A GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ANTIGO - Universidade de Coimbra
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(supra 1.1.2); quanto a Fócion, sucumbiu ao facto <strong>de</strong> ser talvez a pessoa com as<br />
qualida<strong>de</strong>s certas, mas que não conseguiu ultrapassar a circunstância <strong>de</strong> viver<br />
num tempo <strong>de</strong>sfavorável. 4 E ainda que Fócion não tenha estado envolvido em<br />
nenhum crime <strong>de</strong> asebeia (‘impieda<strong>de</strong>’ 5 ), ao contrário <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, é ainda<br />
assim particularmente significativo que, no termo da biografia, Plutarco compare<br />
a sua morte à <strong>de</strong> Sócrates, como dois exemplos <strong>de</strong> impieda<strong>de</strong> religiosa cometida<br />
pela imprevidência popular (infra 5.2.2). Por outro lado, embora Elêusis não<br />
ocupe, no caso <strong>de</strong> Fócion, uma importância comparável à que havia tido na existência<br />
<strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s, vale a pena sublinhar que Plutarco recorre ao imaginário<br />
dos Mistérios para sublinhar também o ‘timing’ político <strong>de</strong> alguns dos momentos<br />
mais importantes da atuação <strong>de</strong> Fócion, pontilhando assim quer a via <strong>de</strong> ascensão<br />
quer o caminho da queda. 6 É a análise <strong>de</strong>sse trajeto que se propõe na última<br />
parte <strong>de</strong>ste capítulo, pela forma como espelha a diluição crescente do universo<br />
da pólis e o fim <strong>de</strong> toda uma era.<br />
5.2.1. Sucessos militares e ascensão política <strong>de</strong> Fócion<br />
Alcibía<strong>de</strong>s teve uma existência relativamente breve, mas ainda assim marcada<br />
por gran<strong>de</strong>s aventuras e reviravoltas (supra 3.3). Fócion, pelo contrário, não só<br />
viveu durante mais tempo (entre 402 e 318), como ainda se distingue <strong>de</strong> Alcibía<strong>de</strong>s<br />
em particular pelo facto — oportunamente sublinhado por Plutarco7 — <strong>de</strong> ter<br />
tido uma carreira notavelmente regular ao serviço <strong>de</strong> Atenas, a ponto <strong>de</strong> ser a<br />
pessoa que, até ao seu tempo, mais vezes ocupara o cargo <strong>de</strong> estratego (quarenta<br />
e cinco vezes). 8 E apesar <strong>de</strong> preferir a paz e tranquilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> nunca promover,<br />
4 De resto, a forma como Plutarco abre a biografia, comparando a atuação <strong>de</strong> Dema<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> Fócion,<br />
é a clara expressão disso mesmo (Phoc. 1.1-6). Para mais pormenores sobre a forma como Plutarco<br />
aborda esta figura, vi<strong>de</strong> Leão (2010c), <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se retira alguma da argumentação agora apresentada.<br />
5 Sobre a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> asebeia e sobre as implicações legais <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>ste crime <strong>de</strong> natureza<br />
religiosa, vi<strong>de</strong> infra 8.2.1.<br />
6 A relação entre kairos, tyche e chronos, envolvendo a figura <strong>de</strong> Fócion, é analisada em Leão (2010c).<br />
7 Phoc. 8.1-2.<br />
8 Apesar <strong>de</strong> este número ser geralmente aceite como válido, Bearzot (1993), 124-127, põe em causa<br />
a sua exatidão histórica, argumentando com a ausência <strong>de</strong> confirmação noutras fontes — apenas Eliano<br />
se lhe refere indirectamente e <strong>de</strong> maneira vaga (VH, 12.49). Bearzot acha, pelo contrário, que essa informação<br />
tem todo o ar <strong>de</strong> ser uma invenção <strong>de</strong> natureza apologética, que visava acentuar a superiorida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> Fócion em relação a outros políticos, tanto seus contemporâneos como <strong>de</strong> períodos anteriores.<br />
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