A GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ANTIGO - Universidade de Coimbra
A GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ANTIGO - Universidade de Coimbra
A GLOBALIZAÇÃO NO MUNDO ANTIGO - Universidade de Coimbra
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
132<br />
divinda<strong>de</strong>s próprias <strong>de</strong> cada pólis e dos cultos locais, afirmando-se assim como<br />
uma das mais expressivas manifestações <strong>de</strong> pan-helenismo, já <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as épocas<br />
arcaica e clássica. 5<br />
No entanto, a Grécia conhecia ainda, no plano geral, uma outra gran<strong>de</strong><br />
tendência religiosa, que pressupunha uma iniciação e, por conseguinte, um<br />
maior envolvimento pessoal: as correntes mistéricas. Já acima se fazia alusão aos<br />
Mistérios <strong>de</strong> Elêusis, que são talvez o caso mais significativo, sobretudo aten<strong>de</strong>ndo<br />
ao facto <strong>de</strong> que este culto conjugava a celebração ligada a um santuário local<br />
com uma importância e projeção que ultrapassavam as fronteiras da Héla<strong>de</strong>. 6<br />
8.2.1. Definição <strong>de</strong> asebeia<br />
Esta breve abordagem preliminar do fenómeno religioso entre os Gregos<br />
visava apenas evocar alguns dados necessários à <strong>de</strong>finição daquilo que po<strong>de</strong>rá<br />
constituir uma ofensa aos <strong>de</strong>uses, ou seja, um ato <strong>de</strong> asebeia. Contudo, a <strong>de</strong>limitação<br />
do conceito <strong>de</strong> asebeia, a que geralmente se dá o equivalente mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong><br />
‘impieda<strong>de</strong>’, tem-se revelado um tópico difícil. De facto, na linguagem comum<br />
o termo é com frequência usado <strong>de</strong> forma vaga, para <strong>de</strong>signar a omissão <strong>de</strong><br />
certas práticas. Um passo <strong>de</strong> Platão (Êutifron, 7a) po<strong>de</strong>rá fornecer um elucidativo<br />
exemplo daquilo que o Gregos, através das palavras <strong>de</strong> Sócrates, consi<strong>de</strong>ravam<br />
ser uma falta em matéria religiosa:<br />
A coisa e a pessoa que agradarem aos <strong>de</strong>uses (theophiles) serão piedosas (hosios); a<br />
coisa e a pessoa que lhes forem <strong>de</strong>testáveis (theomises) serão impiedosas (anosios).<br />
E estas duas realida<strong>de</strong>s não são idênticas, pois o piedoso (hosios) e o impiedoso<br />
(anosios) constituem o exato oposto um do outro.<br />
Embora o paralelo não seja total, já que o filósofo está a explorar as implicações<br />
semânticas do binómio hosios/anosios (que também po<strong>de</strong> ser entendido<br />
5 Conforme <strong>de</strong>ixa bem patente o impressionante testemunho <strong>de</strong> Platão, R. 427b-c.<br />
6 Sobre o sacrilégio que, no ano <strong>de</strong> 415 a.C., envolveu a representação paródica <strong>de</strong>stes Mistérios,<br />
levada a cabo em lugar impróprio e por indivíduos que não estavam habilitados para o efeito, vi<strong>de</strong><br />
Leão (2004), 214-220, e supra 3.3.