Somos mestiços, e daí? - cchla - UFRN
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Resta que a miscigenação que nos fundou como povo foi não apenas uma mistura de<br />
diferentes grupos étnicos, mas também de culturas, histórias, modos de ser, imaginários. Essas<br />
misturas do passado constituem a herança que dotou a sociedade brasileira de uma tendência –<br />
nós diremos, inconsciente – a realizar fusões, associações, aproximações, junções, sincretismos<br />
de seres, coisas, idéias, valores, fazendo-os conviver, co-habitar e mesmo fundirem-se, não raro<br />
ligando extremos, opostos, contrários - este último aspecto tendo já ocupado o antropólogo<br />
Roberto DaMatta nas inúmeras páginas que escreveu sobre a cultura brasileira.<br />
Entretanto, nossa discussão não se realizaria satisfatoriamente se não enfrentássemos, ao<br />
mesmo tempo, tema vital que se encontra na nossa discussão sobre as mestiçagens brasileiras: a<br />
existência de representações depreciativas das mestiçagens e do mestiço que se produziram ao<br />
longo de nossa história e que se conservam ainda.<br />
Em nosso trabalho de tese, ocupados com uma análise das nossas mestiçagens, nos<br />
deparamos, na leitura de fontes escritas, autores, etc., com um discurso que muito chamou nossa<br />
atenção: um discurso antimestiçagem e antimestiço, inicialmente engendrado fora do Brasil -<br />
desembarcando em nossas terras com o europeu colonizador - e, posteriormente, inteiramente<br />
assumido e elaborado por nossas elites intelectuais e políticas, desde os primeiros momentos de<br />
nossa fundação como sociedade e até hoje.<br />
Se linhas antes falávamos de uma tendência inconsciente coletiva a se praticar<br />
mestiçagens, diga-se já agora que se tratou sempre de uma tendência que provocou<br />
estranhamento em viajantes e cronistas estrangeiros do período colonial (quase sempre<br />
reprovando-a!, é a tônica dos escritos de administradores, missionários cristãos e viajantes<br />
europeus), e que, como traço profundo do modo de ser dos brasileiros, foi tendência condenada<br />
pelos nossos primeiros intérpretes, tendo sido também objeto da atenção (não menos<br />
reprovadora!) dos cientistas sociais em todo decorrer do século XX. Em geral, as interpretações<br />
destes últimos seguiram a tônica depreciativa e pessimista dos primeiros relatos e das primeiras<br />
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