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Viscondes, mazombos e coimbrãos - Quintal dos Poetas

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Claro que houve um ambiente peculiar na capitania de Minas Gerais<br />

na segunda metade do século XVIII que forneceu as condições para<br />

que viscondes, <strong>mazombos</strong> e <strong>coimbrãos</strong> pudessem convergir seus<br />

interesses, pelo menos por uns tempos.<br />

Há também no peculiar episódio do projetado levante, decisões e<br />

lances tão desconcertantes e estranhos que não pude resistir a dar um<br />

tom de tragicomédia a certas passagens da história. 12<br />

Mas, tenho esperanças de que minhas experimentações não<br />

sejam mal entendidas, mesmo porque, o projeto deste livro é singelo,<br />

pleno de sentimentalismo, 13 numa clara opção pela execrada escola<br />

romântica. É, essencialmente, fruto da necessidade de externar minha<br />

grande admiração pela fugaz mas notável coragem que levou alguns<br />

espíritos inquietos do século XVIII a ousar acreditar que eles também<br />

sabiam governar e podiam fazer da América Portuguesa uma república,<br />

como tinham feito antes os rebeldes da América <strong>dos</strong> ingleses e tentaria<br />

fazer, pouco depois, a turba alucinada de Paris. 14<br />

12 É claro que as diferenças de conotação entre o significado <strong>dos</strong> fatos para seus<br />

protagonistas e a forma com que eu os vejo hoje, decorre da inevitável inadequação de<br />

olhos do século XXI para examinar fatos do século XVIII.<br />

13 Penso que este sentimentalismo pode ser facilmente notado no estilo que usei,<br />

cheio de frases eivadas de imagens românticas e adjetivos poéticos. Talvez o mesmo<br />

estilo que Lúcio José <strong>dos</strong> Santos em sua obra clássica sobre a Inconfidência, criticou<br />

na obra não menos clássica de Joaquim Norberto de Souza e Silva, citada na nota 4.<br />

Mas também nosso caro Lúcio não deixou de se enternecer, descrevendo com<br />

chorosa pena as dores <strong>dos</strong> inconfidentes em suas masmorras no Rio de Janeiro,<br />

embala<strong>dos</strong> pelo dorido marulhar eterno das ondas do mar.<br />

14 Alguns autores criticam a convicção republicana <strong>dos</strong> inconfidentes, acreditando que<br />

eles não tinham senão uma tênue noção do que isso pudesse ser. Notável e<br />

desnecessário exagero! Creio que a ideia de que os <strong>mazombos</strong> também podiam<br />

governar estava intrinsecamente ligada à crença de que, somente numa república tal<br />

coisa seria possível. E isso teve grande apelo na propaganda sediciosa. Claro que entre<br />

os <strong>coimbrãos</strong> podia restar alguma dúvida. Mas é notável a quantidade de depoimentos<br />

de réus e testemunhas, grandes e pequenas, onde o termo aparece quase sempre num<br />

contexto e conotação perfeitamente apropria<strong>dos</strong> para a época e distinto da conotação<br />

política com que a própria Coroa usava a palavra “república” para identificar as coisas<br />

de interesse público (do ponto da vista da própria Coroa, claro). Acredito que, para a<br />

maioria <strong>dos</strong> revoltosos e até para parte do povo, uma república no Brasil devia ser a<br />

forma exata de governo que se contrapunha à monarquia portuguesa, ou seja, devia<br />

18

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