310-320 - Universidade de Coimbra
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LITTERATURA E ARTE<br />
Última pagina da IPaling-enésia<br />
Se eu te amo tanto e só no Amôr se inspira<br />
.Meu doido Coração para os seus versos,<br />
Como é que assim tam outros, tam diversos<br />
Dos versos que imagino os oiço á Lyra ?!<br />
Bellos e tersos vivo-os: e assim tersos<br />
E bellos é que o peito m'os suspira...<br />
Mas eu que os diga! o fogo não transpira:<br />
Mandam-me fumo apenas, os perversos!<br />
Cantam-me em todo o sangue: nestes nervos<br />
Sonoros vibram: ao meu lábio assomam:<br />
Estrophes immortaes, vou escrever-vos !<br />
Ei-lo! tenho-o na mão — ao meu thesoiro !<br />
... E, nisto, os versos outra fórma tomam:<br />
É lôdo agora o que era d'antes oiro.<br />
Espanha e Estados Unidos<br />
Os Estados Unidos continuam<br />
na sua fébre <strong>de</strong> preparativos. Já<br />
mandaram comprar toda a pólvora<br />
disponível na Europa; já adquiriram<br />
dois navios da república brazileira;<br />
activam-se em Washington<br />
trabalhos para a <strong>de</strong>fesa nacional, e<br />
a Kay West chegaram, segundo<br />
informa a Havas, 15o canhões enormes,<br />
e 67 torpedos submarinos.<br />
Tudo isto sommado dá como<br />
perspectiva a imminéncia da guerra.<br />
E será fundada uma tal previsão?<br />
Um telegramma da Havas<br />
diz que os Estados-Unidos não tomarám<br />
a iniciativa, e caso isso se<br />
realize, as probabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sapparecem<br />
por completo: a guerra não<br />
chegará a travar-se. Assim o julga<br />
o Times inclinando-se a crêr que<br />
tamanhas medidas <strong>de</strong> precaução<br />
téem apenas por fim amedrontar a<br />
opinião pública.<br />
Reuniu ante-hontem a commissão<br />
académica:— composta dos srs.<br />
Alexandre Braga, Annibal Brito,<br />
António Fontes, José Vi<strong>de</strong>ira, Verediano<br />
Gonçalves e Ferreira Lemos—<br />
que ha tempo resolveu ir á<br />
Mealhada fazer uma manifestação<br />
<strong>de</strong> sympathia ao ex-reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
sr. dr. Costa Simões.<br />
Decidiu que essa manifestação<br />
tenha logar ámanhã, e mais acceitar<br />
quaesquer adhesÕes <strong>de</strong> estudantes;<br />
para o que abriu inscripção<br />
na tabacaria da viuva Paula e Silva.<br />
A partida será no comboio das<br />
4 e meia horas da tar<strong>de</strong>.<br />
O curso do 3.° anno jurídico votou<br />
por maioria para seu representante<br />
na homenagem a Sousa Martins<br />
o nosso amigo e correligionário<br />
sr. Bento Cardoso e Castro —<br />
em <strong>de</strong>speito da má vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> meia<br />
5 Folhetim da «RESISTÊNCIA»<br />
ARSENE HOUSSAYE<br />
LÚCIA<br />
Livro I<br />
II<br />
PERFIL E TRÊS QUARTOS DE MADEMOI-<br />
SELLE LÚCIA<br />
Lúcia achou-se mais feliz ainda<br />
que em Paris. Nunca passára da<br />
feira <strong>de</strong> Saint-Cloud. Em Pierrefonds<br />
embriagou-se com todas as<br />
maravilhas agrestes. Nunca lhe<br />
parecia cedo para se levantar, nunca<br />
lhe parecia tar<strong>de</strong> para se <strong>de</strong>itar.<br />
—Admiro-i ne, dizia a rir, <strong>de</strong> não<br />
ter folhas nas mãos e na cabeça,<br />
sentindo-me tam bem nesta terra.<br />
Andaram esquecidos seis semanas<br />
numas férias <strong>de</strong>liciosas. Foi o<br />
Zenith <strong>de</strong> alegria amorosa.<br />
A chegada a Paris foi como que<br />
o <strong>de</strong>spertar dum sonho bom.<br />
Lúcia tinha imaginado que aquella<br />
paixão havia <strong>de</strong> durar sempre.<br />
Não sabia que a felicida<strong>de</strong> só se<br />
postra uma vez ou outra para tor»<br />
RESISTENCIA - Quinta feira, 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1898<br />
CARLOS DE LEMOS.<br />
dúzia a quem <strong>de</strong>sgostava o facto<br />
daquêlle estudante ser republicano.<br />
Também pelo curso do 5.° anno<br />
jurídico, em prejuízo das mesmas<br />
más vonta<strong>de</strong>s, e <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>speitos,<br />
foi votado para o mesmo fim<br />
o nosso talentoso correligionário<br />
sr. Alexandre Braga.<br />
Eis o resultado dos outros cursos:<br />
Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito— i.° anno,<br />
Abel da Motta Veiga; 2. 0 , Carlos<br />
Pinto Coelho, e 4. 0 , António Macieira.<br />
Philosophia, x..° anno—António<br />
Mattos Chaves.<br />
O sr. Cesar da Motta, chefe da<br />
i. a esquadra <strong>de</strong> polícia e secretário<br />
do respectivo commissariádo,<br />
regressou hontem <strong>de</strong> madrugada<br />
<strong>de</strong> Lisbôa, vindo <strong>de</strong> acompanhar<br />
ao hospital <strong>de</strong> alienados uma po<br />
bre louca — Rosaria da Conceição,<br />
<strong>de</strong> 20 annos, natural <strong>de</strong> Castello<br />
Viegas — que endoi<strong>de</strong>ceu em consequência<br />
dum parto prematuro.<br />
A infeliz estava ha tempo a tratar-se<br />
nos hospitaes da Universi<br />
da<strong>de</strong> on<strong>de</strong> teve as manifestações<br />
<strong>de</strong> alienação que <strong>de</strong>terminaram o<br />
ser removida para Rilhafoles.<br />
A população culta da Rússia<br />
prepara-se para festejar a 28 <strong>de</strong><br />
agosto próximo o 7o. 0 anniversário<br />
<strong>de</strong> Leon Tolstôí, o adoravel pessimista<br />
da Sonata à Kreut\er.<br />
Retiraram hontem para Lisbôa,<br />
<strong>de</strong> uma digressão ao Bussaco, os<br />
pintores Malhoa e António Ramalho<br />
que vieram, commissionados<br />
pelo Grémio Artístico, pedir ao sr.<br />
dr. Ayres <strong>de</strong> Campos alguns quadros<br />
da sua valiosa collecção para<br />
a exposição d'arte que se projecta<br />
realizar em Lisbôa durante o centenário<br />
da índia. A exposição comprehen<strong>de</strong>rá<br />
as obras d'arte <strong>de</strong> pin-<br />
nar mais triste a vida, como o fogo<br />
d'artifício que só brilha <strong>de</strong> noite.<br />
Um dia, <strong>de</strong> manhã, Eugène Deschamps<br />
disse a Lúcia que tinha<br />
marcado a hora a um outro modêllo,<br />
um pouco menos magra,<br />
porque Lúcia não era perfeita.<br />
Indignou-se, jurou que havia <strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>itar o modêlo pela janella do<br />
atelier, ameaçou-o <strong>de</strong> ir fazer-se<br />
pintar por outro pintor.<br />
— Pois vai! disse o amante que<br />
não gostava dos amores eternos.<br />
Lúcia chorou, juntou os vestidos<br />
e fingiu que se ía. Era exactamente<br />
a hora a que a outra <strong>de</strong>via chegar.<br />
Tornou a entrar exclamando:<br />
— Não me hei-<strong>de</strong> ir embora!<br />
O artista <strong>de</strong>satou a rir para pôr<br />
final a scena sentimental, mas não<br />
vira ainda o fim ás lágrimas e á<br />
cólera <strong>de</strong> Lúcia. Teimou e impôsse.<br />
Brincou com os cabellos do nôvo<br />
modêllo, e os cabellos ficaramlhe<br />
na mão. Atirou-os á cara do<br />
pintor e elle bateu-lhe.<br />
Durante três mêses repetiu-se a<br />
mesma scena no atelier e em outras<br />
partes. Quanto mais se <strong>de</strong>sprendia<br />
Eugène Deschamps, mais<br />
se agarrava Lúcia. Lágrimas, <strong>de</strong>sesperos,<br />
<strong>de</strong>smaios; o leitor imagina<br />
todo êste fim trágico.<br />
Lúcia soffreu todas as misérias<br />
da paixão. Quisera arrancar o coração,<br />
quisera morrer, —até que<br />
tores e esculptores portuguêses durante<br />
o séeulo.<br />
O sr. dr. Ayres <strong>de</strong> Campos ce<strong>de</strong>u<br />
todos os quadros que os distinctos<br />
pintores escolheram na sua<br />
vasta collecção, sem dúvida a mais<br />
notável do país em obras do movimento<br />
que anda attribuido á influência<br />
superior <strong>de</strong> D. Fernando<br />
que em história elementar é cognominado<br />
o rei-artista.<br />
Evaristo d.e Carvalho<br />
Encontra-se em <strong>Coimbra</strong> êste<br />
nosso talentoso correligionário e<br />
distincto collega da Vo\ <strong>de</strong> Soure.<br />
Cumprimentamos o intrépido republicano.<br />
O lente jubilado da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
Philosophia sr. dr. Simões <strong>de</strong> Carvalho,<br />
recebeu a visita do <strong>de</strong>cano<br />
da mesma faculda<strong>de</strong>, que por ella<br />
foi encarregado <strong>de</strong> dar os pêsames<br />
a s. ex. a pela morte <strong>de</strong> sua irmã a<br />
sr. a D. Anna Men<strong>de</strong>s Simões <strong>de</strong><br />
Castro.<br />
Ao sr. dr. Augusto Men<strong>de</strong>s Simões<br />
<strong>de</strong> Castro, filho da fallecida,<br />
enviou o sr. dr. Bernardino Machado<br />
uma carta <strong>de</strong> condolência<br />
em nome do Instituto, <strong>de</strong> que o<br />
mesmo sr. dr. Augusto Men<strong>de</strong>s é<br />
prestante sócio.<br />
Também falleceu, ante-hontem, o<br />
sr. José Francisco d'01iveira Reis,<br />
que foi thesoureiro da junta districtal<br />
durante muito tempo, e era o<br />
mais antigo negociante <strong>de</strong> mercearia<br />
em <strong>Coimbra</strong>, cujo estabelecimento<br />
tinha ha muitos annos na<br />
Praça do Commércio.<br />
Rita <strong>de</strong> Jesus, casada com o funileiro<br />
Sátiro Brandão, em companhia<br />
<strong>de</strong> quem resi<strong>de</strong> na rua Direita,<br />
tentou suicidar-se tomando uma<br />
quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> massa <strong>de</strong> phósphoro<br />
em água, seguidamente a uma<br />
altercação que teve com o marido.<br />
Mercê da promptidão com que<br />
foi soccorrida, ainda agora pou<strong>de</strong><br />
ser salva, pois é esta a segunda vez<br />
que preten<strong>de</strong> pôr termo á vida por<br />
meio <strong>de</strong> envenamento.<br />
Foi hoje o acto do juramento e<br />
posse do novo commissário <strong>de</strong> po<br />
licia, nomeado por <strong>de</strong>creto do dia<br />
10, sr. Francisco Marques Pereira<br />
<strong>de</strong> Lemos, illustre capitão <strong>de</strong> infanteria<br />
23.<br />
Ha dias fôram mordidos por um<br />
cão hydróphobo Joaquim Maria e<br />
sua filha Rosa <strong>de</strong> Mello, naturaes<br />
do casal da Bemposta, freguezia <strong>de</strong><br />
S. Martinho do Bispo, que o commissariado<br />
<strong>de</strong> policia fez seguir<br />
hontem á noite para Lisboa, a receber<br />
curativo no instituto bactereológico.<br />
um dia se resignou a viver sem<br />
coração.<br />
Nêsse dia tinham-lhe offerecido<br />
para se estrear numa mágica.<br />
Foi o primeiro passo da sua no<br />
va vida.<br />
— Faço <strong>de</strong> Deusa, disse ella com<br />
orgulho, é <strong>de</strong> bom agouro. Hei <strong>de</strong><br />
vingar-me, fazendo ajoelhar toda a<br />
gente aos meus pés.<br />
Imaginava que a verda<strong>de</strong>ira voluptuosida<strong>de</strong><br />
era a da traição, não<br />
era a do amôr. Des<strong>de</strong> aquélle mo<br />
mento para ella a felicida<strong>de</strong> da<br />
mulher consistia em fazer a felici<br />
da<strong>de</strong> dum homem, enquanto outro<br />
soffria.<br />
Teve, não se sabe bem porquê<br />
uma longa fila d'adoradores atrás<br />
<strong>de</strong>lia. Esmagada pela primeira paixão,<br />
tinha o encanto fatal das mulheres<br />
que tem amado. Depois tinha<br />
horas <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira bellêza.<br />
Sabia mudar a physionomia, dar<br />
expressão aos olhos.<br />
Tinha jogado tudo. Com o primeiro<br />
luis comprou luvas e um leque,<br />
com o segundo umas botas<br />
elegantes, com o terceiro alugou<br />
um vestido, com o quarto passeiou<br />
no bosque, com o quinto jantou no<br />
Monlin-Ronge.<br />
Não tinha o prejuízo da constância;<br />
dizia com o phiiosopho:<br />
«Ser infiel ao amante, e ser fiel ao<br />
amôr.»<br />
Eleições municipaes<br />
Para a câmara municipal <strong>de</strong> Cantanhe<strong>de</strong><br />
fôram eleitos:<br />
Effectivos—Arcipreste Ernesto<br />
erreira Castello Branco, Arcipreste<br />
José da Costa e Silva, Vigário<br />
José. d Abrantes Gomes Coelho,<br />
José Pinheiro Festas, Francisco<br />
Gonçalves Salvador, Joaquim Rodrigues<br />
Netto e António Francisco<br />
das Neves.<br />
Substitutos—Manuel Lopes Valente,<br />
Francisco dos Santos Silva,<br />
Emilio Rodrigues Caetano, António<br />
Diniz Júnior, José Martins, António<br />
d'01iveira e José Simões Dias.<br />
Para a <strong>de</strong> Penacova:<br />
Effectivos—Bacharel José Albino<br />
Ferreira, Pedro Ferreira d'Aguiar,<br />
António Carlos Pereira Montenegro,<br />
António Alves <strong>de</strong> Oliveira,<br />
Joaquim Maria da Silva, Joaquim<br />
Lopes Trinda<strong>de</strong> e Joaquim<br />
dAlmeida <strong>Coimbra</strong>.<br />
Substitutos—José Joaquim Carvalho,<br />
Alfredo d'01iveira Gonçalves,<br />
José Marques Gonçalves, Manuel<br />
Caetano da Fonseca, José Dias<br />
Ferreira, Julio Rodrigues Ferreira<br />
dos Santos e José Henriques Castanheira.<br />
Em reunião ha dias effectuada,<br />
os estudantes do curso transitório<br />
do lyceu resolveram pedir ao governo<br />
para consentir que haja exames<br />
em outubro e enviar uma circular<br />
aos alumnos dos <strong>de</strong>mais lyceus<br />
do país convidando-os a patrocinarem<br />
o pedido.<br />
A commissão nomeada para os<br />
necessários trabalhos <strong>de</strong>ve dar contas<br />
do que têm feito em nova reunião<br />
convocada para terça feira, na<br />
qual também será lida e approvada<br />
a circular.<br />
Digressão<br />
A tuna académica d'esta cida<strong>de</strong><br />
resolveu aproveitar os três feriados<br />
seguidos que vam dar-se nos<br />
dias 19, 20 e 21, para fazer uma<br />
digressão a Viseu, partindo ás 6<br />
horas da manhã <strong>de</strong> sábbado.<br />
Segundo telegrammas vindos, é<br />
anciosamente esperada a sua visita<br />
áquella cida<strong>de</strong>, cuja população lhe<br />
prepara uma recepção penhorante,<br />
á qual a tuna correspon<strong>de</strong>rá promovendo<br />
saraus e matinées.<br />
Foi preso ante-hontem e posto á<br />
disposição do sr. commissário <strong>de</strong><br />
polícia, António da Silva, creado<br />
<strong>de</strong> Manuel Henriques, <strong>de</strong> Pombal,<br />
que, tendo sido encarregado por<br />
seu amo-<strong>de</strong> vir a <strong>Coimbra</strong>, on<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>via chegar na manhã <strong>de</strong> domingo,<br />
trazer uns 90 carneiros ao fornecedor<br />
<strong>de</strong> carnes sr. Juzarte Pas-<br />
Se escolhêra o theátro, apesar<br />
<strong>de</strong> ter bem má orthographia, não<br />
fôra por amôr da arte. Todo o pe<strong>de</strong>stal<br />
é bom sobre tudo o do palco.<br />
Quando se quer pôr a bellêza<br />
em acções, o theatro dá muitos accionistas.<br />
Gontran Staller foi um accionista<br />
sem par. Teve a infelicida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
entrar nas Bouffes-Parisiens, uma<br />
noite em que não sabia que fazer.<br />
Nessa noite Lúcia estava encantadora.<br />
Cantava mal, mas com uma<br />
bôcca tam bonita!...<br />
Gontran sabia que a entrada no<br />
palco das Bouffes-Parisiens não<br />
era prohibida como a do jardim<br />
dos Hesperi<strong>de</strong>s. Tinha jantado com<br />
Offenbach que foi bater á porta <strong>de</strong><br />
Lúcia: Battei que vos abrem a<br />
porta. O cor<strong>de</strong>iro entrou na casa<br />
do lôbo. Não achou que os <strong>de</strong>ntes<br />
<strong>de</strong> Lúcia fossem muito agudos.<br />
Lúcia fez-se virtuosa. Mas no<br />
fim do espectáculo sacrificou-lhe o<br />
amante da vespera. Era um môço<br />
diplomáta que lhe tinha mandado<br />
o coupé e um bilhete maravilhosamente<br />
lacrado. Metteu-se nêlle com<br />
Gontran, rindo ás gargalhadas.<br />
«Como o viscon<strong>de</strong> se vai divertir!<br />
disse entre duas risadas. E accrescentou,<br />
muito séria: «Esta partida<br />
vai fazer-me notar.»<br />
Ha no mundo mulheres que vingam<br />
assim todas as outras. À actriz<br />
choal, ainda não tinha apparecido<br />
ao cabo <strong>de</strong> dois dias.<br />
Indagada a causa, apurou-se que<br />
se <strong>de</strong>ixára ficar por Vallongo, freguezia<br />
<strong>de</strong> Antanhol, a ven<strong>de</strong>r os<br />
carneiros por conta própria, facto<br />
que <strong>de</strong>terminou um segundo mandatário<br />
a requisitar a prisão.<br />
Está já averiguado que ainda conseguiu<br />
ven<strong>de</strong>r oito rezes, utilisando<br />
em proveito próprio a respectiva<br />
importância. Respon<strong>de</strong>rá em juizo<br />
pelo abuso <strong>de</strong> confiança.<br />
Effectuou-se hôje a annunciada<br />
vistoria ao Theátro-circo.<br />
A commissão <strong>de</strong> peritos nomeada<br />
pelo sr. governador civil compu<br />
nha-se dos srs. commissário <strong>de</strong> poli<br />
cia, engenheiros Theóphilo Goes<br />
Fortunato Themudo e Jorge Luce<br />
na, e inspector do serviço d'incéndios<br />
José Pereira da Cruz.<br />
C U B A<br />
Insinúa o Fígaro que o papa<br />
sempre será encarregado <strong>de</strong> resolver,<br />
como árbitro suprêmo, a momentosa<br />
questão cubana.<br />
A notícia parece ser absolutamente<br />
infundada e muito pouco<br />
provável.<br />
E contra êste mesmo boato se<br />
<strong>de</strong>clararam alguns bispos, um dos<br />
quaes, o <strong>de</strong> Chilapa, já em tempo<br />
teve íntimas relações com Sua Santida<strong>de</strong>.<br />
O imperador Guilherme, que os<br />
jornaes ainda ha pouco tempo accusaram<br />
<strong>de</strong> querer metter-se na<br />
questão cubana, <strong>de</strong>smentiu terminantemente<br />
tal insinuação.<br />
A Inglaterra também não pare<br />
ce querer intervir na questão cubana,<br />
tendo o sr. Cuzzon <strong>de</strong>clarado<br />
ser inopportuno respon<strong>de</strong>r a<br />
certas perguntas nêsse sentido dum<br />
<strong>de</strong>putado írlandêz.<br />
Subsistem as queixas contra a<br />
maneira in<strong>de</strong>licada como o público<br />
está sendo recebido nos talhos pelos<br />
empregados do sr. Paschoal.<br />
Qualquer que seja a explicação que<br />
pretenda dar-se ao caso, a verda<strong>de</strong><br />
é que o consumidor tem direito<br />
a ser respeitado, e não pô<strong>de</strong> estar<br />
á mercê da in<strong>de</strong>licadêza a má disposição<br />
dos senhores cortadores.<br />
Attenda a isto o sr. Paschoal.<br />
Manteiga da Conraria<br />
Acha-se á venda no Gafe Lusitano.<br />
20<br />
Novo estabelecimento<br />
brir-se-ha brevemen-<br />
. te ao público um novo<br />
estabelecimento <strong>de</strong> ferragens, tintas,<br />
etc, na Praça 8 <strong>de</strong> Maio, <strong>de</strong><br />
que é proprietário LOTHRARIO LOPES<br />
MARTINS GAMILHA.<br />
tinha tomado para si êsse papel.<br />
Por isso costumava dizer: «No<br />
theátro represento <strong>de</strong> mulher; fóra<br />
do theatro faço d'homem.»<br />
De vezes em quando tinha um<br />
quarto <strong>de</strong> hora <strong>de</strong> ternura e amôr<br />
por Gontran que tinha uma vága<br />
similhança com o seu primeiro<br />
amante. E accrescentava: «Não é<br />
a mesma coisa. Gontran é gentil<br />
<strong>de</strong> mais para eu po<strong>de</strong>r chorar lágrimas<br />
d'amôr por êlle.<br />
III<br />
UM PAE ROMANO<br />
Entretanto, Gontran Staller tinha<br />
entrado em casa pensando no<br />
bouquet <strong>de</strong> Lúcia e nos duzentos e<br />
cincoenta e seis mil francos que<br />
tinha que pagar naquêlle dia.<br />
O pae <strong>de</strong> Gontran levantára-se<br />
ás cinco horas da manhã.<br />
Devia partir no primeiro comboio<br />
para Beauvais on<strong>de</strong> tinha um<br />
processo que lhe dava cuidado,<br />
uma questão <strong>de</strong> revindicação <strong>de</strong><br />
mata.<br />
Gontran foi direito ao Gabinete<br />
do pae, por saber que êlle tinha<br />
que partir. Abriu a porta e quiz<br />
fallar; não teve uma palavra para<br />
dizer. O pae voltára-se, e vira apesar<br />
da pouca luz do quarto a pallidêz<br />
do filho.<br />
< (ContínÚAh