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Somos mestiços, e daí? - cchla - UFRN

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franceses), dos diários de viajantes e das obras e cartas dos missionários cristãos que viveram em<br />

nossas terras no período da colonização. Continuando a fazer escola na historiografia brasileira –<br />

que se veja trabalhos recentes como o do historiador Emanuel Araújo, "O teatro dos vícios" 18 -, o<br />

autor brasileiro sempre aceitou (e repetiu!) a descrição etnocêntrica e eurocêntrica dos<br />

estrangeiros que aqui estiveram como administrador colonial, como sacerdote, militar ou<br />

viajante. O texto preconceituoso, elitista e racista foi aceito como texto de verdade, testemunho<br />

da história, não tendo sido o autor brasileiro capaz de crítica das representações depreciativas<br />

contidas nesses conhecidos (e citados!) relatos.<br />

O problema que se põe a essa tradição é que, ainda que se apresente como projeto<br />

intelectual de crítica de nosso passado colonial e escravista, ela termina por se associar à<br />

mentalidade colonialista. Ao que parece, sem se colocar a questão do olhar pelo qual se observa a<br />

realidade, essa tradição teórica de interpretação da cultura brasileira transmitiu ao mundo das<br />

idéias sua parte de incredulidade e pessimismo vis-à-vis nossa cultura de mestiçagens. Com<br />

efeito, isso releva de uma impossibilidade histórica, uma vez que essa mesma tradição – que se<br />

trate de pontos de vistas conservadores ou outros, com ou sem a consciência de sê-los – sempre<br />

olhou a sociedade brasileira com os olhos europeus incapazes de compreender o mestiço e as<br />

mestiçagens.<br />

Diferentemente, estamos aqui propondo uma interpretação para o fenômeno das<br />

mestiçagens brasileiras numa perspectiva que procura compreender essas mestiçagens como<br />

tendência inconsciente e coletiva que regula e anima nossa socialidade de base, nossos modos de<br />

pensar e agir, sem as idéias de que sejam essas práticas a causa de nossos chamamos males – e<br />

devemos mesmo nos perguntar da existência destes como particularidades brasileiras. Um olhar<br />

mais atento para o mundo descobrirá que nada temos de "mais" que outras nações no tocante a<br />

aspectos sempre referidos como produtos de nossas "debilidades congênitas", "incapacidades<br />

históricas": desigualdades sociais, misérias, preconceitos, corrupção na política, entre outros<br />

18<br />

Cf. Araújo, Emanuel. Teatro dos vícios: transgressão e transigência na sociedade urbana colonial. Rio de Janeiro,<br />

José Olympio, 1983<br />

13

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