310-320 - Universidade de Coimbra
310-320 - Universidade de Coimbra
310-320 - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Sentença <strong>de</strong> morte<br />
Acaba <strong>de</strong> ser approvado na câmara<br />
dos <strong>de</strong>putados o ignominioso<br />
projecto da conversão que, na phrase<br />
dum ex-ministro d'Eslado, abre<br />
<strong>de</strong> par em par as porias á administração<br />
exlrangeira.<br />
Foi precipitadamente, <strong>de</strong> afogadilho,<br />
que o projeeto foi approvado<br />
por êsses infames serventuários do<br />
regimen corrupto que ainda hoje,<br />
para <strong>de</strong>sgraça nossa, levanta sobre<br />
Portugal a sua <strong>de</strong>negrida ban<strong>de</strong>ira.<br />
Gomo quem teme uma reviravolta<br />
súbita no ânimo d'essa besta <strong>de</strong><br />
carga que tem açoutado e sobrecarregado<br />
— do pôvo — o governo <strong>de</strong><br />
hypócritas que nos dirige os <strong>de</strong>stinos<br />
vai pela centésima vez perpetrar<br />
a abominavel acção <strong>de</strong> quem<br />
acintemente nos preten<strong>de</strong> entregar<br />
ao extrangeiro.<br />
Não bastava que o regimen pro-<br />
vocasse a ultrajante affronta do ultimatum<br />
<strong>de</strong> ii <strong>de</strong>janeiro; não era<br />
suficiente ainda que a suprema vergonha<br />
<strong>de</strong> 20 d'agosto nos manchasse<br />
e nos infamasse; porque o extrangeiro<br />
não estava resolvido sequer<br />
a saquear-nos <strong>de</strong> motu próprio,<br />
sem termo d'or<strong>de</strong>m algum.<br />
Os <strong>de</strong>svarios do regimen não<br />
eram ainda sufficientes para accordar<br />
a alma livre d'êsse pôvo que<br />
torpemente se <strong>de</strong>ixava jazer num<br />
horrível marasmo <strong>de</strong> frieza e <strong>de</strong> indifferença:<br />
e impunemente tolerados<br />
lodos os seus crimes, miseravelmente<br />
acceitas todas as suas infâmias,<br />
continuaram os inéptos políticos da<br />
<strong>de</strong>struição e do regabofe, a accumulá-las<br />
successivamente, chegando<br />
a ultrapassar as mais avançadas<br />
expectativas.<br />
Agora, lavrou-se o último signal<br />
da nossa autonomia. Des<strong>de</strong> hoje em<br />
diante, ficámos ao livre dispôr dos<br />
nossos crédores a quem assiste o<br />
direito <strong>de</strong> nos dominarem, resgatando<br />
os seus créditos á custa da<br />
hecatombe duma nacionalida<strong>de</strong> que<br />
se não impôs.<br />
A administração extrangeira é,<br />
agora mais que nunca, uma imminente<br />
ameaça que ha <strong>de</strong> rasgar e<br />
reduzir a cinzas a nossa brilhantíssima<br />
história, a sublime epopeia<br />
das nossas glórias.<br />
E o pôvo ? Acaba <strong>de</strong> receber a<br />
mais grave affronta, porque a conversão<br />
approvada representa a sentença<br />
<strong>de</strong> morte para o nosso país.<br />
Tolerou criminosamente todo êsse<br />
Bcftrvo-<strong>de</strong> horrores que, progressistai<br />
e regeneradores, parece que<br />
conluídos, prepararam e sustentaram<br />
nas suas nefastas gerências.<br />
E agora levantar-se-ha ?<br />
Ou o pôvo ha <strong>de</strong> resistir em<br />
manter a sua in<strong>de</strong>pendência, levan-<br />
tando-se sem <strong>de</strong>mora contra os vilíssimos<br />
servidores dum constitucio-<br />
nalismo em <strong>de</strong>cadência, ou ha <strong>de</strong><br />
consentir a in<strong>de</strong>level mancha duma<br />
administração extrangeira que <strong>de</strong>ixou<br />
preparar no sangue-frio duma<br />
paz pôdre que <strong>de</strong>u aos governantes<br />
o direito adquirido <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>fraudarem<br />
e <strong>de</strong> nos cuspirem affrontas.<br />
E entre dois caminhos, a escolha<br />
<strong>de</strong>ve ser rápida e momentânea: um<br />
dia <strong>de</strong> <strong>de</strong>mora representa a necessida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> augmentar extraordináriamente<br />
as suas forças, pois terá<br />
<strong>de</strong> resistir a centos <strong>de</strong> vampiros<br />
que, cúpidos e ambiciosos, sómente<br />
esperavam tam medonha <strong>de</strong>bacle<br />
para se assenhorearem <strong>de</strong> nós.<br />
Verdugos da nossa honra, fautores<br />
da nossa ruína, buscando punhados<br />
d'ouro para sustentarem as<br />
reaes pân<strong>de</strong>gas dum chefe d'Estado<br />
que não nos ouve, os sabujos do<br />
paço ven<strong>de</strong>ram-nos traiçoeiramente<br />
a uma classe numerosa, e horrível<br />
porque <strong>de</strong>ve ser impiedoso o plano<br />
das represálias que <strong>de</strong>certo se apressará<br />
a <strong>de</strong>senrolar.<br />
Sem consciência, nem brio, sem<br />
a menor comprehensão do que seja<br />
a dignida<strong>de</strong> e a honra, os progressistas<br />
trahiram pela fórma mais requintada<br />
<strong>de</strong> hypocrisía e <strong>de</strong> servilismo,<br />
as suas afirmações <strong>de</strong>claradas,<br />
lançadas ao pôvo em fórma <strong>de</strong><br />
rê<strong>de</strong> ás consciências incautas.<br />
E se no partido progressista já<br />
não existe nem honra nem dignida<strong>de</strong>,<br />
no regenerador sómente existe<br />
o mais <strong>de</strong>senfreado egoísmo, com<br />
os mais tristes interesseiros planos.<br />
Uns e outros a trôco dumas libras<br />
mesquinhas ven<strong>de</strong>m-nos a in<strong>de</strong>pendência<br />
e esmagam-nos a liberda<strong>de</strong>.<br />
Po<strong>de</strong>rá o pôvo viver com taes homens?<br />
Esperemos a resposta.<br />
A obra progressista<br />
Para cúmulo do impudor, o Correio<br />
da Noite apregoou terminantemente<br />
êste princípio insensato, que<br />
— proferido por um <strong>de</strong>putado -<br />
<strong>de</strong>nota as gran<strong>de</strong>s responsabilida<strong>de</strong>s<br />
do gabinete na crise em que nos<br />
involveu:<br />
«A consignação das rendas da alfân<strong>de</strong>ga<br />
ê a menos vexatória e a mais<br />
política, porque dêsse modo interessamse<br />
os crédores externos na nossa regeneração<br />
económica».<br />
Que o referido <strong>de</strong>putado secallasse,<br />
comprehen<strong>de</strong>r-se-hia,<br />
Mas que manifeste um cynismo<br />
<strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m, fazendo-nos passar<br />
por ineptos que não sabemos preparar<br />
a nossa regeneração económica,<br />
sósinhos, sem auxílios extranhos,<br />
é vergonhoso.<br />
Ou dar-se-ha o caso <strong>de</strong> seroulosinho<br />
do sr. José Luciano apre-<br />
ciar os outros pela capacida<strong>de</strong> 4.°<br />
seu chefe?<br />
Pois fique sabendo que nem todos<br />
os portuguêses sam bacôcos.<br />
I>r. Atlonso Costa<br />
Continuam accentuando-se as<br />
melhoras do sr. dr. Affonso Gosta,<br />
talentoso professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
e nosso estimável correligionário,<br />
sendo <strong>de</strong> esperar que <strong>de</strong>ntro em<br />
pouco se ache <strong>de</strong> todo restabelecido.<br />
O N O S S O F U T U R O<br />
Palavras do sr. Dias Ferreira:<br />
«O projecto pen<strong>de</strong>nte da câmara dos<br />
<strong>de</strong>putados, uma vez votado e executado,<br />
abre <strong>de</strong> par em par as portas à<br />
administração extrângeira».<br />
0 que o mesmo sr. Zé Dias nos<br />
não diz é o modo <strong>de</strong> fugirmos a<br />
essa vergonha.<br />
E êsse vâmos nós apontá-lo 1<br />
E a revolução dirigida contra<br />
todos que nos vendaram.<br />
E principalmente contra quem,<br />
conhecendo os nossos males, se<br />
limita a burilar phrases <strong>de</strong> effeito<br />
sem mostrar a base da nossa ruína:<br />
a monarchia.<br />
Portanto: revolução contra a monarchia<br />
e os seus servos.<br />
As 72:000 obrigações<br />
Como o sr. Marianno <strong>de</strong> Carvalho<br />
interpellasse em pleno parlamento o<br />
sr. Ressano Garcia sobre o logar<br />
on<strong>de</strong> parávam as 72:000 obrigações<br />
da companhia real, respon<strong>de</strong>u s. ex a<br />
dizendo que não sabia...<br />
Uma piada do carnaval, como<br />
qualquer outra, porque o sr. Ressano<br />
Garcia bem sabe on<strong>de</strong> ellas páram;<br />
mas não quer dizer nem a tiro...<br />
Ê muito amigo <strong>de</strong> brincar o<br />
sr. Ressano Garcia: e é preciso<br />
não lhe fazer subir o sangue á<br />
cabeça, aliás respon<strong>de</strong>:<br />
— Segredos <strong>de</strong> contadoria...<br />
Que foi o que aconteceu.<br />
Uma explosão pavorosa<br />
Uma <strong>de</strong>tonação espantosa, ouvida<br />
na Havana pelas 9 horas e meia<br />
da noite <strong>de</strong> 15 do corrente, annunciando<br />
alguma coisa <strong>de</strong> horroroso,<br />
alarmou immediatamente a população<br />
daquella cida<strong>de</strong>,<br />
Ao mesm o tempo a vista duma<br />
<strong>de</strong>nsa columna <strong>de</strong> fumo, e um clarão<br />
verda<strong>de</strong>iramente assustador, fazia<br />
evacuar todos os pontos <strong>de</strong> reúnião,<br />
á procura do sinistro tjue se previa.<br />
Era uma explosão terrível no<br />
Maine, couraçado dos Estados-Unidos<br />
que estava ancorado naquêlle<br />
porto, e que o reduziu quasi que<br />
immediatamente a chammas,<br />
Sobre as causas da catástrophe,<br />
quasi todos os jornaes as julgam <strong>de</strong><br />
méro acci<strong>de</strong>nte, exceptuando o Morning-Post.<br />
Daily Telegraph e o Times,<br />
que a julgam <strong>de</strong>vida a <strong>de</strong>sastre<br />
casual.<br />
Seguem os mais importantes telegrammas:<br />
New-York, 16, n.—Segundo <strong>de</strong>clarações<br />
dos officiaes do Maine, a explosão<br />
levantou do mar o navio, que<br />
tornou logo a cair na água parcialmente<br />
<strong>de</strong>struído.<br />
Todos os officiaes se precipitaram<br />
para o convez, mas os marinheiros sobreviventes<br />
atropellaram-os para se<br />
salvarem também, e no tumulto morreram<br />
afogados muitos.<br />
Os officiaes subalternos salvaram-se<br />
dos beliches, chegando-lhes já a água<br />
ao pescoço.<br />
Destroços <strong>de</strong> toda a espécie caíram<br />
como chuva em todas as direcções.<br />
Das lanchas a vapor do paquete City<br />
of Washington ficaram em estado <strong>de</strong><br />
não po<strong>de</strong>r mais servir, embora estivessem<br />
a 300 metros <strong>de</strong> distância. Levanlou-se<br />
logo a fumarada espessa, do<br />
meio da qual partiam gritos angustiosos.<br />
As projecções <strong>de</strong> luz eléctrica mostravam<br />
scenas pavorosas.<br />
Um official da marinha hespanhola<br />
<strong>de</strong>clara que o capitão do Maine foi o<br />
último a sair do seu navio.»<br />
New-York, 17. — Consta á última<br />
hora que o Maine per<strong>de</strong>u 253 homens<br />
e 2 officiaes.<br />
Con<strong>de</strong> cie S. Marçal<br />
Falleceu em Lisbôa êste iilustre<br />
titular, proprietário do Diário <strong>de</strong><br />
Noticias, que pela sua honestida<strong>de</strong><br />
soube congraçar os elogios <strong>de</strong> toda<br />
a imprensa.<br />
Associando-nos ao lucto que ora<br />
peza sobre a illustrada redacção<br />
daquêlle nosso collega, enviâmos-lhe<br />
a mais sentida traducção do nosso<br />
profundo pêzame pelo finamento do<br />
brilhante jornalista.<br />
Guerra <strong>de</strong> Cuba<br />
O inci<strong>de</strong>nte diplomático provocado<br />
pela carta <strong>de</strong> Dupuy <strong>de</strong> Lôme<br />
a Canalejas parece terminado, em<br />
frente ao seguinte telegramma:<br />
a New-York, 16, n.—-0<br />
sr. Dupuy <strong>de</strong> Lôme, ex-ministro <strong>de</strong><br />
Hespanha em Washington, partiu hoje<br />
a bordo do paquete Britannia em<br />
direcção a Liverpool».<br />
Entretanto as hostilida<strong>de</strong>s dos<br />
dois póvos parece não <strong>de</strong>verem<br />
cessar tam <strong>de</strong>pressa; e é a imprensa<br />
hespanhola que, revelando a mais<br />
compromettedora táctica, as anda a<br />
aggravar por apreciações pouco lisongeiras<br />
sobre o exército yankee.<br />
Dizem <strong>de</strong>smantelladas as fortalêzas<br />
daquella república, fracos os<br />
seus couraçados, e in<strong>de</strong>fensáveis as<br />
suas costas marítimas.<br />
Como respon<strong>de</strong>rá a isso a república<br />
norte-americana?<br />
Do Diário <strong>de</strong> Notícias:<br />
C-A-Ç-A-ID-A. ÍSE^XJ<br />
«A partida d'el-rei».<br />
Realmente a caçada real é uma<br />
partida <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m, com a<br />
differença <strong>de</strong> que se não pô<strong>de</strong> dizer<br />
própria do carnaval, porque é <strong>de</strong><br />
todos os dias, ^is<br />
Carta <strong>de</strong> Lisboa'<br />
Summário: — A situação e o,<br />
Carnaval. — Um pôvo que folga e<br />
brinca mas que está a poucos passos<br />
da morte.—O que era preciso fazer<br />
para elle se salvar. — O que elle<br />
faz.—A sentença <strong>de</strong> Portugal.,<br />
—A chamada conversão approvada<br />
em generalida<strong>de</strong>. — O que isto quer<br />
dizer.— Faliam os conservadores no<br />
parlamento.— Hypothecados, tufados<br />
e perdidos.—A liquidação.—<br />
Declarações do ministro da fazenda.<br />
—As obrigações da Companhia real<br />
distribuídas por um banqueiro a diversos.<br />
— A dívida da Companhia<br />
dos Tabaoos.<br />
IS <strong>de</strong> fevereiro.<br />
Carnaval á porta... festa...<br />
folia... Sente ainda pelas ruas,<br />
como que <strong>de</strong>senfreados, homeos<br />
convertidos em garôtos. As mulheres<br />
pelas janellas, permittindo-se a<br />
todas as liberda<strong>de</strong>s, inclusivè a <strong>de</strong><br />
serem brutas. Os theátros cheios e<br />
nem um espectador que não folgue.<br />
Bailes <strong>de</strong> máscaras movimentadíssimos.<br />
com homens <strong>de</strong> todas as<br />
eda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> todas as classes entregues<br />
ás volúpias dum baixo amôr<br />
que se compra. Os mais pacatos lares<br />
alvoraçados, num parenthesis<br />
<strong>de</strong> ruidosa festa.<br />
Festa... folia... prazer...<br />
O momento, porém, é <strong>de</strong> lucto.<br />
Toda êsse pôvo que ri agoniza.<br />
Toda essa nação que gosa se esphacela<br />
inconscientemente.<br />
A sua dignida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> annos maculada,<br />
esfrangalha-se para sempre.<br />
A sua in<strong>de</strong>pendência evola-se.<br />
- O seu nome, prestigioso outr'ora,<br />
<strong>de</strong>sapparece.<br />
Não ha exaggero.<br />
Não ha hyperbole.<br />
O epílogo, d'annos annunciado,<br />
chegou realmente.<br />
Um exforço evitá-lo-hia.<br />
Um protesto arredá-lo-hia.<br />
Mas o pôvo que <strong>de</strong>via levantarse<br />
folga. 0 pôvo que <strong>de</strong>via protestar<br />
brinca.<br />
A catástrophe é, pois, inevitável.<br />
Porque agoniza êste pôvo que<br />
brinca, porque está perdido êste<br />
pôvo que folga?<br />
Muita gente mostra ignorá-lo.<br />
Ignora-o todo êsse pôvo, como<br />
doente con<strong>de</strong>mnado que não tem<br />
olhos para vêr o mal que o affectâ..<br />
Todavia a sentença é bem clara.<br />
... O projecto da commissão foi<br />
approvado na câmara dos <strong>de</strong>putados.<br />
E appravado com pressa—abafada<br />
violentamente a discussão.<br />
A commissão — chamêmos-lhe<br />
assim, para lhe chamar alguma coiso<br />
—, tal como o projecto a <strong>de</strong>termina,<br />
vai, pois, fazer-se.<br />
E a commissão—a Concordata,<br />
o accôrdo, o que quiserem—representa<br />
<strong>de</strong> facto a ruína do pôvo português?<br />
Não ha dúvidas.<br />
Des<strong>de</strong> muito que o afirmámos<br />
os que labutamos na imprensa re-<br />
publicana.<br />
Affirmaram-o também òsjy^<br />
monárchicos.<br />
E não o afirma<br />
em artigos