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Psicopatologia da Criança - Associação de Estudos do Alto Tejo

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PSICOPATOLOGIA DA CRIANÇA NO SUL DA BEIRA INTERIOR (PERSPECTIVA ETNOLÓGICA)<br />

Francisco Henriques<br />

apren<strong>de</strong>r a ler e a escrever eram os homens, porque “tinham que governar a casa e trabalhar<br />

para ganhar dinheiro para sustentar a família”. Instruir as mulheres podia tornar-se pernicioso<br />

porque “aprendiam a ler e a escrever e <strong>de</strong>pois escreviam cartas aos namora<strong>do</strong>s”, como nos dizia<br />

uma informante.<br />

Para combater o absentismo escolar nas crianças, sempre eleva<strong>do</strong> em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong>s múltiplas<br />

tarefas que lhes eram atribuí<strong>da</strong>s, e melhorar o seu quadro alimentar e, consequente, a sua<br />

estrutura física e resistência à <strong>do</strong>ença, Jaime Lopes Dias propôs que as escolas passassem a<br />

fornecer uma refeição diária aos alunos (Dias, 1948a).<br />

O professor António Fra<strong>de</strong> sintetiza, através <strong>da</strong>s palavras <strong>de</strong> um patriarca <strong>de</strong> família, a<br />

perspectiva <strong>da</strong> nossa população rural relativamente à importância atribuí<strong>da</strong> à instrução “letras,<br />

são tretas senhor professor. Eu não como <strong>da</strong>s letras. As letras são para os que não precisam <strong>de</strong><br />

trabalhar” (Fra<strong>de</strong>, 1995:100).<br />

1.1.3. Aspectos <strong>de</strong>mográficos<br />

No Quadro 1 apresentam-se os valores relativos aos censos <strong>da</strong> população <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1864 a 2001,<br />

dividi<strong>do</strong>s pelos quatro concelhos <strong>da</strong> área <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>. Para ca<strong>da</strong> concelho quantifica-se a<br />

população <strong>de</strong> facto, o número <strong>de</strong> crianças até aos 15 anos e a percentagem que estas<br />

representam na população <strong>de</strong> facto. Para se ter uma perspectiva conjunta, para ca<strong>da</strong> ano <strong>de</strong><br />

apuramento <strong>do</strong> censo <strong>da</strong> população (1878, 1911, 1930, 1950, 1970, 1991 e 2001), somaram-se<br />

os valores obti<strong>do</strong>s em ca<strong>da</strong> um <strong>do</strong>s concelhos e <strong>de</strong>terminou-se a percentagem <strong>da</strong>s crianças até<br />

15 anos sobre o total <strong>da</strong> população.<br />

Verificámos que a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50 marcou um ponto <strong>de</strong> viragem na evolução <strong>de</strong>mográfica <strong>da</strong><br />

população, <strong>de</strong>sta região. Durante cerca <strong>de</strong> noventa anos (1864 – 1950) a população cresceu<br />

mais <strong>de</strong> cem por cento (<strong>de</strong> 59584 em 1864 para 125239 em 1950).<br />

Fenómeno idêntico se observa nas crianças até 15 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. O seu número cresceu, em<br />

to<strong>do</strong>s os concelhos, até à déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50, excepto no concelho <strong>de</strong> I<strong>da</strong>nha-a-Nova on<strong>de</strong><br />

apresentou pequenas irregulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Na segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século XX (1950 – 2001) constatámos um <strong>de</strong>créscimo <strong>da</strong> população <strong>da</strong><br />

or<strong>de</strong>m <strong>do</strong>s 35 %. O Censo <strong>de</strong> 2001 já perspectiva uma tendência <strong>de</strong> estabilização no concelho<br />

<strong>de</strong> Castelo Branco, o que não acontece nos restantes concelhos.<br />

O número <strong>de</strong> crianças até aos 15 anos continua em que<strong>da</strong>, em to<strong>do</strong>s os concelhos e,<br />

consequentemente, na região.<br />

Entre 1878 e 1950, o número <strong>de</strong> crianças até 15 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> teve uma evolução crescente, no<br />

território consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>, ain<strong>da</strong> que tenha <strong>de</strong>clina<strong>do</strong> a sua percentagem no conjunto <strong>da</strong> população,<br />

<strong>de</strong> 1911 (35.37%) até à actuali<strong>da</strong><strong>de</strong> (12.22%).<br />

A diminuição <strong>do</strong> número <strong>de</strong> crianças em to<strong>da</strong> a região é um fenómeno particularmente manifesto<br />

nas pequenas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> características rurais. Muitas <strong>de</strong>stas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s já não têm<br />

crianças há muitos anos. Este facto tem consequências no não uso <strong>da</strong> rituali<strong>da</strong><strong>de</strong> liga<strong>da</strong> ao<br />

mun<strong>do</strong> infantil e, consequentemente, o seu esquecimento.<br />

AÇAFA On Line, nº 1 (2008)<br />

<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Estu<strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Tejo</strong>, www.altotejo.org<br />

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