16.04.2013 Views

310-320 - Universidade de Coimbra

310-320 - Universidade de Coimbra

310-320 - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Protestando<br />

A impressão produzida pelo<br />

comício que o partido republicano<br />

convocou em Lisboa, como<br />

início duma campanha <strong>de</strong> resistência,<br />

tenaz e enérgica, persistente<br />

e intemerata, contra o crime<br />

que a monarchia vai preparando,<br />

foi profundamente intensa<br />

e ha <strong>de</strong> ser singularmente<br />

fecunda.<br />

Milhares <strong>de</strong> pessoas accorreram<br />

ao appêllo nobre e franco<br />

do Directório do Partido Republicano,<br />

que contrasta frizantemente<br />

com planos, talvez sinceros,<br />

mas astuciosamente involtos<br />

sob capas <strong>de</strong> extra-partidarismo<br />

<strong>de</strong> duvidosas côres,<br />

que alguns homens públicos andam<br />

apresentando aos olhos do<br />

país, como se fôssem syntheses<br />

<strong>de</strong> idêas <strong>de</strong>finidas e concepções<br />

patrióticamente <strong>de</strong>sinteressadas.<br />

A palavra apaixonada e vehemente<br />

dos oradores republicanos,<br />

ora vibrante <strong>de</strong> indignação<br />

con<strong>de</strong>mnando os crimes da<br />

monarchia, ora serena e cortante<br />

na <strong>de</strong>monstração lúcida<br />

e fria das consequências fataes<br />

para o país da concordata que<br />

o governo trama, foi ouvida<br />

sempre qorp a vujieraçã© e o<br />

respeito que a verda<strong>de</strong> inspira<br />

e a sincerida<strong>de</strong> impõe.<br />

Como symptoma <strong>de</strong> educação<br />

cívica e <strong>de</strong> interesse patriótico,<br />

a assemblêa do pôvo <strong>de</strong> Lisbôa,<br />

reunida agora, como os comícíos<br />

republicanos ha poucos mêses<br />

realizados, <strong>de</strong>ixaram no espírito<br />

<strong>de</strong> todos a convicção alentadôra<br />

<strong>de</strong> que o pôvo português<br />

não ha <strong>de</strong> consentir que a pátria<br />

<strong>de</strong> todos nós, a náção gloriosa<br />

<strong>de</strong>.que nos orgulhámos,<br />

seja entregue a garras empolgantes<br />

<strong>de</strong> extrangeiros, pela oligarchia<br />

voraz que a levou á última<br />

<strong>de</strong>gradação da miséria e<br />

da <strong>de</strong>shonra!<br />

Está iniciada a campanha <strong>de</strong><br />

reacção contra o mais monstruoso<br />

dos crimes da monarchia<br />

; campanha que tem <strong>de</strong> ser<br />

a mais violenta <strong>de</strong> todas as do<br />

partido republicano português,<br />

precisamente porque é a <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira<br />

e <strong>de</strong>cisiva. Até hoje, nas<br />

gran<strong>de</strong>s luctas travadas entre a<br />

Democracia e a Realêza, entre<br />

o pôvo e os partidos do rei, entre<br />

os republicanos e a monarchia,<br />

<strong>de</strong>batiam-se as questões<br />

suprêmas <strong>de</strong> princípios, agitava-se<br />

a consciência nacional<br />

on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong> a fonte perenne <strong>de</strong><br />

todo o po<strong>de</strong>r, a origem fecunda<br />

<strong>de</strong> toda a soberania.<br />

É, porém, mais forte e dominadora<br />

a lucta travada agora.<br />

Chegou o momento histórico<br />

inadiavel <strong>de</strong> concretizar doutrinas<br />

e applicar princípios.<br />

Até hoje o partido republicano<br />

educou, evangelisou... Convulsionámos<br />

as consciências, fizemos<br />

luz no espírito da nação. Demonstrámos<br />

ao país, inconsciente<br />

na tenebrosa noite em que o<br />

sepultou a monarchia, que <strong>de</strong><br />

assombrosos crimes contra a<br />

honra e integrida<strong>de</strong> nacional<br />

teem sido perpetrados por essas<br />

quadrilhas <strong>de</strong> bandoleiros<br />

que têem infestado o po<strong>de</strong>r.<br />

E o pôvo hoje sabe. . .<br />

E o pôvo já conhece. .<br />

Chegou, pois, a hora da <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira<br />

lucta!<br />

Ou o país, num exforço <strong>de</strong>cisivo<br />

e resoluto, toma na sua<br />

mão po<strong>de</strong>rosa e forte os seus<br />

<strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> pôvo autónomo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,<br />

brioso e nobre, ou<br />

por instantes se afundará, num<br />

pântano miserável <strong>de</strong> baixêzas,<br />

a pátria <strong>de</strong> tantos heroes venerados<br />

do mundo inteiro. . .<br />

Um <strong>de</strong>putado <strong>de</strong> maioria affirmou<br />

que, em casos <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> do<br />

pôvo se revoltar, «a maioria dos<br />

cabeças seria recrutada no partido<br />

regenerador.»<br />

Ora é bem que se diga, em<br />

honra da verda<strong>de</strong> e da justiça, que<br />

o país, em caso <strong>de</strong> revolta, não vai<br />

escolher progressistas nem regeneradores.<br />

Era o que faltava.. . Como se o<br />

país não estivesse já farto <strong>de</strong> quadrilhas<br />

<strong>de</strong> ladrões!<br />

ODIOSO!<br />

Desmentindo terminantemente as<br />

promessas <strong>de</strong> opposição, os progressistas<br />

voltam a atacar furiosamente<br />

a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> imprensa,<br />

com mêdo <strong>de</strong> que o pôvo, instigado<br />

pelos jornaes republicanos, se<br />

revolte impetuoso e se vingue cruelmente.<br />

Depois <strong>de</strong> serem mandadas cercar<br />

as redacções dos nossos collegas<br />

<strong>de</strong> Lisboa O País e a Vanguarda,<br />

foi exigido pela polícia um<br />

exemplar <strong>de</strong> cada jornal para ser<br />

submettido á eensura prévia—feita<br />

pela figura ignóbil do chicoteado<br />

juiz Veiga. A publicação da Vanguarda<br />

foi permittida ás 11 horas:<br />

o País não chegou a publicar-se.<br />

Juiz Veiga dormiu até altas horas,<br />

ou reviu cuidadosamente os jornaes,<br />

como um bom esbirro <strong>de</strong>legado<br />

<strong>de</strong> um regimen traiçoeiro.<br />

Escusado é dizer-se que êsses<br />

jornaes sam republicanos, e que<br />

tem sempre incitado o nosso pôvo<br />

á revolta contra o pútrido regimen<br />

que atraiçoa a pátria.<br />

Por quererem accordar o pôvo<br />

do indifferentismo atroz em<br />

que se encontra, sam lesados nos<br />

seus interesses materiaes, pelo prolongamento<br />

d'êsse odioso regimen<br />

<strong>de</strong> excepção que cobre a imprensa<br />

republicana.<br />

Até quando durará isto ?<br />

Falleceu em Lisbôa o sr. Con<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Carni<strong>de</strong>, par do reino, que em<br />

vida exerceu elevadas funccões.<br />

U m a confissão<br />

Uma phrase do sr. Oliveira Mattos:<br />

«E sê a verda<strong>de</strong> é que effectivamente<br />

todos nós —os d'êsse lado e os d'èste—<br />

temos responsabilida<strong>de</strong>s na situação em<br />

que se encontra o país.»<br />

E gravíssimas, é mister accrescentar.<br />

Progressistas e regeneradores,<br />

todos os monárchicos em geral,<br />

prepararam vilipendiosamente a<br />

nossa ruína e a nossa <strong>de</strong>shonra.<br />

Bom é, portanto, que os remorsos<br />

çs vam espicaçando—se é que<br />

ainda tem consciência.<br />

AO PAÍS<br />

As palavras <strong>de</strong> nobre afirmação<br />

<strong>de</strong> princípios e <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidida<br />

resolução para o futuro,<br />

acclamadas pelo povo <strong>de</strong> Lisboa<br />

no comício <strong>de</strong> domingo,<br />

dirígímo-las hoje ao país inteiro,<br />

publicando a moção vibrante<br />

<strong>de</strong> Brito Camacho :<br />

«O pôvo da capital, reunido em<br />

comício:<br />

Consi<strong>de</strong>rando que o projecto <strong>de</strong><br />

concordata, apresentado ao parlamento<br />

como <strong>de</strong> conversão, visando<br />

apenas os interesses do regimen,<br />

é absolutamente contrario aos legítimos<br />

interesses nacionaes;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que uma tal medida<br />

fazendária, prefaciada <strong>de</strong> longe,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o estabelecimento do constitucionalismo^<br />

simplesmente o remate<br />

lógico <strong>de</strong> uma série in<strong>de</strong>finida<br />

<strong>de</strong> administrações perdulárias e inéptas,<br />

mantidas pela força da inércia<br />

contra legítimas aspirações patrióticas;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que semelhante<br />

operação, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que seja convertida<br />

em lei, por votação parlamentar,<br />

importa necessariamente a morte<br />

do país como unida<strong>de</strong> livre e autónoma<br />

não <strong>de</strong>ixando logar a uma<br />

esperança <strong>de</strong> futura libertação e regeneração<br />

nacionaes;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que no país, atrophiado<br />

e <strong>de</strong>primido por circunstâncias<br />

meramente históricas, ha qualida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> revivescência que é preciso<br />

aproveitar, para que esta pequena<br />

nacionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sete séculos<br />

retome o seu logar no concerto<br />

das nações e affirme o seu direito<br />

ao logar que lhe conquistaram na<br />

história o valor e a dignida<strong>de</strong> dos<br />

seus maiores;<br />

Consi<strong>de</strong>rando que esta obra <strong>de</strong><br />

regeneração nacional não pô<strong>de</strong> ser<br />

commettida aos homens e ao regimen<br />

que por insuficiência <strong>de</strong> talentos<br />

e baixêza <strong>de</strong> caracter, e mercê<br />

da fatalida<strong>de</strong> inilludivel dos acontecimentos,<br />

anniquilaram por completo<br />

o nosso crédito, macularam<br />

as nossas tradições e cavaram a<br />

nossa ruína:<br />

Resolve manter a resistência ao<br />

projecto <strong>de</strong> conversão até on<strong>de</strong><br />

essa resistência fôr necessária, e<br />

faz votos porque, removida a origem<br />

<strong>de</strong> todas as nossas <strong>de</strong>sgraças,<br />

isto é, anniquilado o regimen, Portugal<br />

rejuvenesça e progrida sob o<br />

intluxo <strong>de</strong> instituições, em que o<br />

direito, a liberda<strong>de</strong>, a honra e a<br />

justiça sejam alguma coisa mais do<br />

que palavras, signifiquem alguma<br />

coisa mais do que sophismas. —<br />

Brito Camacho.»<br />

Foi approvada por acclamação,<br />

em Lisboa, esta moção levantada<br />

e patriótica.<br />

Ha <strong>de</strong> sê-lo do mesmo modo<br />

por todas as consciências honestas<br />

<strong>de</strong> Portugal, para as quaes<br />

não pô<strong>de</strong> haver illusões que as<br />

ceguem nem interesses que as<br />

prendam.<br />

E, felizmente para todos nós,<br />

a maioria do país é formada <strong>de</strong><br />

consciências honestas. . .<br />

Que o número d'aquêlles que<br />

estám prêsos pelo estômago á<br />

ceva<strong>de</strong>ira constitucional, é uma<br />

insignificante minoria, que <strong>de</strong>vora,<br />

em presença da gran<strong>de</strong><br />

massa trabalhadora, que produz.<br />

Como tivesse corrido o boato<br />

<strong>de</strong> uma revolta em Chibuto, foi<br />

hontem espalhado pelos jornaes o<br />

NGIA<br />

telegramma seguinte, vindo <strong>de</strong><br />

Lourenço Marques:<br />

«Absolutamente falso; capitão Talaya<br />

morreu anemia. Jorge Mello está aqui,<br />

licença junta, consequência <strong>de</strong> fébres.<br />

Não ha Gaza qualquer alteração <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m<br />

pública.»<br />

Será verda<strong>de</strong> ? E' o que sinceramente<br />

estimamos, porque as<br />

guerras <strong>de</strong>sgraçam-nos os recursos<br />

do nosso <strong>de</strong>pauperado orçamento.<br />

Mas, mente-se tanto por êsse<br />

mundo <strong>de</strong> Christo...<br />

Não se assustem!<br />

Houve tumulto na câmara dos<br />

<strong>de</strong>putados, motivado pelas seguintes<br />

phrases proferidas pelo <strong>de</strong>putado<br />

sr. Mello e Sousa na resposta<br />

a um áparte que lhe dirigiu um<br />

collega da maioria e em que lhe<br />

perguntava o que succe<strong>de</strong>ria, caso<br />

não fôsse approvado o projecto da<br />

conversão:<br />

«Se não fôr approvado, poupamo-nos<br />

á vergonha e ao crime <strong>de</strong><br />

nos rojarmos perante quem tem a<br />

força <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r com a força a<br />

quem tem o direito. Não ha exemplo<br />

na história <strong>de</strong> se ir offerecer,<br />

baixamente, vilmente, a um crédor,<br />

não se dando ao outro. Restava-nos<br />

esta triste glória.»<br />

A maioria fingiu-se indignada,<br />

iracunda, mal soaram aos seus ouvidos<br />

aquellas palavras, e <strong>de</strong>sata a<br />

dar murros nas carteiras. O presi<strong>de</strong>nte<br />

convida o orador a retirar<br />

a palavra «vilmente» e êste não<br />

ce<strong>de</strong>, suspen<strong>de</strong>rtdo-se a sessão no<br />

meio duma medonha vozearia.<br />

Reaberta, o presi<strong>de</strong>nte convida<br />

<strong>de</strong> novo o sr. Mello e Spusa a que<br />

retire aquella palavra. Este <strong>de</strong>clara<br />

que ella traduzia fielmente o seu<br />

modo <strong>de</strong> pensar e que por isso a<br />

não retirava, limitando-se, como<br />

explicação, a dizer que não tivera<br />

o intuito <strong>de</strong> offen<strong>de</strong>r o governo nem<br />

a maioria. Este continúa a protestar<br />

e pe<strong>de</strong>, berrando, a applicação<br />

do regimento, o que o presi<strong>de</strong>nte<br />

faz retirando a palavra ao sr. Mello<br />

,e Sousa. A minoria insurge-se contra<br />

a pena que acabava <strong>de</strong> ser infligida<br />

áo sr. Mello e Sousa e o<br />

presi<strong>de</strong>nte vê-se forçado a collocar<br />

o chapéu na cabeça, levantando <strong>de</strong><br />

vez a sessão.<br />

Um expectador havia, durante o<br />

tumulto, soltado um apoiado, sem<br />

dúvida por vêr que a comédia tinha<br />

sido bem representada. Que é<br />

câso assente haver sido o caso preparado<br />

<strong>de</strong>-véspera. Até houve um<br />

jornal que annunciou o espectáculo!<br />

Alguns jornaes da capital lamentam<br />

os factos que se <strong>de</strong>ram, que<br />

julgam impróprios do parlamento,<br />

e receiam consequências <strong>de</strong> caracter<br />

mais grave. Não haja sustos.<br />

Ou nos enganamos muito, ou<br />

nenhumas consequências sérias terá<br />

o conflicto que se <strong>de</strong>u na chamada<br />

câmara dos <strong>de</strong>putados. Não<br />

acreditamos que <strong>de</strong>ntro dos arraiaes<br />

monárchicos, e <strong>de</strong>signadamente no<br />

parlamento, haja paixões políticas<br />

que levem a taes consequências.<br />

Quanto a serem impróprias dum<br />

parlamento scenas como a que<br />

acaba <strong>de</strong> dar-se na câmara dos<br />

<strong>de</strong>putados, é exacto. Ao parlamento<br />

português, porém, attentos os<br />

seus prece<strong>de</strong>ntes, não ficam mal.<br />

O que havia a esperar do successor<br />

do «Solar dos Barrigas» ?.<br />

As nossas previsões tiveram plena<br />

confirmação. Na sessão d'hontem<br />

correu tudo em pez e socego.<br />

E como novida<strong>de</strong>, só a promessa<br />

<strong>de</strong> garantias especiaes para os créores.<br />

Dr. Eduardo d Abreu<br />

Publicámos em seguida, pela<br />

sua importância documental, a<br />

carta que o eminente republicano<br />

sr. dr. Eduardo d'Abreu dirigiu á<br />

presidência do Comício <strong>de</strong> Lisbôa.<br />

E' um documento nobre, em que<br />

a sincerida<strong>de</strong> transparece <strong>de</strong> cada<br />

palavra, e a indignação sagtada do<br />

mais nobre sentimento patriótico<br />

resalta <strong>de</strong> cada phrase.<br />

«Honrado cidadão presi<strong>de</strong>nte. — Com<br />

gran<strong>de</strong> sentimento -venho <strong>de</strong>clarar que<br />

por estar doente não posso assistir, como<br />

tanto <strong>de</strong>sejava, ao comício <strong>de</strong> hôje, para<br />

juntar o meu humil<strong>de</strong> protesto ao <strong>de</strong> todos<br />

os repúblicanos, dê todos os leaes e<br />

sinceros portuguêses, contra a marcha<br />

política e financeira do governo, especialisando<br />

o que diz respeito a conversão;<br />

fôram êstes os termos do vosso convite,<br />

que profundamente respeito, sentindo,<br />

como já disse, não po<strong>de</strong>r comparecer.<br />

E, como iulgo um verda<strong>de</strong>iro crime,<br />

cobardia e <strong>de</strong>gradante incivismo, só comparáveis<br />

á longa série <strong>de</strong> traições, em que<br />

historicamente se <strong>de</strong>sdobra á actual bancarôta<br />

moral, intellectual e financeira da<br />

nação portuguêsa—que os cidadãos livres<br />

se não manifestem com <strong>de</strong>sassombro,<br />

<strong>de</strong>ixando bem consignadas as suas impressões<br />

ou opiniões ácêrca do tal projecto<br />

chamado da «conversão», aqui respeitosamente<br />

venho expôr em breves e<br />

singelas palavras, perante a assembleia<br />

popular da vossa digna presidência, o que<br />

penso, sinto e sei ácêrca do mesmo projecto.<br />

Estu<strong>de</strong>i o projecto com trabalho e consciência,<br />

lançando mão <strong>de</strong> todos os elementos<br />

<strong>de</strong> anályse, excluindo apenas e<br />

sempre, isto é, não ligando confiança ou<br />

importância <strong>de</strong>masiada aos discursos que<br />

a tal respeito estám sendo proferidos no<br />

parlamento, visto que é constitucionalmente<br />

sincero e perfeito o accôrdo entre<br />

o governo e as opposições monárchicas,<br />

para que o projecto ali seja estrondosamente<br />

combatido, mas <strong>de</strong>pois enthusiasticamente<br />

vôtado. O projecto e ccmtraprojecto<br />

da chamada conversão sam <strong>de</strong><br />

auctores que se abraçam por entre os sinistros<br />

bastidores das finanças portuguesas.<br />

Os algarismos <strong>de</strong> qualquer a'aquelles<br />

documentos abominaveis sam valores que<br />

se enten<strong>de</strong>m e combinam á maravilha!<br />

Sim, é necessário que sem ro<strong>de</strong>ios e bem<br />

claramente se diga ao pôvo português que<br />

todos os políticos monárchicos, que todos<br />

os gran<strong>de</strong>s comilões do orçamento,<br />

precisam absolutamente que em cortes<br />

seja votada a conversão das dívidas,_ o<br />

que equivale a votar para o pôvo, a inversão<br />

das vísceras. Para os execráveis<br />

exploradores da miséria nacional, a votação<br />

do projecto é questão <strong>de</strong> vida ou <strong>de</strong><br />

morte.<br />

Bastava um só_ <strong>de</strong>putado sinceramente<br />

opposicionista querer travar o projecto.<br />

O que succe<strong>de</strong>ria? O governoj lançando<br />

mão do actual regimento da camara, que<br />

quando opposição jurou <strong>de</strong>srespeitar,<br />

mandaria ao offlcial da guarda expulsar<br />

o <strong>de</strong>putado. A terrível dúvida que traz o<br />

país inquieto ficaria logo esclarecida, e<br />

assim se saberia officialmente se na força<br />

pública armada <strong>de</strong> terra e mar alguém<br />

existe que se preste a referendar um abominável<br />

projecto, com a ponta <strong>de</strong> uma<br />

bayoneta, molhada em sangue, se tanto<br />

fôr necessário.<br />

Ficavam logo <strong>de</strong>finidos os campos e<br />

dirimidas as responsabilida<strong>de</strong>s ácêrca dos<br />

verda<strong>de</strong>iros culpados nas fataes consequências<br />

do projecto. Por tudo em que<br />

creio e por todos que amo: sem a menor<br />

sombra <strong>de</strong> dúvida, sem a menor paixão<br />

ou ódio contra quem quer que seja, juro<br />

á face dos meus concidadãos que, referendado<br />

o actual projecto chamado da<br />

conversão, a sua primeira e mais terrível<br />

consequência é a administração extrangeira,<br />

officialmente reconhecida e votada<br />

nas côrtes portuguesas.<br />

E passar o país da governação monárchica<br />

fallída directamente para uma administração<br />

extrangeira, sem o menor protesto<br />

áa <strong>de</strong>mocracia portuguêsa, dandolhe<br />

o extrangeiro na cara com os sêllos<br />

do Estado, seria o mesmo que escarrar<br />

nas sepulturas <strong>de</strong> Fontana e <strong>de</strong> Henriques<br />

Nogueira, <strong>de</strong> Latino Coelho e <strong>de</strong> Elias<br />

Garcia, <strong>de</strong> Rodrigues <strong>de</strong> Freitas e <strong>de</strong> José<br />

Falcão, <strong>de</strong> tantos outros eméritos- luctadores<br />

e apostolos por uma constituição<br />

que nunca po<strong>de</strong>sse ser trahida ou falseada<br />

por governantes ou governados, sem<br />

que logo surgisse o legal e merecido correctivo.<br />

Approvado o projecto chamado da<br />

conversão, a que se seguirá immediatamente<br />

a administrarão extrangeira, mais<br />

ainda por alguns meses a occultas, administração<br />

<strong>de</strong>stinada a garantir-se e a garantir<br />

a lista civil—soffra quem soffrer—<br />

o que significará qualquer nova piedosa<br />

romaria ao tumulo dos vencidos <strong>de</strong> 3t<br />

<strong>de</strong> janeiro?<br />

Só entes estúpidos ou perversos, só a<br />

raça maldita dos indifierentes, só os políticos<br />

<strong>de</strong> officio ou <strong>de</strong> subsidio, só OS<br />

candidato» ás <strong>de</strong>spêíft» da eonveriíoj

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!