16.04.2013 Views

NT - Crimes de tortura - 24 09 09 - Câmara dos Deputados

NT - Crimes de tortura - 24 09 09 - Câmara dos Deputados

NT - Crimes de tortura - 24 09 09 - Câmara dos Deputados

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL<br />

Nome: Conjunta - Direitos Humanos / Legislação Participativa<br />

Número: 1599/<strong>09</strong> Data: <strong>24</strong>/<strong>09</strong>/20<strong>09</strong><br />

Quero dizer também que, do ponto <strong>de</strong> vista eminentemente jurídico, tem<br />

razão o Deputado Mo<strong>de</strong>sto quando diz que essa é uma discussão <strong>de</strong> imbricamento<br />

do âmbito do direito com o âmbito da política. Por quê? Porque, do ponto <strong>de</strong> vista<br />

eminentemente interpretativo da lei, vai haver aqueles que sustentam que a lei foi<br />

um gran<strong>de</strong> acordo <strong>de</strong> pacificação e <strong>de</strong> esquecimento.<br />

Ora, nós já mostramos aqui que, faticamente, isso é insustentável. Aliás,<br />

busquemos e encontremos. Nós temos percorrido o Brasil inteiro com as caravanas<br />

da anistia e uma pergunta pública é feita: apareça um único perseguido político<br />

brasileiro que tenha sido interlocutor <strong>de</strong> qualquer acordo político com as forças <strong>de</strong><br />

repressão. E ninguém se apresenta como interlocutor <strong>de</strong> um acordo político com as<br />

forças autoritárias <strong>de</strong> então. Isso, do ponto <strong>de</strong> vista fático, é uma constatação.<br />

Em segundo lugar, mesmo se fosse um acordo — e é por isso que o direito,<br />

nesse momento, se imbrica com a política —, não teria nenhuma valida<strong>de</strong> jurídica,<br />

primeiro porque se pegarmos a Lei nº 6.683, <strong>de</strong> 1979, está explícita muito<br />

claramente a anistia no seu art. 1º: é concedida anistia a to<strong>dos</strong> quantos no período<br />

compreendido <strong>de</strong> tanto a tanto cometeram crimes políticos. Foram anistia<strong>dos</strong> os que<br />

cometeram crimes políticos.<br />

O que é um crime político? O crime político caracteriza-se pelo bem jurídico<br />

que ele protege. Ora, crime político é aquele que as pessoas cometeram ou para<br />

romper com o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> estado vigente, ou com a or<strong>de</strong>m política e social vigente,<br />

ou com a soberania, ou com a estrutura social e organizacional que estava posta<br />

naquele momento. Nenhum agente <strong>tortura</strong>dor do regime militar, seja das estruturas<br />

oficiais persecutórias ou das estruturas paralelas que foram criadas à margem da<br />

própria legalida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> Direito legítimo à época, nenhum <strong>de</strong>les estava<br />

cometendo um crime contra a or<strong>de</strong>m política, um crime contra a soberania, contra a<br />

estrutura <strong>de</strong> governo — nenhum <strong>de</strong>les.<br />

Portanto, os persegui<strong>dos</strong> políticos brasileiros foram anistia<strong>dos</strong> com a lei <strong>de</strong><br />

1979, como <strong>de</strong>ve ser, porque exerciam um direito básico na socieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna,<br />

que é o direito <strong>de</strong> resistência contra uma or<strong>de</strong>m que oprime as suas liberda<strong>de</strong>s.<br />

Esse é o fundamento das revoluções burguesas. É a força motriz jurídica fundante<br />

da revolução francesa e da revolução americana: o direito <strong>de</strong> resistência contra uma<br />

17

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!