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Psicopatologia da Criança - Associação de Estudos do Alto Tejo

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PSICOPATOLOGIA DA CRIANÇA NO SUL DA BEIRA INTERIOR (PERSPECTIVA ETNOLÓGICA)<br />

Francisco Henriques<br />

Devi<strong>do</strong> ao esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>plorável em que a assistência à criança exposta se encontrava, em 1836,<br />

Passos Manuel retira as competências às Misericórdias (excepto à <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa) e<br />

atribui-as às Juntas Gerais <strong>do</strong>s Distritos e às Câmaras Municipais, através <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong><br />

Setembro <strong>de</strong> 1836.<br />

Segui<strong>da</strong>mente, <strong>de</strong>stacaremos algumas instituições e serviços, <strong>de</strong> âmbito regional, que têm<br />

presta<strong>do</strong> assistência à criança.<br />

1.6.1. Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia<br />

Des<strong>de</strong> a sua fun<strong>da</strong>ção, as Misericórdias <strong>de</strong>sempenharam um papel fun<strong>da</strong>mental na assistência<br />

às populações.<br />

Entretanto, nos compromissos <strong>de</strong> diversas instituições regionais <strong>de</strong> assistência, na época<br />

mo<strong>de</strong>rna, não encontrámos referência, como objectivo específico, à assistência a crianças. As<br />

menções que aparecem são a pobres, necessita<strong>do</strong>s, peregrinos, vian<strong>da</strong>ntes, leprosos, a outros<br />

casos, mas não a crianças. É o caso <strong>da</strong>s Misericórdias <strong>de</strong> Castelo Branco (IMCB, 1912) e <strong>de</strong><br />

Proença-a-Nova (Goulão,1971).<br />

No século XIX a excepção é apresenta<strong>da</strong> pelo médico José Lopes Dias no seu trabalho<br />

Albergarias <strong>da</strong> Beira Baixa (1946) em três albergarias: a <strong>de</strong> Santa Eulália, a <strong>de</strong> Sarze<strong>da</strong>s e a <strong>de</strong><br />

Soalheira. A primeira estava se<strong>de</strong>a<strong>da</strong> em Castelo Branco e propunha <strong>da</strong>r pousa<strong>da</strong> aos<br />

peregrinos 42 . A albergaria <strong>de</strong> Sarze<strong>da</strong>s estava liga<strong>da</strong> à Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong><br />

Misericórdia e <strong>de</strong>stinava-se a enterrar os mortos e a rogar a Deus pelos vivos e pelos mortos. A<br />

albergaria <strong>da</strong> Soalheira estava também liga<strong>da</strong> à Misericórdia e, na primeira meta<strong>de</strong> <strong>do</strong> século<br />

XIX, um <strong>do</strong>s seus objectivos era o “receber os ingeita<strong>do</strong>s q aqui forem ezespostos athe se<br />

entregarem a criar por conta <strong>da</strong> Camara” (Dias, 1946:16).<br />

Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 30 <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, o mesmo autor inventariou 30 Misericórdias no distrito <strong>de</strong><br />

Castelo Branco, meta<strong>de</strong> <strong>da</strong>s quais dispon<strong>do</strong> <strong>de</strong> hospital.<br />

No compromisso <strong>da</strong> Irman<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Misericórdia <strong>da</strong> Vila <strong>de</strong> Castelo Branco <strong>de</strong> 1733, o capítulo<br />

17 “<strong>do</strong>s meninos <strong>de</strong>sampara<strong>do</strong>s” consigna o seguinte: “...posto que a mizericórdia se não<br />

encarregasse <strong>de</strong> enjeita<strong>do</strong>s, nunca se <strong>de</strong>u por <strong>de</strong>sobriga<strong>da</strong> <strong>de</strong> acudir ao <strong>de</strong>samparo <strong>da</strong>s<br />

crianças, cujas mães morrem ou a<strong>do</strong>ecem nos hospitaes <strong>da</strong> caza... As que estivessem nestas<br />

situações, <strong>de</strong>viam man<strong>da</strong>r-se criar <strong>de</strong> leite e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cresci<strong>do</strong>s, <strong>da</strong>r-se-lhia <strong>de</strong>stino conveniente<br />

para que não viessem a ser prejudiciaes à republica, nem por falta <strong>de</strong> occupação ficassem<br />

expostos aos males que a ociosi<strong>da</strong><strong>de</strong> costuma causar...” (Silva, 1986:101).<br />

O estatuto <strong>da</strong> Misericórdia <strong>de</strong> Castelo Branco, aprova<strong>do</strong> em Dezembro <strong>de</strong> 1924, <strong>de</strong>dica as três<br />

seguintes alíneas ao apoio à criança:<br />

“Fins beneficientes:<br />

(...)<br />

42 Durante três dias era faculta<strong>do</strong> aos peregrinos cama, roupa, água, luz e sal (Dias, 1946).<br />

AÇAFA On Line, nº 1 (2008)<br />

<strong>Associação</strong> <strong>de</strong> <strong>Estu<strong>do</strong>s</strong> <strong>do</strong> <strong>Alto</strong> <strong>Tejo</strong>, www.altotejo.org<br />

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