27.04.2013 Views

A GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ANTIGO - Universidade de Coimbra

A GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ANTIGO - Universidade de Coimbra

A GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ANTIGO - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

20<br />

Esparta. Já a posição dos mo<strong>de</strong>rados é mais difícil <strong>de</strong> esclarecer, pois ora aparecem<br />

ligados aos golpes oligárquicos <strong>de</strong> 411 e <strong>de</strong> 404 ora acabam por distanciar-se <strong>de</strong>les.<br />

Caso paradigmático encontra-se em Terâmenes, o principal lí<strong>de</strong>r dos mo<strong>de</strong>rados.<br />

O testemunho <strong>de</strong> Tucídi<strong>de</strong>s (8.68.4) indica que ele <strong>de</strong>ve ser incluído entre o<br />

número dos conspiradores que prepararam o golpe oligárquico <strong>de</strong> 411, embora<br />

não haja referência direta à sua participação nas ativida<strong>de</strong>s que prece<strong>de</strong>ram o<br />

<strong>de</strong>rrube da <strong>de</strong>mocracia. 8 Contudo o pai, Hágnon, era um <strong>de</strong>mocrata próximo<br />

<strong>de</strong> Péricles. Não existem, nas fontes, indícios claros das razões que terão levado<br />

Terâmenes a afastar-se da tradição <strong>de</strong>mocrática da família, para apoiar o golpe<br />

oligárquico. Não é, contudo, <strong>de</strong> pôr <strong>de</strong> lado a hipótese <strong>de</strong> influência dos sofistas<br />

(ele fora discípulo <strong>de</strong> Pródico <strong>de</strong> Ceos), ou a <strong>de</strong>silusão com o governo <strong>de</strong>mocrático,<br />

procurando nos oligarcas <strong>de</strong> 411 a li<strong>de</strong>rança forte que buscará, <strong>de</strong>pois<br />

da queda <strong>de</strong>stes, em Alcibía<strong>de</strong>s. 9 De facto, Terâmenes continuou ativo <strong>de</strong>pois da<br />

primeira restauração <strong>de</strong>mocrática <strong>de</strong> 410 e foi o gran<strong>de</strong> negociador da paz com<br />

os Peloponésios, em 404. Começou, igualmente, por colaborar com o governo<br />

dos Trinta, acabando por vir a ser uma das suas vítimas. 10<br />

Deixando, contudo, <strong>de</strong> lado a controversa reconstituição dos eventos <strong>de</strong> 411,<br />

certo é que da propaganda <strong>de</strong>cisiva a favor do golpe oligárquico fazia parte a<br />

crença em que a guerra contra Esparta não po<strong>de</strong>ria saldar-se pela vitória a não<br />

ser com o apoio persa, cujas condições preliminares passavam pela substituição<br />

da <strong>de</strong>mocracia por um governo oligárquico. 11 A resistência <strong>de</strong>mocrática à revolução<br />

oligárquica <strong>de</strong> 411 vai ficar centralizada nos marinheiros da frota ateniense<br />

estacionada em Samos. De facto, para que a conspiração fosse bem sucedida<br />

era necessário que a armada aceitasse a mudança. No entanto, os planos não<br />

8 [Aristóteles] (Ath. 32.2) junta à ação <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> Terâmenes também a <strong>de</strong> Pisandro e a do<br />

orador Antifonte. Tucídi<strong>de</strong>s (8.68.1-2), com indisfarçado respeito, consi<strong>de</strong>ra este último o verda<strong>de</strong>iro<br />

responsável pela arquitetura do golpe.<br />

9 Cf. Diodoro 13.38.2. Contudo, Tucídi<strong>de</strong>s (8.97.3) não o liga expressamente a esta última diligência.<br />

10 No discurso <strong>de</strong> acusação, Crítias insinua que Terâmenes, já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu envolvimento com<br />

os Quatrocentos, era dado à traição dos antigos colegas sempre que alguma coisa começava a<br />

correr mal. Cf. Xenofonte, Hell. 2.3.30-34. Esta característica valeu-lhe a alcunha <strong>de</strong> kothornos (o<br />

‘coturno’, tipo <strong>de</strong> calçado que po<strong>de</strong>ria ser usado ora num pé ou no outro), pela forma como se<br />

adaptava às circunstâncias, mas Terâmenes aproveitou o remoque para ilustrar a sua diplomacia<br />

<strong>de</strong> carácter (id. ib. 2.3.47).<br />

11 Alcibía<strong>de</strong>s, por essa altura estacionado junto do sátrapa Tissafernes, recuperava terreno na<br />

vida política como possível mediador, embora as suas diligências no sentido <strong>de</strong> os Persas retirarem<br />

o apoio a Esparta para o darem a Atenas se tenham revelado infrutíferas.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!