Viscondes, mazombos e coimbrãos - Quintal dos Poetas

para sacudir o marasmo fiscal de Minas Gerais e moralizar a
administração. Fiel ao seu estilo, o implacável ministro agregava à
medida a convicção de que, mesmo com todos os melindres presentes,
a questão tinha que ser conduzida com mão forte.
Barbacena fora o escolhido para a difícil missão. As instruções
recebidas eram claras, sua ação deveria ser dura e implacável. Seu
sucesso ou fracasso poderiam ser facilmente medidos, não haveria
espaço para enrolação nem para firulas políticas procrastinadoras, como
seus antecessores tinham feito. A derrama até poderia ser
eventualmente evitada, mas isso seria visto claramente como prova de
fraqueza, de opção pela via mais simples, de incompetência
administrativa, quase um verdadeiro crime. 25 Incomodava ao ministro
lembrar que, até então, em apenas duas ocasiões tinha sido usado o
expediente de arrecadação dos atrasados por força de uma derrama. A
execução dos devedores, em especial, não admitiria qualquer desvio ou
concessão. Teriam que ser executados ao rigor da lei e com o melhor
resultado possível para a Coroa, arrastando fiadores, bens e o que mais
tivessem. O mesmo com a moralização do exército, descaracterizado
pelo excesso de regimentos auxiliares, eivado de fraudes e
profundamente comprometido com contrabandistas e criminosos
contumazes. Para o novo governador estavam claramente postas as
chances de vir a ser o primeiro conde de Barbacena e não apenas o
sexto visconde, título divino, mas que recebera por herança sem feitos
de melhor registro. 26
Enquanto olhava o pátio do palácio, o visconde relembrou cada
detalhe daquela tensa reunião com o severo ministro, o conteúdo das
suas instruções lidas e relidas dezenas de vezes, o receio de fracassar
25 Dizia o ministro no parágrafo 79 das suas instruções de governo a Barbacena: E
ainda que nesta parte não deixarão de ser fundadas as suas representações (ou seja dos habitantes de
Minas reclamarem contra a dureza da derrama), V.S. se limitará a ser um exato e fiel executor das
mesmas leis; que o alvará de 3 de dezembro de 1750 é a lei que estabeleceu o método atual da
contribuição do quinto e o lançamento das derramas, na mesma forma que os povos de Minas o
requereram e tomaram sobre si o encargo das ditas derramas, e que nesta demonstrativa certeza se
constituiria V.S. um transgressor da dita lei se não tivesse o mais vigilante cuidado na inviolável
observância de todas e cada uma das suas partes. ADIM - v. 8 – pág. 83.
26 O título lhe seria concedido em 1816, depois de ter sido veador dos interesses da
princesa Carlota Joaquina e antes de ser nomeado conselheiro de estado.
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