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Somos mestiços, e daí? - cchla - UFRN

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3. Para uma arqueologia de representações depreciativas das mestiçagens e do mestiço no<br />

Brasil, ou o mal-estar das elites brasileiras relativamente à sua própria cultura<br />

Temos mostrado aqui que as práticas de mestiçagens no Brasil, mesmo fazendo parte da<br />

alma de todo um povo – e isso se mantém por si, que se queira ou não -, sempre foram também<br />

objeto de diversas representações depreciativas e continuam a ser objeto de interpretações<br />

teóricas desconfiadas e pessimistas. Ainda que se trate de país inteiramente mestiço, reconhecer a<br />

cultura brasileira como uma cultura de mestiçagens, e não ter nisso nenhum motivo de vergonha<br />

ou de pessimismo, não se trata, de qualquer modo, de alguma coisa da ordem do consenso entre<br />

intérpretes brasileiros. Já assinalamos que toda uma tradição teórica de interpretação da cultura<br />

brasileira condenou as nossas mestiçagens ao lugar da anomalia pura e simples.<br />

Ao longo de toda a história do país, as mestiçagens sempre foram objeto de diversos<br />

estigmas. E mesmo que o tema da miscigenação étnica não concirna ao nosso assunto senão de<br />

maneira lateral, convém assinalar que os estigmas contra as práticas de mestiçagens na cultura<br />

brasileira sempre estiveram acompanhados da denegação do indivíduo mestiço e das misturas<br />

étnicas. Pode-se dizer que os preconceitos relativamente às mestiçagens têm um fundo de<br />

racismo e este nem sempre se expressa veladamente. E se ontem atribuía-se à miscigenação<br />

étnica a saúde instável do brasileiro, os atrasos no crescimento, a apatia, sem que se pensasse em<br />

outras causas (econômicas, sociais, etc.), hoje atribuí-se às práticas de mestiçagens a causa dos<br />

ditos "males históricos" que atingiriam a sociedade brasileira. O país onde "se mistura tudo" é<br />

também visto como "o país que vive na desordem, na instabilidade", na "falta de identidade<br />

política".<br />

O ponto de interesse aqui é utilizar consistentemente o recurso de uma re-significação do<br />

termo arqueologia (como o fez, por exemplo, Michel Foucautl) para demonstrar que as<br />

representações depreciativas das nossas mestiçagens são, no fundo, a longa memória do discurso<br />

colonizador no inconsciente coletivo brasileiro. Mesmo se em algumas de suas expressões fortes<br />

tenha sido refeito, o discurso colonizador – compondo-se do discurso do administrador colonial,<br />

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