310-320 - Universidade de Coimbra
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Protestando<br />
A impressão produzida pelo<br />
comício que o partido republicano<br />
convocou em Lisboa, como<br />
início duma campanha <strong>de</strong> resistência,<br />
tenaz e enérgica, persistente<br />
e intemerata, contra o crime<br />
que a monarchia vai preparando,<br />
foi profundamente intensa<br />
e ha <strong>de</strong> ser singularmente<br />
fecunda.<br />
Milhares <strong>de</strong> pessoas accorreram<br />
ao appêllo nobre e franco<br />
do Directório do Partido Republicano,<br />
que contrasta frizantemente<br />
com planos, talvez sinceros,<br />
mas astuciosamente involtos<br />
sob capas <strong>de</strong> extra-partidarismo<br />
<strong>de</strong> duvidosas côres,<br />
que alguns homens públicos andam<br />
apresentando aos olhos do<br />
país, como se fôssem syntheses<br />
<strong>de</strong> idêas <strong>de</strong>finidas e concepções<br />
patrióticamente <strong>de</strong>sinteressadas.<br />
A palavra apaixonada e vehemente<br />
dos oradores republicanos,<br />
ora vibrante <strong>de</strong> indignação<br />
con<strong>de</strong>mnando os crimes da<br />
monarchia, ora serena e cortante<br />
na <strong>de</strong>monstração lúcida<br />
e fria das consequências fataes<br />
para o país da concordata que<br />
o governo trama, foi ouvida<br />
sempre qorp a vujieraçã© e o<br />
respeito que a verda<strong>de</strong> inspira<br />
e a sincerida<strong>de</strong> impõe.<br />
Como symptoma <strong>de</strong> educação<br />
cívica e <strong>de</strong> interesse patriótico,<br />
a assemblêa do pôvo <strong>de</strong> Lisbôa,<br />
reunida agora, como os comícíos<br />
republicanos ha poucos mêses<br />
realizados, <strong>de</strong>ixaram no espírito<br />
<strong>de</strong> todos a convicção alentadôra<br />
<strong>de</strong> que o pôvo português<br />
não ha <strong>de</strong> consentir que a pátria<br />
<strong>de</strong> todos nós, a náção gloriosa<br />
<strong>de</strong>.que nos orgulhámos,<br />
seja entregue a garras empolgantes<br />
<strong>de</strong> extrangeiros, pela oligarchia<br />
voraz que a levou á última<br />
<strong>de</strong>gradação da miséria e<br />
da <strong>de</strong>shonra!<br />
Está iniciada a campanha <strong>de</strong><br />
reacção contra o mais monstruoso<br />
dos crimes da monarchia<br />
; campanha que tem <strong>de</strong> ser<br />
a mais violenta <strong>de</strong> todas as do<br />
partido republicano português,<br />
precisamente porque é a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira<br />
e <strong>de</strong>cisiva. Até hoje, nas<br />
gran<strong>de</strong>s luctas travadas entre a<br />
Democracia e a Realêza, entre<br />
o pôvo e os partidos do rei, entre<br />
os republicanos e a monarchia,<br />
<strong>de</strong>batiam-se as questões<br />
suprêmas <strong>de</strong> princípios, agitava-se<br />
a consciência nacional<br />
on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> a fonte perenne <strong>de</strong><br />
todo o po<strong>de</strong>r, a origem fecunda<br />
<strong>de</strong> toda a soberania.<br />
É, porém, mais forte e dominadora<br />
a lucta travada agora.<br />
Chegou o momento histórico<br />
inadiavel <strong>de</strong> concretizar doutrinas<br />
e applicar princípios.<br />
Até hoje o partido republicano<br />
educou, evangelisou... Convulsionámos<br />
as consciências, fizemos<br />
luz no espírito da nação. Demonstrámos<br />
ao país, inconsciente<br />
na tenebrosa noite em que o<br />
sepultou a monarchia, que <strong>de</strong><br />
assombrosos crimes contra a<br />
honra e integrida<strong>de</strong> nacional<br />
teem sido perpetrados por essas<br />
quadrilhas <strong>de</strong> bandoleiros<br />
que têem infestado o po<strong>de</strong>r.<br />
E o pôvo hoje sabe. . .<br />
E o pôvo já conhece. .<br />
Chegou, pois, a hora da <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira<br />
lucta!<br />
Ou o país, num exforço <strong>de</strong>cisivo<br />
e resoluto, toma na sua<br />
mão po<strong>de</strong>rosa e forte os seus<br />
<strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> pôvo autónomo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />
brioso e nobre, ou<br />
por instantes se afundará, num<br />
pântano miserável <strong>de</strong> baixêzas,<br />
a pátria <strong>de</strong> tantos heroes venerados<br />
do mundo inteiro. . .<br />
Um <strong>de</strong>putado <strong>de</strong> maioria affirmou<br />
que, em casos <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> do<br />
pôvo se revoltar, «a maioria dos<br />
cabeças seria recrutada no partido<br />
regenerador.»<br />
Ora é bem que se diga, em<br />
honra da verda<strong>de</strong> e da justiça, que<br />
o país, em caso <strong>de</strong> revolta, não vai<br />
escolher progressistas nem regeneradores.<br />
Era o que faltava.. . Como se o<br />
país não estivesse já farto <strong>de</strong> quadrilhas<br />
<strong>de</strong> ladrões!<br />
ODIOSO!<br />
Desmentindo terminantemente as<br />
promessas <strong>de</strong> opposição, os progressistas<br />
voltam a atacar furiosamente<br />
a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa,<br />
com mêdo <strong>de</strong> que o pôvo, instigado<br />
pelos jornaes republicanos, se<br />
revolte impetuoso e se vingue cruelmente.<br />
Depois <strong>de</strong> serem mandadas cercar<br />
as redacções dos nossos collegas<br />
<strong>de</strong> Lisboa O País e a Vanguarda,<br />
foi exigido pela polícia um<br />
exemplar <strong>de</strong> cada jornal para ser<br />
submettido á eensura prévia—feita<br />
pela figura ignóbil do chicoteado<br />
juiz Veiga. A publicação da Vanguarda<br />
foi permittida ás 11 horas:<br />
o País não chegou a publicar-se.<br />
Juiz Veiga dormiu até altas horas,<br />
ou reviu cuidadosamente os jornaes,<br />
como um bom esbirro <strong>de</strong>legado<br />
<strong>de</strong> um regimen traiçoeiro.<br />
Escusado é dizer-se que êsses<br />
jornaes sam republicanos, e que<br />
tem sempre incitado o nosso pôvo<br />
á revolta contra o pútrido regimen<br />
que atraiçoa a pátria.<br />
Por quererem accordar o pôvo<br />
do indifferentismo atroz em<br />
que se encontra, sam lesados nos<br />
seus interesses materiaes, pelo prolongamento<br />
d'êsse odioso regimen<br />
<strong>de</strong> excepção que cobre a imprensa<br />
republicana.<br />
Até quando durará isto ?<br />
Falleceu em Lisbôa o sr. Con<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Carni<strong>de</strong>, par do reino, que em<br />
vida exerceu elevadas funccões.<br />
U m a confissão<br />
Uma phrase do sr. Oliveira Mattos:<br />
«E sê a verda<strong>de</strong> é que effectivamente<br />
todos nós —os d'êsse lado e os d'èste—<br />
temos responsabilida<strong>de</strong>s na situação em<br />
que se encontra o país.»<br />
E gravíssimas, é mister accrescentar.<br />
Progressistas e regeneradores,<br />
todos os monárchicos em geral,<br />
prepararam vilipendiosamente a<br />
nossa ruína e a nossa <strong>de</strong>shonra.<br />
Bom é, portanto, que os remorsos<br />
çs vam espicaçando—se é que<br />
ainda tem consciência.<br />
AO PAÍS<br />
As palavras <strong>de</strong> nobre afirmação<br />
<strong>de</strong> princípios e <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidida<br />
resolução para o futuro,<br />
acclamadas pelo povo <strong>de</strong> Lisboa<br />
no comício <strong>de</strong> domingo,<br />
dirígímo-las hoje ao país inteiro,<br />
publicando a moção vibrante<br />
<strong>de</strong> Brito Camacho :<br />
«O pôvo da capital, reunido em<br />
comício:<br />
Consi<strong>de</strong>rando que o projecto <strong>de</strong><br />
concordata, apresentado ao parlamento<br />
como <strong>de</strong> conversão, visando<br />
apenas os interesses do regimen,<br />
é absolutamente contrario aos legítimos<br />
interesses nacionaes;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que uma tal medida<br />
fazendária, prefaciada <strong>de</strong> longe,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o estabelecimento do constitucionalismo^<br />
simplesmente o remate<br />
lógico <strong>de</strong> uma série in<strong>de</strong>finida<br />
<strong>de</strong> administrações perdulárias e inéptas,<br />
mantidas pela força da inércia<br />
contra legítimas aspirações patrióticas;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que semelhante<br />
operação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja convertida<br />
em lei, por votação parlamentar,<br />
importa necessariamente a morte<br />
do país como unida<strong>de</strong> livre e autónoma<br />
não <strong>de</strong>ixando logar a uma<br />
esperança <strong>de</strong> futura libertação e regeneração<br />
nacionaes;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que no país, atrophiado<br />
e <strong>de</strong>primido por circunstâncias<br />
meramente históricas, ha qualida<strong>de</strong>s<br />
<strong>de</strong> revivescência que é preciso<br />
aproveitar, para que esta pequena<br />
nacionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sete séculos<br />
retome o seu logar no concerto<br />
das nações e affirme o seu direito<br />
ao logar que lhe conquistaram na<br />
história o valor e a dignida<strong>de</strong> dos<br />
seus maiores;<br />
Consi<strong>de</strong>rando que esta obra <strong>de</strong><br />
regeneração nacional não pô<strong>de</strong> ser<br />
commettida aos homens e ao regimen<br />
que por insuficiência <strong>de</strong> talentos<br />
e baixêza <strong>de</strong> caracter, e mercê<br />
da fatalida<strong>de</strong> inilludivel dos acontecimentos,<br />
anniquilaram por completo<br />
o nosso crédito, macularam<br />
as nossas tradições e cavaram a<br />
nossa ruína:<br />
Resolve manter a resistência ao<br />
projecto <strong>de</strong> conversão até on<strong>de</strong><br />
essa resistência fôr necessária, e<br />
faz votos porque, removida a origem<br />
<strong>de</strong> todas as nossas <strong>de</strong>sgraças,<br />
isto é, anniquilado o regimen, Portugal<br />
rejuvenesça e progrida sob o<br />
intluxo <strong>de</strong> instituições, em que o<br />
direito, a liberda<strong>de</strong>, a honra e a<br />
justiça sejam alguma coisa mais do<br />
que palavras, signifiquem alguma<br />
coisa mais do que sophismas. —<br />
Brito Camacho.»<br />
Foi approvada por acclamação,<br />
em Lisboa, esta moção levantada<br />
e patriótica.<br />
Ha <strong>de</strong> sê-lo do mesmo modo<br />
por todas as consciências honestas<br />
<strong>de</strong> Portugal, para as quaes<br />
não pô<strong>de</strong> haver illusões que as<br />
ceguem nem interesses que as<br />
prendam.<br />
E, felizmente para todos nós,<br />
a maioria do país é formada <strong>de</strong><br />
consciências honestas. . .<br />
Que o número d'aquêlles que<br />
estám prêsos pelo estômago á<br />
ceva<strong>de</strong>ira constitucional, é uma<br />
insignificante minoria, que <strong>de</strong>vora,<br />
em presença da gran<strong>de</strong><br />
massa trabalhadora, que produz.<br />
Como tivesse corrido o boato<br />
<strong>de</strong> uma revolta em Chibuto, foi<br />
hontem espalhado pelos jornaes o<br />
NGIA<br />
telegramma seguinte, vindo <strong>de</strong><br />
Lourenço Marques:<br />
«Absolutamente falso; capitão Talaya<br />
morreu anemia. Jorge Mello está aqui,<br />
licença junta, consequência <strong>de</strong> fébres.<br />
Não ha Gaza qualquer alteração <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />
pública.»<br />
Será verda<strong>de</strong> ? E' o que sinceramente<br />
estimamos, porque as<br />
guerras <strong>de</strong>sgraçam-nos os recursos<br />
do nosso <strong>de</strong>pauperado orçamento.<br />
Mas, mente-se tanto por êsse<br />
mundo <strong>de</strong> Christo...<br />
Não se assustem!<br />
Houve tumulto na câmara dos<br />
<strong>de</strong>putados, motivado pelas seguintes<br />
phrases proferidas pelo <strong>de</strong>putado<br />
sr. Mello e Sousa na resposta<br />
a um áparte que lhe dirigiu um<br />
collega da maioria e em que lhe<br />
perguntava o que succe<strong>de</strong>ria, caso<br />
não fôsse approvado o projecto da<br />
conversão:<br />
«Se não fôr approvado, poupamo-nos<br />
á vergonha e ao crime <strong>de</strong><br />
nos rojarmos perante quem tem a<br />
força <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r com a força a<br />
quem tem o direito. Não ha exemplo<br />
na história <strong>de</strong> se ir offerecer,<br />
baixamente, vilmente, a um crédor,<br />
não se dando ao outro. Restava-nos<br />
esta triste glória.»<br />
A maioria fingiu-se indignada,<br />
iracunda, mal soaram aos seus ouvidos<br />
aquellas palavras, e <strong>de</strong>sata a<br />
dar murros nas carteiras. O presi<strong>de</strong>nte<br />
convida o orador a retirar<br />
a palavra «vilmente» e êste não<br />
ce<strong>de</strong>, suspen<strong>de</strong>rtdo-se a sessão no<br />
meio duma medonha vozearia.<br />
Reaberta, o presi<strong>de</strong>nte convida<br />
<strong>de</strong> novo o sr. Mello e Spusa a que<br />
retire aquella palavra. Este <strong>de</strong>clara<br />
que ella traduzia fielmente o seu<br />
modo <strong>de</strong> pensar e que por isso a<br />
não retirava, limitando-se, como<br />
explicação, a dizer que não tivera<br />
o intuito <strong>de</strong> offen<strong>de</strong>r o governo nem<br />
a maioria. Este continúa a protestar<br />
e pe<strong>de</strong>, berrando, a applicação<br />
do regimento, o que o presi<strong>de</strong>nte<br />
faz retirando a palavra ao sr. Mello<br />
,e Sousa. A minoria insurge-se contra<br />
a pena que acabava <strong>de</strong> ser infligida<br />
áo sr. Mello e Sousa e o<br />
presi<strong>de</strong>nte vê-se forçado a collocar<br />
o chapéu na cabeça, levantando <strong>de</strong><br />
vez a sessão.<br />
Um expectador havia, durante o<br />
tumulto, soltado um apoiado, sem<br />
dúvida por vêr que a comédia tinha<br />
sido bem representada. Que é<br />
câso assente haver sido o caso preparado<br />
<strong>de</strong>-véspera. Até houve um<br />
jornal que annunciou o espectáculo!<br />
Alguns jornaes da capital lamentam<br />
os factos que se <strong>de</strong>ram, que<br />
julgam impróprios do parlamento,<br />
e receiam consequências <strong>de</strong> caracter<br />
mais grave. Não haja sustos.<br />
Ou nos enganamos muito, ou<br />
nenhumas consequências sérias terá<br />
o conflicto que se <strong>de</strong>u na chamada<br />
câmara dos <strong>de</strong>putados. Não<br />
acreditamos que <strong>de</strong>ntro dos arraiaes<br />
monárchicos, e <strong>de</strong>signadamente no<br />
parlamento, haja paixões políticas<br />
que levem a taes consequências.<br />
Quanto a serem impróprias dum<br />
parlamento scenas como a que<br />
acaba <strong>de</strong> dar-se na câmara dos<br />
<strong>de</strong>putados, é exacto. Ao parlamento<br />
português, porém, attentos os<br />
seus prece<strong>de</strong>ntes, não ficam mal.<br />
O que havia a esperar do successor<br />
do «Solar dos Barrigas» ?.<br />
As nossas previsões tiveram plena<br />
confirmação. Na sessão d'hontem<br />
correu tudo em pez e socego.<br />
E como novida<strong>de</strong>, só a promessa<br />
<strong>de</strong> garantias especiaes para os créores.<br />
Dr. Eduardo d Abreu<br />
Publicámos em seguida, pela<br />
sua importância documental, a<br />
carta que o eminente republicano<br />
sr. dr. Eduardo d'Abreu dirigiu á<br />
presidência do Comício <strong>de</strong> Lisbôa.<br />
E' um documento nobre, em que<br />
a sincerida<strong>de</strong> transparece <strong>de</strong> cada<br />
palavra, e a indignação sagtada do<br />
mais nobre sentimento patriótico<br />
resalta <strong>de</strong> cada phrase.<br />
«Honrado cidadão presi<strong>de</strong>nte. — Com<br />
gran<strong>de</strong> sentimento -venho <strong>de</strong>clarar que<br />
por estar doente não posso assistir, como<br />
tanto <strong>de</strong>sejava, ao comício <strong>de</strong> hôje, para<br />
juntar o meu humil<strong>de</strong> protesto ao <strong>de</strong> todos<br />
os repúblicanos, dê todos os leaes e<br />
sinceros portuguêses, contra a marcha<br />
política e financeira do governo, especialisando<br />
o que diz respeito a conversão;<br />
fôram êstes os termos do vosso convite,<br />
que profundamente respeito, sentindo,<br />
como já disse, não po<strong>de</strong>r comparecer.<br />
E, como iulgo um verda<strong>de</strong>iro crime,<br />
cobardia e <strong>de</strong>gradante incivismo, só comparáveis<br />
á longa série <strong>de</strong> traições, em que<br />
historicamente se <strong>de</strong>sdobra á actual bancarôta<br />
moral, intellectual e financeira da<br />
nação portuguêsa—que os cidadãos livres<br />
se não manifestem com <strong>de</strong>sassombro,<br />
<strong>de</strong>ixando bem consignadas as suas impressões<br />
ou opiniões ácêrca do tal projecto<br />
chamado da «conversão», aqui respeitosamente<br />
venho expôr em breves e<br />
singelas palavras, perante a assembleia<br />
popular da vossa digna presidência, o que<br />
penso, sinto e sei ácêrca do mesmo projecto.<br />
Estu<strong>de</strong>i o projecto com trabalho e consciência,<br />
lançando mão <strong>de</strong> todos os elementos<br />
<strong>de</strong> anályse, excluindo apenas e<br />
sempre, isto é, não ligando confiança ou<br />
importância <strong>de</strong>masiada aos discursos que<br />
a tal respeito estám sendo proferidos no<br />
parlamento, visto que é constitucionalmente<br />
sincero e perfeito o accôrdo entre<br />
o governo e as opposições monárchicas,<br />
para que o projecto ali seja estrondosamente<br />
combatido, mas <strong>de</strong>pois enthusiasticamente<br />
vôtado. O projecto e ccmtraprojecto<br />
da chamada conversão sam <strong>de</strong><br />
auctores que se abraçam por entre os sinistros<br />
bastidores das finanças portuguesas.<br />
Os algarismos <strong>de</strong> qualquer a'aquelles<br />
documentos abominaveis sam valores que<br />
se enten<strong>de</strong>m e combinam á maravilha!<br />
Sim, é necessário que sem ro<strong>de</strong>ios e bem<br />
claramente se diga ao pôvo português que<br />
todos os políticos monárchicos, que todos<br />
os gran<strong>de</strong>s comilões do orçamento,<br />
precisam absolutamente que em cortes<br />
seja votada a conversão das dívidas,_ o<br />
que equivale a votar para o pôvo, a inversão<br />
das vísceras. Para os execráveis<br />
exploradores da miséria nacional, a votação<br />
do projecto é questão <strong>de</strong> vida ou <strong>de</strong><br />
morte.<br />
Bastava um só_ <strong>de</strong>putado sinceramente<br />
opposicionista querer travar o projecto.<br />
O que succe<strong>de</strong>ria? O governoj lançando<br />
mão do actual regimento da camara, que<br />
quando opposição jurou <strong>de</strong>srespeitar,<br />
mandaria ao offlcial da guarda expulsar<br />
o <strong>de</strong>putado. A terrível dúvida que traz o<br />
país inquieto ficaria logo esclarecida, e<br />
assim se saberia officialmente se na força<br />
pública armada <strong>de</strong> terra e mar alguém<br />
existe que se preste a referendar um abominável<br />
projecto, com a ponta <strong>de</strong> uma<br />
bayoneta, molhada em sangue, se tanto<br />
fôr necessário.<br />
Ficavam logo <strong>de</strong>finidos os campos e<br />
dirimidas as responsabilida<strong>de</strong>s ácêrca dos<br />
verda<strong>de</strong>iros culpados nas fataes consequências<br />
do projecto. Por tudo em que<br />
creio e por todos que amo: sem a menor<br />
sombra <strong>de</strong> dúvida, sem a menor paixão<br />
ou ódio contra quem quer que seja, juro<br />
á face dos meus concidadãos que, referendado<br />
o actual projecto chamado da<br />
conversão, a sua primeira e mais terrível<br />
consequência é a administração extrangeira,<br />
officialmente reconhecida e votada<br />
nas côrtes portuguesas.<br />
E passar o país da governação monárchica<br />
fallída directamente para uma administração<br />
extrangeira, sem o menor protesto<br />
áa <strong>de</strong>mocracia portuguêsa, dandolhe<br />
o extrangeiro na cara com os sêllos<br />
do Estado, seria o mesmo que escarrar<br />
nas sepulturas <strong>de</strong> Fontana e <strong>de</strong> Henriques<br />
Nogueira, <strong>de</strong> Latino Coelho e <strong>de</strong> Elias<br />
Garcia, <strong>de</strong> Rodrigues <strong>de</strong> Freitas e <strong>de</strong> José<br />
Falcão, <strong>de</strong> tantos outros eméritos- luctadores<br />
e apostolos por uma constituição<br />
que nunca po<strong>de</strong>sse ser trahida ou falseada<br />
por governantes ou governados, sem<br />
que logo surgisse o legal e merecido correctivo.<br />
Approvado o projecto chamado da<br />
conversão, a que se seguirá immediatamente<br />
a administrarão extrangeira, mais<br />
ainda por alguns meses a occultas, administração<br />
<strong>de</strong>stinada a garantir-se e a garantir<br />
a lista civil—soffra quem soffrer—<br />
o que significará qualquer nova piedosa<br />
romaria ao tumulo dos vencidos <strong>de</strong> 3t<br />
<strong>de</strong> janeiro?<br />
Só entes estúpidos ou perversos, só a<br />
raça maldita dos indifierentes, só os políticos<br />
<strong>de</strong> officio ou <strong>de</strong> subsidio, só OS<br />
candidato» ás <strong>de</strong>spêíft» da eonveriíoj