Oração de Sapiência de Hilário Moreira_1990.pdf - Universidade de ...
Oração de Sapiência de Hilário Moreira_1990.pdf - Universidade de ...
Oração de Sapiência de Hilário Moreira_1990.pdf - Universidade de ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
ditas. Realçam a prosperida<strong>de</strong>, fornecem um refúgio e consolo na adversida<strong>de</strong>,<br />
<strong>de</strong>leitam em casa, não estorvam fora, pernoitam e viajam conosco<br />
e acompanham-nos no ócio ameníssimo do campo.<br />
Finalmente, na velhice, exortam o espírito a que, como recompensa<br />
merecida, se veja livre da ambição, da luta pela vida, da paixão, dos prazeres,<br />
e forçam-no a viver consigo, livre <strong>de</strong> todas as coisas.<br />
Nada há pois, cultíssimos ouvintes, mais brilhante que o esplendor das<br />
artes liberais, o qual, se não for ofuscado pela minha oratória, irá conciliar-me<br />
a VOssa melhor atenção.<br />
Sobre a antiquíssima origem da filosofia, para começarmos por aqui,<br />
disputaram os príncipes da eloquência romana, ansiosos por tudo investigar<br />
e empregaram todo o esforço por <strong>de</strong>scobri-la totalmente, explorando até<br />
as coisas mais recônditas, para <strong>de</strong>ixarem por escrito à posterida<strong>de</strong> o fruto<br />
do seu trabalho.<br />
Neste aspecto <strong>de</strong>staca-se particularmente, entre muitos, M. Cícero,<br />
o muito facundo pai da eloquência e em extremo <strong>de</strong>votado à grandiloquente<br />
filosofia, esforçando-se por cultivar e abrilhantar, nas letras latinas, esta<br />
<strong>de</strong>scoberta dos gregos. E não levou a con<strong>de</strong>scên<strong>de</strong>ncia consigo mesmo<br />
ou com o seu povo até ao ponto <strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixar transparecer, algumas vezes,<br />
a sua gratidão àqueles. Na verda<strong>de</strong>, durante muito tempo, só os gregos<br />
é que estudaram, aperfeiçoaram e abrilhantaram a totalida<strong>de</strong> da filosofia,<br />
ou seja, todas as artes liberais, enquanto que os romanos e latinos Se exercitavam<br />
mais nas armas do que no estudo das letras e, levados pela ambição<br />
do domínio, preocupavam-se mais com a aquisição do império, do que com<br />
a instrução.<br />
E àquela disciplina, constituída por uma mais pura sabedoria, - no<br />
que os gregos ultrapassariam em muito os restantes --- que hoje dá pelo<br />
nome <strong>de</strong> Filosofia, começaram a chamar-lhe sophia; àqueles que, com tanta<br />
modéstia, a ela se aplicavam, <strong>de</strong>ram-lhes o nome <strong>de</strong> sophi, isto é, sabios,<br />
Pitágoras foi o primeiro a pôr-lhe o nome <strong>de</strong> filosofia e a si mesmo se<br />
chamou filósofo, ou seja, o que tem interesse pela sabedoria. Dele proveio<br />
a filosofia itálica, por ter sido na ltália on<strong>de</strong>, por longo tempo, assentou<br />
arraiais o seu ensino da filosofia, embora a filosofia jónica tenha provindo<br />
anteriormente <strong>de</strong> Anaximandro, discípulo <strong>de</strong> Tales <strong>de</strong> Mileto, como atesta<br />
Diógenes Laércio.<br />
De resto, como () génio grego ia <strong>de</strong>sabrochando <strong>de</strong> dia para dia e o<br />
estudo das letras se intensificava mais, é entre aqueles atenienses perspicazes<br />
e legisladores que vem a fixar-se o monopólio da filosofia. Ali floresceram<br />
51