310-320 - Universidade de Coimbra
310-320 - Universidade de Coimbra
310-320 - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
—r<br />
Não abandonamos o nosso<br />
pôsto.<br />
Após três annos <strong>de</strong> íucta in-<br />
cessante contra a monarchia,<br />
mais viva sentimos a qrença <strong>de</strong><br />
que a re<strong>de</strong>mpção dapátria, que<br />
acima <strong>de</strong> tudo estremecemos,<br />
será dar um golpe <strong>de</strong>cisivo no<br />
regimen político qit a empo-<br />
breceu eprojectaagcra <strong>de</strong>shon-<br />
rá-la, sujeitando-a aoma, admi-<br />
nistração extrangeiri.<br />
Hoje mais do que nunca se<br />
impõe a todos os pirtuguêses,<br />
dignos d'êste nome, d <strong>de</strong>ver <strong>de</strong><br />
se unirem para, nun exforço<br />
suprêmo, salvarfem da última<br />
aífronta, que umfôvdlivrepó<strong>de</strong><br />
soffrer, uma pátiia <strong>de</strong> tam he-<br />
róicas tradições.<br />
Já não sam as iberda<strong>de</strong>s pú-<br />
blicas, que a morarchia foi sup-<br />
primindo uma a ima; já não é<br />
a instrucção, nun país em que<br />
os po<strong>de</strong>res consttuídos publi-<br />
cam uma estatístca da popula-<br />
ção com quatro mihões <strong>de</strong> anal-<br />
phabetos; já não 3 a moralida-<br />
<strong>de</strong> pública, que o Egitnen actual<br />
tanto tem feito baxar involven-<br />
do a nação numi atmosphera<br />
<strong>de</strong> torpêzas e <strong>de</strong> infâmias ; já<br />
nãó é a economia na adminis-<br />
tração, num Estaco em que os<br />
esbanjamentos, ascorrupções e'<br />
as veniagas levaran á bancarô-<br />
ta; já não é só isscque reclama<br />
uma transformaçã radical na<br />
organização polítia: é o pró-<br />
prio nome <strong>de</strong> Portigal, é a sua<br />
autonomia. E é o jartido pro-<br />
gressista que, ao andar-se a<br />
Resistência, estava 'ociferando<br />
contra o thrôno em nome das<br />
garantias constitucidiaes ultra-<br />
jadas, o que, não hvendo re-<br />
vogado nenhuma dç medidas<br />
que con<strong>de</strong>mnou, vai^edir a um<br />
parlamento, para cm exauto-<br />
ração contribuiu tamjem, a ap-<br />
provação dum projeio, a que<br />
<strong>de</strong>u a disparatada <strong>de</strong>signação<br />
<strong>de</strong> — conversão da lívida pú-<br />
blica, que terá como onsequén-<br />
cia fatal uma adminitração ex-<br />
trangeira em Portugd!<br />
Bella lição para ensinamento<br />
dos que viam num <strong>de</strong>erminado<br />
governo e não no pnprio regi-<br />
men a causa da <strong>de</strong>gralação em<br />
que o país se encontra jeloquen-<br />
te e inilludivel confirnação do<br />
que sempre, sem hesitção nem<br />
<strong>de</strong>sfallecimentos, temo sustentado<br />
nas columnas da Resistên-<br />
1<br />
i<br />
cia: só pda mudança do regi-<br />
men político, pela substituição<br />
dos actuaes elementos dirigen-<br />
tes, entrará o país numa phase<br />
<strong>de</strong> regeneração. Da monarchia<br />
nada ha a esptírar. Divorciada<br />
<strong>de</strong> ha muito da nação, só pre- : '<br />
para a sua ruína, a perda da<br />
sua autonomia.<br />
E esta está imminente.<br />
Durante os três annos <strong>de</strong> vida<br />
que a ^Resistência conta tem-se<br />
aggravado extraordináriamente<br />
a situação do 1 país; tornou-se<br />
quasi <strong>de</strong>sesperada- Sentirçdo-se<br />
sem forças para introduzir no-<br />
vos processos d'administração,<br />
queriam ferir interesses e pro-<br />
vocar <strong>de</strong>scontentamentos fataes<br />
para a monarchia; não curando<br />
<strong>de</strong> vigorejar as forças económi-<br />
cas do país pelo <strong>de</strong>sinvolvimen-<br />
to duma sensata protecção ás<br />
indústrias, os governos consi<strong>de</strong>-<br />
ram como única questão vital a<br />
financeira e, para a resolverem,<br />
têem recorrido a expedientes<br />
que <strong>de</strong>ram em resultado uma<br />
situação insustentável. A circu-<br />
lação fiduciária attingiu uma ci-<br />
fra assustadora e o extrangeiro<br />
não recebe papel; é necessário<br />
ouro. Este só pô<strong>de</strong> vir do ex-<br />
trangeiro, que reclama garan-<br />
tias especiaes e, entre éstas, a<br />
superintendência na administra-<br />
ção dos rendimentos que fôrem<br />
consignados aos encargos da<br />
dívida. O governo ce<strong>de</strong>u. O<br />
parlamento ce<strong>de</strong>rá.<br />
E o país ?<br />
Cada vez mais convictos <strong>de</strong><br />
que da realização do i<strong>de</strong>al por<br />
que pugnamos—a proclamação<br />
da República—^ <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> o fu-<br />
turo da pátria, nessa convicção<br />
colhemos alentos para novas e<br />
porfiadas luctas. A <strong>de</strong>scrença<br />
que em tantos espíritos vai pe-<br />
netrando, a indifferença crimi-<br />
nosa em que continúa uma gran-<br />
<strong>de</strong> parte dos cidadãos portuguê-<br />
ses perante um regimen perdi-<br />
do que levou o país á mais ver-<br />
gonhosa e <strong>de</strong>gradante situação,<br />
não entibiarám a nossa ener-<br />
gia.<br />
Saberemos cumprir o nosso<br />
<strong>de</strong>ver até á última.<br />
Continuamos no nosso pôsto.<br />
P A R E S<br />
Parece que agóra, <strong>de</strong>pois do carnaval,<br />
e antes que o projecto da<br />
conversão principie a ser discutido<br />
na câmara alta, sempre vai apparecer<br />
a tal fornada.<br />
Desejamos um bom successo ao<br />
governo, e muitas felicida<strong>de</strong>s aos<br />
neóphytos.<br />
ri.<br />
4- LISTA. CIVIL<br />
Dum magnífico artigo <strong>de</strong> Bruno<br />
sobre a differença para mais <strong>de</strong><br />
3:5gy contos. .. «apenas» nas <strong>de</strong>spêsas<br />
do estado, recortamos um<br />
trecho <strong>de</strong> suggestivos confrontos,<br />
ácerca da famosa lista civil.<br />
Ei-lo:<br />
-1 " v<br />
Rompe logo pelo que á <strong>de</strong>spesa toca,<br />
no capítulo <strong>de</strong> a ordinária, em seu mappa<br />
n.° 2, com a verba <strong>de</strong> 525 contos, como<br />
dotação da família real. No <strong>de</strong>sinvolvimento<br />
por artigos, a primeira parte referente<br />
a encargos geraes consigna que,<br />
pelo que tóca á dotação da família real,<br />
a dotação <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong> el-rei o sr.<br />
D. Carlos I, á razão <strong>de</strong> um conto <strong>de</strong> réis<br />
por dia, somma na roda do anno 365<br />
contos, consoante o <strong>de</strong>termina a carta <strong>de</strong><br />
lei <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1890. Na verda<strong>de</strong><br />
a carta <strong>de</strong> lei <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> ]unho <strong>de</strong> 1890,<br />
confessamos que é um diploma venerável.<br />
Todavia, um conto <strong>de</strong> réis por dia a<br />
um patusco para matar porcos bravos,<br />
na hora exacta em que, com as calças na<br />
mão, o país anda <strong>de</strong> porta em porta dos<br />
agiotas cosmopolitas: ó tio, ó tio, bote p'ra<br />
câ o batel, lá parece, para que digamos,<br />
um pouco forte.<br />
Concomitantemente, e ainda por força<br />
da mesma carta <strong>de</strong> lei, sua magesta<strong>de</strong> a<br />
rainha, a sr." D. Amélia recebe por anno<br />
60 contos <strong>de</strong> réis. Sua alteza real, o<br />
sereníssimo senhor D. Luiz Philippe,<br />
princípe real, recebe por anno 20 contos<br />
<strong>de</strong> réis, pelo serviço que a Portugal presta<br />
com apren<strong>de</strong>r a soletrar pelo méthodo<br />
<strong>de</strong> Joãp <strong>de</strong> Deus. Ao mesmo ternpo, sua<br />
alteza, o sereníssimo senhor infante D.<br />
Manuel,'recebe por anno 10 contos <strong>de</strong><br />
réis, pelo* serviço egualmente relevante<br />
que a Portugal também presta, mordiscando<br />
nas tetas <strong>de</strong> sua ama.' Sua magesta<strong>de</strong>—viuva—a<br />
rainha D. Maria Pia, a<br />
qual nós seus tempos <strong>de</strong> grandêsa, mais<br />
conhecida se tornara pela antonomásia<br />
famosa <strong>de</strong> o anjo da carida<strong>de</strong> (até ha romances),<br />
percebe annualmente 60 contos<br />
<strong>de</strong> réis. Mas isto é por carta <strong>de</strong> lei <strong>de</strong> 1<br />
<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1862. Emqúp.nto a sua alteza<br />
o senhor infante D. Affonso Henriques,<br />
irmão mais novo <strong>de</strong> el-rei, e duque do<br />
Porto (duque do Porto, quel honneur, quel<br />
bonheur, como no refrain da canção dos<br />
senatenrs <strong>de</strong> Beranger) esse é menos favorecido.<br />
Vae-se abotoando por anno só<br />
com 10 contos <strong>de</strong> réis, que não lhe chegariam<br />
para meia missa, se tivesse <strong>de</strong> pagar<br />
as costellas partidas que pelas quelhas<br />
<strong>de</strong> Lisbôa vae <strong>de</strong>ixando a freima da<br />
sua incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cocheiro temerário.<br />
Conta redonda: 525 contos <strong>de</strong> réis por<br />
anno.<br />
Entretanto, a República dos Estados-<br />
Unidos da America do Norte, que conta<br />
para cima <strong>de</strong> 5o milhões <strong>de</strong> habitantes,<br />
no que concerne á questão da lista civil,<br />
dá ao seu presi<strong>de</strong>nte uma somma annual<br />
<strong>de</strong> i25:ooo francos (ou sejam 22:5oo$>ooo<br />
réis) a mais as soldadas <strong>de</strong> alguns creados,<br />
os gastos <strong>de</strong> mobiliário, <strong>de</strong> illuminação,<br />
<strong>de</strong> reparação da Casa-Branca (White-House,<br />
Palacio Presi<strong>de</strong>ncial) que são<br />
votados annualmente. Na Suissa, o Presi<strong>de</strong>nte<br />
da Confe<strong>de</strong>ração recebe i3:5oo<br />
francos. Vem a ser, na nossa moeda <strong>de</strong><br />
Portugal e dos Algarves, senhores da<br />
Guiné, da conquista, commercio e navegação<br />
da Ethiopia, Arabia, Pérsia e Índia—dois<br />
contos quatrocentos e trinta<br />
mil réis. Em 1871, o or<strong>de</strong>nado do Presi<strong>de</strong>nte<br />
da Republica Franceza—pois que<br />
a França em tudo faça as coisas á gran<strong>de</strong><br />
e queira ser a primeira—foi fixado em<br />
600:000 francos, com mais 162:400 francos<br />
para <strong>de</strong>spezas <strong>de</strong> sua casa. O que tudo<br />
monta a cento e trinta e sete contos,<br />
duzentos e trinta e dois mil réis.»<br />
Diz um telegramma <strong>de</strong> Pekim<br />
para o Times que o governo chinês<br />
accedêu a abrir os principaes<br />
rios á navegação <strong>de</strong> vapores estrangeiros.<br />
Quem quer vêr a China civilisada?<br />
Tem sido enthusiásticamente recebida<br />
em Hespanha a tuna académica<br />
d'esta cida<strong>de</strong>. Já no Porto e<br />
em Vianna, as aca<strong>de</strong>mias daquellas<br />
cida<strong>de</strong>s receberam jubilosamente<br />
os seus collegas, e—logo adiante<br />
—as damas <strong>de</strong> Valença correspon<strong>de</strong>ram<br />
gentilmente á manifestação<br />
que os estudantes lhes prepararam.<br />
Em Santiago <strong>de</strong> Compostella a<br />
recepção foi, ao que nos informam,<br />
<strong>de</strong>lirante. Vivas, allocuções, uma<br />
animação doida, emfim. O carnaval<br />
naquella cida<strong>de</strong> tem estado,<br />
por causa d'igso animadíssimo,<br />
com batalhas <strong>de</strong> flores, fitas variegadas,<br />
versos volantçs, etc. Á noi-<br />
te os bailes continuam a pân<strong>de</strong>ga<br />
do dia. ;r- ^r.ifi/sbfiOT»3no3c is.<br />
A tuna académica <strong>de</strong>ve f regressar<br />
no sábado. ou no domingo,<br />
tencionando por occasião da volta<br />
•dar um sarau em Pontevedra, on<strong>de</strong><br />
é anciosamente esperada.<br />
O reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> compostellana<br />
telegraphou para o seu<br />
eollega <strong>de</strong>sta cida<strong>de</strong> a pedir feriados<br />
para a tuna nos dias 24, 25 e<br />
26 do corrente mês, o que ihes foi<br />
concedido—o que, aliás era <strong>de</strong>snecessário,<br />
visto a posse do nôvo<br />
reitor produzir três feriados nos<br />
dias immediatos.<br />
Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
Voltam a aggràvar a saú<strong>de</strong> do<br />
intemerato <strong>de</strong>cano dos jornalistas<br />
portuguêses, e valioso republicano,<br />
incómmodos physicos <strong>de</strong> toda a<br />
espécie que o prostram num estado<br />
que muito sentimos, e que<br />
comnosco sente a vasta cohorte<br />
dos admiradores do seu caracter.<br />
Joaquim Martins <strong>de</strong> Carvalho<br />
chega a confessar o seu <strong>de</strong>sânimo<br />
na lucta gigantesca que vem sustentando.<br />
Ella comtudo é já tam<br />
brilhante, que basta para o aureolar<br />
<strong>de</strong> glória, e o involver duma<br />
justíssima vaida<strong>de</strong>.<br />
Regressou <strong>de</strong> Lisbôa, on<strong>de</strong> já ha<br />
tempos se encontrava, o talentoso<br />
lente da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Philosophia,<br />
sr. dr. Bernardino Machado.<br />
A nossa diplomacia<br />
Do orçamento do Estado verifica-se<br />
que a diplomacia portuguêsa,<br />
a que nós <strong>de</strong>vemos o ultimatum<br />
<strong>de</strong> 90 e os golpes <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprêzo<br />
com que successivamente nos téem<br />
chicoteado as potencias, como o<br />
assalto <strong>de</strong> Kionga e os insultos <strong>de</strong><br />
Paris, nos custa enormes sommas.<br />
Assim, para que pasme e se assombre<br />
a nação empobrecida e miserável:<br />
Para a Inglaterra, i3:8oo#>ooo réis; p'ra<br />
cá treze contos e oitocentos. Para Madrid,<br />
g:5oo$>ooo réis, para Paris réis<br />
io:5oo#>ooo. Em Roma, á mingua <strong>de</strong> uma<br />
sam duas embaixadas: uma junto á Santa<br />
Sé, u:ioo#>ooo réis, outra junto ao Quirinal,<br />
8:5oo$ooo réis. Para o Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />
14:600^000 réis. Para Berlim réis<br />
Q:5OO$OOO. Para Bruxellas, 5:ioo®>ooo.<br />
Para Vienna d'Áustria (um inferno <strong>de</strong><br />
relações que Portugal tem com a Áustria),<br />
4:900^000 réis. Para Petersburgo (e com<br />
a Rússia então!), 5:ioo#>ooo réis. Para a<br />
Haia, 3:400.$000. Para Washington e Méxic"o,<br />
6:5oo#>ooo. As <strong>de</strong>spêsas <strong>de</strong> material<br />
e expediente nestas diversas legações,<br />
note-se bem, por fóradas verbas acima,<br />
é <strong>de</strong> 7:700.^000 réis. Auxílio para as rendas<br />
das casas d'estas legações, mais réis<br />
11 :ooo$ooo.<br />
Para ajuda <strong>de</strong> custo dos empregados<br />
nomeados para differentes commissões<br />
diplomáticas e consulares, 14:000^000<br />
réis. Para <strong>de</strong>spêsas <strong>de</strong> viagens a empregados<br />
diplomáticos e consulares, réis<br />
6:000 #>000.<br />
Finalmente:—Para <strong>de</strong>spêsas extraordinárias<br />
<strong>de</strong> legações e consulados, réis<br />
5o:ooo#>ooo.<br />
No entretanto—tal a maravilhosa magnanimida<strong>de</strong><br />
do nosso coração!—, para<br />
<strong>de</strong>spêsas com soccorros a portuguêses<br />
naufragados, inválidos ou indigentes, arbitra-se,<br />
para todo esse mundo <strong>de</strong> Cnristo<br />
em fora, <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> toda a roda do<br />
sol, esta revoltante exhorbitáncia: 1 contos<br />
<strong>de</strong> réis.<br />
Assim mesmo. Artigo io.°. Paginas 20.<br />
Ahi pó<strong>de</strong>m vomitar sobre esse vomito. 2<br />
contos <strong>de</strong> reis.<br />
Ou seja, mais <strong>de</strong> cento noventa<br />
e vu 11 contos <strong>de</strong><br />
réis, <strong>de</strong>spêsa enorme para um<br />
país pobríssimo e collossal para<br />
uma diplomacia que não vale, seguramente,<br />
cento e noventa réis!<br />
Entretanto, clama-se por economias,<br />
bràda-se que é indispensável<br />
nôvo systema <strong>de</strong> administração.<br />
E as economias monárchicas,<br />
sabêmo-lo bem, não vam além dum<br />
logar <strong>de</strong> servente a seis vinténs por<br />
dia.<br />
- Que os outros, retonçam largais<br />
ftiçnte nas suas conesjas rendosas...<br />
Já ha vinte âhnos se dizia isto:<br />
— «O carnaval <strong>de</strong>cae. O carnaval<br />
está mortò.» E corfitudo ha vmte<br />
annos, e até • ha menos, alguma<br />
coisa appáreçia no carnaval que ao<br />
fim se gabavá e a que se achava<br />
graça.<br />
Quando Bordallo Pinheiro, o<br />
gran<strong>de</strong> mestre inegualavel da caricatura,<br />
inventou no QÁntónio zMaria<br />
o typo <strong>de</strong> Zé Povinho, mixto<br />
<strong>de</strong> bonhomia ingénua e <strong>de</strong> hercúlea<br />
força, transigindo com os maus<br />
governos que o <strong>de</strong>ixavam nas hortas<br />
arranchar ao peixe frito e gritar<br />
nos comícios, sem consequências,<br />
contra o regimen monárchico<br />
(representado então por um rfei que<br />
tinha o que quer qué fôsse também<br />
<strong>de</strong> Zé Povinho) appareceu por domingo<br />
gordo percorrendo as ruas<br />
<strong>de</strong> Lisboa a cópia exacta d'aqúêlle<br />
typo, cavalgando um macho arretado<br />
em termos, que <strong>de</strong>spertou<br />
a attenção <strong>de</strong> toda a gente e teve<br />
uma ovação estrondosa.<br />
Era um saloio <strong>de</strong> Bellas, que ao<br />
vêr o oAntónio oMaria se achou<br />
lá retratado' e quis Vir á câpital<br />
mostrar que era vívido o typo que<br />
o Raphael i<strong>de</strong>ára...<br />
Só percorria as ruas, sem dizer<br />
nada, a cavallo, encarando a gente,<br />
exhibindo-se apenas tal qual era, a<br />
a sanccionar a obra do gran<strong>de</strong> mestre.<br />
E a gente olhava-o e sorria sympáthicamente,<br />
porque via alli um<br />
homem a quem a Arte suggestionára<br />
— apesar da proverbial rudêza<br />
intellectual do saloio <strong>de</strong> Bellas.<br />
Como êste, outros typos appareciam<br />
parodiando casos, ordinariamente<br />
políticos, occorridos durante<br />
o anno, e tinham graça: a<br />
gente ria e voltava a cara satisfeita<br />
a contar á família o que havia<br />
visto <strong>de</strong> interessante e pilhérico.<br />
A noite, em baile <strong>de</strong> máscaras,<br />
uma que outra entrava <strong>de</strong> bom<br />
gosto e espírito. Divertia-se e divertia-nos.<br />
Esfuziavam ditos, discorriam<br />
intrigas entre o dominó<br />
seringante e o espectador encavacado.<br />
Iam sujeitos eminentes em<br />
política e lettras aos bailes públicos<br />
com a certêza <strong>de</strong> serem atacados<br />
pela intriga ou pulha — como<br />
se chamava—mas resolvidos a não<br />
irem á serra.<br />
Todavia o máscara levava ás vezes<br />
a melhor, como aconteceu no<br />
caso d'aquelle conhecido médico,<br />
afamado pelo espírito e improvisos,<br />
que receitára um banho quente,<br />
muito quente, ao enfermo que tratava<br />
... e que morreu:<br />
—«Como se cóse um homem,<br />
oh doutor Thomaz ?»<br />
E o médico, olhando em fúria,<br />
<strong>de</strong> soslaio, e como quem faz menção<br />
<strong>de</strong> procurar na algibeir^um<br />
instrumento <strong>de</strong> morte:<br />
—«Ás facadas, meu gran<strong>de</strong> filho<br />
<strong>de</strong>...»<br />
E safou-se, ao som das gargalhadas<br />
do máscara.<br />
Ha vinte annos ainda havia partidas<br />
<strong>de</strong> carnaval, episódios <strong>de</strong><br />
verve, qualquer coisa emfim <strong>de</strong> qué"<br />
a gente gostava. Os dois casos que<br />
aponto sam duas notas apenas do<br />
que então eu via d'interessante e<br />
sympáthico, no meio, já se inten<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong> muita coisa aborrida e alvarmente<br />
estúpida.<br />
Mas hoje, santo Deus! Nem um<br />
vislumbre <strong>de</strong> graça, nem um indício<br />
sequer <strong>de</strong> fino gosto; nada, nada<br />
absolutamente, que ^se registre<br />
na chrónica do carnaval alfacinha!<br />
Nas ruas as cegadas do costume,<br />
pedinchonas, sujas; os travestis<br />
<strong>de</strong> gallego e marafona, tendência<br />
<strong>de</strong>generescente d'êste povinho<br />
idiota; muita cpcotte a valer e muita<br />
outra d'arçia e serradora arré\