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Somos mestiços, e daí? - cchla - UFRN

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Não é senão com a era colonial que se fala de mestiçagem e que os <strong>mestiços</strong> são<br />

singularizados como tais nas colônias ou nas metrópoles colonizadoras. Ainda que a mestiçagem,<br />

como miscigenação de grupos étnicos, seja tão velha quanto a humanidade 1 , ao homem da era<br />

colonial, assim como ao homem de hoje, as mestiçagens de populações do passado aparecem<br />

como simples fatos históricos cujos traços geralmente desapareceram e que efetivamente não<br />

contariam mais do ponto de vista da caracterização dos grupos humanos nas suas configurações<br />

atuais. Pode-se até saber que um ou outro povo deve sua origem a cruzamentos entre grandes<br />

grupos étnicos – que, por exemplo, os franceses são a mistura de múltiplos cruzamentos: entre<br />

gauleses, romanos, francos, etc. - mas ou isso teria perdido toda sua significação cultural e social<br />

com o passar do tempo ou os ancestrais desses povos teriam sido inteiramente assimilados e,<br />

nesses casos, não se reconhece mais mestiçagens e <strong>mestiços</strong>. Diferentemente, a era colonial,<br />

"misturando a cor da pele" de grupos humanos diferentes, modificando-os e criando novos tipos<br />

humanos, mas também conservando as distinções que os separam, faz nascer as categorias de<br />

mestiçagem e de mestiço como verdadeiras identidades particulares de processos e pessoas. Não é<br />

1<br />

Pode-se dizer que ela é o fato mesmo que funda a humanidade e todos os povos, pois não há população humana que<br />

não tenha se fundado pela miscigenação étnica. O conceito de "raça" e, pior, de "raça pura" é não somente racista e<br />

reacionário, ele não faz nenhum sentido e não encontra nenhuma evidência histórica. Todos os povos, desdes os mais<br />

primitivos da humanidade, constituiram-se nos contatos entre uns e outros, não existindo nenhuma população<br />

humana que tenha se constituído e se conservado sem cruzamentos. O humano é um miscigenado, um mestiço. E<br />

mais: pesquisas recentes mostram que os 6 bilhões de terráqueos atuais que nós somos descendemos todos de um<br />

mesmo núcleo inicial de alguns milhares de homens. As últimas pesquisas da genética e da lingüística mostram que<br />

não somente nós somos todos primos, mas bem mais próximos que se pensava. Brancos, amarelos ou negros, nós<br />

temos os mesmos ancestrais. Nós descendemos todos de um mesmo pequeno grupo de algumas dezenas de milhares<br />

de sobreviventes do paleolítico que viveram entre 30 000 e 60 000 anos atrás. Do lado dos genes, não há nenhuma<br />

dúvida sobre a origem comum dos humanos atuais a partir de uma população "mãe" da pré-história. Ainda que<br />

diferentes, somos todos parentes: que se seja esquimó, chinês, australiano, africano, europeu, ameríndio, as pesquisas<br />

demonstram que se encontram, nesses diversos grupos, características genéticas comuns tais como os genes que<br />

determinam a cor da pele, em proporções diferentes mas sempre presentes em todos os grupos. Assim, em mongóis<br />

se encontra o gene determinante da cor da pele negra, do mesmo modo como se verifica também em brancos<br />

europeus. No africano negro se encontra o gene determinante da cor da pele branca, o mesmo se verificando em<br />

indígenas do continente americano. O que varia em cada grupo é o gene predominante na constituição da cor da pele<br />

de cada um.<br />

3

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