19.04.2013 Views

Márcio Vianna - Mônica Prinzac

Márcio Vianna - Mônica Prinzac

Márcio Vianna - Mônica Prinzac

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

O presente dura pouco tempo<br />

a imagem passava a ser mais importante do que as palavras e o tradicional ritmo das<br />

ações era questionado. Muitas inovações foram apresentadas: performances sem texto,<br />

performances sem atores (substituídos pôr cenários) e diversas propostas de instalações.<br />

Com Vincent e Confessional, <strong>Márcio</strong> <strong>Vianna</strong> pretendia iniciar um trabalho de<br />

experimentação centrado na questão do relacionamento espetáculo-espectador. “A crise<br />

do teatro contemporâneo repousa, essencialmente, na relação entre o espetáculo e o<br />

espectador, e Marat Marat não caminhou neste sentido.” 13<br />

O palco italiano ocupou uma posição dominante em toda a vida teatral do século<br />

XIX e, com algumas exceções, na primeira metade do século XX. Durante essa fase,<br />

houve uma condenação do espetáculo herdado do naturalismo, isso por várias razões,<br />

entre elas o fato do espectador ficar reduzido à pura passividade intelectual. Surge então<br />

a afirmação de que é possível um outro modo de relação palco-pláteia, engajando o<br />

espectador no jogo teatral. “Isso pressupõe uma outra opção estética, na qual a sugestão<br />

substitui a afirmação, a alusão ocupa o lugar da descrição, a elipse o da redundância.<br />

Esse desejo de engajar o espectador na realização dramática, até mesmo de<br />

comprometê-lo com ela, passou a nortear permanentemente as pesquisas do teatro<br />

moderno (...), por mais diferentes que sejam, aliás, as bases teóricas que orientam cada<br />

um desses empreendimentos.” 14<br />

A experiência de <strong>Márcio</strong> <strong>Vianna</strong> dividia-se em Confessional - interpretado por<br />

14 atores para 13 pessoas sentadas em confessionários e Vincent, em palco italiano, com<br />

10 atores para uma platéia de 130 lugares. Enquanto Vincent cortejava o teatro visual,<br />

Confessional representava uma suposta revolução ao propor um teatro intimo: no lugar<br />

de espectadores, indivíduos.<br />

Nesta experimentação, <strong>Márcio</strong> idealizava desconstruir a visão mitificada do<br />

pintor numa reflexão sobre o fracasso de uma vida solitária e obscura. O texto dos dois<br />

espetáculos era o mesmo, com exceção das confissões elaboradas para a relação<br />

individualizada. Nas cenas dentro dos confessionários, os monólogos, com algum<br />

improviso, possuíam apenas um esboço definido em ensaios.<br />

Em Confessional cada ator se relacionava com um espectador por vez,<br />

praticamente sussurando-lhe ao ouvido. Van Gogh ficava no centro e não dialogava –<br />

assim como em Vincent - com os espectadores. Os outros personagens (figuras da sua<br />

13 Carta aos atores. 1990.<br />

14 ROUBINE, Jean-Jacques: A Linguagem da encenação teatral, (trad. e apres. Yan Michalski),

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!