16.04.2013 Views

310-320 - Universidade de Coimbra

310-320 - Universidade de Coimbra

310-320 - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

N.° <strong>310</strong> COIMBRA—Domingo, 13 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1898 4.° ANNO<br />

11 RENEGADO!<br />

Entrou na or<strong>de</strong>m do dia da<br />

câmara dos <strong>de</strong>putados o projecto<br />

<strong>de</strong> lei sobre liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

imprensa, que a opposição regeneradora<br />

resolveu não discutir.<br />

A maioria, imitando o processo<br />

seguido no Solar dos 'Barrigas,<br />

<strong>de</strong>u or<strong>de</strong>m a alguns dos<br />

seus membros para que impugnassem<br />

o projecto ou proposessem<br />

emendas, e lá se vam<br />

per<strong>de</strong>r algumas sessões em discussão<br />

enfadonha, á sobre-posse,<br />

sem a mínima utilida<strong>de</strong> para<br />

o país. Mas assim se torna necessário<br />

para livrar o governo<br />

<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s, pois que não<br />

tem projecto algum em condições<br />

<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r ser discutido na<br />

câmara dos <strong>de</strong>putados. E note-se<br />

que, estando quasi a findar<br />

a sessão legislativa, o parlamento<br />

só tem discutido dois<br />

ou três projectos <strong>de</strong> iniciativa<br />

ministerial, <strong>de</strong>ixando a câmara<br />

dos pares <strong>de</strong> realizar algunias<br />

sessões por não ter que fazer!<br />

Nisto <strong>de</strong>u o partido progressista,<br />

que ha pouco mais dum<br />

anno se apresentava como o<br />

salvador do país e que esteve<br />

na opposição nada menos <strong>de</strong><br />

cinco longos annos, que a elle<br />

pareceram uma eternida<strong>de</strong> para<br />

tudo, menos para estudar a sério<br />

os males <strong>de</strong> que está soffrendo<br />

o país e os meios a<strong>de</strong>quados<br />

para os supprimir ou<br />

attenuar.<br />

Tendo revelado uma incapacida<strong>de</strong><br />

absoluta para promover<br />

a restauração económica e financeira<br />

do país e inaugurar na<br />

administração uma épocha <strong>de</strong><br />

moralida<strong>de</strong>, uma coisa ha em<br />

que ó partido progressista e o<br />

governo que o representa tem<br />

mostrado uma extraordinária<br />

activida<strong>de</strong> e in<strong>de</strong>fectivel energia:<br />

é em renegar, um a um, todos<br />

os compromissos que tomou<br />

na opposição, todas as<br />

promessas que fez e do modo<br />

mais solemne.<br />

Nêste ponto pô<strong>de</strong> affirmarse,<br />

sem a mínima hesitação, que<br />

o partido progressista é único.<br />

Não ha nenhum que o exceda<br />

na apostasia.<br />

Após as mais ru<strong>de</strong>s campanhas<br />

na imprensa e em comícios<br />

contra os attentados do governo<br />

regenerador, que o prece<strong>de</strong>u<br />

no po<strong>de</strong>r, á liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

imprensa exercendo a censura<br />

prévia, apprehen<strong>de</strong>ndo jornaes<br />

e promovendo querellas, o governo<br />

progressista foi muito<br />

mais longe do que elle, pois não<br />

só tem praticado os mesmos<br />

actos mas permittido que o seu<br />

<strong>de</strong>legado juiz Veiga só <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> ter almoçado com todo o<br />

socego e tratado <strong>de</strong> alguns negócios<br />

particulares, leia os jornaes<br />

republicanos para verificar<br />

se elles po<strong>de</strong>m correr sem que<br />

o Paço dêsse facto lhe peça<br />

contas, e man<strong>de</strong>, á i hora da<br />

tar<strong>de</strong>, communicar á respectiva<br />

redacção que o jornal pô<strong>de</strong> ser<br />

publicado sem alteração alguma!<br />

Isto nunca se fez^m tempos<br />

do governo regenerador.<br />

Cabe essa glória ao progressista.<br />

O mesmo partido progressista,<br />

que tanto clamou contra o<br />

governo regenerador por elle<br />

não ligar a <strong>de</strong>vida importância<br />

aq^ célebres comícios dá; colligação<br />

liberal, em que os seus<br />

membros mais graduados não<br />

poucas vezes fizeram affirmações<br />

anti-monárchicas,vem agora<br />

<strong>de</strong>clarar, por intermédio do<br />

seu chefe, que «não toma como<br />

manifestação da opinião pública<br />

o que se tem dito nos comícios<br />

promovidos por um partido<br />

radical»; que «não ha opposição<br />

ao projecto, mas especulação<br />

dos partidos da opposição.»<br />

Foi o chefe do partido<br />

progressista, o mesmo que hontem<br />

apoiou e animou os comícios<br />

da colligação liberal, quem<br />

na câmara dos pares, em resposta<br />

a um orador que pedia<br />

ao governo reparasse no movimento<br />

que se vai dando por<br />

todo o país contra o projecto<br />

da conversão, fez aquellas affirmações.<br />

Não é possível levar mais<br />

longe a incoheréncia e a falta<br />

<strong>de</strong> pudôr político.<br />

O partido progressista enaltece<br />

na opposição o que combate<br />

no governo e pratica no<br />

governo o que con<strong>de</strong>mnou na<br />

opposição. E a isso se reduz<br />

toda a sua activida<strong>de</strong>, nisso se<br />

concentra toda a sua energia.<br />

Também uma só palavra o <strong>de</strong>fine<br />

:<br />

E um renegado.<br />

A SENTENÇA<br />

Phrases do sr. Luciano Monteiro<br />

na câmara dos <strong>de</strong>putados:<br />

«Queira Deus que os parlamentares<br />

que hôje téem assento nesta casa náo tenham<br />

que trocar as ca<strong>de</strong>iras em que se<br />

sentam pelos bancos dos réus. Refiro-me<br />

ao tribunal popular, ao tribunal revolucionário,<br />

que não dá meias sentenças,<br />

mas só dá a absolvição ou a morte.»<br />

A Rússia prepara-se. Já fôi publicado<br />

um ukase mandando <strong>de</strong>stinar<br />

90 milhões <strong>de</strong> rublos para construcções<br />

e artilherias navaes.<br />

Ai da tríplice! ...<br />

Nova incoheréncia<br />

O sr. José Luciano <strong>de</strong> Castro,<br />

antigo meetingueiro e actual presi<strong>de</strong>nte<br />

do conselho <strong>de</strong> ministros<br />

— ou da quadrilha <strong>de</strong> ladrões, <strong>de</strong><br />

que Dias Ferreira tantas vezes tem<br />

fallado —, como fôsse interpellado<br />

pelo sr. Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chancelleiros<br />

sobre a imponente significação dos<br />

comícios últimamente realizados<br />

em Lisbôa, respon<strong>de</strong>u que não o<br />

preoccupavam os comícios, nem tomava<br />

como expressão da opinião<br />

publica o que nélles se di\ia.<br />

Isto é único, e phantástico, relativamente<br />

a um homem que conquistou<br />

o po<strong>de</strong>r á custa <strong>de</strong> sabujices<br />

para com o pôvo, e para com<br />

os republicanos.<br />

Mas também é progressista...<br />

E está <strong>de</strong>sculpado: porque num<br />

partido em que a coheréncia política<br />

não existe, também <strong>de</strong>vem ser<br />

admittidas todas estas <strong>de</strong>fecções revoltantes<br />

ao que se fez no passado.<br />

Contra a conversão<br />

E hôje, como noticiámos, que<br />

<strong>de</strong>ve ter logar na cida<strong>de</strong> do Porto<br />

um comício republicano <strong>de</strong> protesto<br />

contra a obra perversa <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrocada,<br />

que os traidores da pátria,<br />

d'accôrdo com os <strong>de</strong>putados—que<br />

<strong>de</strong>putados! — tramaram contra a<br />

autonomia do nosso país.<br />

A força ingente <strong>de</strong> que dispõe<br />

naquella cida<strong>de</strong> fc partido ^<strong>de</strong>mocrttíCo<br />

— que tem" á sua" frente* os<br />

gran<strong>de</strong>s mestres da república, em<br />

quem todos nós admiramos a energia<br />

e o <strong>de</strong>sassombro — , a "odiosa<br />

obra que o governo prepara, combinado<br />

com êsse surdo revoltar das<br />

consciências honestas contra a vileza<br />

do regimen que' nos ven<strong>de</strong>, <strong>de</strong>vem<br />

revestir duma imponência esmagadora<br />

essa manifestação tam sympáthica<br />

e tam nobre.<br />

E o pôvo que protesta...<br />

*<br />

A imprensa, ainda a incolor, que<br />

não está completamente algemada<br />

ás vonta<strong>de</strong>s progressistas, vai expandindo<br />

o seu grito <strong>de</strong> revolta<br />

contra o infamante projecto.<br />

E ainda ha pouco o nosso collega<br />

<strong>de</strong> Lisbôa Diário <strong>de</strong> Noticias<br />

apresentou em artigo do fundo uma<br />

crítica á conversáo, salientando<br />

a falta <strong>de</strong> confiança, tam sabida e<br />

tam vulgar, nas classes dirigentes.<br />

Eis umas passagens désse artigo:<br />

«Enten<strong>de</strong>mos que o país tem recursos<br />

<strong>de</strong> sobra para se manter dignamente, e<br />

só o que lhe falta é um pouco mais <strong>de</strong><br />

tino administrativo.»<br />

Pouco, não: muito mais. E para<br />

o provar leia-se ainda:<br />

«Ao passo que procuramos transaccionar<br />

com o extrangeiro, inten<strong>de</strong>mos que<br />

o melhor meio para conseguir o nosso<br />

fim, é mostrar-lhe que sômos os primeiros<br />

a rebaixar-nos.»<br />

Deixar-se-ham, porém, êlles —<br />

os extrangeiros, os crédores, — imbuir<br />

com estas nossas súpplicas,<br />

ou antes com as súpplicas dos governantes<br />

? E o que resta <strong>de</strong>monstrar,<br />

porque diz ainda o mesmo<br />

jornal:<br />

«O projecto não é mais que uma base<br />

official, sanccionada pelas cortes, para se<br />

chegar a,um accôrdo com os crédores.<br />

É possivel que o governo tenha já nego<br />

ciaçóes entaboladas e em estado <strong>de</strong> a<strong>de</strong>antamento,<br />

com que possa contar para o<br />

bom êxito dos seus planos financeiros,<br />

mas d'aquí até lá náo lhe faltarám amargos<br />

<strong>de</strong> bôcca, obstáculos e contrarieda<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> toda a espécie. A emprèza não é<br />

fácil nem invejável, porque náo é possivel<br />

fallar <strong>de</strong> cabeça erguida a quem tem<br />

sobre nós a incontestável supremacia do<br />

direito e da força.»<br />

Ora eis, em última anályse, o<br />

que no dizer dum orgão officioso,<br />

é a conversão: uma baixêza, uma<br />

humilhação, que nada nos vale, e<br />

nada nos allivía.<br />

E a vergonha do país, preparada<br />

pelos que em tempos se quizeram<br />

impingir seus salvadores!<br />

Ao que consta, o sr. D. Carlos<br />

vai renovar o seu antigo costume<br />

<strong>de</strong> passar os dias a fazer explora<br />

ções oceonográphicas.<br />

Não nos admira, porque agora a<br />

caça é <strong>de</strong>fesa...<br />

E nisto passa o tempo o rei <strong>de</strong><br />

Portugal!<br />

A F O R N A D A<br />

Ha a notar, sobre a projectada<br />

fornada, que o actual governo vai<br />

propôr ao rei para dignos pares<br />

alguns membros da câmara dos<br />

<strong>de</strong>putados — que assim votarám<br />

duas vezes o que um homem honrado<br />

e digno não votaria nunca.<br />

Sam os srs. Eduardo Coelho,<br />

Paes Abranches, Elvino <strong>de</strong> Brito,<br />

dr. Laranjo e Alto Mearim.<br />

Vam acolytar duas vezes o go-<br />

verno na preparação da ruina do<br />

país.<br />

Elles — alguns dos quaes querem<br />

ainda passar por honrados —<br />

vam-se sujeitar á práctica <strong>de</strong>ssa<br />

vergonhosa infâmia, pela segunda<br />

vez !...<br />

Mas consoli<strong>de</strong>-se a monarchia,<br />

e a dignida<strong>de</strong>, a honra<strong>de</strong>z, atirem-se<br />

para trás das costas. •<br />

Acima da pátria Zé Luciano...<br />

enquanto os papeis se não inver-,<br />

tem.<br />

Quando foi da discussão do projecto<br />

da conversão no parlamento,<br />

notou-se a successiva retirada dos<br />

ministros regeneradores, que iam<br />

faltando ás sessões da câmara com<br />

uma frequência tal a ponto <strong>de</strong> em<br />

cada artigo a votação opposicionista<br />

ser cada vez menor.<br />

Mas não admira: já ha muito<br />

tempo sabemos o que é, o que vale<br />

e o que faz a opposição monárchica.<br />

Fóra ou <strong>de</strong>ntro do po<strong>de</strong>r, sam<br />

sempre os mesmos: covar<strong>de</strong>s e imbecis,<br />

sem energia política, nem dignida<strong>de</strong><br />

moral.<br />

E está commentado o facto.<br />

U m novo cruzador<br />

A casa Amstrong, que estava<br />

resolvida a pôr no Tejo o cruzador<br />

D. Carlos em maio próximo, por<br />

occasião do centenário da índia,<br />

não pô<strong>de</strong> satisfazer êste compromisso<br />

por causa da grève dos operários<br />

mettalúrgicos, entregando-o<br />

sómente em novembro seguinte.<br />

Os jornaes affectos ao governo<br />

não cessam <strong>de</strong> apregoar, em obediência<br />

ao mesmo governo, que o<br />

país não tem que recear nenhumas<br />

exigências dos crédores extrangeiros,<br />

em resultado da conversão.<br />

Assim será. No entanto francêses<br />

e allemães já tratam <strong>de</strong> obter<br />

que os respectivos governos lhes<br />

apoiem reclamações ten<strong>de</strong>ntes a<br />

evitar que por parte <strong>de</strong> Portugal<br />

seja negociado qualquer empréstimo<br />

que tenha por base ou caução<br />

as receitas dos caminhos <strong>de</strong> ferro<br />

do Estado, que elles preten<strong>de</strong>m<br />

reservar como garantia addiccional<br />

aos seus créditos.<br />

De caminho o jornal allemão—<br />

Gaveta da Colónia, apreciando a<br />

questão financeira portuguêsa, vai<br />

aventando que é necessário applicar-se-nos<br />

lição idêntica á que recebeu<br />

a Grécia. Contudo o governo<br />

manda apregoar que pela conversão<br />

não temos a recear exigências<br />

dos crédores externos.<br />

Mas, on<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>m levar-nos<br />

os filhos <strong>de</strong> Passos ?...<br />

Confirma-se a notícia <strong>de</strong> que a<br />

China vai effectivamente abrir os<br />

seus portos e os seus rios aos navios<br />

europeus, tendo-se nêsse sentido<br />

feito já o accôrdo entre a Inglaterra<br />

e o Celeste Império.<br />

Bom seria que os governantes<br />

fossem olhando para êste facto,<br />

que pô<strong>de</strong> redundar em prejuízo<br />

para Macau.<br />

Mas, nada esperemos...<br />

Informam <strong>de</strong> Lisbôa que um<br />

grupo <strong>de</strong> militares pensa na creação<br />

dum estabelecimento <strong>de</strong> ensino,<br />

no género do collégio militar,<br />

para as filhas orphãs dos officiaes<br />

do exército <strong>de</strong> terra e mar.<br />

Parece que a instituição é protegida<br />

pelo Paço.<br />

. Foi á assignatura régia o <strong>de</strong>creto<br />

que nomeia commissário interino<br />

<strong>de</strong> polícia nesta cida<strong>de</strong>, o capitão<br />

sr- Francisco <strong>de</strong> Lemos.<br />

Carta <strong>de</strong> Lisbôa<br />

Summário: — A CONVERSÃO. — O que<br />

ha feito e o que resta a fa\er.—O futuro<br />

da nação portuguêsa.—Urgência do<br />

remédio. — Vida ou morte. — AÍNDA A<br />

IMPRENSA. —- cá última apprehensão do<br />

«Taís».—Condições em que ella se fe\.<br />

— O que se conclue.—PREVENÇÕES BÉL-<br />

LICAS.—Desvergonha e mêdo.—NAVAR-<br />

RO-BURNAY.—Comadres cuidadosas.<br />

11 (le março<br />

Está approvado, como sabem,<br />

na câmara dos <strong>de</strong>putados o projecto<br />

da conversão.<br />

Isto é : consummou-se O primeiro<br />

acto da infâmia.<br />

A maioria completo^ a sua obra<br />

<strong>de</strong> cumplicida<strong>de</strong>—obra que se fez<br />

ro<strong>de</strong>ar <strong>de</strong> todas as aggravantes, as<br />

mais abjectas.<br />

Mais alguns dias — duas ou três<br />

semanas—e a infâmia estará finda.<br />

A câmara dos pares, tornada<br />

outra câmara dos <strong>de</strong>putados por<br />

meio duma fornada que nem sequer<br />

susta estratagemas eleitoraes,<br />

dará o seu veto com o mesmo <strong>de</strong>splante,<br />

como se não se tratasse, <strong>de</strong><br />

facto, da morte da Pátria.<br />

Depois falta menos aínda, nada:<br />

a assignatura do rei.<br />

E lá vam as alfân<strong>de</strong>gas para as<br />

mãos dos credores:—as pautas por<br />

conseguinte sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

quaesquer alterações, reclamadas<br />

embora pelos mais altos interesses<br />

nacionaes; o governo, qualquer<br />

que seja, sem auctorização <strong>de</strong> dispor<br />

da principal receita do país; o<br />

país, por um lado, impedido d'exercer<br />

uma faculda<strong>de</strong> absolutamente<br />

necessária para à sua vida económica,<br />

e, por outro, forçado a não satisfazer<br />

os seus mais inadiaveis encargos<br />

e sem receitas para as <strong>de</strong>spêsas<br />

inevitáveis.<br />

E lá vem o extrangeiro pelo<br />

Banco <strong>de</strong> Portugal: — senhor dos<br />

rendimentos da alfân<strong>de</strong>ga e do próprio<br />

banco, que pô<strong>de</strong> levar aos tribunaes,<br />

arrestar, arrestando a própria<br />

nação.<br />

E lá ficam os governos extrangeiros<br />

com po<strong>de</strong>res para intervirem<br />

em favor aos seus credores, porque<br />

o convénio será feito após negociações<br />

com elles.<br />

Emfim, um país que se entrega,<br />

uma Pátria que se esbandalha.<br />

Evitar-se-ha a catástrophe ?<br />

Impedir-se-ha a tempo a vergonha<br />

?<br />

Queiram ser honrados, cumprir<br />

o seu <strong>de</strong>ver, quantos não tem cumplicida<strong>de</strong><br />

no crime que tam apressadamente<br />

caminha para o seu termo,<br />

e êsse crime não se perpétra!<br />

Mas se continuam apenas as <strong>de</strong>clamações,<br />

se a attenção se pren<strong>de</strong><br />

com os que não promettem passar<br />

<strong>de</strong> protestos platónicos, limitando-se<br />

a dizer que é preciso salvar<br />

a Pátria, mas sem coragem<br />

para se pronunciarem pela solução<br />

salvadora—se os que querem apenas<br />

fallar continuam a estugar o<br />

passo aos que querem trabalhar,<br />

Portugal, estará perdido, e com elle<br />

a honra, os brios e os interesses<br />

<strong>de</strong> todos nós.<br />

Sabem já que a polícia tem continuado<br />

dia a dia a lêr O Taís antes<br />

<strong>de</strong> elle ser posto em circulação<br />

e que o número <strong>de</strong> quarta feira<br />

não pou<strong>de</strong> correr mundo. ,<br />

Essa apprehensão <strong>de</strong> quarta feira<br />

confirma quanto dissemos na<br />

última carta, sobre o caracter especial<br />

da perseguição movida ao<br />

mesmo jornal: na apparéneia, o<br />

cúmulo da estupidêz e da incohe-:<br />

réneia; no fundo, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ferir<br />

materialmente — melhor direi, <strong>de</strong><br />

roubar.<br />

Números mais violentos

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!