310-320 - Universidade de Coimbra
310-320 - Universidade de Coimbra
310-320 - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
GUERRA DE CUBA<br />
Houve novo encontro entre as<br />
tropas espanholas e as flibusteíras,<br />
sendo estas <strong>de</strong>rrotadas, mas com<br />
graves prejuízos para aquellas que<br />
na refrega tiveram 10 baixas.<br />
A columna Tejeda, no entanto,<br />
conseguiu <strong>de</strong>stroçar alguns inimigos.<br />
A victória porém, não foi como<br />
a outra obtida sem sangue.<br />
Os inglêses parecem á última<br />
hora interessar-se com a questão<br />
cubana, chegando a haver sobre<br />
tal assumpto alguns <strong>de</strong>bates no<br />
parlamento, sobre algumas relações<br />
que se diz haver entre o governo<br />
inglês e o norte americano.<br />
Será nova protecção a Cuba ?<br />
Não parece. E a Inglaterra, apesar<br />
<strong>de</strong> ligada por interesses <strong>de</strong> génio<br />
e <strong>de</strong> raça á população norteamericana,<br />
parece querer manterse<br />
num statu quo <strong>de</strong> indifferença<br />
perante a grave questão que ensombra<br />
o futuro da Espanha.<br />
Os revoltados vam per<strong>de</strong>ndo—<br />
o que não faz prever <strong>de</strong>sânimo nem<br />
indifferença; mas antes pelo contrário<br />
um novo ataque <strong>de</strong> <strong>de</strong>stemidos<br />
contra as tropas fieis.<br />
E a questão prolonga-se, chegando<br />
a pensar-§e num árbitro que a<br />
resolvesse. Esse árbitro seria o<br />
Papa, que os revoltados não acceitam,<br />
por <strong>de</strong>segualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> crenças,<br />
e que á última hora mostrou ter<br />
opinião antecipada sobre o momentoso<br />
assumpto, <strong>de</strong>clarando-se a favor<br />
<strong>de</strong> Espanha.<br />
Em frente d'isto, que fará ?<br />
Esperar...<br />
A câmara municipal resolveu, em<br />
sessão d'ante-hontem, officiar ao sr.<br />
António Juzarte Paschoal, fornecedor<br />
<strong>de</strong> carnes, prevenindo-o <strong>de</strong><br />
que precisa abater gado suíno e caprino,<br />
que attinja, pelo menos, a<br />
média da quantida<strong>de</strong> abatida nos<br />
annos anteriores; <strong>de</strong> que é indispensável<br />
installar convenientemente<br />
o talho da alta, por isso que a venda<br />
não pô<strong>de</strong> prolongar-se na estação<br />
<strong>de</strong> bombeiros on<strong>de</strong> era feita; e<br />
<strong>de</strong> que precisa atten<strong>de</strong>r ao capítulo<br />
2. 0 das posturas municipaes,<br />
referente a talhos.<br />
Esta resolução foi tomada em<br />
consequência <strong>de</strong> o sr. administrador<br />
do concelho ter reclamado, baseando-se<br />
no <strong>de</strong>scontentamento que<br />
o público vem manifestando pela<br />
falta <strong>de</strong> carnes <strong>de</strong> porco e carneiro.<br />
Ás 2 horas da tar<strong>de</strong> d'hontem<br />
retiniu no theátro-circo o curso do<br />
5.° anno, com o fim <strong>de</strong> eleger um<br />
<strong>de</strong>legado para represéntá-lo na manifestação<br />
que vai realizar-se na<br />
Folhetim da «RESISTENCIA»<br />
ARSENE HOUSSAYE<br />
LÚCIA<br />
Livro I<br />
II<br />
PERFIL E TRÊS QUARTOS DE MADEMOI-<br />
SELLE LÚCIA<br />
Como conhecêra ella o amante<br />
da marquêza ? Simplesmente por o<br />
ter encontrado na escada um dia<br />
que fôra levar um chapéu. As modistas<br />
sam duma virtu<strong>de</strong> proverbial,<br />
mas, emfim, mais duma vez<br />
se tem visto a queda dum anjo.<br />
Nêsse dia Lúcia libertára-se, saccudíra<br />
para longe com um ar <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhoso<br />
todas as recordações <strong>de</strong><br />
miséria.<br />
Mas não esquecêra o que tinha<br />
soffrido. A inveja, êsse peccado<br />
mortal, tinha-lhe martellado o coração<br />
e annulladoem germe todos<br />
os bons sentimentos que constituem<br />
a mulher. Por isso fazia a<br />
sua entrada no mundo com um<br />
não sei quê <strong>de</strong> máu e <strong>de</strong> perverso<br />
na alma. Começava pela vingança,<br />
como outras começam pelo sacrifício.<br />
Tinha ciúmes <strong>de</strong> todas as<br />
mulheres, não só por lhe po<strong>de</strong>rem<br />
roubar todos os homens, como por<br />
todas terem tido a sua parte <strong>de</strong><br />
Alhandra, á memória <strong>de</strong> Sousa<br />
Martins.<br />
O nosso correligionário sr. Alexandre<br />
Braga obteve 27 votos, e o<br />
sr. Yellela Passos 25.<br />
Findo o escrutínio suscitou-se<br />
uma questão, ao fim da qual a<br />
eleição foi annullada, tendo <strong>de</strong> ser<br />
novamente feita.<br />
D'esta mesma reunião resultou<br />
ficar <strong>de</strong>finitivamente marcado o dia<br />
26 do corrente para a primeira representação<br />
da peça <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida,<br />
expressamente escripta pelo sr.<br />
Gonçalves Cerejeira.<br />
Tem sido muito sentida na Itália<br />
a infausta morte <strong>de</strong> Cavalloti<br />
no duello com Macola. A câmara,<br />
<strong>de</strong> que era um dos mais illustrados<br />
membros, arvorou a ban<strong>de</strong>ira<br />
a meia haste, e nos cartazes dos<br />
theatros apparece a indicação <strong>de</strong><br />
não haver espectáculo por motivo<br />
<strong>de</strong> lucto na cida<strong>de</strong>.<br />
Manifestações populares tem involvido<br />
<strong>de</strong> saudosos preitos a memória<br />
do intransigente <strong>de</strong>putado.<br />
A polícia pren<strong>de</strong>u e enviou para<br />
juizo a conhecida gatuna Maria<br />
Miquelina, com residência em Miranda<br />
do Corvo, mas que vem frequentemente<br />
a esta cida<strong>de</strong> fazer<br />
colheita, por ter roubado uma porção<br />
<strong>de</strong> roupa a Emilia André aqui<br />
resi<strong>de</strong>nte.<br />
Após longa e dolorosa enfermida<strong>de</strong>,<br />
succumbiu hontem a esposa<br />
do sr. Jorge da Silveira Moraes,<br />
proprietário da agência funerária<br />
estabelecida na praça 8 <strong>de</strong> Maio,<br />
a quem enviamos sentidos pézames.<br />
O funeral da <strong>de</strong>sditosa senhora<br />
effectuou-se hontem ás 4 horas da<br />
tar<strong>de</strong>.<br />
O commandante Estherazy havia<br />
<strong>de</strong>safiado para um duello o<br />
ex-coronel Picquart, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
allusões pessoaes que êste brioso<br />
militar lhe dirigiu no julgamento<br />
<strong>de</strong> Zola.<br />
Picquart, porém, recusa bater-se;<br />
e como as testemunhas <strong>de</strong><br />
Estherazy se julguem offendidas<br />
com a recusa, vam submetter a<br />
questão a um jury d'honra.<br />
Foi enviado ao po<strong>de</strong>r judicial Alfredo<br />
Cardoso, resi<strong>de</strong>nte em Mont'arroio,<br />
por ter insultado o soldado<br />
<strong>de</strong> cavallaria 4 António Ferreira<br />
dos Santos, que o pren<strong>de</strong>u e entregou<br />
á polícia.<br />
RESISTÊNCIA —Domingo, 13 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1898<br />
Agitação nas Filippinas<br />
Rebentou <strong>de</strong> novo a insurreição<br />
nas Filippinas, que a Hespanha<br />
ainda ha pouco suppunha submettida.<br />
Liga-se a êste facto a or<strong>de</strong>m que<br />
recebeu o cruzador inglês, da esquadra<br />
do Oriente, para partir<br />
para Manilla.<br />
Virá nova complicação accrescer<br />
ás já assoberbadoras perturbações<br />
da política espanhola ?<br />
Falleceu esta manhã, a sr. a D.<br />
Anna Men<strong>de</strong>s, mãe dos srs. dr.<br />
Augusto, Eduardo, Alberto e António<br />
Men<strong>de</strong>s Simões <strong>de</strong> Castro, a<br />
quem enviamos o nosso cartão <strong>de</strong><br />
pézames.<br />
•<br />
António <strong>de</strong> Carvalho Gouveia,<br />
que estava hospedado na estalagem<br />
da viuva João dAveiro, <strong>de</strong>u<br />
queixa á polícia <strong>de</strong> que o creado<br />
da mesma estalagem António Diogo,<br />
da Figueira <strong>de</strong> Castello Rodrigo,<br />
lhe arremessou com um assucareiro<br />
á cara, fazendo-lhe diversos<br />
ferimentos <strong>de</strong> que foi receber<br />
curativo ao banco do hospital.<br />
Procurada para ser submettido<br />
a interrogatório, o creado aggressor<br />
tinha <strong>de</strong>sapparecido.<br />
• V<br />
/ v<br />
ESPECTÁCULOS<br />
Houve-os no circo, quinta feira<br />
e hontem, com os dramas o Comboio<br />
n.° 6 e a Vingança, duas peças<br />
más e cujo <strong>de</strong>sempenho foi<br />
mais que <strong>de</strong>ficiente. Até A<strong>de</strong>lina<br />
Ruas, que ahi vêmos já em outras<br />
peças, muito regularmente, não<br />
conseguiu <strong>de</strong>sfazer a má impressão<br />
<strong>de</strong>ixada pelos collegas, pelo<br />
mesmo Pato Moniz, que nada fez<br />
<strong>de</strong> aproveitável.<br />
O Comboio, com <strong>de</strong>sempenho e<br />
tudo, é verda<strong>de</strong>iramente um <strong>de</strong>sconchavo.<br />
A Vingança, afina, apesar<br />
da scena finai, o assassinato do<br />
patife da peça, praticado pela sua<br />
víctima indirecta, ter parecido menos<br />
má.<br />
Contudo, duas casas repletas, o<br />
que satisfaz á emprêsa do theátro<br />
que se permitte ir abusando da complacente<br />
tolerância do público, a<br />
quem não duvida illudir com fementidos<br />
reclames pomposos.<br />
Hoje Cora ou a escravatura.<br />
Morreu ante-hontem, na estação<br />
velha, quando ía passar do comboio<br />
proce<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Lisbôa para o do<br />
ramal, o passageiro Francisco das<br />
Neves, <strong>de</strong> 70 annos, natural do<br />
Louriçal, on<strong>de</strong> residia.<br />
Bastante doente, vinha acompa-<br />
luxo e <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>, enquanto que Mas não se <strong>de</strong>via con<strong>de</strong>mnar já.<br />
ella fôra tanto tempo pobre e <strong>de</strong>s- A mocida<strong>de</strong> arrastava-o a todas as<br />
graçada.<br />
loucuras; chegava tar<strong>de</strong> ao atelier,<br />
Finalmente chegára-lhe o seu dia, mas talvez um dia viesse a acabar<br />
não todavia com o amante da mar- com esta vida dupla cujas melhoquêza<br />
que se limitou a dar-lhe brinres horas sam sacrificadas ás paicos<br />
<strong>de</strong> sessenta e cinco francos. xões.<br />
Quem po<strong>de</strong>ria dizer o número<br />
dos seus amantes ? Fallemos só do<br />
seu primeiro amôr.<br />
Toda a gente sympathisava com<br />
elle; porque lhe reconheciam uma<br />
verda<strong>de</strong>ira naturêza d'artista. Além<br />
Quando começou a correr as d'isso elle encantava...<br />
aventuras do amôr, encontrou no<br />
Elysée-Montmartre — em que ella<br />
queria fazer <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong>nhosa — um<br />
pintor novo que procurava segundo<br />
a sua expressão mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>.<br />
Naturalmente raptou Lúcia.<br />
Chenavard dissera uma vez <strong>de</strong><br />
Eugène Descamps: «Ha <strong>de</strong> fazer<br />
alguma coisa pela pintura, quando<br />
não tiver vinte mulheres á perna».<br />
Mas o novo pintor não tomava a<br />
caminho da solidão. Continuava a<br />
Eugène Deschamps era um dês- viver como num harém, dando<br />
ses pintores que tem todas as boas como pretexto fazer pousar mulhe-<br />
qualida<strong>de</strong>s do artista, excepto o res. Não era mais <strong>de</strong>pravado que<br />
amôr ao trabalho. Via bem e sa- os outros, mas tinha umas theonas<br />
bia representar o que via, mas que eram só d elle. Dizia aos ca-<br />
nunca acabava nada. Quando uma maradas, mostrando-lhes as mu-<br />
tela estava esboçada, começava a lheres : «Ahi tem vocês as obras<br />
pintar outra. Conversava sobre a antigas que eu admiro. Não sam<br />
sua arte também que se julgava os mestres que é necessário estu-<br />
auctorizado a ficar a meio do cadar, é a naturêza.»<br />
minho.<br />
Tinha levado Lúcia, como qual-<br />
Talvez tivesse um i<strong>de</strong>al tam perquer outra, imaginando que seria<br />
feito que nunca pu<strong>de</strong>sse ser attin- um amôr dum dia. E foi <strong>de</strong> parte<br />
gido. Tinha tentado tudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a a parte uma paixão, ou porque<br />
paysagem até á pintura histórica. elle a amasse por o amôr d'ella, ou<br />
Quando alguém entrava no atelier, porque o seu rosto o impressio-<br />
ficava surprehendido pela gran<strong>de</strong> nasse mais. Lúcia ficou seduzida<br />
varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> tentativas; mas nos <strong>de</strong> repente pelo humor, o impre-<br />
esboços mais felizes o principiante visto, a <strong>de</strong>sinvoltura do pintor. No<br />
trahia o mestre. Via-se logo que atelier d'êlle achou-se como em<br />
aquélle pintor novo se <strong>de</strong>morava a sua casa. Na véspera só pensava<br />
vencer difficulda<strong>de</strong>s. Era daquêlles em procurar aventura para ter di-<br />
a cujo nascimento vieram todas as nheiro. Apenas se encontrou com<br />
fadas, menos a Vonta<strong>de</strong>.<br />
Eugène Deschamps, julgou-se rica<br />
nhado por um seu filho e munido<br />
do competente attestado do párocho,<br />
para dar entrada no hospital.<br />
O chefe da estação communicou<br />
a occorréncia á polícia que tomou<br />
conta do cadáver, que hontem foi<br />
remettido para o theátro anatómico,<br />
afim <strong>de</strong> se proce<strong>de</strong>r á autópsia.<br />
O novo fornecedor <strong>de</strong> carnes,<br />
sr. Juzarte Paschoal, abriu hôje o<br />
talho da alta, na loja do prédio do<br />
sr. dr. Augusto Rocha, junto á Sé<br />
Velha e quasi em frente das escadas<br />
da rua do Norte.<br />
A installação está regularmente<br />
feita, e o público é alli servido por<br />
dois cortadores, sendo assim remediada<br />
em gran<strong>de</strong> parte a inconveniência<br />
que se dava no talho provisório,<br />
estabelecido na estação <strong>de</strong><br />
bombeiros, <strong>de</strong> o comprador ter <strong>de</strong><br />
esperar longo tempo para ser servido.<br />
E assim que o sr. Paschoal ha <strong>de</strong><br />
merecer a estima do público, exforçando-se<br />
por estabelecer convenientemente<br />
as condições <strong>de</strong> venda<br />
como, <strong>de</strong> resto, acreditamos, é seu<br />
empenho.<br />
Respon<strong>de</strong> ámanhã em audiência<br />
<strong>de</strong> policia correcional Mathil<strong>de</strong> da<br />
Conceição, a ^Manteigas, que insultou<br />
e aggrediu a creada do seu<br />
vizinho Abílio <strong>de</strong> Sousa, morador<br />
na rua Nova.<br />
PUBLICAÇÕES<br />
Gazeta «ia» Al<strong>de</strong>ias.—Publicouse<br />
o n.° 114 do 3.° anno d'êste importantíssimo<br />
semanário illuâtrado, <strong>de</strong> propaganda<br />
agrícola e vulgarização <strong>de</strong> conhecimentos<br />
úteis.<br />
*<br />
Educação Nacional. — Recebemos<br />
o n.° 7°5 do 2. 0 anno d'esta revista<br />
<strong>de</strong> ensino primário e secundário, trazendo<br />
8 paginas supplementares com o<br />
relatório da 1." commissão encarregada<br />
<strong>de</strong> relatar o primeiro ponto do programma<br />
do congresso do professorádo livre<br />
<strong>de</strong> instrucção secundária.<br />
A coflaboração é distincta como sempre,<br />
f> que faz com que êste jornal seja o<br />
orgáo preferido pelo professorado.<br />
*<br />
A Crítica. — Recebemos e agra<strong>de</strong>cemos<br />
o n.° 8 d'esta interessánte revista<br />
theatral e bibliográphica, que se publica<br />
em Lisbôa, e <strong>de</strong> que é seu director e proprietário<br />
o sr. Eusébio Macário.<br />
*<br />
O Jornal dos Romances. —<br />
Recebemos o n.° 48 do anno I, 2." série<br />
d'esta bem redigida revista illustrada, cujo<br />
summário é o seguinte:<br />
Os combátes da vida: — Joanninha, a<br />
Costureira, Ch. Menouvel. — As gran<strong>de</strong>s<br />
tragédias, O Romance dum soldado —- A<br />
Cida<strong>de</strong> Aerea, — A. Brewn. — As mulheres<br />
na Rússia, Ribeiro Gonçalves.—-Secção<br />
bibliográphica. — Correspondência.<br />
-4- Bibliographia. — Expediente.<br />
apesar <strong>de</strong> lhe faltar tudo; porque<br />
elle não era homem que lhe désse<br />
o supérfluo. Engano-me, dava-lhe<br />
o supérfluo; porque lhe dava o<br />
amôr.<br />
Ella imaginou que esta bella existência<br />
havia <strong>de</strong> durar sempre. Tinha<br />
sonhado em um lan<strong>de</strong>au para<br />
ir ao Bosque, cavallos inglêses,<br />
vestidos <strong>de</strong> Worth, diamantes que<br />
cegassem as suas rivaes. Mas, <strong>de</strong><br />
braço dado com Eugène, ía alegremente<br />
jantar á taberna, a Dinochan<br />
ou a outro, bebendo o vinho dArgenteuil<br />
com <strong>de</strong>lícia, porque o amôr<br />
espalha a embriaguez sobre tudo.<br />
De dia, pousava uma hora. A'<br />
noite ía com Eugène Deschamps a<br />
um theátro <strong>de</strong> terceira ór<strong>de</strong>m, ou<br />
ao Elysée-Montmartre, a uma parte<br />
a outra, á Cloresie <strong>de</strong>s Lilás.<br />
Via, sem inveja, passar <strong>de</strong>ante<br />
d'ella mulheres, com quem os amantes<br />
gastavam doidamente, percebendo<br />
bem que o amôr é o millionário<br />
por excelléncia.<br />
Lúcia dava-se também no atelier<br />
que foi para lá morar. Foi Eugène<br />
Deschamps que lhe revelou toda a<br />
sua bellêza. Ella não se imaginava<br />
tam bella.<br />
Era um tempo feliz; porque Lúcia<br />
era feliz.<br />
— Oh! Como eu te amo por tu<br />
me teres tanto amôr, dizia ao pintor.<br />
— Amas-me; porque me amas,<br />
respondia elle.<br />
É beijavam-se, e cantavam, e<br />
tornavam a beijar-se, a canção do<br />
beijo, o beijo da canção.<br />
Câmara municipal <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong><br />
Sessão ordinária <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> fevereiro<br />
Presidência do vereador mais velho<br />
José António dos Santos.<br />
Vereadores presentes, effectivos:—Bacharel<br />
José Augusto Gaspar <strong>de</strong> Mattos,<br />
José António Lucas, António José <strong>de</strong><br />
Moura Basto e Albano Gomes Paes.<br />
Presente administrador do concelho.<br />
Approvou a carta da gerência da câmara<br />
relativa ao anno <strong>de</strong> 1897. em vista<br />
do parecer da commissão nomeada em<br />
sessão <strong>de</strong> 17 do corrente mês, mandando<br />
annunciar a exposição da mesma carta<br />
na fórma <strong>de</strong> lei:<br />
Começando na leitura no expediente,<br />
<strong>de</strong>u por essa occasião o presi<strong>de</strong>nte da câmara<br />
dr. Luiz Pereira da Costa, entrada<br />
na sala, occupando o seu logar.<br />
—Tomou conhecimento <strong>de</strong> diversa correspondência<br />
recebida.<br />
—-Conce<strong>de</strong>u licença da Companhia real<br />
dos caminhos <strong>de</strong> ferro portuguêses, para<br />
mandar proce<strong>de</strong>r ao esgoto das retretes<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>—ramal, para o cano geral<br />
d'esgôto que passa proximo.<br />
—Auctorizou o pagamento dos vencimentos<br />
dos empregados da câmara, relativos<br />
ao mês <strong>de</strong> fevereiro corrente.<br />
—Conce<strong>de</strong>u 63 avenças para consumo<br />
d'agua.<br />
—Attestou ácerca <strong>de</strong> requerimentos pedindo<br />
subsídios <strong>de</strong> lactação para menores<br />
d'êste concelho.<br />
—Auctorisou diversas obras — continuação<br />
<strong>de</strong> um cano <strong>de</strong> esgoto na rua do<br />
Asylo da Mendicida<strong>de</strong> : — Continuação<br />
da separação do pavimento da la<strong>de</strong>ira do<br />
Seminário — Continuação da construcção<br />
do gabinete do contador nos paços do<br />
concelho;—separação do mercado <strong>de</strong> D.<br />
Pedro 5.°<br />
—Auctorisou trabalhoSfj<strong>de</strong> canalização<br />
d'agua.<br />
—Despachar requerimentos — conce<strong>de</strong>ndo<br />
alinhamentos, sem occupação <strong>de</strong><br />
terreno público.—ODras num prédio d'esta<br />
cida<strong>de</strong>—entrega <strong>de</strong> <strong>de</strong>cimas <strong>de</strong> garantia<br />
a um empreiteiro por ter concluído<br />
uma obra.—Mudança <strong>de</strong> um signal funerário<br />
existente no cemitério.<br />
—Mandou fazer orçamento para a separação<br />
<strong>de</strong> uma fonte no Ameal.<br />
—Auctorisou a mudança <strong>de</strong> um caminho<br />
no logar das Vendas, freguezia <strong>de</strong><br />
Ceira, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser ouviaa a Junta <strong>de</strong><br />
paróchia respectiva.<br />
SALVEMOS A PATRIA<br />
A vida portuguêsa contemporânea<br />
—O centenário — O que ha afazer—<br />
Diatese e terapêutica sociológica<br />
(Edição <strong>de</strong> Lisbôa )<br />
POR<br />
Décio Carneiro<br />
A venda na livraria do conceituado<br />
editor França Amado — Rua<br />
Ferreira Borges (Calçada).<br />
PREÇO, eoo KÉIS<br />
Na livraria França Amado, em<br />
<strong>Coimbra</strong>, ven<strong>de</strong>m-se todos os mo<strong>de</strong>los<br />
impressos para uso do professor<br />
primário.<br />
Ma<strong>de</strong>moiselle Lúcia servia <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> tronco e d'expressão. O<br />
pintor esboçava ao mesmo tempo<br />
uma Magdalena e uma Diana. Lúcia<br />
envai<strong>de</strong>cia-se por servir <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo<br />
a êstes dois typos <strong>de</strong> bellêza.<br />
O amôr é preciso na paysagem; mas<br />
a paysagem é também precisa no<br />
amôr. Os parisienses mais ferrenhos<br />
encaixilham a paixão nas flores<br />
da estufa, da varanda ou do<br />
telhado. Sem fallar nas paragens<br />
em frente da cascata do Bosque do<br />
Boulogne, ou <strong>de</strong>baixo dos carvalhos<br />
da floresta <strong>de</strong> Saint-Germain.<br />
Não havia flores no atelier <strong>de</strong> Deschamps.<br />
Lúcia trazia todos os dias<br />
um bouquet: violetas, junquilhos,<br />
miosótis, rosas-chá, jasmins porque<br />
era então primavera.<br />
Um dia em que trouxe um ramo<br />
d'espinheiro, todo florido <strong>de</strong> branco,<br />
Eugène Deschamps <strong>de</strong>itou fóra<br />
os pincéis e pôs-se a gritar que<br />
era necessário ir correr pelà floresta.<br />
Tinha nascido perto <strong>de</strong> Gompiègne.<br />
Quis respirar uma lufada<br />
do ar natal. Levou Luçia a Pienefondo.<br />
Não tinha sido ainda a abertura<br />
da estação das águas, e encontraram-se<br />
por isso sós, em plena<br />
naturêza, naquellas admiraveis<br />
paysagens em que havia <strong>de</strong> tudo:<br />
floresta, lago, montanha, bosques,<br />
gargantas perdidas, valles, um Castello<br />
antigo, em uma palavra toda<br />
a eloquência da naturêza, quando<br />
o homem a amou uma vez.<br />
(Continúa),