a aquisição da concordância nominal de número no ... - UFSC
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parte <strong>da</strong> herança genética, [...] a criança não precisa <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos para adquiri-los” (Kato,<br />
op. cit., p. 64).<br />
No mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Princípios e Parâmetros (P&P), inaugurado por Chomsky em 1979<br />
durante uma série <strong>de</strong> palestras em Pisa, 9 há uma mu<strong>da</strong>nça na concepção <strong>de</strong> gramática e<br />
também na concepção do que seja a FL. A partir <strong>de</strong>sse momento, a FL passa a ser<br />
toma<strong>da</strong> não mais como um conjunto <strong>de</strong> regras, 10 mas sim como um conjunto <strong>de</strong><br />
princípios invariáveis e um conjunto (restrito) <strong>de</strong> parâmetros com valores binários, os<br />
quais <strong>de</strong>vem ser fixados pela criança 11 durante o período <strong>de</strong> <strong>aquisição</strong>, com base em<br />
evidência positiva (ou seja, com base <strong>no</strong> PLD). Essa mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> perspectiva foi bastante<br />
<strong>de</strong>sejável, pois a visão <strong>da</strong> criança como um peque<strong>no</strong> lingüista que <strong>de</strong>via analisar os<br />
<strong>da</strong>dos, formular hipóteses e confrontá-las com as possíveis regras <strong>da</strong> FL fazia com que a<br />
explicação <strong>da</strong> <strong>aquisição</strong> <strong>da</strong> linguagem em tempo real fosse algo praticamente impossível.<br />
Com a visão <strong>da</strong> FL inaugura<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> P&P, a a<strong>de</strong>quação explicativa, 12<br />
coloca<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sempre como objetivo principal <strong>da</strong> teoria lingüística, pô<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> e<br />
persegui<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma mais viável. É o que Chomsky <strong>no</strong>s mostra em sua obra K<strong>no</strong>wledge<br />
of Language (1986). 13 Aí, evi<strong>de</strong>ncia-se <strong>de</strong> forma mais clara o problema lógico <strong>da</strong><br />
<strong>aquisição</strong> <strong>da</strong> linguagem, também conhecido como problema <strong>de</strong> Platão ou argumento <strong>da</strong><br />
pobreza <strong>de</strong> estímulo: 14<br />
O problema consiste em caracterizar a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> e a riqueza<br />
dos sistemas cognitivos que se <strong>de</strong>senvolvem <strong>no</strong> indivíduo com base<br />
na limita<strong>da</strong> informação disponível. [...] O problema resi<strong>de</strong>, então,<br />
em <strong>de</strong>terminar o equipamento inato que serve para preencher a<br />
lacuna entre experiência e conhecimento atingido (Chomsky, 1994,<br />
p. 15-16).<br />
9 A obra resultante, Lectures on Government and Binding, foi publica<strong>da</strong> em 1981.<br />
10 O que tínhamos anteriormente como regras, p. ex. passivização ou formação <strong>de</strong> interrogativas, são na<br />
ver<strong>da</strong><strong>de</strong> epifenôme<strong>no</strong>s, cuja <strong>no</strong>menclatura é manti<strong>da</strong> apenas para fins expositivos. Nas palavras do próprio<br />
Chomsky: “There are <strong>no</strong> rules at all, hence <strong>no</strong> necessity to learn rules” (1987, p. 15).<br />
11 Isso não quer dizer que a criança tenha um papel ativo na fixação paramétrica. Segundo Chomsky, ao<br />
contrário, “language acquisition seems much like the growth of organs generally; it is something that happens<br />
to a child, <strong>no</strong>t that the child does” (2000, p. 7).<br />
12 Retomando: como a criança passa do estado inicial S0 <strong>da</strong> FL para a gramática particular <strong>da</strong> língua sendo<br />
adquiri<strong>da</strong>? Evi<strong>de</strong>ntemente, essa investigação pressupõe conhecimento do estado estável a ser atingido, isto é, é<br />
necessário que a teoria seja também <strong>de</strong>scritivamente a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>.<br />
13 Traduzido para o português em 1994.<br />
14 Thomas (2002) traça um histórico do <strong>de</strong>senvolvimento do conceito <strong>da</strong> pobreza do estímulo, mostrando que,<br />
apesar <strong>de</strong> as preocupações com a <strong>aquisição</strong> <strong>da</strong> linguagem sempre terem estado presentes na teoria, apenas a<br />
partir do trabalho <strong>de</strong> Baker (1979), o papel do input na <strong>aquisição</strong> passou a ser questionado <strong>de</strong> forma mais clara<br />
e o conceito <strong>de</strong> pobreza <strong>de</strong> estímulo firmou-se e se estabeleceu mais explicitamente como um dos pilares <strong>da</strong><br />
teoria.<br />
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