Oração de Sapiência de Hilário Moreira_1990.pdf - Universidade de ...

Dialecrica
Agora a dialéctica que é o mais apto instrumento para encontrar a verdade,
coisa de que nós os homens, gostamos muito. Uns chamam-lhe disputadora,
outros lógica, e Platão disse que vinha a ser alcançada na velhice.
Revindica um rápido e expedito sistema de dissertação sobre qualquer
tema oportuno; debruça-se, em geral, sobre todos os assuntos, acomodando
o seu processo às outras disciplinas, e os que com ela se preparam, têm acesso
fácil às mais árduas matérias.
Cicero refere-se-Ihe, elogiosamente, no livro 1.0 do De Ora tore, ao dizer
com felicidade pela boca de Crasso: Usou-se uma arte dum outro género,
cuja invenção os filósofos totalmente revindicam, destinada a aglutinar as
coisas desunidas e fraccionadas e a encadeá-las numa determinada ordem.
E realmente nenhuma disciplina se pode adquirir com perfeição sem a
dialética; por seu intermédio os antigos, que a usaram, desenvolviam melhor
os assuntos que lhes eram propostos e examinavam mais desembaraçadamente
o que de verdadeiro ou falso, de bom ou de mau neles se continha.
Por isso Santo Agostinho, no livro 8.° da Cidade de Deus, diz: «A lógica
discute como se procura a verdade nas causas das coisas ou nos usos da vida».
Dum modo figurado é aquele rio Pison de que fala o Génesis, 2: É ele
que cerca toda a terra de Hevilah, onde nasce o ouro da sabedoria. À semelhança
da circunferência ou do circulo, que para os geógrafos é a figura mais
rica, tudo cerca.
Vê pois o arco e bendiz a quem o fez; é belo no seu esplendor. É como
um arco que brilha entre as nuvens da sabedolia, lançando as setas da verdade
contra a falsidade dos inimigos. O que ela, de si mesma, publicamente
proclama com estas palauas: em vão, sem mim, os mestres honraram as
minhas irmãs. Deste seu uso fala Santo Agostinho, em breves palavras,
no livro Da Doutrina Cristã: «A dialéctica é uma chave de prata que abre
um tesouro de ouro; sem ela, nenhumas; com ela, todas as ciências se
adquirem».
Por isso Crasso a julga necessária para informar as artes e deseja-a nos
jurisconsuItos.
Mas o fruto delicioso desta pública escrava de todos deve saborear-se,
não porém até à saciedade. Como escreve Platão no Górgias, não se há-de
envelhecer nos seus rodeios e meandros, como junto dos rochedos das sereias.
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