Livro em PDF - Racionalismo Cristão
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REMINISCÊNCIAS<br />
Qu<strong>em</strong> nasceu no sertão de Pernambuco e vive ausente da terra natal há de sentir<br />
saudades das primeiras chuvas que ca<strong>em</strong> no fim da primavera ou no início do verão.<br />
Antes, porém, da preparação para o começo do inverno (que nos sertões nordestinos é a<br />
estação das chuvas), t<strong>em</strong>os trovoadas, relâmpagos, céu nublado e a alegria alvoroçada da<br />
criação como prenúncio das primeiras águas.<br />
Os sertanejos, ansiosos, espreitam o t<strong>em</strong>po e faz<strong>em</strong> conjeturas; uns procuram interpretar<br />
as previsões do lunário, outros observam os fenômenos meteorológicos, e alguns, os mais<br />
perscrutadores, já habituais com as constantes secas, faz<strong>em</strong> deduções para predizer se haverá<br />
ou não inverno no sertão...<br />
FARTURA E EUFORIA<br />
Ca<strong>em</strong> chuvas gerais; corr<strong>em</strong> os riachos e os córregos; ench<strong>em</strong>-se os açudes e as lagoas,<br />
e os sapos coaxam numa verdadeira aleluia saudando o inverno que chega.<br />
Logo após as primeiras chuvas, o solo se reveste de babug<strong>em</strong>, e se as precipitações<br />
atmosféricas continuam caindo com regularidade a relva cresce, a caatinga enverdece,<br />
transformando o aspecto triste dos campos, dantes ressequidos, numa magia estupefaciente da<br />
natureza!<br />
O povo do sertão se torna alegre e eufórico e lança as s<strong>em</strong>entes à terra; as plantas<br />
brotam, cresc<strong>em</strong> e vicejam.<br />
É pleno inverno e há contentamento geral na zona sertaneja, porque o criatório engorda<br />
e as plantações estão seguras; há leite, coalhada, umbuzada, queijo fresco, milho, pamonha,<br />
canjica, e nesse ambiente de alegria e fartura, a gente do sertão esquece a seca que passou...<br />
Eis a vida nos sertões do Nordeste; quando há inverno a fartura aflui; quando v<strong>em</strong> a<br />
seca, a miséria surge.<br />
Seca e inverno são dois extr<strong>em</strong>os que preocupam todos os anos o povo sertanejo, visto<br />
que o seu b<strong>em</strong>-estar depende da regularidade das chuvas para manter a agricultura e a criação,<br />
que são os seus meios de subsistência.<br />
ZABUMBA VERSUS FILARMÔNICA<br />
Reportando-me ao folclore do meu sertão, l<strong>em</strong>bro-me ainda dos costumes do t<strong>em</strong>po de<br />
criança, quando minha vida era de venturas e despreocupações, pois Leopoldina, hoje<br />
Parnamirim, constituía para mim o melhor lugar do mundo, e o sítio “Santa Maria”, onde<br />
nasci, era o enlevo das minhas aspirações infantis.<br />
Pensava eu, naqueles saudosos t<strong>em</strong>pos de quatro bananas por um vintém, que não<br />
haveria no Brasil orquestra melhor do que a da zabumba, que os meninos acompanhavam nas<br />
suas andanças pelas ruas da cidade.<br />
Eu não trocaria um dueto de pífanos por um de flautas e também não trocaria a nossa<br />
típica zabumba pela filarmônica do Recife. Regionalismo e discernimento de criança...<br />
Os anos e as décadas passaram na vorag<strong>em</strong> do t<strong>em</strong>po e hoje, longe do torrão natal, só<br />
me restam r<strong>em</strong>iniscências desse passado longínquo e cheio de evocações de tudo que vi e<br />
senti nas primeiras quadras da minha vida.