Ben Bernanke alerta que situação fiscal dos EUA é - Brasil ...
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6 <strong>Brasil</strong> Econômico Quarta-feira, 18 de julho, 2012<br />
BRASIL<br />
Editora: Ivone Portes iportes@brasileconomico.com.br<br />
União perderá R$ 26 bi após<br />
renegociar dívidas <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong><br />
Projetos de lei preveem menor comprometimento de receitas para o pagamento do endividamento.<br />
Montante representa quase um sexto da meta de superávit primário do setor público, de 3,1% do PIB<br />
Gustavo Machado<br />
gmachado@brasileconomico.com.br<br />
A renegociação da dívida <strong>dos</strong><br />
esta<strong>dos</strong> e municípios, trabalhada<br />
em duas frentes parlamentares,<br />
uma na Câmara e outra no<br />
Senado, criará um rombo de<br />
at<strong>é</strong> R$ 26 bilhões no resultado<br />
primário do setor público (governo<br />
central, esta<strong>dos</strong>, municíos<br />
e estatais).<br />
Com a proposta de reduzir pela<br />
metade o comprometimento<br />
das receitas <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong>, quase<br />
um sexto da meta de superávit<br />
primário — economia feita para<br />
o pagamento de juros da dívida<br />
pública — desaparecerá. A meta<br />
atual <strong>é</strong> de 3,1% do Produto Interno<br />
Bruto e <strong>é</strong> composta em boa<br />
parte pelo pagamento de esta<strong>dos</strong><br />
e municípios.<br />
O primeiro corte acontecerá<br />
após a votação do projeto de lei<br />
de autoria do líder do governo<br />
no Senado Federal, Eduardo Braga<br />
(PMDB-AM). A proposta estende<br />
o vencimento da dívida de<br />
esta<strong>dos</strong> e municípios e <strong>é</strong> chancelada<br />
pelo Minist<strong>é</strong>rio da Fazenda.<br />
O endividamento negociado<br />
pelos esta<strong>dos</strong> em 1997 terá prazo<br />
de vencimento prorrogado em<br />
mais 10 anos — na maioria <strong>dos</strong><br />
contratos o vencimento será em<br />
2037. A nova estrutura reduzirá<br />
significativamente as parcelas<br />
anuais pagas para amortizar a dívida<br />
e <strong>que</strong> consomem at<strong>é</strong> 15%<br />
das receitas das unidades federativas.<br />
“Essa redução será automática.<br />
Tendo mais tempo para<br />
pagar, o comprometimento não<br />
precisará atingir o limite imposto<br />
pela Lei de Responsabilidade<br />
Fiscal, <strong>que</strong> varia de 11% a 15%”,<br />
explica o Senador Braga.<br />
Na outra casa do poder legislativo,<br />
um Projeto de Lei Complementar,<br />
a ser encaminhado pelo<br />
deputado Candido Vaccarezza<br />
(PT-SP), define o percentual<br />
de receitas <strong>que</strong> serão desobstruídas.<br />
Fontes próximas ao<br />
executivo afirmam <strong>que</strong> o governo<br />
exige atrelar as receitas livres<br />
a investimentos.<br />
Segundo o relatório de Vaccarezza,<br />
a proposta corta pela metade<br />
o limite atual de comprometimento<br />
das receitas, mas<br />
restringe seu uso de modo <strong>que</strong><br />
o executivo federal não se opo-<br />
nha, ou seja, será usado em investimentos.<br />
A amarra pode<br />
servir para <strong>que</strong> o governo federal<br />
não precise reduzir suas metas<br />
de superávit primário. Os investimentos<br />
podem ser relaciona<strong>dos</strong><br />
com o Programa de Aceleração<br />
do Crescimento (PAC),<br />
<strong>que</strong>,segundo a legislação atual,<br />
podem ser deduzi<strong>dos</strong> do resultado<br />
primário.<br />
O projeto tamb<strong>é</strong>m revê alguns<br />
pontos da Lei de Responsabilidade<br />
Fiscal, como o artigo<br />
<strong>que</strong> impede a renegociação do<br />
valor total das dívidas <strong>dos</strong> entes<br />
federativos. Ele afirma <strong>que</strong> o<br />
presidente da Câmara, o deputado<br />
Marco Maia (PT-RS), prometeu<br />
votar o projeto at<strong>é</strong> o final do<br />
ano. “Haverá uma grande discussão<br />
entre o Minist<strong>é</strong>rio da Fazenda<br />
e as secretarias da Fazenda<br />
<strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong>, mas os problemas<br />
serão resolvi<strong>dos</strong>, pois há<br />
vontade política para isso”, afirma<br />
Vaccarezza. ■<br />
Alan Mar<strong>que</strong>s/Folhapress<br />
Vaccarezza (PT-SP): “Maia prometeu votar mudança na Lei de Responsabilidade Fiscal este ano”<br />
ROMBO<br />
Extensão do prazo de pagamento da dívida <strong>dos</strong> esta<strong>dos</strong> criará um<br />
buraco de R$ 26 bilhões no resultado primário do governo, em R$ bi<br />
AC<br />
AL<br />
AM<br />
AP*<br />
BA<br />
CE<br />
DF<br />
ES<br />
GO<br />
MA<br />
MG<br />
MS<br />
MT<br />
PA<br />
DÍVIDA<br />
1,36<br />
6,75<br />
1,65<br />
0,35<br />
7,4<br />
2,8<br />
2,05<br />
0,83<br />
12,77<br />
2,78<br />
65,48<br />
6,39<br />
3,12<br />
1,3<br />
PARCELA EXTENSÃO<br />
PREVISTA DO PRAZO DE<br />
PARA 2013 PAGAMENTO<br />
0,35<br />
0,74<br />
0,98<br />
-<br />
2,60<br />
1,32<br />
1,67<br />
1,33<br />
1,90<br />
1,11<br />
5,00<br />
0,94<br />
1,17<br />
1,66<br />
0,18<br />
0,37<br />
0,49<br />
-<br />
1,30<br />
0,66<br />
0,84<br />
0,67<br />
0,95<br />
0,55<br />
2,50<br />
0,47<br />
0,59<br />
0,83<br />
PB<br />
PE<br />
PI<br />
PR<br />
RJ<br />
RN<br />
RO<br />
RR<br />
RS<br />
SC<br />
SE<br />
SP<br />
TO*<br />
TOTAL<br />
DÍVIDA<br />
1,21<br />
4,66<br />
2,55<br />
13,67<br />
55,78<br />
0,77<br />
1,96<br />
-0,23<br />
47,44<br />
5,38<br />
2,27<br />
160,58<br />
0,67<br />
411,07<br />
PARCELA EXTENSÃO<br />
PREVISTA DO PRAZO DE<br />
PARA 2013 PAGAMENTO<br />
0,80<br />
1,73<br />
0,67<br />
2,69<br />
5,14<br />
0,77<br />
0,70<br />
0,00<br />
2,94<br />
1,85<br />
0,65<br />
14,46<br />
-<br />
53,14<br />
0,40<br />
0,87<br />
0,34<br />
1,34<br />
2,57<br />
0,38<br />
0,35<br />
0,00<br />
1,47<br />
0,92<br />
0,33<br />
7,23<br />
-<br />
26,57<br />
Fontes: Minist<strong>é</strong>rio da Fazenda e <strong>Brasil</strong> Econômico *Não renegociou dívida em 1997<br />
ANÁLISE<br />
Desequilíbrio<br />
<strong>fiscal</strong> <strong>é</strong> uma<br />
preocupação<br />
Alteração na Lei de<br />
Responsabilidade Fiscal pode<br />
criar precedente desfavorável<br />
Especialistas em finanças públicas<br />
temem pela abertura de um<br />
precedente com as propostas<br />
do deputado Candido Vaccarezza<br />
(PT-SP). Segundo eles, a possibilidade<br />
de renegociações futuras<br />
de dívidas pode justificar<br />
ingerências fiscais por parte de<br />
governadores e prefeitos.<br />
Para Gilberto Braga, professor<br />
do Ibmec, a Lei de Responsabilidade<br />
Fiscal <strong>é</strong> um <strong>dos</strong> pilares<br />
do atual regime <strong>fiscal</strong> brasileiro.<br />
Ele afirma <strong>que</strong>, embora existam<br />
pressões de diversas esferas do<br />
governo para <strong>que</strong> se flexibilize<br />
alguns artigos, o propósito da<br />
lei ainda está intacto. “Uma possível<br />
renegociação pode comprometer<br />
o equilíbrio <strong>fiscal</strong> <strong>dos</strong><br />
esta<strong>dos</strong> e, conse<strong>que</strong>ntemente,<br />
do país”, diz o professor.<br />
Braga diz tamb<strong>é</strong>m <strong>que</strong> caso<br />
saia do papel o projeto de Vaccarezza,<br />
o governo federal forçará<br />
a entrada de medidas compensatórias<br />
na nova lei, a fim de restringir<br />
o uso indiscriminado.<br />
“At<strong>é</strong> na base do governo há descontentamento<br />
com a Lei de<br />
Responsabilidade Fiscal, mas <strong>é</strong><br />
claro <strong>que</strong> o uso das receitas liberadas<br />
do pagamento da dívida<br />
será atrelado a algo, como investimentos<br />
do Programa de Aceleração<br />
do Crescimento (PAC),<br />
<strong>que</strong> surge como uma possibilidade<br />
razoável”, diz Braga.<br />
Para Everardo Maciel, ex-secretário<br />
da Receita Federal, caso<br />
as alterações na Lei de Responsabilidade<br />
Fiscal sejam aprovadas,<br />
acontecerá uma s<strong>é</strong>rie de<br />
medidas para maquiar o resultado<br />
primário do setor público.<br />
“Deduzir os investimentos do<br />
PAC <strong>é</strong> uma maquiagem, <strong>é</strong> como<br />
se eu dissesse para o meu banco<br />
<strong>que</strong> a dívida <strong>que</strong> eu fiz foi usada<br />
de uma forma boa. Não faz sentido”,<br />
comenta Maciel. ■ G.M.