A GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ANTIGO - Universidade de Coimbra
A GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ANTIGO - Universidade de Coimbra
A GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ANTIGO - Universidade de Coimbra
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
vir a ser-lhe úteis novamente, em caso <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>. 25 No entanto, a partir<br />
<strong>de</strong>sta altura Alexandre irá mostrar-se cada vez mais permeável à progressiva<br />
influência oriental, uma atitu<strong>de</strong> que era, <strong>de</strong> certa forma, contrária à propaganda<br />
da união dos Gregos contra o bárbaro. Iria, no entanto, contribuir para a paulatina<br />
fusão étnica e cultural <strong>de</strong> Europeus e Asiáticos, abrindo assim caminho ao<br />
cosmopolitismo da época helenística. Trata-se <strong>de</strong> uma questão complexa e muito<br />
<strong>de</strong>batida, mas valerá a pena evocar alguns dos sinais exteriores <strong>de</strong>ssa mudança<br />
e também as reservas que inspirava nos Gregos, em particular nos veteranos<br />
macedónios, que receavam as consequências <strong>de</strong>sta abertura do soberano aos<br />
anteriores inimigos.<br />
Não obstante o facto <strong>de</strong> Aristóteles — um dos mestres <strong>de</strong> Alexandre —<br />
partilhar a bem conhecida perspetiva <strong>de</strong> que os Gregos eram superiores aos<br />
bárbaros, 26 o certo é que o jovem rei mostrou, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> aplicar<br />
medidas conciliatórias, quer por simples pragmatismo político, quer talvez por<br />
convicção crescente. 27 Afigura-se provável que a realida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>sse a uma<br />
conjugação em grau variável <strong>de</strong>stes dois fatores, mas o certo é que várias das<br />
medidas <strong>de</strong> Alexandre se traduziram numa promoção efetiva da fusão entre<br />
Europeus e Asiáticos. 28<br />
Isso é visível, por exemplo, na distribuição <strong>de</strong> cargos administrativos, concedidos<br />
a macedónios da confiança do rei (geralmente pessoas que integravam o<br />
seu ciclo <strong>de</strong> amigos mais chegados), mas também a persas que foram, várias vezes,<br />
reconduzidos como sátrapas; no facto <strong>de</strong> permitir a Ada <strong>de</strong> Halicarnasso que o<br />
adotasse como filho, ou na maneira como se mostrou respeitoso em relação à mãe<br />
e esposa <strong>de</strong> Dario. No plano formal, Alexandre acolheria, ainda, certos aspetos<br />
da indumentária e do protocolo persas, sendo o mais controverso a tentativa<br />
<strong>de</strong> implementar a <strong>de</strong>monstração ritual <strong>de</strong> obediência ao soberano, conhecida<br />
pelo termo proskynesis (‘prostração’). Tem-se especulado muito em relação à<br />
25 Flower (2000), 115-135, advoga, com algum excesso <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>, a perspetiva <strong>de</strong> que o<br />
i<strong>de</strong>al pan-helénico se manteve praticamente intacto.<br />
26 E.g. Política, 1252b.<br />
27 O problema das verda<strong>de</strong>iras intenções <strong>de</strong> Alexandre continua a alimentar controvérsia entre<br />
os estudiosos do soberano macedónio. Vi<strong>de</strong> Tarn (1933) e Badian (1958), para um exemplo <strong>de</strong> duas<br />
posições clássicas e antagónicas na forma <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o ‘sonho <strong>de</strong> Alexandre’ <strong>de</strong> construir a união<br />
da humanida<strong>de</strong> ou a irmanda<strong>de</strong> do ser humano.<br />
28 As fontes relativas ao relacionamento <strong>de</strong> Alexandre com os bárbaros encontram-se reunidas<br />
em Heckel & Yardley (2004) 175-188.<br />
107