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NT - Crimes de tortura - 24 09 09 - Câmara dos Deputados

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Direitos Humanos / Legislação Participativa<br />

Número: 1599/<strong>09</strong> Data: <strong>24</strong>/<strong>09</strong>/20<strong>09</strong><br />

Eles criaram uma figura... Criada não, porque é uma figura do Direito Criminal<br />

Comum, chamada <strong>de</strong> crime conexo. Mas quanto a crime conexo dirá daqui a pouco<br />

certamente o Fábio Comparato ao examinar isso, como examinou perante o tribunal,<br />

o seu correto significado. Todo estudante <strong>de</strong> Direito sabe e até eu sei que conexo é<br />

aquele em que você pratica um <strong>de</strong>lito, tem uma motivação, um motivo político, e<br />

para isso você pratica outro crime político, mas com a mesma gente, o mesmo autor<br />

e a mesma finalida<strong>de</strong>.<br />

Ora, quando os <strong>tortura</strong>dores me sequestraram, e sequestraram milhares <strong>de</strong><br />

pessoas, quando eles <strong>tortura</strong>ram, quando eles estupraram inclusive a minha cliente<br />

lá <strong>de</strong>... — quem é <strong>de</strong> Pernambuco aqui? — ... Brejo da Madre <strong>de</strong> Deus, no interior<br />

<strong>de</strong> Pernambuco. Quando a <strong>tortura</strong>ram junto ao marido por ser uma lí<strong>de</strong>r católica do<br />

Dom Hél<strong>de</strong>r, fugida para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, trabalhando sob a proteção da CNBB, o<br />

casal acabou localizado pelas autorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> então. Pren<strong>de</strong>ram os 2, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

localiza<strong>dos</strong> no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Torturaram os 2 juntos. Depois, foi a vez só <strong>de</strong>la. Ela<br />

foi, além <strong>de</strong> todo o sofrimento anterior, estuprada em fila, em fila. Ela disse que só<br />

viu o primeiro e mal o segundo, <strong>de</strong>smaiou. Quando veio ao meu escritório, disse:<br />

“Dr. Mo<strong>de</strong>sto, me aju<strong>de</strong>. Aconteceu isso.” Ela, com todo o constrangimento, dizia:<br />

“Estou grávida e não sei <strong>de</strong> qual <strong>de</strong>les, porque <strong>de</strong>smaiei no segundo estuprador.” Eu<br />

disse a ela: você é lí<strong>de</strong>r católica, com certeza, você <strong>de</strong>verá procurar o seu Bispo que<br />

gosta muito <strong>de</strong> você e seu marido. Falou com o seu marido? — “Não”. Falou com o<br />

Bispo? — “Não”. Fale com ele.<br />

Falou com o Bispo que, mais ou menos, repetiu: falou com o seu marido? —<br />

“Não”. Então, fale e <strong>de</strong>pois venha os 2. E ela quando foi falar com o marido — ele<br />

era um pernambucano do interior, homem calado, sóbrio, que talvez eu não sabia se<br />

usava peixeira <strong>de</strong> salão ou não — fiquei temendo. Quando ela contar a verda<strong>de</strong> ao<br />

marido, ele vai querer se vingar <strong>dos</strong> estupradores, mas seria morto antes disso.<br />

Fiquei temeroso, será que <strong>de</strong>i a orientação correta?<br />

A sorte é que quando ela falou com o marido, e ela me disse <strong>de</strong>pois, ele ouviu<br />

calado, como eu disse que ele era. Calado, ele chegou ao final. Ele veio, abraçou a<br />

sua companheira e disse: “Uma criança é uma criança, e nós po<strong>de</strong>mos, se você<br />

quiser tê-la, educá-la bem, fazer <strong>de</strong>la uma pessoa <strong>de</strong> bem.” Ela, então, disse que, no<br />

dia seguinte — eu até havia sugerido a perspectiva <strong>de</strong> um aborto, para que ela não<br />

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