310-320 - Universidade de Coimbra
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RESISTENCIA<br />
N° 315 COIMBRA—Domingo, 27 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1898 4.° ANNO<br />
CONTRA A CONVERSÃO<br />
Já por êsse país fóra se vai<br />
notando um movimento <strong>de</strong> firme<br />
reacção contra a chamada<br />
conversão da dívida pública,<br />
cujo projecto foi na sua generalida<strong>de</strong><br />
approvado ha pouco na<br />
câmara dos <strong>de</strong>putados.<br />
Reacção por todos os meios,<br />
resistencia absoluta e intransigente<br />
contra essa ominosa trama<br />
preparada pelo governo para<br />
salvar a monarchia á custa da<br />
honra, do brio, da dignida<strong>de</strong> e<br />
do orgulho do país, que no dia<br />
seguinte ao da conversão estará<br />
entregue, <strong>de</strong> mãos amarradas,<br />
ao extrangeiro, é o fim para<br />
que <strong>de</strong>vemos fazer convergir<br />
todos os nossos exforços. E <strong>de</strong><br />
esperar, por tudo isto, que os<br />
portuguêses patriotas, que ainda<br />
não ven<strong>de</strong>ram a consciência<br />
aos serventuários do regimen,<br />
affirmem por todos os modos<br />
que não serám cúmplices do crime<br />
que a monarchia prepara.<br />
Não é na conversão da dívida<br />
que <strong>de</strong>vemos pensar se quizermos<br />
a sério a re<strong>de</strong>mpção <strong>de</strong><br />
país: é na conversão dos nossos<br />
costumes políticos, que ,<br />
como hôje estám, nos involvem<br />
numa mephítica atmosphera <strong>de</strong><br />
podridão e <strong>de</strong> immoralida<strong>de</strong>.<br />
E essa radical mudança sómente<br />
se po<strong>de</strong>rá fazer quando,<br />
num accôrdo unísono <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>s,<br />
o pôvo reivindicar na<br />
praça pública os seus direitos<br />
postergados, a sua honra vilmente<br />
conspurcada.<br />
Á falléncia, á bancarôta, <strong>de</strong><br />
nada valem mudanças <strong>de</strong> governos;<br />
á administração extrangeira<br />
já se não pô<strong>de</strong> óppôr a<br />
monarchia, que prefere para o<br />
futúro a vergonha dum khedivado,<br />
a cortar já, <strong>de</strong> cerce e<br />
sem receio, uma vida phantástica<br />
<strong>de</strong> caçadas e viajatas.<br />
O caminho está, portanto,<br />
naturalmente indicado: é o caminho<br />
da reivindicação e da<br />
lucta, por on<strong>de</strong> ainda po<strong>de</strong>rêmos<br />
cobrir <strong>de</strong> glória, a nossa<br />
envilecida pátria. As nuvens<br />
do futuro, pesadas e aterrado<br />
ras, sómente po<strong>de</strong>rám ser dis<br />
sipadas com um acto patriótico<br />
<strong>de</strong> heroísmo e <strong>de</strong> crença, contra<br />
o regimen monárchico que<br />
nos explora e entrega ao extrangeiro.<br />
Busquêmo-lo, portanto.<br />
A questão já não é sómente<br />
<strong>de</strong> honra, ou <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong>. Já<br />
não precisamos <strong>de</strong> apenas riscar<br />
da nossa vida a infâmia<br />
dum regimen que nos tem rebaixado<br />
a situações affrontosas.<br />
Já não temos sómente a<br />
lavar a <strong>de</strong>shonra que nos <strong>de</strong>nigre,<br />
e nos envilece.<br />
A questão agora é <strong>de</strong> vida ou<br />
<strong>de</strong> morte. Ou salvamos, num<br />
rápido arranco, o nosso país, a<br />
autonomia da nossa pátria, a<br />
in<strong>de</strong>pendência da nacionalida<strong>de</strong>,<br />
ou <strong>de</strong>ntro em pouco serêmos<br />
involvidos no domínio <strong>de</strong>spótico<br />
<strong>de</strong> credores brutaes, que<br />
fdar<strong>de</strong>arám impu<strong>de</strong>ntemente á<br />
victória obtida, sobre a vilêza<br />
da nossa covardia contínua.<br />
Luctar contra a conversão, é<br />
luctar contra a monarchia: é<br />
negar-lhe o direito dum futuro<br />
<strong>de</strong> pân<strong>de</strong>ga a trôco da ruína<br />
<strong>de</strong> Portugal.<br />
Luctêmos, portanto, sem tergiversações<br />
nem <strong>de</strong>longas, e<br />
<strong>de</strong>safiemos,num ímpeto altivo <strong>de</strong><br />
coragem indomável, essa oligarchia<br />
<strong>de</strong>voradora e corrupta,<br />
fementida e <strong>de</strong>sleal, a que venha<br />
arrancar ao país em cólera<br />
o mais sagrado dos seus direitos,<br />
o direito da sua soberania.<br />
Comício <strong>de</strong> Lisbôa<br />
A commissão municipal republicana<br />
<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> faz-se<br />
representar no comício que hoje<br />
se realisa em Lisbôa contra a<br />
marcha política e financeira do<br />
governo e especialmente contra<br />
a conversão, pelo nosso intemerato<br />
correligionário e illustre<br />
presi<strong>de</strong>nte do Directório, sr.<br />
dr. Manoel d'Arriaga.<br />
Republica do Brasil<br />
Passou na quinta feira transacta<br />
o anniversário da república, brazileira,<br />
da florescente nação que hôje<br />
occupa indubitavelmente o segundo<br />
logar entre as nações americanas.<br />
-<br />
Nossa irmã, não só na história,<br />
mas na língua, vai caminhando<br />
agora numa obra <strong>de</strong> reparação dos<br />
<strong>de</strong>smazêllos do império.<br />
Nós, que em 1822 tínhamos um<br />
D. João VI, porco e balofo, vamos<br />
continuando com um seu successor,<br />
muito bom para a caça, mas<br />
horrível para chefe <strong>de</strong> Estado.<br />
Realiza-se hoje em Lisbôa um<br />
comício'contra a reforma <strong>de</strong> instrucção<br />
secundária, promovido pelo<br />
grémio do professorado livre.<br />
PROTESTO<br />
Nós, abaixo assignados, protestamos<br />
solemnemente contra o <strong>de</strong>svario<br />
<strong>de</strong> um nôvo empréstimo, que,<br />
sob colôr <strong>de</strong> conversão da dívida<br />
externa, o goyerno intenta negociar,<br />
com hypotheca e sacrifício da<br />
fortuna e da in<strong>de</strong>pendência nacional.<br />
Nós só numa conversão podêmos<br />
e <strong>de</strong>vêmos sériamente pensar,<br />
é na dos nossos costumes políticos<br />
!<br />
Só uma garantia querêmos e <strong>de</strong>vêmos<br />
dar a todos os nossos crédôres,<br />
é a <strong>de</strong> uma administração<br />
pública fiel e austera!<br />
Abaixo os governos pessoaes e<br />
perdulários!<br />
Viva a in<strong>de</strong>pendência da pátria!<br />
Este protesto, conciso mas ar<strong>de</strong>nte,<br />
breve mas cheio <strong>de</strong> dignida<strong>de</strong><br />
e <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência, que foi<br />
profusamente espalhado pelo país<br />
para colher as assignaturas <strong>de</strong> todos<br />
aquelles que reconhecem a<br />
impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma administração<br />
honrada <strong>de</strong>ntro da monarchia,<br />
está exposto ao público honesto<br />
e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte nos seguintes<br />
locaes:<br />
Rua Larga,-n. os 2, 4, 6 e 8,<br />
Pharmacia do Castello, Rua da<br />
Calçada, n. 08 3o a 36, 5o e 52, 60<br />
a 64, 91 a 95, 99 e 101, 107 e<br />
109, 128 e i3o, 15x a i55, e na<br />
Redacção da Resistência.<br />
'JUSTIÇA...<br />
Volta a dizer-se que serám revistos<br />
os relatórios àcêrca das últimas<br />
campanhas dÃfrica, parece<br />
que com o fim especial.<strong>de</strong> corrigir<br />
omissões, ou injustiças, havidas na<br />
distribuição <strong>de</strong> recompensas aos<br />
officiaes e soldados <strong>de</strong> .terra e mar<br />
que tomaram parte nessas campanhas.<br />
Recordamos-nos! Foi logo, após<br />
os primeiros <strong>de</strong>sembarques dos expedicionários<br />
repatriados que vimos<br />
nas folhas da capital notícias <strong>de</strong><br />
andarem por !á esmolando praças<br />
<strong>de</strong> pret, que no continente negro<br />
arrúináram a saú<strong>de</strong>, inutilizandose<br />
para o serviço militar, para o<br />
trabalho, para a lucta pela existência.<br />
.. 1<br />
Vinham <strong>de</strong> combater heroicamente,<br />
collaborando com ardôr na<br />
obra grandiosa do levantamento<br />
do nome português... —mereceram<br />
a graça <strong>de</strong> sêr-lhes dada baixa<br />
por incapacida<strong>de</strong> phísica!<br />
Depauperaram-se ao serviço da<br />
pátria que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ram, batalhando<br />
<strong>de</strong>nodadamente contra as hostes<br />
dum régulo ousadamente traiçoeiro,<br />
em meio <strong>de</strong> innúmeros perigos<br />
da guerra e do clima, adquirindo<br />
nessas luctas cruentas o gérmen<br />
<strong>de</strong> inutilizantes e mortíferas enfermida<strong>de</strong>s.<br />
..—<strong>de</strong>u-se-lhes por findo<br />
o tempo <strong>de</strong> alistamento, sem uma<br />
pensão, sem um abrigo!<br />
E <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então as gentes distínguem-nos<br />
pela cor <strong>de</strong>nunciadora da<br />
doença não cuidada e das privações<br />
soffridas, pela medalha da indigência<br />
a fazer pendant, com a<br />
fita vermelha—D. Amélia—afivellada<br />
ao peito, signal a um tempo<br />
<strong>de</strong>monstrativo da heroicida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciada<br />
e da ingratidão recebida.<br />
Mas...<br />
Volta a dizer-se que vám ser revistos<br />
os relatórios. O remorso terá<br />
feito volver olhares compa<strong>de</strong>cidos<br />
para êsses valentes luctadores<br />
indignamente votados á miséria ?<br />
Para crê-lo seria necessário ádmittir<br />
que a monarchia é susceptível<br />
<strong>de</strong> actos <strong>de</strong> justiça, e êsse sentimento<br />
não se coaduna com os seus<br />
fundamentos.<br />
O que será, pois, a revisão ?..<br />
Uma vez mais <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> haver<br />
sessão na câmara electiva por falta<br />
<strong>de</strong> númef» <strong>de</strong> <strong>de</strong>putados. Foi na<br />
passada quinta-feira, dia em que<br />
apenas compareceram 28.<br />
Naturalíssimo. Seria dar prova<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>masiada coragem irem entrar<br />
no carnaval parlamentar, apenas<br />
<strong>de</strong>corridas dúzias d'horas' <strong>de</strong>pois<br />
que saíram do carnaval das ruas...<br />
Conferências<br />
Volta a affirmar-se que o sr. Augusto<br />
Fuschíni vai fazer novamente<br />
conferências contra a marcha<br />
que os nossos negócios públicos<br />
vam tomando, e muito especialmente<br />
contra o ruinoso projecto da<br />
conversão.<br />
Bom é que se empreguem todos<br />
os exforços para evitar que êlle se<br />
torne uma realida<strong>de</strong>.<br />
Trata-se duma questão imminentemente<br />
nacional, em que não <strong>de</strong>ve<br />
nem pô<strong>de</strong> haver exclusivismos partidários.<br />
É dada como certa a partida <strong>de</strong><br />
Mousinho d'Albuquerque para Moçambique<br />
no dia 6 <strong>de</strong> março próximo.<br />
No Diário do Governo <strong>de</strong> quinta<br />
feira vieram os <strong>de</strong>cretos exonerando<br />
do cargo <strong>de</strong> reitor da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><br />
Q dr. Costa Simões,- E<br />
nomeando para êste logar o sr. dr.'<br />
Pereira Dias, que chegou ante-hontem<br />
no comboio das 11 e meia holoras<br />
da noite.<br />
S. ex., que entrou já em exercício<br />
hospedou-se em casa do sr. dr.<br />
Chaves e Castro, <strong>de</strong>vendo transferir<br />
ámanhã a sua residência para<br />
o paço das escholas.<br />
GUERRA?<br />
Parece estar <strong>de</strong>stinada a gran<strong>de</strong>s<br />
questões diplomáticas e porventura<br />
a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> guerra, o<br />
caso da explosão do cruzador Maine,<br />
recentemente succedido em Havana.<br />
Nomeada uma commissão <strong>de</strong><br />
mergulhadores para examinarem o<br />
fundo da bahia em que o horroroso<br />
sinistro têve lugar, foi-lhes prohibido<br />
pelo^general Blanco <strong>de</strong>sempenharem-sê<br />
da sua missão, sem<br />
irem acompanhados <strong>de</strong> egual número<br />
<strong>de</strong>spanhoes, para—dizia êlle<br />
—não fazêrem uma <strong>de</strong>claração fal<br />
sa em <strong>de</strong>sabôno dã Espanha.<br />
O cônsul Lee, e o commandante<br />
Sigsbee, participaram o caso a<br />
Mac-Kinley, que achou a impoHtica<br />
<strong>de</strong>claração affrontosa do <strong>de</strong>coro<br />
nacional dá república norte-americana.<br />
Simultáneamente os Estados<br />
Unidos—respon<strong>de</strong>ndo a umas infundadas<br />
insinuações da imprensa<br />
espanhola, — activam os preparativos<br />
<strong>de</strong> guerra, fortificando cida<strong>de</strong>s,<br />
e reforçando guarnições. Isto<br />
tudo é altamente significativo.<br />
Por outro lado vai apparecendo<br />
na imprensa uma reviravolta pronunciada<br />
no modo <strong>de</strong> pensar àcêrca<br />
do conflicto, principalmente em<br />
frente da seguinte notícia, apresentada<br />
á Vanguarda pelo seu correspon<strong>de</strong>nte<br />
em Madrid:<br />
«Apresentaram-se ao commandante Sigsbee<br />
dois marinheiros do porto da Havana,<br />
e <strong>de</strong>clararam que: cruzando num<br />
bote a bahia, momentos antes da explosão,<br />
tropeçaram com um arame que partia<br />
do dique sêcco, em direccão ao Maine,<br />
e que esse arame não podia ser senão<br />
um fio conductor dos torpedos, ou das<br />
minas que havia no pôrto; que havia dias,<br />
corria o boato, ou rumor surdo, <strong>de</strong> que<br />
os americinos teriam que lamentar-se e<br />
arrepen<strong>de</strong>r-se da sua approximação ás<br />
costas <strong>de</strong> Cuba • • •; que estavam promptos<br />
a fazer estas <strong>de</strong>clarações quando fôsse<br />
preciso perante a commissão syndicante.»<br />
Turvam-se os ares, infelizmente<br />
para a Espanha, que po<strong>de</strong>rá mostrar<br />
verda<strong>de</strong>iro patriotismo, mas<br />
nunca po<strong>de</strong>rá levar a melhor em<br />
lucta com a florescente república,<br />
tanto mais quanto a guerra <strong>de</strong> Cuba<br />
lhe tem exaurido o sangue e o<br />
oiro.<br />
*<br />
A commissão norte-americana<br />
vai examinando a questão com todo<br />
o cuidado, e com todo o segredo,<br />
enviando telegráphicamente, e<br />
por meio <strong>de</strong> cifra, ao presi<strong>de</strong>nte<br />
Mac-Kinley os resultados obtidos.<br />
A Or<strong>de</strong>m, jornal jesuítico que<br />
vegeta nesta cida<strong>de</strong> para vergonha<br />
<strong>de</strong> todos, diz que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><br />
<strong>Coimbra</strong>, o Curso Superior <strong>de</strong> lettras<br />
e os dois Institutos <strong>de</strong> Lisbôa,<br />
vam «parecendo mais casas <strong>de</strong><br />
educação republicana, estabelecimentos<br />
<strong>de</strong> preparação revolucionária,<br />
do que aca<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> ensino<br />
preparado e estipendiado por um<br />
país monárchico.»<br />
A perfídia, a falsida<strong>de</strong> e a torpeza<br />
<strong>de</strong> tal insinuação, que tam<br />
bem quadra num miserável filho<br />
<strong>de</strong> Loyola, mereceria uma resposta<br />
severa, se a Or<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que<br />
a conhecemos, não merecesse o<br />
nosso <strong>de</strong>sprezo.<br />
Diga, pois, o que quiser, mova<br />
á vonta<strong>de</strong> a perseguição contra ,os<br />
professores republicanos, e Christo<br />
que lhe perdôe.<br />
Carta <strong>de</strong> Lisbôa<br />
lummúrio » — O MOYÍMENTO CONTRA<br />
A CONVERSÃO. — O primeiro protesto.—<br />
Reclama-se a conversão dos costumes<br />
políticos. — O commércio e a indústria.<br />
— Comícios em Lisbôa, Porta e <strong>Coimbra</strong>.<br />
— O partido republicano. — A sua<br />
intervenção. — Gran<strong>de</strong> comício em Lisbôa.<br />
— Opportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os protestos.—<br />
Quaes seriam os resultados da<br />
indifferença.—MAIS DIFFICULDADES.—Facto<br />
gravíssimo.—Um credor que exige<br />
o pagamento <strong>de</strong> 800:000 libras.— On<strong>de</strong><br />
pô<strong>de</strong> o governo buscá-las f—Outros credores<br />
seguem o exemplo. — O que representa<br />
o facto. — Uma bancarôta <strong>de</strong>sastradíssima.—O<br />
CARNAVAL EM LISBOA.<br />
MONOTONIA PARA REGISTRAR. — O que<br />
fe\ o rei e o que fez o pôvo.—A CONVER-<br />
SÃO NA CÂMARA.—Sempre Burnay a dispôr.<br />
25 <strong>de</strong> fevereiro<br />
Iniciou-se emfim um movimento<br />
contra o projecto da conversão,<br />
pen<strong>de</strong>nte da câmara dos <strong>de</strong>putados.<br />
Appareceram as primeiras manifestações<br />
e annunciam-se.outras.<br />
Em vários estabelecimentos <strong>de</strong><br />
Lisbôa começou a ser ássignado o<br />
seguinte protesto:<br />
«Nós, abaixo assignados, protestamos<br />
solemnemente contra o <strong>de</strong>svario <strong>de</strong> um<br />
novo empréstimo, que, sob colôr <strong>de</strong> conversão<br />
da dívida externa, o governo intenta<br />
negociar, com hypothéta e sacrifício<br />
da fortuna e da in<strong>de</strong>pendência nacional.<br />
Nós só numa conversão po<strong>de</strong>mos e <strong>de</strong>vemos<br />
sériamente pensar, é na dos nossos<br />
costumes políticos!<br />
Só uma garantia queremos e <strong>de</strong>vemos<br />
dar a todos os nossos credores, é a <strong>de</strong><br />
uma administração pública fiel e austera 1<br />
Abaixo os governos pessoaes e perdulários<br />
1<br />
Viva a in<strong>de</strong>pendência da pátria 1»<br />
Os srs. João José Machado, Elysio<br />
dos Santos e Alfredo <strong>de</strong> Brito,<br />
membros da commissão encarregada<br />
<strong>de</strong> dirigir o movimento Fuschini,<br />
iniciado na Liga Liberal, expediram<br />
também a seguinte circular<br />
:<br />
e ex. m0 sr.—A discussão do parlamento<br />
está sujeito o projecto <strong>de</strong> conversão<br />
da dívida externa, assumpto <strong>de</strong> tam<br />
subida importância para os <strong>de</strong>stinos nacionaes<br />
que é <strong>de</strong>ver imperioso <strong>de</strong> todos<br />
os bons cidadãos estudarem e apreciarem<br />
as consequências perigosas que po<strong>de</strong>rám<br />
advir da sua transformação em lei do Estado.<br />
Nesta operação, que melhor se <strong>de</strong>veria<br />
chamar concordata, sam consignados<br />
os rendimentos das alfan<strong>de</strong>gas do continente<br />
e ilhas adjacentes ao pagamento<br />
dos juros e amortisação da dívida externa,<br />
o que não só importa affrontoso <strong>de</strong>sastre<br />
para o país, mas prepara ainda o terreno<br />
para restabelecer na administração pública<br />
o systema <strong>de</strong> empréstimo, agora restaurado<br />
sob a garantia <strong>de</strong> hypotheca e<br />
alienação <strong>de</strong> rendimentos públicos.<br />
Os graves inconveniéntes e os perigos<br />
que nos pô<strong>de</strong> trazer a consignação daqúella<br />
"nossa principal receita pública e<br />
os novos encargos dos subsequentes em<br />
préstimos, que irám sobrecarregar os futuros<br />
orçamentos do Estado—além das<br />
outras disposições nocivas do projecto—<br />
não escapam até aos menos previ<strong>de</strong>ntes<br />
e conhecedores <strong>de</strong> assumptos económicos<br />
e financeiros.<br />
Os partidos políticos, apparentemente<br />
dissi<strong>de</strong>ntes, não repellem com bastante<br />
vigôr esta fatalida<strong>de</strong> imminente, e <strong>de</strong>ntro<br />
em pouco verembs a concordata como<br />
facto consummado, se o país não se manifestar<br />
pelos meios legaes e po<strong>de</strong>rosos<br />
que tem ao seu alcance.<br />
Appellamos para o pais que soffre, paga<br />
e trabalha, porque muito mais soffrerá e<br />
pagará sem utilida<strong>de</strong> própria se tal CON-<br />
VÉNIO se realizar.<br />
A elevada importância que v. tem na<br />
opinião pública, reUnida á <strong>de</strong> algumas<br />
collectivida<strong>de</strong>s e dos cidadãos que se interessam<br />
pelo bem do país, po<strong>de</strong>rám<br />
ainda, conjugados todos os exforços, obstar<br />
á <strong>de</strong>rrocada nacional que se prepara.<br />
Os abaixo assignados, pertencentes ás<br />
classes industriaes ê commerciaes do país,<br />
como representantes <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> commissão<br />
nomeada para impedir esta nova<br />
calamida<strong>de</strong> nacional, veem, pois, pedir o<br />
valioso concurso <strong>de</strong> v. para a <strong>de</strong>fesa da<br />
honra e legítimos interesses nacionaes,<br />
esperando que v. se digne respon<strong>de</strong>r com<br />
a mais prompta e sincera adhesão.<br />
Lisboa, 23 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1898.—Pela<br />
commissão, João José Machado, Elysio<br />
dos Santos, Alfredo <strong>de</strong> Brito.»<br />
Ainda por iniciativa dos promotores<br />
do protesto e ida Circular*