Viscondes, mazombos e coimbrãos - Quintal dos Poetas

Juízos de valores concedem à Inconfidência Mineira pesos
inexatos, e tem sido assim. Portanto, estou legitimado para julgar
injusto que o movimento seja avaliado apenas pela sua fragilidade
política, fatuidade, ou desorganização militar. Sua motivação é seu lado
mais notável, incluso aí, um tempero ideológico a legitimar um projeto
político, racional ainda que muito mal costurado. Não foi no
Renascimento e sim no século XVIII que, tangido pela razão iluminista,
o homem largou da mão de Deus e procurou o seu lugar no mundo
prescindindo do rei e do papa. Foi um século de partos dolorosos pois
esse passo estava eivado de dúvidas e de arrependimento. Mas, em
algumas partes do mundo se ousou. Em Minas essa audácia claudicante
gerou um sonho louco de independência, pontual e natimorto, mas que,
certamente, faz parte das poucas florações do espírito iluminista, em
todo o mundo, que tiveram lugar no próprio século em que ele nasceu.
Tenros ramos de liberdade brotando aqui e ali, no prenúncio da
floresta.
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QUANDO OS HERÓIS DAS MAIS ALTAS CATADURAS
PRINCIPIAM A SER PATRÍCIOS NOSSOS
O palácio de campo da Cachoeira nasceu já glorioso. O caminho
novo, mandado construir pelo governador d. Rodrigo José de Menezes,
através da serra do Ouro Preto, havia eliminado de vez os
inconvenientes do caminho velho. Até então se ficava à mercê das
enchentes do Tripuí que interrompiam a comunicação de Vila Rica com
a Cachoeira do Campo, sempre que caiam chuvas mais demoradas.
Assim, estavam eliminadas as inconveniências das incertezas do acesso.
O próprio palácio tinha sido recentemente levantado, a partir da
estrutura decadente herdada da antiga caserna, erguida por d. Martinho
de Mendonça quase cinquenta anos antes. O estabelecimento militar,
agora transformado em palácio de veraneio pelo governador, havia sido
desativado quando o governador precedente - d. Antônio de Noronha -
resolveu construir novo quartel nas proximidades para abrigar a
guarnição dos Dragões de Minas.
Desta forma, já no segundo ano de seu governo, d. Rodrigo tinha
conseguido implantar as condições necessárias que ideara para
promover os saraus de que tanto gostava. Finalmente poderia reunir
decentemente e com regularidade, a mais fina flor da capitania em
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