O desenvolvimento, na primeira metade do século XX, da ... - Unesp
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escravidão e a posterior abolição em fins <strong>do</strong> <strong>século</strong> XIX, a despeito disso, a visão evolucionista<br />
implicava, necessariamente, em identifica-los – índio e negro – como raças inferiores, o que, por<br />
si só, traz uma série de implicações para a análise e julgamento <strong>do</strong>s escritos de tal autor.<br />
2.4.2 Mário de Andrade<br />
Exceto por alguns escritos, como a biografia <strong>do</strong> padre Jesuíno <strong>do</strong> Monte Carmelo, Mário<br />
de Andrade pouco contribuiu no campo <strong>da</strong> historiografia <strong>da</strong> música de São Paulo, e assim, ao<br />
nosso ver, sua importância se encontra muito mais em suas críticas á historiografia tradicio<strong>na</strong>l e<br />
em suas considerações sobre temas consagra<strong>do</strong>s, como por exemplo, a música entre os jesuítas e<br />
a contribuição de certos compositores <strong>na</strong> criação de uma música “<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l”.<br />
Como se sabe, Mário de Andrade foi um <strong>do</strong>s principais ideólogos <strong>do</strong> movimento<br />
modernista e um <strong>do</strong>s principais intelectuais brasileiros de sua geração. Assim, não é de se<br />
suspeitar a forte presença de suas idéias <strong>na</strong> escrita <strong>da</strong> história <strong>da</strong> música brasileira. Caldeira Filho<br />
afirmou que “... sem ser compositor, situa-se ele com grande relevo entre os construtores <strong>da</strong><br />
música brasileira” (CALDEIRA FILHO, 1954a:131).<br />
Mário criticava as configurações <strong>da</strong> historiografia musical tradicio<strong>na</strong>l afirman<strong>do</strong> ser esta<br />
excessivamente “individualizante”, e deste mo<strong>do</strong>, não passar “... de uma enumeração de músicos<br />
e suas biografias” (ANDRADE, 1963:360-361). Além disso, o autor preconizava a necessi<strong>da</strong>de<br />
de se reformar não ape<strong>na</strong>s os méto<strong>do</strong>s dessa literatura, mas talvez até seu objeto (ANDRADE,<br />
1963:362).<br />
Esta crítica de Mário de Andrade ao “individualismo” provém de seu vínculo com o<br />
movimento modernista, o qual esteve preocupa<strong>do</strong> com a questão <strong>da</strong> criação de uma música de<br />
caráter <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l e função social. Os modernistas, de um mo<strong>do</strong> geral, viam a música <strong>do</strong>s artistas<br />
brasileiros europeiza<strong>do</strong>s destituí<strong>da</strong> de caráter <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>l, e mais, sem uma função social, pois, em<br />
razão de serem construí<strong>da</strong>s a partir de temática e elementos musicais estrangeiros, eram<br />
incapazes de fazer com que os brasileiros se identificassem culturalmente sob um mesmo<br />
conjunto de valores.<br />
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