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310-320 - Universidade de Coimbra

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517 COIMBRA—Domingo, 6 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1898 4.° ANNO<br />

COMÍCIOS<br />

Ha oito dias a esta parte temse<br />

accentuado um forte movimento<br />

<strong>de</strong> reacção contra os criminosos<br />

projectos do governo,<br />

reacção que se vai alastrando<br />

pelo país inteiro num impulso<br />

animador <strong>de</strong> consciência a <strong>de</strong>spertar.<br />

Através da ininterrupta sequência<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>sastres, <strong>de</strong> concussões,<br />

<strong>de</strong> vergonhas, <strong>de</strong> crimes<br />

<strong>de</strong> toda a or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> corrupções<br />

sem nome, que trouxeram<br />

á nação o maior abatimento<br />

moral e a mais <strong>de</strong>primente<br />

situação perante os povos cultos,<br />

chegou a monarchia portuguêsa<br />

ao extrêmo da senda criminosa,<br />

preparando-se para, <strong>de</strong><br />

ânimo feito e consciência tranquilla,<br />

entregar ao extrangeiro<br />

o pôvo que a tem mantido. A<br />

vida histórica do Partido Republicano<br />

Português tem-se afirmado<br />

em luctas hercúleas <strong>de</strong><br />

todos os dias contra as prepotências<br />

e baixêzas d'êste regimen<br />

crapuloso que nos <strong>de</strong>grada.<br />

Hoje, porém, que a situação<br />

do país chegou ao grau<br />

mais intenso da sua gravida<strong>de</strong>,<br />

é ao Partido Republicano, como<br />

o único partido nacional, que<br />

cumpre levar consigo o país inteiro,<br />

num protesto solemne e<br />

enérgico, por todos os meios,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a elucidação pela palavra<br />

até á convicção pelas armas,<br />

á guerra mais aberta e<br />

crúa contra a monarchia expoliadora<br />

e brutal, que não soube<br />

conservar a nossa integrida<strong>de</strong><br />

territorial nem agora <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r<br />

a nossa honra nacional.<br />

O último comício <strong>de</strong> Lisbôa<br />

foi a iniciação da enérgica resistência<br />

que o partido republicano<br />

vai oppôr ao tenebroso<br />

plano financeiro, que é <strong>de</strong> si<br />

uma expressão synthética do<br />

quanto ha <strong>de</strong> fundamentalmente<br />

traiçoeiro e <strong>de</strong> profundamente<br />

inepto na obra do governo.<br />

Hoje realiza-se no Porto um<br />

outro comício republicano, com<br />

o mesmo fim, a mesma sincerida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> intuitos, e egual significação<br />

patriótica.<br />

A activida<strong>de</strong> que o partido<br />

republicano está<strong>de</strong>sinvolvendo,<br />

no sentido <strong>de</strong> arrancar o país<br />

ao maior dos perigos que tem<br />

corrido, <strong>de</strong> salvar os restos <strong>de</strong><br />

um pôvo, que foi gran<strong>de</strong> e forte,<br />

da voracida<strong>de</strong> insaciavel <strong>de</strong><br />

uma oligarchia miserável, será<br />

o maior título da veneração que<br />

todo o país lhe vota, como único<br />

partido que se inspira nos<br />

interesses superiores do bem geral.<br />

Pois quê!... Ha muitas <strong>de</strong>zenas<br />

d'annos que a monarchia<br />

portuguêsa, sem ter a <strong>de</strong>sculpar<br />

os excessos da sua louca piodigalida<strong>de</strong>,<br />

nem uma catástrophe<br />

nacional, nem uma guerra,<br />

nem uma d'essas pestes assoladoras<br />

que outr'ora <strong>de</strong>vastavam<br />

províncias inteiras, sem ter, emfim,<br />

na sua vida <strong>de</strong> criminosos<br />

esbanjamentos nada que os ex-<br />

plique, tem tripudiado infrenemente<br />

sobre a vitalida<strong>de</strong> do<br />

país, exgotando-lhe todas as<br />

energias, exhaurindo todas as<br />

suas fontes económicas, chegando<br />

ao ponto <strong>de</strong>gradante <strong>de</strong><br />

especular com o seu nome, com<br />

o seu crédito, com a sua honra,<br />

/ • J "<br />

unicamente no intuito <strong>de</strong> conservar<br />

a sua vida parasitária,<br />

— e o partido republicano, que<br />

é a synthese da dignida<strong>de</strong> e do<br />

brio nacional, não ha <strong>de</strong> exgotar<br />

todos os recursos para expurgar<br />

do território português,<br />

que é feraz em todas as virtu<strong>de</strong>s,<br />

a planta damninha que o<br />

esteriliza ?. . .<br />

Por isso estas convocações<br />

dos povos ás suas assemblêas,<br />

que sam as genuínas cortes em<br />

que se <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>rimir êstes<br />

pleitos nacional, sam o maior<br />

serviço que o partido republicano<br />

pô<strong>de</strong> prestar á nação. Porque<br />

<strong>de</strong>pois, será a nação em<br />

pêso a expulsar, num ímpeto<br />

indomável <strong>de</strong> cólera sagrada,<br />

as quadrilhas tripudiantes, plenas<br />

<strong>de</strong> impudência e <strong>de</strong> cynismo,<br />

que até aqui teem explorado<br />

a nossa riquêza e accorrentado<br />

ao extrangeiro a nossa pátria.<br />

COMÍCIO<br />

A Commissão municipal republicana<br />

d'esta cida<strong>de</strong> faz-se<br />

representar pelo nosso eminente<br />

correligionário, sr. dr. José<br />

Nunes da Ponte, no comício que<br />

hoje tem logar no Porto contra<br />

o systêma administrativo do governo,<br />

e nomeadamente contra<br />

o projecto da conversão.<br />

O nosso jornal será representado<br />

pelo nosso talentoso collega<br />

da Vo{ Pública, o sr. dr. João<br />

<strong>de</strong> Menezes.<br />

Aos collegas que referindo-se<br />

ao 3.° anniversário da Resistência,<br />

nos dirigiram felicitações,<br />

en<strong>de</strong>ressâmos o nosso cordial<br />

agra<strong>de</strong>cimento.<br />

Como se dê o caso <strong>de</strong> o protes<br />

to contra a conversão continuar a<br />

ser coberto <strong>de</strong> assignaturas, alguns<br />

agentes <strong>de</strong> polícia andam pedindo<br />

as listas das assignaturas, como<br />

representantes do grupo <strong>de</strong> patriotas.<br />

Bom processo dos colligados, e<br />

muito próprio dos que Dias Ferreira<br />

qualificou <strong>de</strong> bandoleiros ...<br />

.A. o paço.<br />

Contam gazetas várias que o excommissário<br />

<strong>de</strong> polícia sr. Pedro<br />

Ferrão foi ao paço apresentar os<br />

seus respeitos a el-rei.<br />

Só?<br />

A nossa dúvida provém da incertêza<br />

sobre se tam conspícuo admirador<br />

e <strong>de</strong>fensor dos reaes pri<br />

vilégios e do systema que os mantém,<br />

não terá também apresentado<br />

ao seu real senhor, o memorial da<br />

ingratidão soffrida, solicitando compensações.<br />

Seria naturalíssimo, pois não<br />

acham ?<br />

Nem elle lá ía com outro fim....<br />

Contra a conversão<br />

Realiza-se hoje no Porto, a cida<strong>de</strong><br />

da liberda<strong>de</strong>, um comício republicano<br />

<strong>de</strong> protesto contra o projecto<br />

da conversão da dívida pública,<br />

promovido pela commissão<br />

municipal republicana daquella cida<strong>de</strong>.<br />

j+j^<br />

E' <strong>de</strong> esperar que .seja muito concorrido,<br />

atten<strong>de</strong>ndo á força ingente<br />

do partido popular no Porto, é á<br />

i<strong>de</strong>ia reivindicadora que dia a dia<br />

vai ganhando campo na consciência<br />

popular.<br />

De mais a mais todos já sabem<br />

quanto ha <strong>de</strong> odioso no proce<strong>de</strong>r<br />

dos governantes, que ven<strong>de</strong>m ignominiosamente<br />

a nossa pátria ao extrangeiro.<br />

E por tudo isto é louvável<br />

a enérgica iniciativa dos nossos<br />

correligionários, cjue assim procuram<br />

mostrar aos ignorantes os<br />

perigos que ameaçam a nossa nacionalida<strong>de</strong>.<br />

Hôje também se <strong>de</strong>ve realizar<br />

em Lisbôa um outro comício, extra-partidário,<br />

convocado e presidido<br />

pelo illustre professor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,<br />

sr. dr. Bernardino Machado.<br />

Bom era que todos os luctadores<br />

se unissem nesta obra <strong>de</strong> moralida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong> protesto, con<strong>de</strong>mnando<br />

o regimen, e todos os seus <strong>de</strong>fensores<br />

; tanto mais quanto não ha<br />

razões que expliquem attitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

duvidosa sincerida<strong>de</strong> quando o país<br />

precisa da maior e mais nítida lealda<strong>de</strong>.<br />

Que a conversão nada mais é<br />

do que um dos mais perniciosos<br />

fructos do constitucionalismo português.<br />

•—.—<br />

Foi eleito, sem opposição, o dr.<br />

Campos Salles para presi<strong>de</strong>nte da<br />

república brazileira.<br />

Caracter lídimo, e um repúblicano<br />

crente, que já se havia assim<br />

manifestado no tempo do império,<br />

o dr. Campos Salles é muito respeitado<br />

naquèlle país, on<strong>de</strong> a sua<br />

candidatura teve a melhor acceitacão.<br />

Conflicto espano-americano<br />

A attitu<strong>de</strong> dos Estados-Unidos<br />

da América do Norte em presença<br />

da Espanha na questão <strong>de</strong> Cuba,<br />

continúa no mesmo pé <strong>de</strong> irritante<br />

interferência nos negócios cubanos,<br />

que é a orientação mais dominante<br />

na opinião americana.<br />

A intransigência espanhola, que<br />

se não <strong>de</strong>smente por nenhum facto,<br />

antes, pelo contrário, é affirmada<br />

a cada hora pelos homens<br />

públicos da nação vizinha e conclamada<br />

a cada passo pela nação<br />

inteira, faz prever que os acontecimentos<br />

tomarám uma direcção<br />

<strong>de</strong> tal modo opposta aos interesses<br />

da Espanha, que a guerra entre<br />

os dois povos será inevitável.<br />

Bismarck, fallando a respeito do<br />

rompimento provável das relações<br />

entre os dois países, affirmou<br />

que a questão só po<strong>de</strong>ria resolverse<br />

por meio <strong>de</strong> arbitragem, e que<br />

nas condições <strong>de</strong> árbitro só estaria<br />

o Papá. Por outro lado, porém,<br />

reconhece que os Estados-Unidos<br />

da América do Norte, pôvo protestante,<br />

não pô<strong>de</strong> acceitar a arbitragem<br />

do pontífice.<br />

Mas por sua vez a Espanha, pela<br />

voz <strong>de</strong> Sagasta, <strong>de</strong>clara terminantemente<br />

e categoricamente que a<br />

Espanha nunca acceitará nesta<br />

questão, que é vital para a sua honra<br />

e dignida<strong>de</strong>, a interferência <strong>de</strong><br />

nenhum po<strong>de</strong>r extranho; e que não<br />

está resolvida a <strong>de</strong>ixar submetter<br />

a qualquer arbitragem, seja <strong>de</strong><br />

quem fôr, as questões a que, como<br />

a esta, está ligado o orgulho e o<br />

brio nacional.<br />

D'aqui se conclue, pois, que, dada<br />

a impotência ou, pelo menos, a<br />

<strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> da Espanha para resolver<br />

o problema <strong>de</strong> Cuba, e, ainda,<br />

a imposição americana, que faz<br />

pressão sobre o governo e que em<br />

pouco tempo a ha <strong>de</strong> exercer sobje<br />

o próprio Mac-Kinley, a situaçao<br />

tensa dos dois países se resolverá<br />

<strong>de</strong> modo violento por uma<br />

guerra entre os dois povos, <strong>de</strong> que<br />

resultará, sem dúvida, o mais completo<br />

aniquillamento material da vizinha<br />

Espanha.<br />

Abatimento material, por certo;<br />

que na nobreza do seu sentimento<br />

patriótico, no orgulho do seu nome<br />

e no respeito e veneração pelo seu<br />

passado glorioso, a Espanha não<br />

se <strong>de</strong>ixará succumbir <strong>de</strong>shonrada.<br />

Outro elemento perturbador das<br />

apparentes boas relações internacionaes<br />

dos dois países é o caso<br />

do cruzador Maine, àcêrca do qual<br />

não houve ainda resposta que affastasse<br />

<strong>de</strong> vês quaesquer responsabilida<strong>de</strong>s<br />

da nação espanhola.<br />

O <strong>de</strong>sastroso acontecimento, em<br />

que a Espanha se portou nobre e<br />

fidalgamente, dando todas as satisfações<br />

á sua po<strong>de</strong>rosa rival e<br />

mostrando-lhe todo o seu pesar<br />

pela enormida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sastre, mais<br />

excitou ainda a irritação yankee<br />

contra os espanhoes.<br />

As estações officiaes norte-americanas<br />

sam <strong>de</strong> opinião que se provará<br />

que a Espanha não foi cúmplice<br />

na explosão do Maine, e que,<br />

por isso, não haverá motivos para<br />

rompimento <strong>de</strong> relações. Se, porém,<br />

se provar que a explosão foi<br />

<strong>de</strong>vida a causa externa, sem ter<br />

havido aquella cumplicida<strong>de</strong>, a Espanha<br />

será tornada responsável<br />

pelo facto, que se <strong>de</strong>u nas águas<br />

espanholas, num pôrto amigo, sob<br />

a protecção e garantia da Espanha,<br />

exigindo-se-lhe nêsse caso uma<br />

in<strong>de</strong>mnização <strong>de</strong> dois a cinco milhões<br />

<strong>de</strong> libras sterlinas.<br />

O governo norte-americano confia<br />

em que a Espanha pagará a<br />

in<strong>de</strong>mnização que se lhe exigir,<br />

com o auxílio <strong>de</strong> capitalistas extrangeiros,<br />

a fim <strong>de</strong> evitar um conflicto,<br />

na previsão do qual se trabalha<br />

activamente naquella po<strong>de</strong>rosa<br />

república em preparar as forças<br />

<strong>de</strong> terra e mar para o caso da<br />

guerra.<br />

*<br />

O caminho que as questões espano-americanas<br />

vam tomando<br />

preoccupam os centros commerciaes<br />

e capitalistas do mundo, que<br />

seguem com a maior attenção todo<br />

o <strong>de</strong>senvolvimento das diversas<br />

phases d êste grave problêma, que<br />

não pô<strong>de</strong> ser resolvido sem pon<strong>de</strong>rações<br />

graves e reflectidas.<br />

A policia prohibiu que, numa<br />

reunião do centro socialista, se fallasse<br />

<strong>de</strong> assumptos políticos.<br />

Quem <strong>de</strong>u a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>via ser o<br />

governo, para respeitar a memória<br />

<strong>de</strong> Passos...<br />

A liberda<strong>de</strong> dos progressistas a<br />

apoiar-se sempre no cacête <strong>de</strong> D<br />

Miguel...<br />

Progressistas — Farçantes!<br />

Começou a publicar-se em Aveiro<br />

mais um jornal republicano — o<br />

Jornal <strong>de</strong> Aveiro. E' grato vêr o<br />

apparecimento successivo <strong>de</strong> novos<br />

luctadores, que <strong>de</strong>nodadamente se<br />

collocam em <strong>de</strong>fêsa da Pátria, propagando<br />

a República.<br />

Ao Jornal <strong>de</strong> Aveiro—que tam<br />

vehementemente entra na lucta dum<br />

pôvo contra um regimen odioso t<br />

odiado, as nossas boas-vindas.<br />

Carta <strong>de</strong> Lisbôa<br />

Summãrio s — A GRANDE QUESTÃO. —<br />

O accordar da opinião. — S. Bento<br />

consegue produzir interesse. — A sessão<br />

tumultuosa. — Os brios da maioria. —<br />

Uma contra-prova. — O pacto entre os<br />

dois partidos. — Exemplos <strong>de</strong> administraçao<br />

extrangeira. — O que a historia<br />

dif ao exercito português. — O que esperam<br />

os crédôres internos. — Só infâmias<br />

justificam a infâmia. — O que vale<br />

a promessa dum ministro. — i3o:ooo<br />

contos <strong>de</strong> «<strong>de</strong>fícits» em 12 annos. — O<br />

chaveco governativo. — O partido republicano<br />

justificado pelos monárchicos.<br />

— O <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> todos os portuguêses. —<br />

A PERSEGUIÇÃO Á IMPRENSA. FaCtOS<br />

eloquentes. — Tyrannos que parecem<br />

burros. — O que êlles são <strong>de</strong> facto.<br />

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