Somos mestiços, e daí? - cchla - UFRN
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mestiçagem que o torna sinônimo de miscigenação biológica de grupos étnicos. <strong>Somos</strong> uma<br />
sociedade nascida justamente dos feitos da era colonial e nos constituímos, em primeiro lugar,<br />
como uma população inteiramente mestiça no plano biológico. Mas – e, sem dúvida, em virtude<br />
desse elemento histórico de nossa fundação como sociedade – construímo-nos também e<br />
principalmente numa cultura de mestiçagens. É esse traço maior da cultura brasileira que é o<br />
objeto de nosso interesse.<br />
Assim, em meu trabalho de tese, o que chamo de mestiçagens diz respeito às diversas<br />
maneiras de pensar e fazer dos brasileiros – apontadas em diferentes estudos 2 - que implicam<br />
relacionar, fazer amálgamas, fazer junções de idéias, formas, regras, valores, princípios, espaços,<br />
etc., ainda quando considerados opostos, mas colocados lado a lado, fundidos, combinados,<br />
tornando-se fontes de amolecimentos de códigos, instituições, padrões, leis. Como se sabe, um<br />
modo de agir que tem no célebre "jeitinho brasileiro" uma de suas representações sínteses. Ainda<br />
que interpretado por muitos como uma anomalia cultural, causa do enfraquecimento das<br />
instituições políticas do país, querem alguns!, o "jeitinho brasileiro" – existindo para o melhor e<br />
para o pior -, caso se saiba interpretá-lo sem preconceitos teóricos e/ou políticos, pode, sem<br />
dúvida, ser tomado, em uma de suas dimensões, como uma das expressões fortes do modo de ser<br />
das nossas mestiçagens. Atitudes, hábitos, etc. que os próprios brasileiros consideram<br />
"tipicamente brasileiro" e que, segundo ainda os nacionais, seria a razão que faz do Brasil um<br />
país sui generis: para muitos, tornaria o país e sua gente plásticos, heteróclitos, versáteis,<br />
maleáveis. Uma idealização que os brasileiros fazem de si mesmos que faz crer que se trataria de<br />
um povo eternamente aberto, oposto a tudo que corresponderia ao "puro", ao "separado", aos<br />
"códigos rígidos".<br />
2 Aqui penso principalmente nas obras de Gilberto Freyre ("Casa-Grande & Senzala" e "Sobrados e Mocambos"),<br />
Roger Bastide ("Brasil: terra de contrastes"), Darcy Ribeiro ("O povo brasileiro"), Roberto DaMatta ("O que faz o<br />
Brasil, Brasil?", "Carnaval, malandros e heróis" e "Conta de mentiroso"), entre outros.<br />
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