Márcio Vianna - Mônica Prinzac
Márcio Vianna - Mônica Prinzac
Márcio Vianna - Mônica Prinzac
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O presente dura pouco tempo<br />
“Cada ser humano é um abismo e a gente tem vertigens quando se debruça<br />
sobre eles.” Rubens Corrêa, numa conversa com estudantes de teatro, lembrava essa fala<br />
de um personagem da peça Woyzec, e afirmava que a missão do ator é provocar, dentro<br />
de cada espectador, o abismo e a vertigem de um mergulho em seus personagens. “Para<br />
que as pessoas pensem, se emocionem e amem com mais intensidade”, completava<br />
<strong>Márcio</strong>.<br />
Rubens e <strong>Márcio</strong> se transformaram numa dupla. Ambos, depois da peça,<br />
idealizavam voltar a trabalhar juntos. Alguns planos foram traçados como a adaptação<br />
do livro Hospício é Deus um diário de Maura Lopes Cançado. Rubens viveria Maura, e<br />
mais uma vez os limites entre loucura e racionalidade seriam postos em cheque. Rubens<br />
e <strong>Márcio</strong> eram interessados no grande abismo que é a loucura, ali, eles debruçavam-se e<br />
se encontravam. “Uns nasceram para subir no balão. Outros ficam embaixo aplaudindo”<br />
brincava <strong>Márcio</strong>. Onde estariam os dois nesse encontro?<br />
No último mês da sua vida, Marcio estava se afastando da IBM para viver o<br />
sonho de se dedicar integralmente ao teatro. Tinha recém alugado uma casa em<br />
Botafogo onde seria sede da Companhia de Teatro Muito Prazer dedicada a ensaios e<br />
oficinas.<br />
Apenas um mês separou a morte de Rubens e <strong>Márcio</strong>. <strong>Márcio</strong> morreu com o<br />
sonho de fazer uma homenagem a Rubens, pois havia recém começado a ensaiar. Do<br />
dia em que descobriu estar doente ao dia de sua morte – um câncer de cérebro<br />
fulminante - foram sete longos dias. No hospital pediu que uma pequena equipe se<br />
responsabilizasse pela continuação do projeto. Eu era uma dessas pessoas e junto com<br />
Claudia Mele, Marcito <strong>Vianna</strong>, Teca Fichinski, Caíque Botkai, Paulo César Medeiros e<br />
os atores da Companhia de Teatro Muito Prazer realizamos o espetáculo Ex-Teatrum,<br />
uma homenagem a Rubens e <strong>Márcio</strong>.<br />
“É por meio da arte que a dor se transforma em luz. É por meio da arte, ainda,<br />
que muitos encontram o divino. Por isso, devemos, cada um de nós, tentar buscar nosso<br />
dom, nossa própria forma de expressão. Devemos todos, ao menos uma vez na vida,<br />
seja como for, seja de que forma for, tomar coragem e subir no nosso próprio<br />
banquinho.”<br />
(Texto de <strong>Márcio</strong> <strong>Vianna</strong>)