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Viscondes, mazombos e coimbrãos - Quintal dos Poetas

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Isso dito silenciou por uns instantes. Em passos lentos foi até a<br />

janela e olhou o pátio escuro, iluminado apenas pela luz tremulante de<br />

um archote. Manteve o silêncio e mergulhou num retrospecto das<br />

razões que o trouxeram à capitania de Minas Gerais em mea<strong>dos</strong> do ano<br />

de 1788.<br />

Ela já estava acostumada ao tom solene, levemente trágico, usado<br />

pelo marido quando, eventualmente, lhe participava algum fato político<br />

especial em que estivesse envolvido. Foi assim quando ele teve que<br />

renunciar à Secretaria da Academia de Ciências de Lisboa, o que lhe<br />

causou enorme pesar e o deixou acabrunhado por algum tempo,<br />

maldizendo velhas ideias mas sem coragem de correr risco pelas novas.<br />

Mas desta vez o tom da comunicação pareceu a ela carregado de<br />

uma pesada emoção que não era propriamente usual. Ela sabia que, no<br />

fundo, o que aquela entonação grave que ele gostava de usar visava<br />

mesmo era valorizar a natureza das suas responsabilidades perante a<br />

Coroa portuguesa. Especialmente no caso da capitania das Minas onde,<br />

como governador, aportara há alguns meses com a espinhosa<br />

incumbência de cobrar impostos incobráveis e executar poderosos<br />

devedores contumazes. Esse, de qualquer forma, era o maior desafio a<br />

que já fora chamado, a qualquer tempo, para o real serviço.<br />

Aliás, o humor do visconde se deteriorou muito desde que ele<br />

assumiu o governo. A viscondessa descobriu no marido uma rudeza e<br />

introspecção que não conhecia. Mesmo com os filhos, para os quais<br />

sempre desanuviava o semblante com certa facilidade, eram frequentes<br />

as manifestações de mau-humor e impaciência. Mas ela não se queixava.<br />

Estava certa que aquilo tudo era passageiro e de volta a Portugal, bem<br />

cumprida a missão que recebera, as recompensas seriam duradouras e<br />

benfazejas para toda a família. Exato como ele prometera. Foi para isso<br />

que havia se candidatado ao cargo e fez com que sua parentalha se<br />

empenhasse para que ele fosse aprovado pelo Ministério.<br />

O mais marcante episódio da vida de Barbacena teve princípio numa<br />

tarde fechada e muito fria em janeiro do ano anterior. O ministro Melo<br />

e Castro tinha convocado o visconde e outros nobres indica<strong>dos</strong> para<br />

assumirem o governo de algumas das principais capitanias do vice-reino<br />

do Brasil. O objetivo era passar-lhes as instruções de como conduzir as<br />

linhas mestras de suas novas administrações no ultramar. O pacote<br />

escrito com as instruções sobre o governo da capitania das Minas era o<br />

mais alentado de to<strong>dos</strong> e foi entregue por último. O ministro pretendia<br />

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