Livro em PDF - Racionalismo Cristão
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pessoal a mais cuidada. É um madrugador: os primeiros albores do dia marcam-lhe o início<br />
das atividades cotidianas.<br />
A esse hábito, que lhe v<strong>em</strong> da sadia vida da agricultura, não fizeram interrupção os<br />
seus trabalhos de advogado, de político, de estadista. Também se recolhe habitualmente cedo<br />
e, salvas exceções a que o obrigam a alta posição que ocupa, ninguém o procura depois das<br />
oito horas da noite. Às primeira horas da manhã, entre a leitura dos jornais e o trabalho de<br />
correspondência, o Sr. Campos Sales faz um pequeno exercício nas avenidas do parque, a pé,<br />
de bicicleta, ou a cavalo.<br />
A equitação é-lhe particularmente agradável; é um cavaleiro consumado, tendo<br />
verdadeiro prazer <strong>em</strong> domar a vigorosa resistência dos animais de raça.<br />
Uma ocasião, dirigindo-se para os lados de Copacabana, e ignorando que não podia<br />
atravessar o túnel, enveredou por ele. O guarda não o conheceu e chamou-o familiarmente:<br />
”Ó hom<strong>em</strong>, por aqui não se passa a cavalo”. E o Presidente deu volta às rédeas, pedindo<br />
desculpas da transgressão. É um pequeno traço característico do seu respeito pela<br />
autoridade, respeito que tantos confund<strong>em</strong> com estímulos de natureza pessoal <strong>em</strong> qu<strong>em</strong> não<br />
defende senão a investidura de que é depositário.<br />
Em regra — isto deve causar surpresa extraordinária — o próprio Presidente é qu<strong>em</strong><br />
faz toda a sua correspondência política, escrevendo-a de próprio punho. Quer durante a<br />
conferência com deputados e senadores, quer durante o despacho com os ministros, quer<br />
durante as audiências que dá quase diariamente, se o Presidente recebe qualquer carta, pede<br />
licença e faz a leitura imediata; o povo brasileiro pode estar certo de que o chefe de Estado<br />
não deixa de ler uma só carta que lhe é dirigida; “o meio de eu não deixar de lê-las —<br />
explicou o Presidente ao amigo que o interrogava — é tomar o hábito de abri-las no<br />
momento <strong>em</strong> que as recebo”. Uma das coisas mais curiosas da intimidade do Sr. Campos<br />
Sales é o fato de ter grande número de amigos dedicadíssimos, com ausência absoluta do que<br />
se chama camarilha. Aqueles amigos são encontrados <strong>em</strong> todas as nuances da política<br />
nacional e, fora da política, <strong>em</strong> todas as classes sociais.<br />
A natureza excepcionalmente afetiva do Sr. Campos Sales retribui amplamente essas<br />
amizades, mas a austeridade do seu caráter limita b<strong>em</strong> na consciência de cada um a linha<br />
divisória dos favores de natureza pessoal e dos que afetam o serviço público. Aqui termina a<br />
citação da revista argentina.<br />
GRATIDÃO TARDIA<br />
Quando, <strong>em</strong> 1941, foi oficialmente com<strong>em</strong>orado o centenário de nascimento de Campos<br />
Sales, o Brasil inteiro, num preito de saudade e gratidão ao seu ilustre e grande filho,<br />
reverenciou os seus feitos cívicos e ben<strong>em</strong>éritos e a sua grande luta pela ord<strong>em</strong> e pelo<br />
progresso da pátria. Campos Sales foi, inegavelmente, um notável estadista, não só pelos<br />
conhecimentos e experiência no trato da coisa pública, mas, igualmente, por sua proverbial<br />
honestidade e respeito à justiça e ao direito dos seus concidadãos. O seu governo foi um dos<br />
mais fecundos da República. Com efeito, Campos Sales, com a sua energia e o seu dinamismo<br />
e com a colaboração do grande financista Joaquim Murtinho, no Ministério da Fazenda,<br />
conseguiu restaurar as precariíssimas finanças do País, que se debatia numa enorme crise<br />
econômica, oriunda da transformação do regime político, das lutas intestinas e ainda da<br />
libertação dos escravos. Assim, legou ao seu sucessor os meios necessários para a realização<br />
de muitas obras públicas.