos de que Ele não tem intenção de que elas sejam salvas, mais do que ele teria intenção que o<br />

solo ao norte da Sibéria, que permanece congelado durante o ano inteiro, devesse produzir grãos de trigo.<br />

Tivesse Ele querido o contrário, Ele teria suprido os meios que levassem ao fim determinado. Há<br />

também multidões nas terras nominalmente Cristãs, a quem o Evangelho nunca foi apresentado de<br />

qualquer forma adequada, que não têm nem mesmo as condições externas para a salvação, sem<br />

mencionar o estado de indefesa dos seus corações.<br />

É claro que isto não significa que todos os perdidos sofrerão o mesmo grau de castigo. Nós cremos que a<br />

partir de um ‘ponto zero’ em comum haverá todos graus de recompensas bem como todos os graus de<br />

punições; e que a recompensa ou o castigo de uma pessoa serão, até determinada extensão, baseados na<br />

oportunidade que ela tenha tido neste mundo. Jesus Ele próprio declarou que no dia do julgamento, seria


mais tolerável para a cidade pagã de Sodoma que para aquelas cidades da Palestina, que ouviram a Sua<br />

mensagem mas a rejeitaram (veja em Lucas 10:12-14); e ele concluiu a parábola dos servos fiéis e infiéis<br />

com as palavras: “[47] O servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme<br />

a sua vontade, será castigado com muitos açoites; [48] mas o que não a soube, e fez coisas que<br />

mereciam castigo, com poucos açoites será castigado. <strong>Da</strong>quele a quem muito é dado, muito se lhe<br />

requererá; e a quem muito é confiado, mais ainda se lhe pedirá.”[Lucas 12:47, 48]. Então, enquanto os<br />

ateus, os pagãos (enfim, povos não alcançados pelo Evangelho) estão perdidos, eles deverão sofrer<br />

relativamente menos que aqueles que ouviram o Evangelho e o rejeitaram.<br />

Assim, com relação a esta questão das raças pagãs, os Arminianos estão, em muito, envolvidos em<br />

dificuldades que subvertem seu sistema por completo, dificuldades das quais eles nunca foram capazes<br />

de safarem-se. Eles admitem que somente em Cristo há salvação; todavia eles vêm que multidões<br />

morrem sem sequer haverem ouvido falar de Cristo ou do Evangelho. Ao sustentar que graça suficiente<br />

ou oportunidade devem ser proporcionadas a cada homem antes que ele seja condenado, muitos deles<br />

têm sido levados a postular uma provação futura, –– isto contudo não é o que a Bíblia advoga, mas é<br />

contrário às Sagradas Escrituras. Como Cunningham diz, “os Calvinistas têm sempre tido como um forte<br />

argumento contra as doutrinas Arminiadas da graça universal e da redenção universal, e em favor dos<br />

seus próprios pontos de vista dos soberanos propósitos de Deus; que, ponto pacífico, tão grande a porção<br />

da raça humana que tem sido sempre deixada em completa ignorância da misericórdia de Deus, e do<br />

caminho da salvação revelado no Evangelho; nem, em tais circunstâncias como, para todas as<br />

aparências, atirar obstáculos insuperáveis no seu caminho para alcançar aquele conhecimento de Deus e<br />

de Jesus Cristo, que é a vida eterna.” 23<br />

Somente no Calvinismo, com a sua doutrina da culpa e da corrupção de toda a humanidade através da<br />

queda, e sua doutrina da graça através da qual alguns são soberanamente resgatados e trazidos à salvação<br />

enquanto outros são deixados de lado, é que encontramos uma explicação adequada para o fenômeno do<br />

mundo pagão, do mundo ainda não alcançado pelo Evangelho.<br />

Propósitos do Decreto da Rejeição<br />

A condenação dos não eleitos é primariamente designada a fornecer uma exibição eterna, diante dos<br />

homens e dos anjos, da animosidade, do ódio de Deus com relação ao pecado, ou, em outras palavras, é<br />

uma manifestação eterna da justiça de Deus. (Deve ser recordado que a justiça de Deus tão certamente<br />

demanda o castigo do pecado, como demanda a recompensa da retidão.) Este decreto mostra um dos<br />

atributos divinos o qual, se separado daquele decreto, nunca seria apreciado adequadamente. A salvação<br />

de alguns através de um redentor destina-se a demonstrar os atributos do amor, da misericórdia e da<br />

santidade. Os atributos da sabedoria, do poder e da soberania são demonstrados no tratamento<br />

dispensado a ambos grupos. Assim é que a verdade do testemunho das Escrituras que, “O Senhor fez<br />

tudo para um fim; sim, até o ímpio para o dia do mal.”[Provérbios 16:4]; como também o testemunho de<br />

Paulo que este arranjo estava intencionado por um lado “para que também desse a conhecer as riquezas<br />

da sua glória nos vasos de misericórdia, que de antemão preparou para a glória.” por outro lado para<br />

“mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira,<br />

preparados para a perdição”[Romanos 9:23, 22]<br />

Este decreto da rejeição também serve para subordinar propósitos relacionados com os eleitos; pois, ao<br />

observar a rejeição e o estado final dos maus, (1) eles aprendem que eles também teriam sofrido, não<br />

tivesse a graça agido em seu cuidado; e eles entendem mais profundamente as riquezas do amor divino<br />

que os levantou do pecado e os trouxe para a vida eterna, enquanto outros não mais culpados um de


valor menor que eles foram deixados para a destruição eterna. (2) Provê um motivo muito poderoso para<br />

estarem gratos por haverem recebido tão altas bênçãos. (3) São levados a uma confiança mais profunda<br />

no Pai celeste que supre todas as suas necessidades nesta vida e na próxima. (4) A consciência do que<br />

eles têm recebido resulta na razão mais forte possível para que eles amem seu Pai celeste, e vivam vidas<br />

tão puras quanto possível. (5) Leva-os a um maior horror ao pecado. (6) Leva-os a caminharem mais<br />

próximos com Deus e uns com os outros, especialmente com aqueles herdeiros escolhidos do reino dos<br />

céus. (7) Quanto ao argumento da soberana rejeição dos Judeus, Paulo aniquila na fonte qualquer<br />

acusação de que eles foram deixados de fora sem razão. “Logo, pergunto: Porventura tropeçaram de<br />

modo que caíssem? De maneira nenhuma, antes pelo seu tropeço veio a salvação aos gentios, para os<br />

incitar à emulação.”[Romanos 11:11]. Assim, vemos que a rejeição por Deus, dos Judeus, teve um<br />

propósito muito sábio e definitivo; ou seja, que a salvação pudesse ser dada aos Gentios, e de maneira tal<br />

que reagiria para a salvação dos próprios Judeus. Historicamente, vemos que a Igreja Cristã tem sido<br />

quase que exclusivamente uma Igreja Gentia. Mas em cada era os Judeus têm sido convertidos ao<br />

Cristianismo, e cremos que com o passar do tempo, números muito maiores serão “provocados ao<br />

ciúme” (‘incitados à emulação’) e feitos com que se voltem a Deus. Vários versos no décimo primeiro<br />

capítulo da Epístola aos Romanos indicam que números consideráveis serão convertidos e que eles serão<br />

extremamente zelosos pela retidão.<br />

O Ataque Arminiano Central a Esta <strong>Doutrina</strong><br />

A doutrina da Rejeição é a que os Arminianos mais gostam de atacar. Eles costumeiramente a isolam e<br />

enfatizam-na como se ela fosse a essência e a substância do Calvinismo, enquanto que as outras<br />

doutrinas tais como a da Soberania de Deus, o puramente gracioso caráter da Eleição, a Perseverança dos<br />

santos, etc., as quais tanta glória dão a Deus, são deixadas de lado com pouco ou nenhum comentário.<br />

No Sínodo de Dort, os Arminianos insistiram em primeiro discutir o tema da Rejeição, e reclamaram<br />

como se fosse um grande sofrimento quando o Sínodo recusou-se a faze-lo. Até hoje, eles tem<br />

geralmente buscado esta mesma política. Seu objetivo é claro, pois eles sabem quão fácil é deturpar esta<br />

doutrina, bem como apresentá-la sob ótica tal que incitará preconceitos nos sentimentos dos homens<br />

contra ela. Eles usualmente distorcem os pontos de vista que são sustentados pelos Calvinistas, fazendo<br />

em seguida todas as alegações que podem contra a doutrina; eles argumentam que desde que não pode<br />

haver tal coisa como a Rejeição, tampouco pode haver coisa alguma como a Eleição. A ênfase injusta<br />

nesta doutrina indica qualquer coisa menos uma busca pela verdade, sincera e sem preconceitos. Quiçá<br />

eles tornassem-se para o lado positivo do sistema; quiçá eles argumentassem e considerassem a grande<br />

quantidade de evidências que foram coletadas em favor desse sistema teológico.<br />

Por outro lado, Calvinistas freqüentemente apresentam primeiro a evidência em favor da doutrina da<br />

Eleição e então, tendo estabelecido esta, eles mostram que o que eles sustentam com relação à doutrina<br />

da Rejeição ocorre naturalmente. Eles, de fato, não interpretam a segunda como sendo dependente da<br />

primeira exatamente pelas provas que ela apresenta. Eles crêem que ela é sustentada por provas<br />

independentes, nas Escrituras; eles todavia crêem que se o que eles sustentam com relação à doutrina da<br />

Eleição é provadamente verdadeiro, então o que eles sustentam com relação à doutrina da Rejeição<br />

seguirá a lógica necessária. Uma vez que as Escrituras nos dão mais informação acerca do que Deus faz<br />

ao produzir fé e arrependimento naqueles que estão salvos do que elas nos dão com relação ao Seu<br />

procedimento com relação àqueles que continuam impenitentes e descrentes, a razão demanda que<br />

investiguemos primeiro a doutrina da Eleição, e depois consideremos a doutrina da Rejeição. Esta última<br />

consideração nos mostra a injustiça interior dos Arminianos em dar tal proeminência à doutrina da<br />

Rejeição. Como já dito anteriormente, esta é admitidamente uma doutrina desagradável. Os Calvinistas<br />

não se retraem de discuti-la; ainda que naturalmente, por causa do seu caráter terrível, eles não


encontrem satisfação em argumentar a respeito dela. Eles também compreendem que aqui os homens<br />

devem ser particularmente cuidadosos para não serem tentados a serem mais sábios do que o que está<br />

escrito, uma vez que muitos são inclinados a fazerem o que lhes apetece em presunçosas especulações<br />

acerca de assuntos os quais estão muito elevados para eles.<br />

Sem Nenhuma Obrigação de Explicar Todas Estas Coisas<br />

Deve ser relembrado que estamos sob nenhuma obrigação de explicar todos os mistérios relacionados<br />

com estas doutrinas. Estamos somente sob a obrigação de estabelecer o que as Escrituras Sagradas<br />

ensinam com relação a elas, e vindicar tal ensinamento tanto quanto possível, desde as objeções que são<br />

alegadas contra as mesmas. O “Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado.”[Mateus 11:26, Lucas<br />

10:21], foi, para o nosso Senhor, um testemunho cabal e em si mesmo suficiente da Sua onipotência,<br />

face a todas diversas interações com os homens. A resposta única e suficiente que Paulo dá aos<br />

argumentadores vãos que penetrariam mais fundo nestes mistérios é que eles são resolvidos pela<br />

sabedoria e soberania divinas. Aqui, as palavras de Toplady são apropriadas de uma maneira especial:<br />

“Não digam, portanto, como os opositores dessas doutrinas o fizeram nos dias de Paulo: ‘Por que Deus<br />

acha falta no ímpio? Pois quem é capaz de resistir à Sua vontade? Se Ele, O único que pode converte-lo,<br />

não o faz, que razão há para culpar a eles, que perecem, sabendo ser impossível resistir à vontade do<br />

Onipotente?’ Satisfaçam-se com a resposta de Paulo, ‘Ó homem, quem és tu para replicar contra Deus?’.<br />

O apóstolo centraliza todo o tema, inteiramente, na absoluta soberania de Deus. É ali que ele o deposita;<br />

e é ali que deve permanecer.” 24<br />

O homem não pode mensurar a justiça de Deus através da sua própria compreensão; e a nossa modéstia<br />

deveria ser tal que quando os motivos para alguma das obras de Deus nos for encoberto, nós não<br />

obstante creiamos que Ele é justo. Se qualquer um pensar que esta doutrina representa a Deus com um<br />

Deus injusto, será somente porque ele não se dá conta do que é a doutrina Bíblica do Pecado Original,<br />

nem a que ele está comprometido, por intermédio dela. Deixe que ele pense sobre a existência de um<br />

motivo doentio, real, antecedente ao pecado real; e a condenação lhe parecerá justa e natural. <strong>Da</strong>do o<br />

primeiro passo, o segundo não apresentará realmente nenhuma dificuldade.<br />

É difícil compreendermos que muitos daqueles bem à nossa volta (em alguns casos nossos amigos<br />

chegados e mesmo parentes) estão provavelmente preordenados ao castigo eterno; e tanto quanto nos<br />

damos conta disso ficamos inclinados a nutrir certa simpatia por eles. Todavia, quando vista à luz da<br />

eternidade essa nossa simpatia pelos perdidos provará ter sido um sentimento não merecido e mal<br />

colocado. Aqueles que estão fatalmente perdidos serão então vistos como eles realmente são, inimigos<br />

de Deus, inimigos de toda a justiça, e amantes do pecado, sem qualquer desejo de salvação ou da<br />

presença do Senhor. Podemos ainda acrescentar que, desde que Deus é perfeitamente justo, ninguém será<br />

mandado para o inferno exceto aqueles que para lá merecem ir; e quando virmos seus reais caracteres,<br />

estaremos satisfeitos com o que Deus fez.<br />

A bem da verdade, os Arminianos não se safam de nenhuma dificuldade neste ponto. Pois desde que eles<br />

admitem que Deus tem o pré conhecimento de todas as coisas eles devem explicar por que Ele cria<br />

aqueles que ele ante vê que viverão vidas pecaminosas, rejeitarão o Evangelho, morrerão impenitentes, e<br />

sofrerão eternamente no inferno. Os Arminianos realmente têm um problema mais difícil do que os<br />

Calvinistas agora; pois os Calvinistas mantém que aqueles a quem Deus assim cria, sabendo que estarão<br />

perdidos, são os não eleitos que voluntariamente escolhem o pecado e em cujo merecido castigo Deus<br />

determina a manifestação da Sua justiça, enquanto que os Arminianos devem dizer que Deus<br />

deliberadamente cria aqueles a quem ele ante vê que serão criaturas pobres, tão miseráveis que sem


serventia para qualquer bom propósito trarão a destruição sobre si mesmos e passarão a eternidade no<br />

inferno, apesar do fato de que o Próprio Deus sinceramente deseja traze-los para o paraíso, e que Deus se<br />

entristecerá para sempre ao ver que eles estão onde Ele não desejava que estivessem. Será que isto não<br />

representa Deus como se agindo muito tolamente, ao trazer sobre Si próprio tal dissatisfação e sobre<br />

algumas de Suas criaturas miséria tal, enquanto Ele poderia, pelo menos, não havê-las criado, já que Ele<br />

mesmo anteviu que estariam perdidas?<br />

Talvez existam alguns que, ao ouvirem sobre a doutrina da <strong>Predestinação</strong>, colocar-se-ão no grupo dos<br />

rejeitados; e estarão inclinados a mergulhar fundo no pecado, com a desculpa de que já estão perdidos,<br />

de qualquer forma. Mas faze-lo é o mesmo que envenenar-se, é atirar-se de volta à Idade das Pedras.<br />

Ninguém tem o direito de julgar-se rejeitado nesta vida, e daí viver em desespero; pois a desobediência<br />

final (o único infalível sinal de rejeição) não pode ser descoberto até o momento da morte. Nenhuma<br />

pessoa não convertida nesta vida sabe ao certo se Deus não irá convertê-la e salvá-la, muito embora ela<br />

esteja ciente de que tal mudança ainda não aconteceu. Assim, ela não tem o direito de numerar-se, de<br />

colocar-se em definitivo no grupo dos não eleitos. Deus não nos disse quem entre os não convertidos ele<br />

ainda tem o propósito de regenerar e salvar. Se qualquer homem sente e ouve os gemidos angustiantes da<br />

sua consciência, estes podem muito bem ser os próprios meios que Deus está usando para chamá-lo.<br />

Utilizamos um espaço considerável para a discussão da doutrina da Rejeição, porque tem sido<br />

impedimento e bloqueio à compreensão para muitos daqueles que rejeitam o sistema teológico<br />

Calvinista. Nós cremos que se esta doutrina puder ser provada Bíblica e razoável, as demais partes do<br />

sistema serão prontamente aceitas.<br />

6. INFRALAPSARIANISMO E SUPRALAPSARIANISMO<br />

Entre aqueles que a si mesmos chamam-se Calvinistas tem freqüentemente havido diferenças de opinião<br />

sobre a ordem dos eventos no plano Divino. A questão aqui é a seguinte, Quando os decretos de eleição<br />

e de rejeição vieram a existir os homens eram considerados como caídos ou como não caídos? Os<br />

objetos desses decretos foram contemplados como membros de uma massa corrupta e pecadora, ou<br />

foram contemplados meramente como homens a quem Deus criaria? De acordo com o ponto de vista do<br />

“infralapsarianismo” a ordem dos eventos foi a seguinte: Deus propôs (1) criar; (2) permitir a queda; (3)<br />

eleger dessa massa de homens caídos uma multidão para a vida eterna e bênçãos; e deixar outros, como<br />

Ele deixou o Diabo e os anjos caídos, para sofrer o justo castigo por seus pecados; (4) dar o Seu Filho,<br />

Jesus Cristo, para a redenção dos eleitos; e (5) enviar o Espírito Santo para aplicar aos eleitos a redenção<br />

que havia sido comprada por Cristo. De acordo com o ponto de vista “supralapsariano” a ordem dos<br />

eventos foi a seguinte: (1) eleger alguns homens ‘criáveis’ (isto é, homens que seriam criados) para a<br />

vida e condenar outros para a destruição; (2) criar; (3) permitir a queda; (4) enviar Cristo para redimir os<br />

eleitos; e (5) enviar o Espírito Santo para aplicar tal redenção aos eleitos. A questão agora é quanto a se a<br />

eleição precede a queda.<br />

Um dos principais motivos no esquema “supralapsariano” é enfatizar a idéia da discriminação e forçar<br />

esta idéia. No veio da natureza do caso, esta idéia não pode ser consistentemente levada a efeito, por<br />

exemplo, na criação, e especialmente na queda. Não foram meramente alguns dos membros da raça<br />

humana que foram objetos do decreto da criação, mas toda a espécie humana, e isto com a mesma<br />

natureza. E não foi meramente a alguns homens, mas toda a raça, a quem foi permitida a queda. O<br />

“supralapsarianismo” vai em frente até o extremo, de um lado, como o faz o “universalismo”, de outro.<br />

Somente o esquema “infralapsariano” é em si consistente com outros fatos.


Com relação a esta diferença, o Dr. Warfield escreve: “O mero colocar da questão parece trazer consigo<br />

a resposta. Pois o que está em questão é o tratamento real dispensado aos homens, que é igual para<br />

ambas classes; aqueles que são eleitos e aqueles que são deixados de lado, condicionados em pecado.<br />

Não se pode falar de salvação mais do que de rejeição sem postular o pecado. O pecado é<br />

necessariamente precedente em pensamento. Na realidade, não até a idéia abstrata da percepção, mas ao<br />

instante concreto da percepção, que está em questão; a percepção relacionada a um destino, que envolve<br />

ou salvação ou castigo. Deve haver pecado em intenção, para fundamentar um decreto de salvação, tão<br />

verdadeiramente quanto um decreto de punição. Não se pode falar de um decreto referente à salvação e<br />

castigo, que seja discriminatório entre homens, portanto; sem postular a intenção dos homens como<br />

pecadores, de acordo com a lógica original do decreto.” 25<br />

E no mesmo sentido o Dr. Charles Hodge diz: “É um princípio Bíblico claramente revelado, que onde<br />

não há pecado não há condenação ... Ele teve misericórdia para um e não para com outro, conforme a<br />

Sua própria vontade, porque todos são igualmente pecadores e culpados . . . Em todo lugar, como em<br />

Romanos 1:24, 26, 28, a rejeição é declarada ser judicial, baseada na pecaminosidade do que é rejeitado.<br />

De outra forma não seria uma manifestação da justiça de Deus.” 26<br />

Não está em harmonia com as idéias de Deus conforme mostradas na Bíblia, que homens inocentes,<br />

homens que não são contemplados como pecadores, estivessem pré ordenados para a miséria e morte<br />

eternas. Não se deveria estudar o decreto relacionado com os salvos e os perdidos baseado somente em<br />

soberania abstrata. Deus é verdadeiramente soberano, mas esta soberania não é exercida de maneira<br />

arbitrária. Antes, é uma soberania exercida em harmonia com os Seus outros atributos, especialmente a<br />

Sua justiça, a Sua santidade e a Sua sabedoria. Deus não peca; e nesse respeito Ele é limitado, embora<br />

fosse mais acurado falar da sua incapacidade de pecar como sendo uma perfeição. Há, é claro, mistério<br />

relacionado com qualquer um dos sistemas, mas o sistema “Supralapsariano” parece ir além do mistério,<br />

e na contradição.<br />

As Escrituras Sagradas são praticamente “infralapsarianas”, –– os Cristãos são ditos terem escolhidos<br />

“do” mundo (veja em João 15:19 = “Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque<br />

não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia”); o oleiro tem o<br />

direito sobre o barro (veja em Romanos 9:21 = “Ou não tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma<br />

massa fazer um vaso para uso honroso e outro para uso desonroso?”); e os eleitos e não eleitos são<br />

reputados com estando originalmente num estado comum de miséria. Sofrer e morrer estão<br />

uniformemente representados como os salários do pecado. O esquema “infralapsariano” naturalmente a<br />

si mesmo relaciona-se com as nossas idéias de justiça e de misericórdia, e ao menos é isento da objeção<br />

Arminiana de que Deus simplesmente cria alguns homens para danação. Agostinho e a grande maioria<br />

daqueles que têm sustentado a doutrina da eleição desde a sua promulgação foram e são<br />

“infralapsarianos”, –– quer dizer, eles crêem que foi da massa de homens caídos que alguns foram<br />

eleitos para a vida eterna, enquanto que outros foram sentenciados à morte eterna em razão dos seus<br />

pecados. Não há nenhuma confissão <strong>Reformada</strong> que ensine o ponto de vista “supralapsariano”; mas por<br />

outro lado, um número considerável ensina abertamente a visão “infralapsariana”, que assim emerge<br />

como a forma típica do Calvinismo. Até os dias de hoje é provavelmente dizer que não mais que um<br />

Calvinista dentre cem sustenta a visão “supralapsariana”. Nós somos Calvinistas o bastante, mas não<br />

somos “altos Calvinistas”. O termo “alto Calvinista” aplica-se àquele que sustenta a visão<br />

“supralapsariana”.<br />

É sem dúvida verdadeiro que a escolha soberana de Deus está disseminada em qualquer dos sistemas e a<br />

salvação como um todo é obra de Deus. Os oponentes usualmente enfatizam o sistema<br />

“supralapsariano”, por ser o que, sem explicação, é mais provável de vir a conflitar com os sentimentos e


as impressões naturais do homem. Também é verdadeiro que há algumas coisas que não podem ser<br />

formatadas no tempo, –– que estes eventos não estão na mente Divina como encontram-se na nossa<br />

mente, por uma sucessão de atos, um após outro, mas que por um único ato Deus ordenou, todas essas<br />

coisas de uma só vez. Na mente Divina o plano é uno, cada parte do qual constituída com referência a<br />

um estado de fatos, os quais intencionados por Deus, como sendo resultados das outras partes. Todos<br />

esses decretos são eternos. Eles têm uma relação lógica, mas não cronológica. Todavia, de maneira a<br />

podermos raciocinar inteligentemente sobre eles, devemos ter nossos pensamentos numa certa ordem.<br />

Nós, muito naturalmente, temos a opinião de que a dádiva de Cristo, em santificação e em glorificação,<br />

foi posterior aos decretos da criação e da queda.<br />

Com relação ao ensinamento da Confissão de Westminster, o Dr. Charles Hodge faz o seguinte<br />

comentário: “Twiss, presidente oficial daquele corpo venerável (a Assembléia de Westminster), era um<br />

“supralapsariano” zeloso; a grande maioria de seus membros, contudo, estavam do outro lado. Os<br />

símbolos daquela Assembléia, enquanto claramente implicando numa visão “infralapsariana”, foram<br />

todavia tão emoldurados de maneira a evitar qualquer ofensa àqueles que adotaram a teoria<br />

“supralapsariana”. Na ‘Confissão de Westminster’, é dito que Deus apontou os eleitos para a vida eterna,<br />

e o restante da espécie humana, a Deus pareceu bem, conforme o inescrutável conselho da Sua própria<br />

vontade, através do qual Ele estende ou retrai a misericórdia conforme Lhe apraz, para a glória do Seu<br />

soberano poder sobre as Suas criaturas, deixar de lado, e ordená-los à desonra e à ira pelo seu pecado,<br />

para o louvor da Sua gloriosa justiça: Neste ponto é ensinado que aqueles a quem Deus deixa de lado são<br />

‘o resto da espécie humana; não o restante de ideais ou homens possíveis, mas o restante daqueles seres<br />

humanos que constituem a espécie humana, ou a raça humana. Em segundo lugar, a passagem cotada<br />

mostra e ensina que os não eleitos são deixados de lado e ordenados à ira ‘pelo seu pecado’. Isto implica<br />

que eles foram contemplados como cheios de pecado antes desta pré ordenação para julgamento. A visão<br />

“infralapsariana” é assumida ainda mais obviamente na resposta às questões 19ª e 20ª no ‘Pequeno<br />

Catecismo’. Ali é ensinado que toda a humanidade perdeu comunicação com Deus quando da queda, e<br />

que está desde então sob a Sua ira e maldição, e que Deus, do Seu próprio beneplácito elegeu alguns<br />

(alguns daqueles sob a Sua ira e maldição), para a vida eterna. Tal tem sido a doutrina da grande massa<br />

de Agostinianos, desde o tempo de Agostinho até os dias de hoje.” 27<br />

7. MUITOS SÃO ESCOLHIDOS<br />

Quando a doutrina da Eleição é mencionada muita gente imediatamente assume que ela significa que a<br />

grande maioria da humanidade estará perdida. Mas por que alguém deveria chegar a tal conclusão? Deus<br />

é livre, na eleição, para escolher tantos quantos Lhe aprouver, e nós cremos que Ele, que é infinitamente<br />

misericordioso e benevolente e santo escolherá a grande maioria para a vida. Não há uma boa razão pela<br />

qual Ele devesse limitar-se a uns poucos somente. Nos é dito que Cristo terá a preeminência em todas as<br />

coisas, e nós não cremos que ao Diabo será permitido emergir vitorioso, mesmo em números.<br />

O nosso posicionamento neste respeito foi mui habilmente apresentado pelo Dr. W. G. T. Shedd nas<br />

seguintes palavras: “Note-se que a questão ‘quantos estão eleitos e quantos estão rejeitados’, não tem<br />

nada a ver com a questão ‘se Deus pode eleger ou rejeitar pecadores’. Se estiver intrinsecamente correto<br />

para Ele eleger ou não eleger, salvar ou não salvar aqueles ‘agentes morais livres’ que, por sua própria<br />

falta atiraram-se no pecado e na ruína, números não são importantes para estabelecer-se estatística<br />

correta. E se estiver intrinsecamente errado, números não são importantes para estabelecer-se estatística<br />

errada. Nem tampouco há qualquer necessidade de que o número dos eleitos seja pequeno, e<br />

consequentemente o de não eleitos seja grande, ou vice versa. A eleição e a não eleição, assim como os<br />

números dos eleitos e dos não eleitos são ambos um assunto da soberania e decisão opcional. Ao mesmo<br />

tempo, alivia a solenidade e o horror que pairam sobre o decreto da rejeição, ao lembrar que as Escrituras


Sagradas ensinam que o número dos eleitos é muito maior que o dos não eleitos. O reino do Redentor<br />

neste mundo caído é sempre descrito como muito maior e grandioso que o de Satã. A operação da graça<br />

na terra é uniformemente representada como mais poderosa que a do pecado. ‘Onde abunda o pecado, a<br />

graça superabundou.’ E o número final dos redimidos é dito ser um ‘número o qual nenhum homem<br />

pode contar,’ mas o (número) dos perdidos não é tão magnificado e enfatizado.” 28<br />

Há, no entanto, uma prática muito comum entre os escritores Arminianos, de representar os Calvinistas<br />

como tendendo a consignar à miséria eterna uma grande parte da raça humana, que eles admitiriam às<br />

glórias do céu. É uma mera caricatura do Calvinismo, representá-lo como se baseado no princípio que os<br />

salvos serão somente um punhado, ou uns poucos arrancados das chamas. Quando os Calvinistas<br />

insistem na doutrina da Eleição, sua ênfase reside no fato de que Deus lida pessoalmente com cada alma<br />

individual, ao invés de simplesmente lidar com a humanidade como um todo; e é algo totalmente à parte<br />

da proporção relativa que deve existir entre os salvos e os perdidos. Em resposta àqueles que são<br />

inclinados a dizer, “De acordo com esta doutrina somente Deus pode salvar a alma; haverá poucos<br />

salvos,” responder que a sua ponderação poderia muito bem ser, “Uma vez que somente Deus pode criar<br />

estrelas, pode haver somente poucas estrelas.” A objeção não é muito bem aceita. A doutrina da Eleição<br />

em si mesma não nos diz nada a respeito do que deverá ser a proporcionalidade no final. O único limite<br />

estabelecido é o de que nem todos serão salvos.<br />

Tanto quanto diz respeito aos princípios de soberania e de eleição pessoal, não há razão por que um<br />

Calvinista não deva sustentar que todos os homens serão finalmente salvos; e alguns Calvinistas têm na<br />

verdade sustentado este ponto de vista. “O Calvinismo”, escreveu W. P. Patterson, da Universidade de<br />

Edinburgh, “é o único sistema teológico que contém princípios –– nas suas doutrinas da eleição e da<br />

graça irresistível –– que poderia dar credibilidade à uma teoria de salvação universal.” E o Dr. S. G.<br />

Craig, Editor da revista ‘Cristianismo Hoje’, e um dos mais destacados homens na Igreja Presbiteriana<br />

da atualidade, diz que “Sem dúvida que muitos Calvinistas, assim como muitos não Calvinistas, têm, em<br />

obediência aos supostos ensinamentos das Escrituras, sustentado que poucos serão salvos, mas não há<br />

nenhuma boa razão pela qual os Calvinistas não possão crer que os salvos serão, em última instância, a<br />

imensa maioria da raça humana. De qualquer forma, os nossos mais importantes teólogos –– Charles<br />

Hodge, Robert L. <strong>Da</strong>bney, W. G. T. Shedd e B. B. Warfield –– assim têm se manifestado.”<br />

Como citado por Peterson, o Calvinismo, com a sua ênfase na relação pessoal e íntima entre Deus e cada<br />

alma individualmente, é o único sistema teológico que ofereceria uma base para o universalismo, não<br />

fosse tal ponto de vista contraditório com as Sagradas Escrituras. E em contrasto com isto, não deveria<br />

então o Arminiano admitir que, comparativamente de acordo com os seus princípios, somente alguns<br />

poucos seriam realmente salvos? Ele deve admitir que na história humana, uma grande proporção de<br />

adultos, mesmo em paragens nominalmente Cristãs, no exercício do seu “livre arbítrio” com uma<br />

“habilidade graciosamente restaurada” têm morrido sem aceitar a Cristo. E a menos que Deus esteja<br />

trazendo o mundo para um destino já apontado, que bases existem para supor-se que, tanto quanto a<br />

natureza humana permanecer como está, a situação seria materialmente diferente, mesmo que o mundo<br />

durasse ainda hum bilhão de anos?<br />

8. UM MUNDO OU UMA RAÇA REDIMIDA<br />

Uma vez que foi o mundo, ou a raça humana, que caiu em Adão, foi também o mundo, ou a raça humana<br />

que foi redimida por Cristo. Isto, contudo, não significa que cada indivíduo será salvo, mas que a raça<br />

como raça será salva. Deus Jeová não é uma mera deidade tribal, mas é “O Deus de toda a terra”; e a


salvação que Ele teve em mente não pode estar limitada a um pequeno e seleto grupo, ou a poucos<br />

favorecidos. O Evangelho não foi meramente um ‘jornaleco’ para umas poucas vilas e cidades na<br />

Palestina, mas foi uma mensagem mundial; e o testemunho abundante e constante da Bíblia é que o reino<br />

de Deus encherá a terra, “...o seu domínio se estenderá de mar a mar, e desde o Rio até as extremidades<br />

da terra.”[Zacarias 9:10]<br />

No começo, no Antigo Testamento, temos a promessa de que “...a glória do Senhor encherá toda a<br />

terra,”[Números 14:21]; e Isaías repete a promessa de que toda a carne verá a glória de Jeová [veja em<br />

Isaías 40:5: “A glória do Senhor se revelará; e toda a carne juntamente a verá; pois a boca do Senhor o<br />

disse.”]. Israel foi chamado de ‘luz para os Gentios’ [“Sim, diz ele: Pouco é que sejas o meu servo, para<br />

restaurares as tribos de Jacó, e tornares a trazer os preservados de Israel; também te porei para luz das<br />

nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra.”(Isaías 49:6)] e ‘para a salvação da terra’<br />

[“porque assim nos ordenou o Senhor: Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação<br />

até os confins da terra.”(Atos 13:47)]. Joel declarou abertamente que nos dias de bênção vindouros, o<br />

Espírito então dado somente a Israel seria derramado sobre toda a terra. “Acontecerá depois que<br />

derramarei o meu Espírito sobre toda a carne...”[Joel 2:28]; e Pedro aplicou a profecia ao derramamento<br />

que iniciou-se no Pentecostes [“Mas isto é o que foi dito pelo profeta Joel”(Atos 2:16)].<br />

Ezequiel nos dá o retrato do fluxo crescente de águas curadoras que vertem de sob a soleira do templo,<br />

águas que estavam primeiro à altura dos tornozelos, depois dos joelhos, então dos quadris e em seguida<br />

um grande rio, águas que não se podiam atravessar {“(1) Depois disso me fez voltar à entrada do templo;<br />

e eis que saíam umas águas por debaixo do limiar do templo, para o oriente; pois a frente do templo dava<br />

para o oriente; e as águas desciam pelo lado meridional do templo ao sul do altar. (2) Então me levou<br />

para fora pelo caminho da porta do norte, e me fez dar uma volta pelo caminho de fora até a porta<br />

exterior, pelo caminho da porta oriental; e eis que corriam umas águas pelo lado meridional. (3) Saindo o<br />

homem para o oriente, tendo na mão um cordel de medir, mediu mil côvados, e me fez passar pelas<br />

águas, águas que me davam pelos artelhos. (4) De novo mediu mil, e me fez passar pelas águas, águas<br />

que me davam pelos joelhos; outra vez mediu mil, e me fez passar pelas águas, águas que me davam<br />

pelos lombos. (5) Ainda mediu mais mil, e era um rio, que eu não podia atravessar; pois as águas tinham<br />

crescido, águas para nelas nadar, um rio pelo qual não se podia passar a vau.”[Ezequiel 47:1-5]}. A<br />

interpretação de <strong>Da</strong>niel para o sonho do Rei Nabucodonosor nos ensina a mesma verdade. O rei viu uma<br />

grande imagem, com várias partes em ouro, prata, bronze, ferro e barro. Então ele viu uma pedra cortada<br />

ser cortada sem o auxílio de mãos, pedra esta que feriu a estátua de modo que o ouro, a prata, o bronze, o<br />

ferro e o barro foram esmiuçados e levados pelo vento sem que se pudesse deles achar qualquer vestígio.<br />

Estes vários elementos representavam os grandes impérios do mundo, que seriam despedaçados e<br />

completamente varridos, enquanto que a pedra cortada sem o auxílio de mãos representava um reino<br />

espiritual que o Próprio Deus estabeleceria e que se tornaria uma grande montanha e encheria toda a<br />

terra. “Mas, nos dias desses reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; nem<br />

passará a soberania deste reino a outro povo; mas esmiuçará e consumirá todos esses reinos, e subsistirá<br />

para sempre.”[<strong>Da</strong>niel 2:44]. À luz do Novo Testamento, vemos que este reino era aquele que Cristo<br />

estabeleceu. Na visão que <strong>Da</strong>niel teve, a besta guerreou com os santos e prevaleceu, ainda, por um<br />

tempo, –– mas, até que “...chegou o tempo em que os santos possuíram o reino.”[<strong>Da</strong>niel 7:22].<br />

Jeremias transmitiu a promessa de que o tempo vem quando “...não ensinarão mais cada um a seu<br />

próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o<br />

menor deles até o maior, diz o Senhor...”[Jeremias 31:34]. O salmista escreveu “Pede-me, e eu te darei<br />

as nações por herança, e as extremidades da terra por possessão”[Salmo 2:8]. O último livro do Antigo<br />

Testamento contém a promessa que “Mas desde o nascente do sol até o poente é grande entre as nações o<br />

meu nome; e em todo lugar se oferece ao meu nome incenso, e uma oblação pura; porque o meu nome é<br />

grande entre as nações, diz o Senhor dos exércitos.”[Malaquias 1:11]


Encontramos no Novo Testamento o mesmo ensino. Quando o Senhor finalmente mandar chuvas de<br />

bênçãos espirituais para o Seu povo, “o resto dos homens” e “todos os Gentios” “busquem ao Senhor”<br />

(veja em Atos 15:17). “E Ele (Cristo) é a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos,<br />

mas também pelos de todo o mundo.”[I João 2:2]. E ainda, “(16) Porque Deus amou o mundo de tal<br />

maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida<br />

eterna. (17) Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o<br />

mundo fosse salvo por ele.”[João 3:16, 17]. E depois, “...o Pai enviou seu Filho como Salvador do<br />

mundo.”[I João 4:14] ; “...Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.”[João 1:29] ; “...nós<br />

mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo.”[João 4:24] ; “...Eu<br />

sou a luz do mundo...”[João 8:12] ; “...Eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.”[João<br />

12:47] ; “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a Mim.”[João 12:32] ; “...Deus estava em<br />

Cristo reconciliando consigo o mundo...”[II Coríntios 5:19]. Acerca do reino dos céus, é dito ser<br />

“...semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até ficar tudo<br />

levedado.”[Mateus 13:33]<br />

No décimo primeiro capítulo da Carta de Paulo aos Romanos, ele escreve que a aceitação do Evangelho<br />

pelos Judeus será como “vida dentre os mortos” em suas bênçãos espirituais para o mundo. Através da<br />

sua queda o Evangelho foi dado aos Gentios – “Ora se o tropeço deles é a riqueza do mundo, e a sua<br />

diminuição a riqueza dos gentios, quanto mais a sua plenitude!” . . . . “Porque, se a sua rejeição é a<br />

reconciliação do mundo, qual será a sua admissão, senão a vida dentre os mortos?”. O domínio<br />

universal e completo de Cristo é ensinado novamente, quando somos ditos que Ele está sentado à direita<br />

de Deus Pai até que todos os inimigos tenham sido postos sob os Seus pés.<br />

Assim, forte ênfase é aplicada na universalidade da obra redentora de Cristo, e nos é ensinado que nossos<br />

olhos ainda verão um mundo Cristianizado. E, desde que nada é mencionado com relação a quanto<br />

tempo a terra continuará a existir após aquele objetivo ter sido alcançado, possivelmente podemos<br />

esperar uma “era dourada” de prosperidade espiritual, continuadamente por séculos, ou mesmo milênios,<br />

durante qual tempo o Cristianismo triunfará em toda a terra, e durante qual tempo uma grande proporção<br />

mesmo de adultos será salva. Parece que o número dos redimidos será multiplicado até que em muito<br />

ultrapasse o número dos perdidos.<br />

Não podemos, é claro, fixar nem mesmo uma data aproximada para o fim do mundo. Em vários lugares<br />

na Bíblia nos é dito que Cristo voltará no fim desta presente ordem mundial, que a Sua vinda será<br />

pessoal, visível, e em grande poder e glória, que a ressurreição geral e o julgamento geral então terão<br />

lugar; e que o céu e o inferno então virão a existir em sua plenitude. Mas também tem sido<br />

expressamente revelado que o temo da vinda do nosso Senhor permanece “entre as coisas secretas que<br />

pertencem ao Senhor nosso Deus.” “Pois quanto àquele dia ninguém sabe, nem mesmo os anjos no céu<br />

nem o Filho, mas somente o Pai,” disse Jesus antes da Sua crucificação; e depois da Sua ressurreição Ele<br />

disse, “A vós não vos compete saber os tempos ou as épocas, que o Pai reservou à sua própria<br />

autoridade.”[Atos 1:7]. Portanto, aqueles que atrevem-se a vaticinar quando será o fim do mundo,<br />

simplesmente falam sem conhecimento. À vista do fato de que já transcorreram 2.000 anos desde que<br />

Cristo veio ao mundo pela primeira vez, pode ser, tanto quanto sabemos e conhecemos, que outros 2.000<br />

anos transcorrerão até que ele retorne, –– talvez muito mais tempo, talvez muito menos que isso.<br />

Neste aspecto, o Dr. S. G. Craig disse: “Sabemos que certos eventos, tais como a pregação do Evangelho<br />

entre todas as nações (veja em Mateus 24:14), a conversão dos Judeus (veja em Romanos 11:25-27), a<br />

queda de ‘todo domínio e toda autoridade e poder’ que sejam opositores de Cristo (veja em I Coríntios<br />

15:24); ocorrerão antes do retorno do nosso Senhor. Parece claro, portanto, que enquanto o tempo do


etorno do nosso Senhor não é conhecido, ainda assim tal fato permanece um tanto quanto distante no<br />

futuro. Quanto mais ainda no futuro, não temos como saber. Sem dúvida, se os eventos moverem-se tão<br />

lentamente no futuro como moveram-se no passado, a vinda do nosso Senhor dar-se-á num futuro<br />

distante. Mas tendo em vista, contudo, que acontecimentos movem-se muito mais rapidamente que os<br />

que já se passaram, tanto quanto o que antigamente demorava séculos para ser conseguido, para ser<br />

alcançado, atualmente é alcançado, conseguido somente em poucos anos; é possível que o retorno de<br />

Cristo esteja para ocorrer então num futuro comparativamente próximo. Se futuro próximo ou remoto<br />

como medido na escala humana, podemos estar certos de que acontecerá num futuro próximo, conforme<br />

medido pela escala de Deus, para quem mil anos são como um dia somente. Contudo, nas presentes<br />

condições, parece haver pouco ou nada nas Escrituras Sagradas que garanta a noção de que Jesus<br />

retornará dentro do período de vida desta geração.” 29<br />

O mundo talvez ainda seja jovem. Certamente Deus não nos deu nenhuma exibição do que ele pode fazer<br />

com um mundo verdadeiramente convertido à retidão e justiça. O que temos visto parece ser somente o<br />

estágio preliminar, uma vitória temporária do diabo, cuja obra será completamente derrotada. A obra de<br />

Deus estende-se através dos séculos. Mesmo os milênios são insignificantes para Aquele que habita a<br />

eternidade. Quando associamos nossa teologia com nossa astronomia, vemos que Deus opera em uma<br />

incrivelmente vasta escala. Ele criou e estabeleceu milhões, mesmo bilhões talvez, de flamejantes sóis<br />

em todo o universo, –– algo como dez milhões já foram catalogados. Os astrônomos nos contam, por<br />

exemplo, que a terra encontra-se a 92.000.000 milhas (algo em torno de 147.200.000 Km – n.t.) de<br />

distância do sol e que a luz, viajando à velocidade de 300.000 Km por segundo leva somente oito<br />

minutos para atravessar aquela distância. Eles vão além, ao dizer que a estrela fixa mais próxima<br />

encontra-se tão longe que são necessários quatro anos para que a luz dela chegue até nós; que o brilho, a<br />

luz da estrela polar que hoje vemos esteve a caminho durante 450 anos. À vista do que a ciência moderna<br />

revela, podemos perceber que o período de tempo durante o qual o homem tem vivido na terra é<br />

comparativamente insignificante. Para a raça humana, Deus pode ter reservado desenvolvimentos tais<br />

que poderão ser assombrosos, –– desenvolvimentos dos quais não podemos sequer remotamente<br />

sonhar.<br />

9. A VASTA MULTIDÃO DOS REDIMIDOS<br />

O decreto do amor de Deus, que elege e que predestina, embora discriminativo e particular, é, não<br />

obstante, muito extensivo. “...vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações,<br />

tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com<br />

palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono e ao<br />

Cordeiro...”[Apocalipse 7:9, 10]. Deus o Pai elegeu milhões incontáveis da raça humana para a salvação<br />

e gozo eternos. Apenas que proporção da família humana Ele incluiu em Seu propósito de misericórdia,<br />

nós não sabemos; mas, à vista dos dias futuros de prosperidade que estão prometidos à Igreja, pode-se<br />

inferir que a maior parte deles serão eventualmente encontrados entre o número dos Seus eleitos.<br />

No capítulo dezenove do Livro do Apocalipse escrito pelo apóstolo João, está relatada uma visão que<br />

mostra em termos figurativos a luta entre as forças do bem e do mal, no mundo. Com relação àquela<br />

descrição, o Dr. Warfield diz: “A seção abre-se com uma visão da vitória da Palavra de Deus, o Rei dos<br />

Reis e Senhor dos Senhores sobre todos os Seus inimigos. Nós O vemos chegar do céu em um corcel de<br />

guerra, seguido pelos exércitos do céu; as aves que voam no céu são convocadas para a festa de<br />

cadáveres que será preparada para elas; os exércitos do inimigo –– os animais e os reis da terra –– estão<br />

reunidos contra Ele e são totalmente destruídos; e todas as aves se fartaram da sua carne (Ap 19:11-21).


Temos aqui um retrato vívido de uma vitória completa, uma conquista por inteiro; e o cenário de guerra<br />

e batalha é usado para dar vida a tal retrato. Este é o símbolo. O que está simbolizado é obviamente a<br />

vitória completa do Filho de Deus sobre todas as hostes de perversos. Somente um único traço deste<br />

significado é proporcionado pela linguagem descritiva, mas é o bastante. Em duas ocasiões somos<br />

cuidadosamente informados que a através da qual a vitória é conquistada procede da boca do<br />

conquistador (versículos 15 e 21). Não devemos pensar, enquanto lemos, num combate manual ou numa<br />

guerra literal, portanto; a conquista é alcançada pela palavra falada –– em resumo, pela pregação do<br />

Evangelho. Ou seja, temos diante de nós uma figura da carreira vitoriosa do Evangelho de Cristo no<br />

mundo. Todo imaginativo da batalha ferrenha e seus detalhes sangrentos são mostrados para dar-nos a<br />

impressão exata de quão completa é a vitória. O Evangelho de Cristo vai conquistar a terra; Ele vencerá<br />

a todos os Seus inimigos.” 30<br />

Para nós que vivemos entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, é dado a conhecer o palco da batalha.<br />

Não nos é dito, contudo, quanto tempo levará até que seja coroada com a vitória, ou quanto tempo o<br />

mundo convertido esperará a vinda do Senhor. Hoje vivemos num período que é relativamente dourado<br />

se comparado com o primeiro século da era Cristã, e este progresso deve perdurar até que aqueles que<br />

viverem nesta terra presenciem um cumprimento prático da oração, “Venha o Teu reino, seja feira a Tua<br />

vontade assim na terra como no Céu.” Quando temos uma visão mais ampla da maneira graciosa de<br />

Deus lidar com o mundo pecador, vemos também que Ele não distribuiu a graça da Sua eleição com a<br />

mão fechada, mas que o Seu propósito foi o da restauração do mundo todo para Si.<br />

A promessa foi feita a Abraão que a sua posteridade seria uma vasta multidão, –– “que deveras te<br />

abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na<br />

praia do mar ...”[Gênesis 22:17]; “Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se<br />

alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência.”[Gênesis 13:16]. E no<br />

Novo Testamento descobrimos que esta promessa refere-se não meramente aos Judeus como um povo<br />

separado, mas que aqueles que são Cristãos estão no mais alto conceito de verdadeiros “filhos de<br />

Abraão”. “Sabeis, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão”; e de novo, “E, se sois de Cristo,<br />

também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa.”[Gálatas 3:7, 29].<br />

Isaías declarou que a vontade de Jeová prosperaria nas mãos do Messias, que Ele veria o trabalho penoso<br />

de Sua alma e ficaria satisfeito. E em vista do que Ele sofreu no Calvário nós sabemos que Ele não seria<br />

facilmente satisfeito.<br />

A idéia de que o número dos salvos em muito superará o dos perdidos também é mostrado nos contrastes<br />

encontrados na linguagem das Escrituras. O Céu é uniformemente retratado como o próximo mundo,<br />

como um grande reino, um país, uma cidade, enquanto que por outro lado o inferno é uniformemente<br />

representado como um lugar comparativamente pequeno, uma prisão, um lago (de fogo e enxofre), uma<br />

vala (funda, talvez, mas estreita), (vide Lucas 20:35; I Timóteo 6:17; Apocalipse 21:1, Mateus 5:3;<br />

Hebreus 11:16; I Pedro 3:19; Apocalipse 19:20; 20:10, 14, 15; 21:8-27). Quando os anjos e os santos são<br />

mencionados na Bíblia, é dito estarem em hostes, miríades, uma multidão inumerável, dez mil vezes dez<br />

mil e milhares de milhares mais; mas tais figuras de linguagem não são nunca usadas com relação aos<br />

perdidos, e por contraste o seu número parece ser relativamente insignificante (Lucas 2:13; Isaías 6:3;<br />

Apocalipse 5:11). “O círculo da eleição de Deus,” diz Shedd, “é um grande círculo dos céus e não o de<br />

uma moenda. O reino de Satã é insignificante em contraste com o reino de Cristo. Na imensa amplidão<br />

do domínio de Deus, o bem é a regra, e o mal é a exceção. O pecado é um ponto na brancura da<br />

eternidade; uma mancha no sol. O inferno é somente um canto do universo.”


A julgar por estas considerações então parece (se pudermos arriscar um palpite) que o número daqueles<br />

que são salvos pode eventualmente ser de proporção tal para o número daqueles que estão perdidos<br />

como o número de cidadãos livres em nossas comunidades hoje em dia tem para com o número daqueles<br />

que estão em prisões e penitenciárias; ou que a companhia dos salvos pode ser comparada às árvores que<br />

crescem e florescem, enquanto que os perdidos comparam-se aos ramos e gravetos que são cortados fora<br />

e que queimam nas fogueiras. Quem mesmo entre os não Calvinistas não gostaria que isto fosse<br />

verdade?<br />

Mas, pode ser questionado, será que os versículos, “...estreita é a porta, e apertado, o caminho que<br />

conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela,” e, “...muitos são chamados, mas poucos,<br />

escolhidos.” [Mateus 7:14; 22:14] ensinam que muitos mais são perdidos do que salvos? Nós cremos que<br />

tais versículos intencionavam serem compreendidos num sentido temporal, como descrevendo as<br />

condições que Jesus e os Seus discípulos encontraram na Palestina em sua época. A grande maioria das<br />

pessoas ao seu redor não estavam trilhando caminhos de justiça e retidão, e as palavras são proferidas<br />

muito mais do ponto de vista do momento do que do ponto de vista do Dia do Julgamento ainda distante.<br />

Nessas palavras é nos apresentado um quadro que era verdadeiro para a vida como eles a viam, e que<br />

descreveria, naquele sentido, o mundo como tem sido mesmo até os dias de hoje. “Mas”, pergunda o Dr.<br />

Warfield, “à medida em que os anos e os séculos passam, será que nunca poderá ser –– ou será que não<br />

é para ser –– que a proporção seguindo “os dois caminhos” se reverta?”<br />

Aqueles versículos também têm a incumbência de ensinar-nos que o caminho da salvação é de<br />

dificuldade e de sacrifício, e que é nossa tarefa ater-nos a ele com diligência e com persistência.<br />

Ninguém deve assumir que a sua salvação como ponto pacífico. Aqueles que adentram ao reino dos céus<br />

assim o fazem através de muitas tribulações; daí o comando, “...Esforçai-vos por entrar pela porta<br />

estreita...”[Lucas 13:24]. A escolha na vida é representada como uma escolha entre duas estradas, uma<br />

larga, bem pavimentada e fácil de trafegar, mas que conduz à destruição. A outra é estreita e difícil, e<br />

conduz à vida. “Não há mais razão para supor que tal similitude ensina-nos que os salvos serão em<br />

menor número que os perdidos, do que supor que a parábola das Dez Virgens [Mateus 25:1 e<br />

subsequentes] nos ensina que os números de ambos, salvos e perdidos, serão precisamente iguais, e há<br />

muito menos razão para supor que tal similitude mostra que os salvos serão em menor número<br />

comparativamente aos perdidos do que supor que a parábola do Joio [Mateus 13:24 e subsequentes]<br />

ensina-nos que os perdidos serão de número inconsiderável quando comparados com os salvos –– pois<br />

tal é, verdadeiramente, uma parte importante do ensinamento daquela parábola.” 31. E nós podemos<br />

acrescentar que não há mais razão para supor que a referência aos dois caminhos ensina que o número<br />

dos salvos será menor que o número dos perdidos do que para supor que a parábola da ovelha perdida<br />

ensina que somente um dentre uma centena será perdido e ainda assim será eventualmente resgatado, o<br />

que seria verdadeiramente caso de absoluto ‘restauracionismo’.<br />

10. O MUNDO ESTÁ MELHORANDO<br />

A redenção do mundo é um processo longo e vagaroso, estendendo-se pelos séculos, todavia certamente<br />

aproximando-se de um objetivo já apontado. Vivemos dia de vitória crescente e testemunhamos a<br />

conquista tomar lugar.<br />

Há períodos de prosperidade espiritual e períodos de depressão; todavia há progresso em geral. Olhando<br />

para os dois mil anos passados desde que Cristo veio ao mundo, podemos ver que tem havido progresso<br />

maravilhoso. Este curso será completado, e antes que Cristo venha novamente nós veremos um mundo<br />

Cristianizado. Isto não quer dizer que todo o pecado será erradicado –– sempre haverá algum joio no


meio do trigo até a hora da colheita, e mesmo os justos, enquanto permanecerem neste mundo, algumas<br />

vezes cairão vítimas do pecado e da tentação. Mas isto significa que como hoje vemos alguns grupos e<br />

comunidades Cristãos, também eventualmente veremos um mundo Cristão.<br />

“A verdadeira forma de julgar o mundo é comparar seu presente com a condição passada e notar em qual<br />

direção ele se move. Estará indo para trás ou para frente, piorando ou melhorando? Pode estar envolto<br />

num lusco-fusco, mas será a luz do anoitecer ou do raiar do dia? Estarão as sombras se aprofundando<br />

como numa noite sem estrelas ou estarão elas dissipando-se ante o nascer do sol? .... Um vislumbre do<br />

mundo como ele é hoje comparado ao que era a dez ou vinte séculos atrás nos mostra que passou por um<br />

grande arco e que move-se em direção da manhã.” 32<br />

Hoje em dia há muito mais riqueza consagrada ao serviço da Igreja que nunca dantes; e, apesar da triste<br />

tendência ao Modernismo em muitos lugares, cremos que há hoje muito mais atividade evangelística e<br />

missionária realmente honesta que jamais se tenha tido notícia. O número de Escolas Bíblicas, colégios<br />

Cristãos, e seminários nos quais a Bíblia é sistematicamente estudada está crescendo muito mais<br />

rapidamente que a própria população. No último ano mais de 11.000.000 exemplares ou porções da<br />

Bíblia foram distribuídos em vários idiomas somente pela Sociedade Bíblica Americana, seja no seu<br />

próprio país como no estrangeiro –– um fato que significa que a Bíblia está sendo propagada como<br />

nunca antes.<br />

A Igreja Cristã tem feito grande progresso em muitas partes do mundo, e especialmente durante os<br />

últimos dois ou três séculos ela desenvolveu milhares e milhares de <strong>igreja</strong>s individuais e tem sido uma<br />

influência benéfica poderosa na vida de milhões de pessoas. Através dela foram fundadas inúmeras<br />

escolas e hospitais. Sob a sua influência benigna, o serviço social e a ética cultural avançaram<br />

grandemente no mundo todo, e os padrões morais das nações são hoje em dia muito mais elevados que<br />

quando a Igreja foi primeiramente estabelecida.<br />

“A Igreja já penetrou em cada continente e estabeleceu-se em cada ilha e estende seus estandartes através<br />

da linha do equador e de um polo ao outro. Ela é hoje em dia a maior organização na terra, é “o”<br />

empreendimento no mundo. E os resultados não são desalentadores. No nosso país ( * ) a Cristandade<br />

tem crescido no mínimo cinco vezes mais rápido que a população. Cem anos atrás havia um Cristão<br />

professo em cada quinze habitantes, ao passo em que hoje há um em cada três, e isso excluindo-se<br />

crianças, um em dois. Ao redor do mundo os resultados são impressionantes. No ano de 1500 AD havia<br />

no mundo todo 100 milhões de Cristãos nominais; no ano de 1800 seu número era de 200 milhões; e as<br />

últimas estatísticas mostram que, de uma população total de 1.646.491.000 pessoas ( * * ) cerca de<br />

564.510.000 ( * * ) são Cristãos nominais, ou seja, aproximadamente um terço da população total da<br />

terra. O Cristianismo cresceu mais nos últimos cem anos que nos oitocentos anos anteriores.” 33 (*=<br />

nos EUA ; **= à época em que o presente trabalho foi escrito/publicado nota do tradutor)<br />

A afirmação de que o Cristianismo cresceu mais nos últimos cem anos que nos oitocentos anos<br />

anteriores parece ser aproximadamente correta. De acordo com as estatísticas, em 1950, o Cristianismo<br />

tem um número consideravelmente maior de adeptos que o total combinado de qualquer outras duas<br />

religiões do mundo. Estes números mostram que há aproximadamente 640.000.000 de Cristãos,<br />

300.000.000 de Confuncionistas (incluindo os Taoístas), 230.000.000 de Hinduístas, 220.000.000 de<br />

Maometanos, 150.000.000 de Budistas, 125.000.000 de Animistas, 20.000.000 de Shintoístas e<br />

15.000.000 de Judeus (e enquanto muitos dos que arrolados como Cristãos o sejam só “nominalmente”,<br />

a proporção de Cristãos verdadeiros é provavelmente tão grande ou maior que a proporção de qualquer<br />

outra das religiões pagãs). Todas essas outras religiões, com exceção do Maometanismo, são muito mais


antigas que o Cristianismo. Ademais, só o Cristianismo é capaz de crescer e florescer sob a civilização<br />

moderna, enquanto todas as demais religiões cedo desintegram-se quando expostas à sua brilhante luz.<br />

Somente no último século é que as missões internacionais realmente vieram a existir. Uma vez que elas<br />

foram desenvolvidas recentemente, com grandes organizações eclesiásticas na retaguarda, elas estão em<br />

posição de desenvolver um trabalho de evangelismo em países ateus, tal como nunca antes o mundo<br />

pode testemunhar. É seguro dizer que a geração presente vivendo na Índia, na Coréia e no Japão tem tido<br />

maiores chances na religião, na sociedade e no governo do que ocorreu nos dois mil anos anteriores. E<br />

quando contrastamos o rápido desenvolvimento do Cristianismo nos anos recentes com a rápida<br />

desintegração que está ocorrendo com todas as demais religiões do mundo, parece bastante claro que o<br />

Cristianismo é a futura religião mundial. À luz desses fatos nós encaramos o futuro confiantes de que o<br />

melhor ainda está por vir.<br />

11. SALVAÇÃO INFANTIL<br />

Muitos teólogos Calvinistas têm sustentado que aqueles que morrem durante a infância estão salvos. As<br />

Escrituras Sagradas parecem ensinar bastante claramente que os filhos de crentes são salvos; mas elas<br />

praticamente silenciam quanto aos filhos dos ateus. A Confissão de Westminster não faz nenhum<br />

julgamento quanto aos filhos de ateus que morrem antes de chegarem à idade da razão. Onde a Bíblia<br />

silencia, a Confissão de Westiminster também preserva o silêncio. Nossos destacados teólogos, contudo,<br />

cientes do fato de que “as doces misericórdias de Deus estão sobre toda as Suas obras,” e dependendo<br />

em Sua misericórdia ser dispensada tão amplamente quanto possível, têm entretido uma esperança<br />

caridosa de que desde aqueles infantes não tenham eles próprios cometido nenhum pecado real, sua<br />

herança de pecado seria perdoada e eles seriam salvos na totalidade dos princípios evangélicos.<br />

Esta é, por exemplo, a posição sustentada por Charles Hodge, W. G. T. Shedd e B. B. Warfield. Com<br />

relação àqueles que morrem durante a infância, o Dr. Warfield diz que “Seu destino é determinado não<br />

importa a sua escolha, por um decreto incondicional de Deus, cuja execução não é suspensa por nenhum<br />

ato deles próprios; e a sua salvação é assedurada por uma aplicação incondicional da graça de Cristo para<br />

com as suas almas, através da operação imediata e irresistível do Espírito Santo, anterior e sem qualquer<br />

relação com qualquer ação proveniente da sua própria vontade . . . E se a morte durante a infância<br />

depende da providência de Deus, é seguramente Deus em Sua providência que seleciona a vasta<br />

multidão a participar da Sua salvação incondicional . . . Isto é dizer nada menos que eles foram<br />

incondicionalmente predestinados para a salvação desde a fundação do mundo. Se somente uma única<br />

criança, ainda fora da idade da responsabilidade, que morrer durante a infância for salva, todo o princípio<br />

Arminiano é contestado. Se todos os infantes que morrerem forem salvos, não somente a maioria dos<br />

salvos, mas indubitavelmente a maioria da raça humana destarte, veio a existir através de uma maneira<br />

que não a Arminiana.” 34<br />

Certamente não há nada no sistema teológico Calvinista que nos preveniria de crer nisto; e até que seja<br />

provado que Deus não poderia predestinar para a vida eterna todos aqueles a quem Lhe aprouvesse<br />

chamar durante a infância, nós podemos aceitar este ponto de vista.<br />

Os Calvinistas, é claro, sustentam que a doutrina do pecado original aplica-se tanto às crianças como aos<br />

adultos. Como todos os demais filhos de Adão, os infantes são verdadeiramente culpados por causa do<br />

pecado da raça e podem justamente serem castigados por isso. A sua “salvação” é real. Ela é possível<br />

somente através da graça de Cristo e é tão imerecida como é a salvação de adultos. Ao invés de<br />

minimizar o demérito e o castigo que lhes é devido em decorrência do pecado original, o Calvinismo<br />

magnifica a misericórdia de Deus na sua salvação. A sua salvação significa algo, pois é a remissão de


almas culpadas do tormento eterno. E é custosa, pois foi paga pelo sofrimento de Cristo na crus. Aqueles<br />

que assumem outra visão do pecado original, a saber, que não é propriamente pecado e que não merece<br />

castigo eterno, fazem com que o mal do que as crianças são “salvas” seja muito pequeno e<br />

consequentemente o amor e a gratidão que eles devem a Deus pequeno também.<br />

A doutrina da salvação infantil encontra um lugar lógico no sistema Calvinista; pois a redenção da alma<br />

é assim infalivelmente determinada, sem nada a ver com qualquer fé, arrependimento ou boas obras, seja<br />

real ou prevista. Não encontra, contudo, um lugar lógico no Arminianismo ou em qualquer outro sistema<br />

teológico. Ademais, seria como se um sistema como o Arminianismo, que detém a salvação num ato<br />

pessoal de escolha racional, logicamente demandasse que, ou outro período de provação devesse ser<br />

concedido àqueles que morrem durante a infância, de maneira que o seu destino pudesse ser afixado; ou<br />

que eles devessem ser aniquilados.<br />

Com relação a esta questão, o Dr. S. G. Craig escreveu: “Assumimos que nenhuma doutrina da salvação<br />

infantil é Cristã se ela não professar que os infantes são membros perdidos de uma raça perdida, para<br />

quem não há salvação a não ser em Cristo. Deve ser óbvio para todos, portanto, que a doutrina de que<br />

todos os que morrem durante a infância são salvos não se encaixa com as linhas de pensamento Católico<br />

Romano ou Anglo-Católico, com os seus ensinamentos de uma regeneração batismal; já que claramente<br />

a maioria daqueles que morreram durante a infância não haviam ainda sido batizados. Também é óbvio<br />

que a linha de pensamento Luterana não prevê lugar para a noção de que todos quantos morrem durante<br />

a infância estão salvos por causa da necessidade que tal fato implicitamente anexa aos métodos da graça,<br />

especialmente a Palavra e os Sacramentos. Se a graça está somente nos meios da graça –– no caso dos<br />

infantes no batismo –– parece claro que a maioria daqueles que morreram durante a infância não foram<br />

recipientes da graça. Parece igualmente claro que o Arminiano não tem o direito de acreditar na salvação<br />

de todos quantos morrem durante a infância; de fato, não é assim tão claro que ele tenha qualquer direito<br />

de acreditar na salvação de qualquer um que tenha morrido durante a infância. Pois de acordo com os<br />

Arminianos, mesmo os Arminianos evangélicos, Deus em Sua graça meramente proveu os homens com<br />

uma oportunidade para a salvação. Não parece, contudo, que uma mera oportunidade para a salvação<br />

possa ser de qualquer valia para aqueles que morrem na infância.” 35<br />

Embora rejeitando a doutrina da regeneração batismal, e esvaziando o batismo dos não eleitos, o<br />

Calvinismo, por outro lado, estende a graça salvadora muito além das fronteiras da Igreja visível. Se é<br />

verdade que todos quantos morrem na infância, tanto em terras pagãs quanto em nações Cristãs, são<br />

salvos, então mais da metade da raça humana até hoje está entre os salvos. Ademais, pode ser dito que<br />

desde que os Calvinistas assumem que a fé salvadora em Cristo é o único requerimento para a salvação<br />

da parte dos adultos, eles nunca poderiam fazer com que o fato de ser membro na Igreja externa de<br />

Cristo seja um requerimento ou uma garantia de salvação. Eles crêem que muitos adultos que não têm<br />

nenhuma conexão com a Igreja externa são, contudo, salvos. Cada Cristão consistente submeterá, é<br />

claro, a si mesmo ao batismo, de acordo com o mandamento pleno da Bíblia e se tornará um membro da<br />

Igreja externa; todavia muitos outros, seja por causa da fraqueza de sua fé ou porque eles não tenham a<br />

oportunidade, não cumprirão tal mandamento.<br />

Tem sido constantemente acusado que a Confissão de Fé de Westminster, ao declarar que “Infantes<br />

eleitos, morrendo durante a infância, são regenerados e salvos por Cristo” (Capítulo X, seção III),<br />

implica que não há infantes não eleitos, que, morrendo durante a infância estão perdidos, e que a Igreja<br />

Presbiteriana tem ensinado que alguns que morrem durante a infância estão perdidos. Com relação a isto,<br />

o Dr. Craig diz: “A história da frase ‘Infantes eleitos que morrem durante a infância’ deixa claro que o<br />

contraste implícito não era entre ‘infantes eleitos que morrem durante a infância’ e ‘infantes não eleitos<br />

que morrem durante a infância’, mas sim entre ‘infantes eleitos morrem durante a infância’ e ‘infantes


eleitos que vivem e crescem’.” Contudo, de maneira a salvaguardar de qualquer mal entendido, seguido<br />

por inamistosas controvérsias, a Igreja Presbiteriana nos EUA adotou em 1903 uma Declaração de<br />

Posicionamento que diz o seguinte: “Com referência ao Capítulo X, Seção III, da Confissão de Fé, o<br />

conteúdo não deve ser considerado como ensinamento de que qualquer um que morra durante a infância<br />

esteja perdido. Cremos que todos quantos morrem durante a infância estão inclusos na eleição da graça, e<br />

estão regenerados e salvos por Cristo através do Espírito, que opera quando e onde e como Lhe apraz.”<br />

Com relação a esta Declaração de Posicionamento, o Dr. Craig diz: “É óbvio que a Declaração de<br />

Posicionamento vai além do ensinado no Capítulo X, Seção III da Confissão de Fé, tanto quanto<br />

positivamente declara que todos quantos morrem na infância estão salvos. Alguns detêm que a<br />

Declaração de Posicionamento vai além da Bíblia ao ensinar que todos aqueles que morrem durante a<br />

infância estão salvos; mas, seja como for, torna impossível para qualquer pessoa ao menos<br />

plausivelmente manter que os Presbiterianos ensinam que há crianças não eleitas que morrem durante a<br />

infância. Sem dúvida, tem havido indivíduos Presbiterianos que sustentam que alguns daqueles que<br />

morrem na infância estão perdidos; mas tal nunca foi o ensinamento oficial da Igreja Presbiteriana e<br />

como o tema agora se apresenta, tal posição é contradita pelo credo da Igreja.” 36<br />

Algumas vezes tem sido taxado que Calvino ensinou a danação real de alguns daqueles que morrem na<br />

infância. Um exame cuidadoso dos seus escritos, contudo, não sustenta tal acusação. Ele explicitamente<br />

ensinou que alguns dos eleitos morrem na infância e que eles são salvos como infantes. Ele também<br />

ensinou que houveram infantes rejeitados, pois ele sustentava que tanto a rejeição como a eleição são<br />

eternas, e que os não eleitos vêem à vida rejeitados. Mas em nenhum lugar ele ensinou que os rejeitados<br />

que morrem enquanto infantes estão perdidos. Ele é claro rejeitou o ponto de vista Pelagiano que negava<br />

o pecado original e fundamentava a salvação daqueles que morrem na infância na suposta inocência e<br />

falta de pecado. Os pontos de vista Calvinistas a esse respeito têm sido investigados minuciosamente<br />

pelo Dr. R. A. Webb e as suas descobertas são resumidas no seguinte parágrafo: “Calvino ensina que os<br />

rejeitados ‘procuram’ –– (suas próprias palavras) –– ‘procuram’ sua própria destruição; e eles<br />

procuram a sua destruição com os seus próprios atos pessoais e conscientes de ‘impiedade’, de<br />

‘perversidade,’ e ‘rebeldia’. Agora, crianças rejeitadas, embora a culpa do pecado original e sob a<br />

condenação, não podem, enquanto crianças, portanto ‘procurar’ a sua própria destruição através de atos<br />

pessoais de impiedade, perversidade e rebeldia. Eles deveriam, portanto, viver até os anos de<br />

responsabilidade moral de maneira a perpetrar atos de impiedade, perversidade e rebeldia, os quais<br />

Calvino define como o modelo através do qual eles procuram a sua própria destruição. Portanto,<br />

enquanto Calvino ensina que há infantes rejeitados, e que aqueles estarão finalmente perdidos, ele em<br />

lugar algum ensina que eles estarão perdidos como infantes, e enquanto eles são infantes; mas, ao<br />

contrário, ele declara que todos os rejeitados ‘procuram’ a sua própria rejeição com atos pessoais de<br />

impiedade, perversidade e rebeldia. Consequentemente, seu próprio raciocínio o compele a sustentar (de<br />

maneira a ser consistente consigo mesmo), que nenhuma criança rejeitada pode morrer durante a<br />

infância, mas todos que assim o são devem viver até a idade de responsabilidade moral, e traduzir o<br />

pecado original para pecado real.” 37<br />

Em nenhum dos escritos de Calvino ele diz, seja diretamente ou através de inferência boa e necessária,<br />

que qualquer um que morra durante a infância esteja perdido. Muitas das passagens que são<br />

mencionadas por oponentes para provar este ponto são meramente asserções da sua doutrina bem<br />

conhecida do pecado original, na qual ele ensina a culpa universal e a depravação de toda a raça. Muitas<br />

delas estão em altamente controversas seções onde ele discute outras doutrinas, e onde ele fala sem<br />

restrições, mas quando consideradas no contexto o significado fica invariavelmente em dúvida. Calvino<br />

simplesmente diz de todos os infantes o que <strong>Da</strong>vi especificamente disse dele próprio: “Eu nasci na


iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe.”[Salmo 51:5]; ou o que Paulo disse, “...em Adão,<br />

todos morrem...” ou ainda, que todos são “...por natureza, filhos da ira...”[Efésios 2:3].<br />

Acreditamos haver mostrado que a doutrina da eleição é Bíblica em cada aspecto e um ditado pleno de<br />

bom senso. Aqueles que se opõem a esta doutrina assim o fazem seja porque não entendem ou porque<br />

não consideram a majestade e a santidade de Deus, ou a corrupção e a culpa de sua própria natureza.<br />

Eles esquecem-se de que se colocam ante o seu Criador não como quem justamente pode reclamar a Sua<br />

misericórdia, mas como criminosos condenados que somente merecem castigo. Ademais, eles querem<br />

ser independentes para efetuar o seu próprio esquema de salvação, ao invés de aceitar o plano de Deus, o<br />

qual é pela graça. Esta doutrina da eleição não se harmonizará com qualquer pacto de obras, nem com<br />

um pacto híbrido de obras e graça; mas é a única saída plausível de um pacto de pura graça.<br />

12. SUMÁRIO DA DOUTRINA REFORMADA DA ELEIÇÃO<br />

A Eleição é ato livre e soberano de Deus, através do qual Ele determina quem será feito herdeiro do céu.<br />

O decreto da eleição foi feito na eternidade.<br />

O decreto da eleição contempla a raça humana como já caída.<br />

Os eleitos são trazidos de um estado de pecado para um estado de bênçãos e de gozo.<br />

A eleição é pessoal e determina que indivíduos em particular serão salvos.<br />

A eleição inclui tanto meios como fins, –– eleição para a vida eterna inclui a eleição para uma vida justa<br />

neste mundo.<br />

O decreto eleitor é feito efetivo pela obra eficiente do Espírito Santo, que opera quando, e onde, e como<br />

Lhe apraz.<br />

A graça de Deus inclinaria todos os homens ao bem, se não fosse resistida.<br />

O decreto eleitor deixa aqueles que não são eleitos –– outros que sofrem as justas conseqüências do seu<br />

pecado.<br />

A alguns homens é permitido seguir o mal, que eles livremente escolhem, para a sua própria destruição.<br />

Deus, em Sua soberania, poderia regenerar a todos homens, se Ele assim escolhesse.<br />

O Juiz de toda a terra exercerá direito, e estenderá a Sua graça salvadora até multidões não merecedoras.<br />

A eleição não está baseada em fé prevista ou em boas obras, mas somente no soberano beneplácito de<br />

Deus.<br />

Muito maior é a porção da raça humana que foi eleita para a vida.<br />

Todos quantos morrem durante a infância estão entre os eleitos.<br />

Tem também havido uma eleição de indivíduos e de nações para os favores e privilégios temporais e<br />

externos –– uma eleição que não contempla a salvação.<br />

A doutrina da eleição é repetidamente ensinada e enfatizada em toda a Bíblia.<br />

Tradução livre: Eli <strong>Da</strong>niel da Silva elidaniel@zipmail.com.br<br />

Belo Horizonte, 25 Outubro 2002

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