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310-320 - Universidade de Coimbra

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GRANDEZA<br />

É soberanamente ridícula a apparatosa<br />

subserviência dos fracos e<br />

dos humil<strong>de</strong>s, perante os tyrannos<br />

sem coração nem sentimentos que<br />

pela força tratam <strong>de</strong> se impôr ás<br />

massas timoratas e ignorantes.<br />

Por toda a parle por on<strong>de</strong> passava<br />

um monarcha toda a gente se<br />

prostrava antigamente, beijando-o<br />

e humilhando-se, recalcando aos<br />

pés a sua liberda<strong>de</strong> natural, e <strong>de</strong>ixando-se<br />

subjugar, na sua ignorância<br />

crassa, pelas vistosas vestimen-<br />

tas dum rei que, por ser rei, era<br />

um semi-<strong>de</strong>us.<br />

Hoje, com os successivos <strong>de</strong>svarios<br />

das realêzas, que por tanto<br />

tempo impunes, amontoaram o lôdo<br />

em que todas ham <strong>de</strong> morrer atoladas,—<strong>de</strong>svarios<br />

que se palpam e<br />

não se lêem, porque o pôvo não<br />

sabe lêr—, já um riso frio amarello,<br />

talvez <strong>de</strong> dôr ou <strong>de</strong> raiva, acolhe<br />

essas funambulêscas visitas dos<br />

reis, que se fazem annunciar por<br />

estrepitósos pregões, e se fazem pagar<br />

por contínuos saques á bolsa<br />

dos contribuintes.<br />

Entretanto, opposição <strong>de</strong>clarada,<br />

franca e rasgada, sem temores nem<br />

escrúpulos, sómente po<strong>de</strong>rá partir da<br />

população culta, que lê e commenta<br />

os <strong>de</strong>satinos monárchicos,dos espíritos<br />

medianamente illustrados que<br />

vêem no rei um homem, quando<br />

não um burlesco dissipador, cheio<br />

das ôcas tradições <strong>de</strong> gerações passadas<br />

e sem a mínima comprehensão<br />

dos seus <strong>de</strong>veres cívicos; e as camadas<br />

baixas, sem luz e sem instrucção,<br />

ainda não permittem que se affronte<br />

ousadamente um rei, imbuídas,<br />

como estám, d'essas crendices fanáticas,<br />

falsamente escrupulosas, herdadas<br />

<strong>de</strong> antepassados idiótas, e<br />

<strong>de</strong>sinvolvidasporuma educação <strong>de</strong>testável<br />

e esteril.<br />

E é principalmente por essa razão<br />

que os governos toleram a existência<br />

em Portugal <strong>de</strong> quatro milhões<br />

<strong>de</strong> analphabetos, que vivem<br />

nessas illusões respeitosas, acobardados<br />

e tímidos, sem um querer<br />

próprio, sem um modo <strong>de</strong> sentir<br />

especial, que os arroje ao caminho<br />

<strong>de</strong> reivindicações, que os homens<br />

<strong>de</strong> senso, <strong>de</strong> ha muito reclamam.<br />

A monarchia, se com isso afugenta<br />

alguns a<strong>de</strong>ptos que se horrorisam<br />

perante o miserável proce<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sses<br />

políticos farçantes, procura estribar-se<br />

por outro lado nêssa massa<br />

encoberta num obscurantismo<br />

P Hpnrailanlp nnp nnanrln<br />

A eonvérsão<br />

3.° -ANNO<br />

Notas a lápis<br />

muito se transformará apenas na<br />

Ora fundamentalmente e na sua<br />

mais viva e frisante indifferença.<br />

maior parte, a culpa pertence ao<br />

Estado que tem <strong>de</strong>scurado êste<br />

E o respeilo pela grandêza, já<br />

Continua a discutir-se no parla- assumpto, tractando apenas <strong>de</strong> o Este contínuo apregoar efe coisas<br />

não do porte, mas do viver, que a mento êste traiçoeiro projecto que remediar com palliativos inúteis que para o estômago, que em Lisboa se<br />

monarchia quer sustentar; e com ha <strong>de</strong> no futuro escancarar ao ex- em nada reme<strong>de</strong>iam as perigósas Ouve <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o romper do dia até que<br />

essa sujeição, imposta cruelmente trangeira as portas da nossa admi- consequências dos factos que se o sol expira álém no mar <strong>de</strong>ixando<br />

nistração.<br />

estám dando. Resolveu o governo a gente triste, faz-me julgar por<br />

pela negação do saber, conta ir pro-<br />

E curiosa é, no meio da medo- mandar ven<strong>de</strong>r pão nas esquadras momentos que a vida é só comer,<br />

trahindo os seus dias <strong>de</strong> existência, ,nha <strong>de</strong>bacle que nos aterrorisa, a <strong>de</strong> polícia, como se por êsse processo só comer.<br />

d'essa.existência característica <strong>de</strong> fórma como os regeneradores diri- cómmodo e fácil, próprio <strong>de</strong> quem Quero pensar noutra coisa—no<br />

sobresaltos e <strong>de</strong> receios. Armando gem os seus ataques, a modos <strong>de</strong> sómente vê exteriorida<strong>de</strong>s, se po<strong>de</strong>s- amôr, por exemplo, com que o<br />

quem quer protrahir sómente o esse cortar o mal.<br />

governo se dá a cuidar do bem da<br />

ao effeito, procura apresentar um<br />

candaloso negócio, tendo apenas em Entretanto toda a gente vê que o pátria—e logo passa um vendilhão<br />

vistoso luxo, tudo exteriorida<strong>de</strong>s, e mira alcançar o po<strong>de</strong>r por uma <strong>de</strong>r- remédio é disparatado, pois que que me apregôa ervilhas e o bom<br />

tudo apparéncias, uma vida sumrota infligida ao ministério progres- crises como estas, não se atalham grêlo <strong>de</strong> nabo... Acó<strong>de</strong>-me á lemptuosa,<br />

toda immoral e impudica, sista. A não ser o sr. Dias Ferreira, com simples apparéncias, á primeira brança o rei, o pae da pátria, ata-<br />

num discurso <strong>de</strong> opposição tenaz, vista illusórias, mas sim, e sómente, refado em serví-la com a <strong>de</strong>dicação<br />

para que o pôvo se prostre respei-<br />

mas em cuja sincerida<strong>de</strong> não acreditá- indo buscar a causa fundamental e enorme <strong>de</strong> um Antonino ou Marco<br />

tador e vergado perante tanta pom mos, nenhum <strong>de</strong>putado ainda con- supprimindo-a.<br />

Aurélio e grita d'alli um diabo: —<br />

pa, e tanto fausto.<br />

<strong>de</strong>mnou abertamente a operação fi- Ora esta é a lei dos cereaes, mal Eh! cachucho fresco!... Concen-<br />

E o pôvo, o ignorante, prostrananceira<br />

<strong>de</strong> cuja discussão se tem elaborada, e principalmente péssitra-se por um pouco o meu espírito<br />

tratado no pseudo-parlamento. mamente executada.<br />

nas <strong>de</strong>sgraças do país com a interse<br />

<strong>de</strong> joelhos vendo nos homens que<br />

Tudo consi<strong>de</strong>rações discursivas<br />

feréneiaimminente da administração<br />

lhe levam o dinheiro, e lhe roubam —algumas das quaes encerram jus-<br />

extrangeira e logo oiço bradar na<br />

o seu suor, não ladrões nem esbantíssimas verda<strong>de</strong>s, por nossa <strong>de</strong>s- Dr. Affonso Costa rua o pastelleiro embirrento: — Vá<br />

jadores, mas altos personagens muigraça— que levam á conclusão ir-<br />

lá bons pasteljinhosl<br />

refragavel <strong>de</strong> que o nosso thesouro Têmos o prazer <strong>de</strong> noticiar que E assim o dia inteiro.<br />

to elevados perante a sua pequenez,<br />

está arruinado—o que aliás, já to- entrou em convalescença o nosso De sorte que não ha tempo para<br />

que o olham altaneiros, em ares <strong>de</strong> da a gente sabe <strong>de</strong> ha muito. talentoso amigo e illustre professor pensar noutro objecto que não diga<br />

<strong>de</strong>sprêzo; e, se ha <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir todo Phrases <strong>de</strong> effeito, bastantes; sin- da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito sr. dr. respeito á vida material, á vida <strong>de</strong><br />

êsse monte <strong>de</strong> apparéncias faustosas, cerida<strong>de</strong> e boa fé, pouca ou nenhu- Affonso Costa. A sua doença chegou nutrição.<br />

ma.<br />

a inspirar cuidados, mas felizmente Barriga e só barriga 1<br />

que nada representa <strong>de</strong> positivo e<br />

Entretanto, aperar da face que a<br />

afastáram-se os receios dos seus Ora o mesmo que se dá commigo,<br />

real, a não ser roubos <strong>de</strong>scarados, e opposição segue na lucta, o gover-<br />

amigos e dos admiradores do seu sob a influência constante dêstes<br />

esbanjamentos sem número, curvano, pela voz dos seus <strong>de</strong>putados<br />

bello talento e levantado caracter. pregões repetidos, ha <strong>de</strong> dar-se<br />

se indignamente, rojando-se pelo vai-se enterrando cada-vez mais, e Felicitámos, pois, o nosso illustre <strong>de</strong>certo com os <strong>de</strong>mais habitantes<br />

não trata <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r directamen- correligionário, que o partido repu- d'esta cida<strong>de</strong> sui generis.<br />

chão, e beijando as sandálias <strong>de</strong><br />

te aos argumentos apresentados que blicano lem como uma das suas Como pô<strong>de</strong> então Lisboa ser um<br />

quem lhe prepara um futuro <strong>de</strong> ver- o apontam como exímio no esban- mais legítimas esperanças.<br />

meio intellectual como é <strong>Coimbra</strong>,<br />

gonhas e <strong>de</strong> misérias.<br />

jamento e na dissipação. O pró-<br />

por exemplo, on<strong>de</strong> se come apenas<br />

Homens não os quer vêr, o <strong>de</strong>sprio sr. Burnay, que alguém appel-<br />

em três horas e se passa o mais do<br />

«A GLEBA»<br />

lidou <strong>de</strong> Espírito Santo <strong>de</strong> Orelha,<br />

tempo a estudar, a lêr, a conversar,<br />

graçado que se <strong>de</strong>ixa victimar, que<br />

confessa por uma fórma terrivelmen- Terminou um anno <strong>de</strong> existência a pregar peças ao Ferrão e a gui-<br />

consente que lhe vendam a pátria, te vergonhosa para o governo que êste nosso prezadíssimo collega <strong>de</strong> tarrar á lua?<br />

sem respon<strong>de</strong>r com uma gargalha- não se trata duma conversão, mas Celorico da Beira — razão sobeja Ahi, sim, estava eu bem para<br />

da estri<strong>de</strong>nte, acompanhada dum<br />

sim duma concordata. Isto é, como para o felicitarmos vivamente. escrever sobre tudo, para dar cada<br />

explica João Chagas, o brilhante Superior a mesquinhos interesses, semána ao leitor da Resistencia uma<br />

acto <strong>de</strong> heróica revolução, á sua pamphletário, e intemerato jorna- e sem se importar com inúteis nova impressão do que fôsse ouvindo<br />

<strong>de</strong>sfaçatez insana, que sobre inélista: ameaças, tem advogado valente- e vendo. Aqui é impossível.<br />

pcias flagrantes também traduz uma<br />

mente a nossa causa — causa que «Eh I pescada marmota 1 Vá lá<br />

«Não é um contracto digno, feito não é só do glorioso partido em burrié cosido 1» E não se passa<br />

<strong>de</strong>smedida immoralida<strong>de</strong>.<br />

por homens isentos <strong>de</strong> responsabilida-<br />

que estamos alistados, mas sim <strong>de</strong> d'isto.<br />

E a monarchia vai-se sustentan<strong>de</strong>s, que com elle apenas tenham em<br />

vista garantir o futuro da nação e, ao toda a nossa querida pátria.<br />

Não se admirem portanto que<br />

do nestas bases fraquíssimas, cara- mesmo tempo, honrar o seu nome. Avante, pois.<br />

eu hoje pouco mais faça do que<br />

cterísticas pela cobardia, mas hu- É uma negociata <strong>de</strong> cúmplices, feita<br />

recheiar linguados para o almoço<br />

á pressa, atabalhoadamente, na hora<br />

frugal dos meus leitores semanaes..,<br />

milhantes para uma nação que as critica da falléncia, quando a justiça Legislação sobre heroes... Não sei que hei <strong>de</strong> escrever,<br />

tolera.<br />

da multidão já bate à porta.<br />

Não é conversão! É concordata. Conta o Jornal do Commercio que nesta obsessão <strong>de</strong> coisas que só<br />

Para se fazer gran<strong>de</strong>, faz lançar Quer dizer: não é o facto para boje a um homemsinho que, ha tempos, lembram comer.<br />

o pôvo <strong>de</strong> joelhos.<br />

—é o facto para todo o sempre. salvou algumas pessoas duma mor- Mas afinal em comer se resume<br />

É o Futuro escamoteado. É a única te próxima no Tejo, on<strong>de</strong> estavam a vida, principalmente aqui. A terra<br />

•E sobre a sua cabeça, na sua esperança legitima da pátria portuguê- prestes a ser submergidas, foi dada <strong>de</strong> comilões por excelléncia é sem<br />

frente, <strong>de</strong>sdobra os seus cynicos sa, surripiada, como se surripia a um<br />

pobre o seu último vintém.»<br />

no ministério do reino a seguinte dúvida esta on<strong>de</strong> agora vivo.<br />

projectos, as suas infâmias sem nú-<br />

resposta:<br />

A substância comestível da namero.<br />

Verda<strong>de</strong> eloquénte, e a cujas con- — Não, tenha paciência, o senhor ção leva aqui uma cresta como em<br />

sequências sómente se pô<strong>de</strong> oppôr não é heroe, porque, para o ser, era parte alguma.<br />

o pôvo, num enérgico arranco do preciso que satisfizesse ao artigo Só esta bicha enorme da monar-<br />

indiscripiivel marasmo em que tem tal, parágrapho tal, da portaria <strong>de</strong> chia, que aqui tem a cabeça, quan-<br />

.A. cLictad.-u.ra railitar jazido.<br />

tal...<br />

to não absorve!<br />

É bonito pois não é?!<br />

Depois, as outras bichas:—a bu-<br />

Consta ao Popular e á Folha do<br />

E d'aqui a pouco mais bonito ha rocracia faminta e a centopeia da<br />

Pôvo que ha gran<strong>de</strong>s probabilida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> o sr. Mousinho d'Albuquerque A QUESTÃO DO PÂO EM LISBOA <strong>de</strong> ser, porque o sr. José Luciano, guarda pretoriana ao regimen. Mi-<br />

com o seu talento genial, vai sujeitar lhares d'estómagos a saciar cada<br />

ser nomeado ministro, para dar Vai-se aggravando criticamente a tal portaria a uma série extraor- dia 1 E nunca satisfeitos.<br />

início ao projectado plano <strong>de</strong> dicta- esta momentosa questão, á qual dinária <strong>de</strong> reformas, on<strong>de</strong> se termi- Vem ás vezes nos diários a condura<br />

militar.<br />

está ligado o futuro da classe openará por dizer:<br />

ta immensa dos géneros que Lis-<br />

Sobre essa nomeação, os comrária, que sem recursos nem meio — Não, tenha paciência, não é boa absorve. Três quartos sam para<br />

mentários dispensam-se em abso- <strong>de</strong> os obter, vê a sua vida cada vez heroe, nem o pô<strong>de</strong> ser legalmente, tal gente.<br />

luto, <strong>de</strong>vendo confiar-se da con- mais cumulada <strong>de</strong> difficulda<strong>de</strong>s. sem pagar a respectiva contribuição Ha quem lenha seis rações talhasciência<br />

e da dignida<strong>de</strong> do pôvo, Já um novo typo <strong>de</strong> pão, cujo industrial; nada, não senhor. das pelo regimen. Tomêmos um di-<br />

uma resposta altiva e levantada a preço é <strong>de</strong> 100 réis, foi apresentado E razão ha para isso, porque o rector geral <strong>de</strong> repartição do Esta-<br />

êste ignominioso attentado da liber- pelos pa<strong>de</strong>iros <strong>de</strong> Lisboa, que tra- sr. José Luciano explora o heroísmo, do, que é ao mesmo tempo noutra<br />

da<strong>de</strong>.ctam<br />

<strong>de</strong> se <strong>de</strong>sculpar lançando a como quem explora uma iudústria parte director especial <strong>de</strong> uns ser-<br />

-EsnerAmns<br />

cu loa sobre os moageiros.<br />

otialnuer.<br />

viços quaefflnpr; terrymais, num

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