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Viscondes, mazombos e coimbrãos - Quintal dos Poetas

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disputa<strong>dos</strong> e onde ninguém queria se ver satirizado concorrendo com o<br />

Fanfarrão Minésio. 30<br />

Assim que terminou o imperdível e disputado beija-mão, Barbacena<br />

chamou o ouvidor a um canto e o convidou a acompanhá-lo até o<br />

palácio da Cachoeira do Campo. Era lá que pretendia morar com a<br />

família. Mulher e filhos permaneceram no Rio de Janeiro e deveriam<br />

chegar por volta do mês de setembro, quando tudo estivesse<br />

devidamente acomodado. O palácio passava por uma pequena reforma<br />

para torná-lo mais doméstico. Até então vinha sendo usado<br />

escusamente por Cunha Menezes que gostava de patrocinar ali<br />

memoráveis bacanais, muito concorridas, para grandes e pequenos,<br />

brancos, negros e mulatos, irmana<strong>dos</strong> em orgias fraternais. Mas o<br />

visconde já o estava utilizando para eventuais encontros políticos mais<br />

discretos. Assim quis promover em suas dependências uma ceia<br />

reservada para alguns seletíssimos convida<strong>dos</strong>: os membros da Junta da<br />

Fazenda e seus próprios ajudantes militares, tudo muito austero e<br />

cristão.<br />

Gonzaga aceitou o convite com enorme prazer. Na verdade ele<br />

ansiava por aquele momento pois estava ensaiando uma conversa muito<br />

particular e séria com o governador, assim que ele tomasse posse. Era<br />

portador de uma mensagem de alguns de seus amigos, algo que os<br />

políticos brasileiros de hoje chamariam de “balão de ensaio”. Embora<br />

não tivesse interesses diretos envolvi<strong>dos</strong>, aceitara sem vacilar a missão<br />

de retransmitir o recado do grupo ao visconde pois reconhecia ser a<br />

pessoa mais indicada para isso, da<strong>dos</strong> seus laços antigos com o nobre<br />

português, agora virando amizade. Isso desde seus bons tempos em<br />

Lisboa e Coimbra, gozando de uma certa proximidade com a alta<br />

linhagem portuguesa por influência de seu pai, respeitado magistrado<br />

no reino, apesar de ser brasileiro. Naquele tempo gostava de mandar<br />

cartas aos nobres, não raro embutindo nelas alguma ode de louvor e<br />

admiração como era moda então.<br />

Reconhecia que a missão era delicada, mas confiava na sua<br />

habilidade em desempenhá-la bem. Não se sentia nem um pouco<br />

desconfortável, mesmo porque, pensava ser sua obrigação tentar<br />

conciliar interesses entre amigos, de resto plenamente conciliáveis.<br />

Acreditava ter nas mãos a solução de um grande problema que o<br />

30 Falo das Cartas Chilenas e do apelido do governador Cunha Menezes.<br />

40

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