Márcio Vianna - Mônica Prinzac
Márcio Vianna - Mônica Prinzac
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O presente dura pouco tempo<br />
onde os improvisos construíam imagens de forte dramaticidade e emoção. “A<br />
montagem só começa a funcionar quando os atores exaustos cederam em suas defesas,<br />
viram sua técnica falhar e a emoção pode, enfim, correr solta.” 17<br />
<strong>Márcio</strong> usava Grotowski como referência também na relação com os atores. “O<br />
ator deve aprender a não fazer ou não representar”. O cansaço, o esgotamento psíquico e<br />
nervoso permite a emergência de uma verdade refugiada, recalcada, que o autocontrole<br />
não pode mais esconder ou disfarçar. Em resumo, o esgotamento é o estado mais<br />
propício ao autodesvendamento. “Se, ao desafiar-se publicamente a si mesmo, o ator<br />
desafia os outros e, se revela tal como é, arrancando a sua máscara de todos os dias, ele<br />
permite ao espectador empreender um processo semelhante.” 18<br />
A novidade mais marcante do Teatro Pobre reside numa redefinição da função e<br />
da arte do ator. Para ele tudo no palco é supérfluo com exceção do frente-a-frente do<br />
ator e do espectador. Este deixa de estar atrás de um personagem. “O ator passa a ser o<br />
seu próprio personagem, e a representação não é mais a simulação, quer realista ou<br />
estilizada, de uma ação, mas um ato que o ator cumpre, e cuja essência ele tira do mais<br />
profundo de si mesmo.” 19<br />
A Farra, apesar de ter sido criada como um simples exercício de atores,<br />
transformou-se em um verdadeiro happening - com característica de evento, repetiu-se<br />
poucas vezes e foi realizada em espaços não convencionais de encenação.<br />
Os happenings começaram, há meio século atrás, como reivindicações<br />
(futuristas e dadaístas) para a conversão dos artistas em mediadores de um processo<br />
social ou estético social. Esses artistas utilizavam as manifestações performáticas como<br />
meio de provocação na busca de uma abertura nas formas de expressão artística. A<br />
proposta era reduzir a distância entre a vida e a arte. Essas performances eram fruto de<br />
improvisações e ações espontâneas com a utilização de técnicas de teatro, dança,<br />
música, literatura, artes plásticas e cinema - ainda uma nova mídia.<br />
Num diálogo com o teatro - em termos de técnicas de criação e atuação – a<br />
performance fez contato com os mais importantes criadores modernos: as técnicas de<br />
interiorização de Stanislavsky – principalmente através da releitura de Meyerhold e<br />
Grotowski. O teatro dialético-conceitual de Brecht – toda a dialética atuar-interpretar,<br />
tempo ficcional/tempo real e o conceito brechtiano de `distanciamento´. O teatro ritual<br />
17 Jornal O Estado de São Paulo, entrevista. 14/04/1991<br />
18 Em busca de um teatro pobre. Artigo de Jerzy Grotowski publicado em Odra (Wroclaw, 9/1965)<br />
19 ROUBINE, Jean-Jacques: A Linguagem da encenação teatral, (trad. e apres. Yan Michalski),